palavras aos homens e mulheres da Madrugada

G.K. Chesterton fala sobre o verdadeiro prazer de beber

Pieter Breughel, Detail from "The Wine of St. Martin's Day," ca.

Omar e a vinha sagrada

UMA NOVA MORALIDADE veio ao nosso encontro com certa violência e se relaciona ao problema da bebida alcoólica. Os entusiastas do assunto variam desde o homem que é posto para fora dos pubs ingleses às 00h30 até a dama que ataca os balcões dos bares com um machado. Em tais discussões, quase sempre sentimos que uma postura moderada e bastante sábia é dizer que o vinho, ou coisas do tipo, devem ser ingeridos como remédio. Atrevo-me a discordar disso com particular veemência. A forma genuinamente perigosa e imoral de tomar vinho é tomá-lo como remédio. E por esta razão: se alguém bebe vinho por prazer, está tentando obter algo excepcional, algo que não espera a qualquer hora do dia, algo que, a menos que seja um tanto louco, não tentará obter a qualquer hora do dia. Mas se alguém bebe vinho para ter saúde, está tentando obter algo natural; ou seja, algo sem o que não consegue viver; algo sem o que dificilmente passará sem consumir. Pode ser que aquele que não tenha visto o êxtase de ficar extático não fique seduzido; é mais fascinante vislumbrar o êxtase de estar normal. Se houvesse um ungüento mágico, e o mostrássemos a um homem forte e lhe disséssemos: “Isto te permitirá saltar do Monumento”,145 sem dúvida saltaria, mas não ficaria saltando durante o dia todo para alegrar o centro da cidade. Mas se mostrássemos o ungüento a um cego e lhe disséssemos, “Isto te permitirá recobrar a visão”, essa pessoa ficaria fortemente tentada. Ser-lhe-ia difícil não esfregá-lo nos olhos quando ouvisse o galopar de um nobre cavalo ou o cantar de pássaros ao alvorecer. É fácil não permitir que alguém tenha prazeres; difícil é negar a aquisição da normalidade. Por isso, e todos os médicos sabem, é sempre perigoso dar bebida alcoólica aos doentes mesmo quando precisam. Inútil dizer que não considero que dar bebida alcoólica como estimulante a um doente seja necessariamente injustificado. Mas considero o dar bebidas alcoólicas a pessoas saudáveis como divertimento um uso apropriado e muito mais coerente com a saúde.

A regra sadia nessa questão parece ser a mesma de muitas outras regras saudáveis – um paradoxo. Beba por estar feliz, mas nunca por se sentir extremamente infeliz. Nunca beba quando estiver infeliz por não ter uma bebida, ou irá parecer um triste alcoólatra caído na calçada. Mas beba quando, mesmo sem a bebida, estaria feliz, e isso o tornará parecido com um risonho camponês italiano. Nunca beba por precisar disso, pois tal ato racional é o caminho para a morte e o inferno. Mas beba por não precisar disso, pois beber irracionalmente é a antiga fonte de saúde do mundo.

Por mais de trinta anos o vulto e a glória de uma grande figura oriental têm sido impostos à literatura inglesa. A tradução de Fitzgerald dos Rubáiyát de Omar Khayyām146 concentrou, com imorredoura comoção, todo o sombrio e desnorteado hedonismo de nossa época. Seria simplesmente inútil falar do esplendor literário da obra; poucos são os livros dos homens que conseguiram combinar tão bem a alegre combatividade de um epigrama com a vaga tristeza de uma canção. Mas, sobre a influência filosófica, ética e religiosa, que é tão grande quanto o esplendor, gostaria de dar uma palavra, e tal palavra, confesso, é de uma hostilidade intransigente. Há muitas coisas que podem ser ditas contra o espírito do Rubáiyát, e contra sua enorme influência. Mas uma acusação se destaca das demais de forma nefasta – uma verdadeira desgraça para a obra, uma calamidade genuína para todos. Tal acusação seria o golpe terrível que o grande poema desferiu na sociabilidade e na alegria da vida. Alguém já chamou Omar de “o vetusto persa jubilosamente triste”.147 Triste é; mas não jubiloso, em nenhum dos sentidos da palavra. Tem sido um inimigo da alegria pior que os puritanos.

Um oriental pensativo e elegante repousa debaixo de uma roseira, com uma garrafa de vinho e seu rolo de poemas. Pode parecer estranho que nossos pensamentos, no momento em que visualizamos tal cena, se voltem à sombria cabeceira do leito em que o médico oferece ao doente um cálice de brandy. Pode parecer ainda mais estranho que tal pensamento possa se voltar para o trêmulo vagabundo com um copo de gim em Houndsditch.148 Contudo, uma grande unidade filosófica envolve os três elementos num elo maligno. O beberricar vinho de Omar Khayyām é mau, não porque seja um sorvo de vinho. É ruim, e muito nocivo, porque é um beber medicinal. É o beber de um homem que bebe porque não é feliz. Seu vinho é o que o exclui do universo, não aquilo que lho revela. Não é um beber poético, alegre e instintivo; é um beber racional, tão prosaico quanto um investimento, tão insípido quanto um cálice de camomila. Infinitamente superior, do ponto de vista do sentimento, embora não do estilo, surge o esplendor de uma antiga canção boêmia inglesa:

Then pass the bowl, my comrades all,
And let the zider vlow.149

Pois esta canção era entoada por homens felizes, para expressar o valor das coisas verdadeiramente valorosas, da irmandade e loquacidade, e do breve e cordial lazer do pobre. É claro que a maior parte das acusações mais disparatadas dirigidas à moralidade omariana são tão falsas e pueris quanto geralmente são tais acusações. Um crítico, cuja obra já li, teve a incrível insensatez de considerar Omar ateu e materialista.150 É quase impossível para um oriental ser uma coisa ou outra. O oriente conhece metafísica muito bem para que isso aconteça. A verdadeira objeção filosófica que um cristão poderia apresentar à religião de Omar não é, por certo, a de não conceder um lugar para Deus, mas sim a de lhe dar espaço demais. É de um teísmo terrível que não consegue imaginar nada exceto a divindade, e nega completamente os elementos da personalidade e da vontade humana.

A bola não questiona “sim” ou “não”,
Mas vai aqui e ali, conforme bate o jogador;
E ele, que a lançou neste campo,
Ele tudo sabe – ele sabe – ele sabe!151

Um pensador cristão como Agostinho ou Dante se oporia a isso porque ignora o livre-arbítrio, que é o valor e a dignidade da alma. A contenda da alta cristandade com esse tipo de ceticismo, no mínimo, não é porque o ceticismo nega a existência de Deus; é porque nega a existência do homem.

No culto dos que buscam o prazer pessimista, o Rubáiyát tem lugar de destaque em nossa época; mas não está sozinho. Muitas das inteligências mais brilhantes de hoje têm nos incitado a semelhante desfrutar súbito de prazeres excepcionais. Walter Pater152 disse que estamos todos sob sentença de morte, e o único curso possível é o desfrutar de deliciosos momentos por amor aos próprios momentos. Semelhante lição foi ensinada pela poderosa e infeliz filosofia de Oscar Wilde. É a religião do carpe diem.153 No entanto, a religião do carpe diem não é a religião das pessoas felizes, mas a das absolutamente infelizes. A grande alegria não colhe o botão de rosas quando pode;154 seus olhos estão fixos na rosa imortal vista por Dante.155 A grande alegria traz em si o sentido da imortalidade; o próprio esplendor da juventude é a sensação de que há muito espaço para esticar as pernas. Em toda a grande literatura cômica, em Tristram Shandy156 ou Pickwick,157 há um senso de espaço e incorruptibilidade; sentimos que as personagens são seres imortais numa lenda interminável.

É bem verdade, claro, que uma felicidade pungente surge, sobretudo, em alguns momentos fugazes; mas não é verdade que deveríamos pensá-los como passageiros, ou desfrutá-los simplesmente “por amor aos próprios momentos”. Fazer isso é racionalizar a felicidade e, portanto, destruí-la. A felicidade é um mistério, como a religião, e nunca deve ser racionalizada. Suponhamos que um homem experimente um esplêndido momento de prazer. Não quero dizer algo com um verniz de felicidade; falo de algo como uma violenta felicidade interior – uma felicidade quase dolorida. Alguém pode ter, por exemplo, um momento de êxtase no primeiro amor, ou um momento de vitória numa batalha. O amante desfruta o momento, mas não por causa do momento. Ele o desfruta pela mulher, ou para o próprio bem. O guerreiro desfruta o momento, mas não pelo momento; desfruta-o por causa da bandeira. A causa que a bandeira representa pode ser tola e passageira; o amor pode ser apenas um arrebatamento juvenil, e durar uma semana. Mas o patriota acredita na bandeira como eterna. O amante vê seu amor como algo que não pode terminar. Esses momentos são repletos de eternidade; esses momentos são jubilosos porque não parecem transitórios. Uma vez que os olhemos como momentos à maneira de Pater, se tornam tão frios quanto Pater e seu estilo. Os homens não podem amar coisas mortais. Só conseguem, por um instante, amar as coisas imortais.

O erro de Pater é revelado em sua expressão mais famosa. Ele nos convida a “arder com o inflexível fulgor de uma pedra preciosa”.158 O brilho nunca é rijo e nunca se parece com uma jóia – não pode ser manuseado ou organizado. Do mesmo modo, as emoções humanas nunca são inflexíveis e nunca se parecem com jóias. São sempre perigosas, assim como o brilho das chamas, ao toque ou mesmo à averiguação. Há somente um modo pelo qual as paixões podem ser rijas e se assemelharem às pedras preciosas: tornarmo-nos frios como os diamantes. Até então, nenhum golpe aos amores e às gargalhadas espontâneas dos homens foi tão esterilizante quanto esse carpe diem dos estetas. Para qualquer tipo de prazer, é preciso um espírito totalmente diferente; certa timidez, certa esperança vaga, certa expectativa infantil. Pureza e simplicidade são essenciais às paixões – sim, mesmo às vis paixões. Até o vício exige uma espécie de virgindade.

O efeito de Omar (ou de Fitzgerald) sobre o outro mundo pode ser afastado, mas sua mão sobre este mundo tem sido pesada e paralisante. Os puritanos, como disse, são muito mais alegres. Os novos ascetas que seguiram Thoreau159 ou Tolstói160 são companhias mais cheias de vida; pois, embora o abandono à bebedeira e aos semelhantes luxos nos possa parecer uma negação inútil, ele pode legar ao homem inumeráveis prazeres naturais, e, acima de tudo, submetê-lo ao poder natural da felicidade. Thoreau podia apreciar o nascer do sol sem uma xícara de café. Se Tolstói não podia admirar o casamento, ao menos era bastante saudável para admirar a lama. A natureza pode ser apreciada mesmo sem a maioria dos confortos naturais. Um belo bosque não necessita de vinho. No entanto, nem a natureza nem o vinho, nem nada mais, pode ser apreciado se assumirmos uma postura errada em relação à felicidade, e Omar (ou Fitzgerald) tinha uma postura errada em relação à felicidade. Ele e aqueles a quem vem influenciando não percebem que se pretendemos ser verdadeiramente felizes, devemos acreditar que há uma felicidade eterna na natureza das coisas. Não conseguimos apreciar plenamente nem mesmo um pas-de-quatre161 num baile público a menos que acreditemos que as estrelas estejam dançando a mesma música. Ninguém pode ser realmente hilário senão o homem sério. “O vinho”, diz a Escritura, “alegra o coração do homem”,162 mas somente do homem que tem coração. O chamado espírito elevado163 é possível somente ao homem espiritual. No fim das contas, um homem não pode se alegrar com nada, a não ser com a natureza das coisas. No fim das contas, um homem não pode se alegrar com nada, a não ser com a religião.

Outrora, na história do mundo, os homens realmente acreditaram que as estrelas dançavam ao som da música dos templos, e dançaram como nunca se dançara desde então. A respeito desse antigo eudaimonismo164 pagão, o sábio do Rubáiyát tem tão pouca relação quanto a tem com um cristão de qualquer denominação. Não é um adorador de Baco nem um santo. A igreja de Dionísio era fundada num sério joie-de-vivre como a de Walt Whitman.165 Dionísio fez do vinho não um remédio, mas um sacramento. Jesus Cristo também fez do vinho não um remédio, mas um sacramento. Mas Omar o fez não um sacramento, mas um remédio. Festeja não porque a vida é prazerosa; diverte-se porque não está feliz. Diz: “Bebei, pois não sabeis de onde vindes nem por quê. Bebei, pois não sabeis quando nem aonde ireis”.166 Bebei, porque as estrelas são cruéis e o mundo é tão sem propósito quanto um pião. Bebei, porque não há nada em que valha a pena crer, nada por que lutar. Bebei, porque todas as coisas se passam numa regularidade ignóbil e numa paz nociva. Dessa maneira, o poeta nos oferece a taça que está em suas mãos. E no altar-mor da cristandade se encontra outra personagem, em cujas mãos também há um cálice de vinho. Ele diz: “Bebei, pois todo o mundo é tão vermelho quanto o vinho, tão carmesim quanto o amor e a ira de Deus. Bebei, pois já soam as trombetas da batalha e esta é a taça transbordante. Bebei, pois este é o meu sangue, o sangue da nova aliança que é derramado por vós. Bebei, pois Eu sei de onde vindes e por quê. Bebei, pois Eu sei aonde ireis e quando”.
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FONTE:  Hereges (Cap. VII), de G.K. Chesterton. Ed. Ecclesiae. Tradução:  Antônio Emílio Angueth de Araújo e Márcia Xavier de Brito.

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NOTAS:

145 Referência ao monumento ao grande incêndio de Londres, construída por Sir Christopher Wren (1632–1723) entre 1671 e 1677. O monumento, erigido próximo ao local onde iniciou o grande incêndio de Londres em 1666, é uma coluna de pedra em estilo dórico e tem cerca de 60 metros de altura.
146 Edward Fitzgerald (1809–1883) publicou, em 1859, a versão poética traduzida para o inglês da obra Rubáiyát do poeta iraniano Omar Khayyām (1048–1131) e tal trabalho se tornou imensamente popular, embora a obra guarde pouca relação com o texto original.
147 Chesterton, sem dar crédito, cita o livre-pensador secularista e editor George William Foote (1850–1915), anteriormente mencionado no capítulo II, que se refere ao autor persa como “the sad-glad old persian” no ensaio “Rose-water Religion” de 1894.
148 Rua de Londres que seguia o mesmo trajeto do antigo fosso romano, construído fora dos muros de Londres. No século XIX era o local onde se aglomeravam miseráveis e bêbados.
149 Algo como: “Então passem a taça, camaradas, / E deixem a sidra rolar”. A graça está no último verso, que reproduz a fala de bêbado: “and let the zider vlow” ao invés de “and let the cider flow”.
150 Provável referência à obra de John M. Robertson (1859–1933), jornalista inglês, defensor do racionalismo e do secularismo. Foi membro do parlamento pelo Partido Liberal e discípulo de Charles Bradlaugh (1833–1891). Em A Short History of Freethought Ancient and Modern, cujo primeiro volume apareceu em 1899, há um capítulo “Freethought under Islam” onde o autor se refere ao persa nesses termos.
151 A presente estrofe é uma tradução literal (e livre) da quadra LXX de Fitzgerald que diz: “The Ball no Question makes of Ayes and Noes, / But Right or Left as strikes the Player goes; / And He that toss’d Thee down into the Field, / He knows about it all–HE knows–HE knows!”. Atualmente, vários estudiosos já contestaram a seriedade desta tradução, dentre eles, Jorge Luis Borges (1899–1986) que, num ensaio chamado “O enigma de Edward Fitzgerald”, atribuiu ao inglês a “invenção” dos Rubáiyát. A presente estrofe, se confrontada com várias traduções para o português da mesma obra, parece não corresponder a nenhuma passagem. Se fizermos uma tradução mais literal do poema diretamente do persa o trecho ficaria da seguinte forma: “No jogo cósmico de polo és a bola / À direita e à esquerda do bastão fica a tua vocação / É ele quem te move, levanta ou faz cair / Ele é aquele, o único, que tudo sabe”.
152 Walter Horatio Pater (1839–1894) foi um ensaísta, crítico de arte e escritor de ficção inglês. Neste e nos parágrafos seguintes, Chesterton está fazendo referência à famosa conclusão de Pater na obra Studies in the History of Renaissance de 1873, chamado a partir da segunda edição de The Renaissance: Studies in Art and Poetry. Sobre o lema e filosofia de Pater, ver capítulo XVII.
153 Expressão tirada de um verso do poeta Horácio (65 a.C.–8 a.C.) em Odes, Livro I, 11, 8 que diz: “Carpe diem quam minimum credula postero” [Colhe o instante, sem confiar no amanhã]. Interpretada como “aproveite o momento” ou “desfrute o dia”.
154 Referência aos versos de abertura do poema “To the Virgins, to Make Much of Time” de Robert Herrick (1591–1674): “Gather ye rosebuds while ye may / Old Time is still a-flying; / And this same flower that smiles today, / Tomorrow will be dying”.
155 Referência à visão que o poeta tem da rosa mística ao centro da rosa dos beatos como luz, fulgurante, no Empíreo. Ver canto XXX e XXXI do “Paraíso” na Divina Comédia de Dante Alighieri (1265–1321).
156 Referência ao romance The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman de Laurence Sterne (1713–1768), fortemente influenciado por François Rabelais (1494–1553) e Miguel de Cervantes (1547–1616). A obra compreende nove volumes e influenciou muitos escritores modernistas como Virginia Woolf (1882–1941) e James Joyce (1882–1941).
157 Referência ao romance de Charles Dickens (1812–1870), The Pickwick Papers, lançado em formato de folhetim de 1836 a 1837, em que o autor faz várias críticas à sociedade vitoriana.
158 A expressão aparece na conclusão da já citada obra de Walter Pater sobre a Renascença.
159 Henry David Thoreau (1812–1862) foi um poeta, historiador e filósofo norte-americano, cuja tese da desobediência civil influenciou o pensamento político de muitos filósofos e ativistas como seu contemporâneo russo, Liev Tolstói, e posteriormente, Gandhi (1869–1948) e Martin Luther King, Jr. (1929–1968). Também defendia a volta à natureza, o abandono do desperdício e da ilusão para descobrir as necessidades essenciais da vida.
160 Liev Nikoláievich Tolstói (1828–1910) foi um dos grandes escritores russos. No fim da vida se tornou um pacifista e pregou uma vida simples em contato com a natureza. Chesterton discorrerá sobre o autor, neste livro, no capítulo X.
161 Um divertissement de balé com quatro bailarinos, cuja primeira coreografia ocorreu em 1845, em Londres, e alcançou enorme sucesso.
162 Sl 103, 15.
163 Há, nesta passagem, um duplo sentido intraduzível, pois o termo spirits, além de indicar disposição, temperamento, vigor ou vivacidade, em inglês pode significar bebida alcoólica.
164 Doutrina segundo a qual a felicidade é o valor supremo, critério último da razão e objetivo da vida humana.
165 Walt Whitman (1819–1892) foi um poeta, ensaísta e jornalista norte-americano, considerado “o pai do verso livre”. Embora fosse defensor de um estilo de vida “vagabundo”, propunha a abstinência alcoólica. Em termos de religião era bastante cético em relação às igrejas; politicamente, propunha uma visão igualitária das raças. Na principal obra, Leaves of Grass, de 1855, podem ser vistos traços de homossexualismo, fato que escandalizou seus contemporâneos.
166 Quadra LXXIV da tradução de Fitzgerald. Em inglês: “Drink, for you know not whence you come nor why. / Drink, for you know not when you go nor where”.

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2 Comments

  1. JOSÉ RICARDO

    Lí os Rubayát de Omar Khayyam há 18 anos atrás, em português – o livrinho do Octávio Tarquínio de Souza (o qual é uma tradução da versão francesa de Franz Toussaint) Editora José Olympio – na mesma série a editora José Olympio nos brindou com os “Gazéis”/Hafiz, “A flauta de jade”/anônimo China Antiga, “o jardim das rosas”/Saadi e “Ronda das Estações”/Kalidasa..Não gostei tanto de Saadi (não detestei também) quanto dos demais mencionados. Quanto a Omar Khayyam e os Rubayát preferi (e prefiro ainda) a versão bilíngue – português/inglês – do Firtzgerald.(menos ácida que a de Franz Toussaint). De passagem ,na introdução dos Gazéis/ Hafiz mencionou-se sobre uma conexão dos poetas persas com o Sufismo. Fui dar uma olhada. Procede (Hafiz, Omar Kháyyám, Saadi, Jami).. A detecção da ligação de Omar Kháyyam com o sufismo alterou a minha leitura dos Rubayát. Não consigo mais forçar minha leitura para tentar compreendê-los conforme o que se tornou padrão que se estabeleceu no Ocidente; a versão mais ácida de Franz Toussaint – bem como a ainda mais ácida de Octávio Tarquínio – são confrafações Pelo material sufi que pude verificar, dá-se a entender que não apenas ele foi um sufi, mas que uma ascese foi realizada e um resultado – no sentido iluminativo – foi atingido… É onde eu consegui chegar…

    Ó Lua de meu Deleite que não conhece minguante
    A lua no céu [firmamento/céu material] se eleva mais uma vez…

    Doravante, quantas vezes ao elevar-se,
    ela não me procurará neste mesmo jardim?
    em vão… (versão Fitzgerald)

    Para mim que sou buddhista, não é difícil entender isto. A “Lua de meu Deleite” é o Atemporal; a Realização interior/espiritual (é o que o sufismo também diz). Do ponto de vista buddhista, uma ascese interior/espiritual foi bem sucedida; nosso amigo não volta mais.para a roda do samsara, a sujeição à existência cíclica (o buddhismo não crê nem advoga a “reencarnação”; a doutrina do renascimento se trata mais de uma sucessão de consciências autônomas encadeadas por um karma em decorrência de, uma não percepção da nossa natureza verdadeira). Para Omar Khayyam, “quantas vezes, ao elevar-se, ela não me procurará neste mesmo jardim? em vão”, c´est fini. . .

    Hoje estou velho
    e o amor que me inspiraste
    arrastar-me-á ao túmulo
    pois não cesso de encher de vinho
    a Grande Taça [do coração]…

    Meu amor por Vós tem razão contra mim mesmo…
    e o tempo desfolha a minha bela rosa…
    (versão Octávio Tarquínio de Souza/Franz Toussaint)
    . .

    José Ricardo

  2. josé ricardo

    Boa noite Yuri. Não precisa publicar este comentário. Conversando com um amigo meu ele achou que eu fui lacônico no meu comentário, sendo que eu poderia ter fornecido mais algumas informações – ao menos para você que é o titular do blog. Então ai vai:
    Primeiro – as colocações de Chesterton (figura humana e espiritual a quem eu aprecio) estão muito bem formuladas. De minha parte, tive a informação da conexão de alguns poetas persas com o Sufismo lendo nossa tradução brasileira dos Gazéis de Hafiz e fui verificar.

    Segundo – Mencionei para ti a questão do vinho para os sufis. Qualquer duvida acerca do que o vinho pode significar para os sufis morreu para mim lendo um pequenino tratado do sheikh sufi Ibn Arabi: “El nucleo del nucleo” (Editorial Sirio – Málaga, Espanha – a qual é uma editora nos mesmos moldes das brasileiras Pensamento/Cultrix – misturam no acervo obras espiritualistas, ocultistas e algumas tradicionalistas; mas eu não leio árabe, e, seja como for, trata-se da tradução castelhana do tratado original de Ibn Arabi e, para mim que prefiro a Tradição, resolveu. Ainda no acervo da Sirio há mais três tratados de Ibn Arabi, um de Nasafi, um de Al Ghazzali e um de Abul Abas Ben Al Arif da tariqa/escola do sheik sufi Dul Nun, o egípcio). Ao menos, se você desejar pesquisar ou verificar, eis aí a minha fonte, que acabei deixando de informar no meu comentário.

    “Quê canção pode cantar o Músico
    que fez o bêbado e o homem em jejum dançarem juntos?

    Que ópio derramaram em nosso vinho?
    Já não achamos nem o turbante na cabeça!

    A Prudência é verdadeira riqueza mas…
    quê vale a Prudência diante do Amor?

    A língua do Amor não é a língua das palavras…
    Não reveleis ao abstêmio os segredos da embriaguez….”.

    Hafiz (Shamz Ud Din Mohammed).

    Desculpe o esclarecimento tardio Yuri.

    Há vários coisas no teu livro que aprecio muito (Adélia Prado, Pascal, Olavo de Carvalho, etc.), Não gosto de tumultuar o livro dos outros.

    Um abraço…

    José Ricardo (j.rikk@ig.com.br).

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