palavras aos homens e mulheres da Madrugada

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Colin Wilson fala sobre a esposa de William Blake: “Uma tal mulher poderia ter salvo Nietzsche da insanidade”

Colin Wilson

« William Blake passou a vida em completa obscuridade; sua voz sempre teve um tom profético, mas ele nunca falou de um púlpito popular. Enquanto viveu, foi considerado louco, maníaco; nem mesmo seus amigos acreditavam em seu gênio. Blake não se perturbava; continuava trabalhando regularmente, produzindo seus quadros impopulares e seus poemas épicos menos populares ainda, vivendo como podia. Assumiu o saudável ponto de vista dos estóicos gregos, segundo o qual nada lhe faltava de que realmente precisava:

Tenho alegria mental e saúde mental
E amigos mentais e bens mentais
Tenho uma esposa que amo e que me ama
Tenho tudo menos riqueza material.

« A luta de Blake foi muito parecida com a de Nietzsche; e as semelhanças entre os dois na maneira de ver o mundo são espantosas, se considerarmos os oitenta anos de diferença entre o nascimento de um e de outro: Blake é contemporâneo do dr. Johnson, e Nietzsche, de Dostoiévski. Blake, em todo caso, teve a sorte de ter uma esposa que compartilhava de suas lutas, uma jovem absolutamente dócil que sempre viu o marido como um grande homem. Uma tal mulher poderia ter salvo Nietzsche da insanidade.

« A fama, acreditava Blake, era desnecessária para o gênio. O homem nasce só e morre só. Se ele permitir que suas relações sociais o enganem, levando-o a esquecer sua fundamental solidão, estará vivendo uma felicidade ilusória.»

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Trecho de O Outsider, de Colin Wilson.

John Donne: “Não perguntes por quem os sinos dobram”

donne

"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".

Meditações VII, John Donne

Com o grande número de catástrofes naturais ocorrendo em seqüência — tsunami no Índico (2004), em Sumatra (2009), terremotos no Haiti (2010), no Chile (2010), enchentes e deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro (2011), e mais terremotos na Nova Zelândia (2011) e, agora, no Japão (2011) — o comentário acima é mais que pertinente. Há sempre alguém assistindo à notícia de um desses acontecimentos com o coração distante, sem imaginar que há a possibilidade de participar como personagem de uma próxima ocorrência. Necessitamos uns dos outros. A compaixão deve estar sempre conosco. Memento mori.

Olavo de Carvalho: literatura e decomposição do idioma

Olavo de Carvalho

« Dou graças aos céus por não ser escritor de ficção nos dias que correm, quando se tornou impossível conciliar linguagem coloquial e correção da gramática.

« Leiam Marques Rebelo ou Graciliano Ramos e entenderão o que estou dizendo. Os personagens deles falavam com extrema naturalidade sem incorrer em solecismos. Hoje em dia, tudo o que se pode fazer é escrever como gente nos trechos narrativos e descritivos, deixando que nos diálogos os personagens falem como macacos nerds. É a literatura exemplificando o abismo entre a linguagem culta e a fala cotidiana. Mas a existência desse abismo prova, ao mesmo tempo, a inutilidade social de uma literatura que já não poderia ser compreendida pelos seus próprios personagens.

« Antigamente esse dualismo extremo de linguagem culta e vulgar só aparecia quando o autor queria documentar a fala das classes muito pobres, afastadas da civilização por circunstâncias econômicas ou geográficas insanáveis.

« Na era Lula tornou-se necessário usá-lo para reproduzir a fala de um presidente da República – e, depois, a de senadores, deputados, líderes empresariais e tutti quanti. Um jornalista decente já não pode escrever na linguagem de seus entrevistados. Não há mais medida comum entre a consciência e os dados que ela apreende. Isso é o mesmo que dizer que já não é mais possível elaborar intelectualmente a realidade, ao menos sem improvisar arranjos linguísticos que estão acima do alcance da maioria.»
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Olavo de Carvalho, no artigo O Brasil falante

Tenho sofrido com esse pobrema

Financiando projetos criativos

Quem já entrou com algum projeto numa dessas inúmeras leis de incentivo sabe o quão desestimulante é a burocracia que envolve o processo em todas as suas etapas. Sem falar do viés ideológico – canhoto, destro ou maneta – que costuma permear os critérios daqueles que aprovam ou rejeitam tais projetos. Daí ser uma boa notícia saber que já há, no Brasil, um serviço semelhante ao do Kickstarter, uma plataforma para buscar financiamento colaborativo a projetos que envolvem criatividade: o Catarse. Como funciona? Simples, basta você escrever um projeto para sua peça (ou filme, livro, exposição etc.), definir e expor o que promete dar em troca aos financiadores, gravar um vídeo no qual poderá esmiuçar a coisa toda com mais ênfase, e então publicar tudo isso no Catarse. Logo que o montante atingir o limite mínimo exigido, você receberá o dinheiro para viabilizar seu trabalho. Assim, seu sucesso dependerá tanto da sua capacidade de execução quanto da de divulgação e convencimento. Ou seja, você não dependerá de nenhum burocrata!

Se o cara abaixo tivesse recorrido a um serviço como esse, talvez não tivesse desistido do cinema…

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Publicado originalmente no Digestivo Cultural.

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A Tragicomédia Acadêmica – Contos Imediatos do Terceiro Grau

Um livro de contos que satiriza todos os âmbitos da vida universitária.

A Bacante da Boca do Lixo e Outros Escritos da Virada do Milênio

Coletânea de contos, crônicas e um ensaio escritos entre 1993 e 2008. Todos os textos trazem – seja de modo explícito ou implícito – um pouco do clima apocalíptico que contagiou aqueles anos.

Caso você possua um iPad e prefira ler o livro em PDF, use este aplicativo de leitura gratuito.

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Atualização de Julho de 2012: Devido a acordos com editoras, esses livros não estão mais disponíveis de graça. Visite a página de livros para saber com mais detalhes onde adquiri-los. (Incluindo as versões impressas.)

Joaquim Nabuco: o estilo do escritor está pronto aos vinte e um anos

Joaquim Nabuco

“Antes de ler Bagehot, eu tinha lido muito sobre a Constituição inglesa. Tenho diante de mim um caderno de 1869, em que copiava as páginas que em minhas leituras mais me feriam a imaginação, método de educar o espírito, de adquirir a forma do estilo, que eu recomendaria, se tivesse autoridade, aos que se destinam a escrever, porque, é preciso fazer esta observação, ninguém escreve nunca senão com o seu período, a sua medida, Renan diria a sua eurritmia, dos vinte e um anos. O que se faz mais tarde na madureza é tomar somente o melhor do que se produz, desprezar o restante, cortar as porções fracas, as repetições, tudo o que desafina ou que sobra: a cadência do período, a forma da frase ficará, porém, sempre a mesma. O período de Lafayette ou de Ferreira Viana, de Quintino ou de Machado de Assis, é hoje, com as modificações da idade, que são inevitáveis em tudo, o mesmo com que eles começaram. Está visto que eu não incluo nos começos de um escritor as tentativas que cada um faz para chegar à sua forma própria; o que digo é que o compasso se fixa logo muito cedo, e de vez, como a fisionomia. Nesse livro de minhas leituras de 1869, quarto ano da Academia, encontro no índice, com muita Escravidão e muito Cristianismo, muita Eloqüência inglesa, muito Fox e Pitt.”

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Minha Formação, de Joaquim Nabuco.

Admirável e só para selvagens, no SESC Copacabana (teatro)

Admirável e Só para Selvagens

O futuro já dura muito tempo no século 27, quando Bernard e Lenina se vêem imersos na experiência de um reality show. Confinados, vão lidar pela primeira vez, quem diria, com o impacto das próprias emoções. Isso porque eles fazem parte de uma experiência para mostrar como a vida funciona sem o Soma, a substância legalizada pelo Estado e que subtrai qualquer sensação de desconforto e angústia, trazendo felicidade perene aos cidadãos da Nova Ordem Mundial.

Bernard e Lenina são vigiados 24 horas por Mustafá Mond, um dos poderosos administradores do Estado Mundial, que prega a abolição da Arte, da Religião e do Amor em favor do bem-estar da comunidade. Apesar do discurso cético, Mustafá passa boa parte do tempo filosofando a respeito de Shakespeare e da Bíblia. Seu interlocutor é John, sujeito criado na não civilizada Reserva de Selvagens e que por isso tem uma visão de mundo humana e sensível.

É neste mosaico incomum de personalidades que se passa a peça Admirável e só para selvagens, direção de Hugo Rodas e Miriam Virna, que também integra o elenco junto com Alessandro Brandão.

Consagrada em Brasília, a peça estreou no Rio dia 7 de janeiro de 2011, na sala Multiuso do Espaço Sesc, em Copacabana, RJ. A temporada vai até 30 de janeiro. Ingressos a R$ 16, classificação etária 14 anos. Admirável e só para selvagens é livremente inspirada inspirado no clássico Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, publicado em 1932. Nestes 78 anos, a obra inspirou filmes, peças e inundou corações e mentes ao preconizar um mundo onde o consumo e a busca pelo prazer e pelos excessos ganhariam protagonismo. Do livro original, Miriam Virna e o dramaturgo Yuri Vieira retiraram o arcabouço principal e centraram a peça em quatro personagens. Miriam interpreta Lenina e Mustafá Mond, enquanto Alessandro interpreta Bernard e John, o Selvagem.

"Li este livro na adolescência e fiquei muito impactada, como, aliás, todas as gerações até hoje. Desde 2006 venho desenvolvendo o projeto que ganha forma definitiva agora com a estréia no Rio. Trata-se de uma novela futurista sobre temas surpreendentemente contemporâneos", destaca Miriam Virna que este ano montou "Fragmentos de Sonhos do Menino da Lua", no CCBB-RJ, com sucesso de crítica e público.

Apesar da aura futurista e tecnológica, o espetáculo tem como carro-chefe o trabalho dos atores. Ambos estão em cena sem o apoio de adereços, troca de figurinos ou saídas pela coxia. "É um trabalho que valoriza a interpretação e o texto." Dois elementos da encenação que dialogam e dão suporte à proposta são a iluminação – assinada pelo premiado Renato Machado – e a trilha, criada para o espetáculo e executada pelo DJ Quizzik. Acontece também um trabalho marcante de sonorização, através do uso de microfones que ampliam e modificam as vozes dos atores.

"Se na juventude ao ler este livro me surpreendi, hoje, aos 70 anos, percebo a atualidade brutal que a história propõe, a mensagem é mais forte agora do que antigamente", observa o consagrado diretor Hugo Rodas. Para o ator Alessandro Brandão, a peça faz um retrato do mundo atual. "As pessoas hoje não sabem como preencher as próprias vidas e mergulham no excesso de bebida, internet e droga, o que faz crescer a distância entre o que realmente é essencial", diz.

Sobre os diretores

Hugo Rodas, ganhador do Prêmio Shell de Direção pelo espetáculo "Dorotéia", é um dos diretores mais irreverentes do país. Trabalhou com Antônio Abujamra, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e com José Celso Martinez Corrêa, no Teatro Oficina. É Professor adjunto Notório Saber da Universidade de Brasília, onde leciona há mais de 15 anos e onde tem formado várias gerações de atores. Fixou residência em Brasília em 1975, onde tem realizado trabalhos importantes e inovadores. Seus mais recentes espetáculos fora da capital federal foram uma parceria com Antonio Abujamra (Os Demônios) e Denise Stoklos. Figura emblemática, Hugo Rodas é, sem dúvida, o grande nome de teatro em Brasília.

A brasiliense Miriam Virna é diretora de teatro de destaque na capital Federal. Radicada no Rio de Janeiro, Miriam foi premiada pelos espetáculos "As Ridículas de Molière" (2008) e "Contos de Alcova" (2006) pelo Prêmio SESC do Teatro Candango que levaram Melhor Espetáculo, Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino e Melhor Direção. Cinco de seus espetáculos foram indicados entre as melhores produções em seus respectivos anos pelo jornal Correio Braziliense. Em 2010 realizou temporada do "Fragmentos de Sonhos do Menino da Lua" no CCBB, quando recebeu críticas favoráveis do JB, O Globo e Veja Rio. Miriam foi uma das diretoras convidadas a dirigir Hugo Rodas no espetáculo "7 x Rodas", que estreou em outubro de 2010 no CCBB Brasília.

Palavra do público

Mensagem do Rogério Favilla, músico e compositor carioca, cujo conteúdo ele me autorizou a divulgar:

Caro Yuri,
Assisti ao Admirável no sábado passado com minha esposita, e achei – desculpe o clichê – um trabalho de Admirável Teatro Novo! O texto e a textura da encenação, música (adorei o som), figurino, trabalho de corpo, o inteligente uso dos microfones e efeitos de voz, a trilha como elemento orgânico da montagem, nos envia imediatamente ao mundo huxleriano…
Congratulações sinceras, pela parte que te toca. Pretendo assistir de novo com meu filho adolescente.
Tenho visto tanta baboseira, tanta banalidade e vulgaridade nos palcos, que só tenho a dizer: até que enfim, Teatro!
Abraços
RoFavilla

Recomendação

Recomendação do filósofo Olavo de Carvalho, em seu programa de rádio online True Outspeak:

[audio:http://blogdo.yurivieira.com/wp-content/uploads/2011/01/admiravel_olavo.mp3]

Ficha técnica

Direção: Hugo Rodas e Miriam Virna
Direção de Produção: Miriam Virna
Produção Executiva: Claudia Charmillot
Assistente de produção: Gisela Munk
Adaptação e dramaturgia: Yuri Vieira e Miriam Virna
Elenco: Alessandro Brandão e Miriam Virna
Assistente de Direção: Patrícia Gois
Trilha sonora original (e operação): DJ Quizzik
Cenário: Hugo Rodas
Figurino e Visagismo: Marcus Barozzi
Iluminação: Renato Machado

Temporada até 30 de janeiro de 2010
Espaço Sesc | Sala Multiuso

Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160. Copacabana – RJ.
Tel. 21 2547-0156.
Classificação etária: 14 anos| Duração: 70 minutos
Sexta e sábado, às 20h. Domingo, às 19h.
Lotação: 60 pessoas
Ingressos: R$ 16 (inteira); R$ 8 (meia-entrada); R$ 4 (comerciários)

Página no FaceBook.

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