palavras aos homens e mulheres da Madrugada

Categoria: Música Page 5 of 7

Arte e Poupança

Conheço alguns galeristas que costumam reclamar da baixíssima procura por obras de arte no mercado brasileiro. Porque, dizem eles, embora a oferta de boas obras seja grande, as vendas são ínfimas. Não duvido. (Quem escreve livros sabe disso muito bem.) No entanto, um deles, em vez de observar com maior atenção as causas do fenômeno, prefere chegar àquele remédio equivocado: “o governo deveria financiar os coitados dos artistas”. Ora, ora. Mais um querendo que a doença tome conta da paciente sociedade…

Deixando de lado questões secundárias como as que afirmam que falta ao povo educação estético-artística – porque o único problema que isso acarretaria seria a compra de obras de arte sofríveis (norte-americanos têm dinheiro, educação e são capazes de comprar as besteiras caríssimas do Damien Hirst) – a verdade é que nós não compramos muitas obras de arte pela mesma razão que não compramos sapatos italianos, vinhos franceses ou uma Jacuzzi, isto é, graças à política econômica do governo nas últimas décadas, a qual impede a formação de poupança. No aspecto econômico, estamos presos à Matrix Keynesiana. É ela que não nos deixa poupar dinheiro, é ela que faz o governo gastar mais do que arrecada, aumentando a dívida pública e a consequente extração de nosso sangue financeiro mediante impostos, taxas e inflação. Querer que o governo dê dinheiro a um setor qualquer da sociedade, ainda que aos “coitados” dos artistas, seria apenas exigir que ele retire dos demais ainda mais dinheiro na forma de tributos. E, quando torna-se impossível poupar dinheiro – são tantos os furinhos no nosso saco de moedas -, fica muito difícil gastar com coisas belas, porque primeiro é preciso forrar o estômago e garantir um teto sobre as cabeças das crianças. Estética? Cultiva-se um vaso de flores – van Gogh sabia melhor do que ninguém que, na pobreza, não há nada mais bonito.

Ok, ok. Então o problema é a teoria econômica de Lord Keynes. Mas, afinal, o que isso quer dizer? Bem, como este é um site de cultura, e não de economia, usarei dois vídeo-clipes premiados de rap (sim, rap!) do site Econ Stories. Assista-os, conheça qual é a batalha ora em vigor, e perceba que há uma saída. (São legendados em português. É preciso clicar em “CC” para ver as legendas.)

_____
Publicado no Digestivo Cultural.

Bob Fosse, gênio da dança

Não falarei nada sobre dois filmes, dirigidos por Bob Fosse, que estão entre meus prediletos: All That Jazz e Cabaret. (Se você ainda não os viu, é mulher do padre.) Tampouco farei análises e encherei lingüiças estéticas. Quero apenas mostrar os três vídeos abaixo.

No primeiro, para provar o quanto Bob Fosse estava à frente do seu tempo, ele interpreta o papel da Serpente na adaptação de O Pequeno Príncipe(1974), dirigida por Stanley Donen. Ao mesmo tempo, vemos imagens intercaladas de alguém que, quando adolescente, há de ter se deslumbrado com o mestre coreógrafo…

Sim, Michael Jackson não era senão um ex-pequeno príncipe que jamais se esqueceu de seu mestre Serpente. Não se trata de plágio. Todo criador tem suas fontes de inspiração. (Tal como Jackson, Fosse certamente tinha as suas.)

Abaixo, veja uma seqüência do ótimo filme Sweet Charity, estrelado por Shirley MacLaine, também dirigido por Fosse. ¿Haverá algum coreógrafo vivo dotado simultaneamente de tal senso de ironia e de semelhante técnica?

Não devo ser o único a notar, em algumas cenas, a influência de Toulouse-Lautrec.

Para encerrar, uma excelente brincadeira do VJ Tom Yaz, que editou a seqüência anterior substituindo a trilha original pela música Dancing Now da banda The B-52’s.

E, por favor, não deixe de assistir a All That Jazz.

“Mighty Good Leader” em dois tempos

Cantada por Skip James (1902-1969), a música era assim:

Então, com o andar da carruagem ocidental morro abaixo – Oswald Spengler explica-o -, Beck Hansen, a quem admiro, melhorou a embalagem, tornou o conteúdo nebuloso, deixando-a assim:

Bonita, porém mutilada.

It’s show time, folks!

“Viver é estar na corda bamba – o resto é espera!” ©Karl Wallenda

Vi este filme pela primeira vez em 1983, aos 12 anos de idade, no primeiro vídeo cassete comprado por meu pai. O namorado da minha irmã mais velha conhecia uma locadora em Moema (bairro de São Paulo), que, na época, só alugava fitas piratas. (E havia alguma que não o fazia?) All That Jazz acabou com a minha vida. Sério. Agora, quase todo o resto é espera.

(Aliás, por falar nas locadoras de outrora, a qualidade da imagem da fita d’O Exorcista indicava que havia sido gravada no inferno. Minha irmã nunca mais se recuperou.)

Aqui, o coreógrafo Joe Gideon apresenta a seus chocados patrocinadores seu novo musical para a Broadway, Air-otica: “Nós o levamos a todos os lugares mas não o fazemos chegar a lugar algum”.

All That Jazz, de Bob Fosse.

____
Publicado no Digestivo Cultural.

Natalia ‘Saw Lady’ Paruz

No último final de semana, assisti ao filme Another Earth, que, embora não seja um filme extraordinário, exemplifica como um drama razoável – muito bem dirigido e com ótimos atores – pode tornar-se um bom filme de ficção científica de baixo orçamento. Ou o contrário: como um razoável filme de ficção científica de baixo orçamento pode tornar-se um bom drama. O argumento traz como pano de fundo o paroxismo da velha ideia do duplo: em vez de um outro personagem idêntico ao protagonista, surge no céu um duplo do planeta inteiro, uma Terra contendo os mesmos continentes, as mesmas cidades e, para angústia da população terráquea (aliás, qual seria a população terráquea original?), contendo provavelmente o duplo de cada um de seus habitantes. Mas, enfim, não é disso que quero tratar.

O caso é que, ao comentar a respeito no Twitter, recebi uma mensagem de Natalia Paruz, que participou da trilha sonora do filme. Ela, que toca “serra musical”, executa uma composição de Scott Munson homônima ao filme. (Veja a cena e ouça a música aqui.)

Veja e ouça também, abaixo, Natalia Paruz tocando no metrô de Nova Iorque.

A música tema de Star Trek:

“1905”, de Eyal Bat:

Sem dúvida, a serra musical de Natalia resume da melhor maneira possível o clima do filme.
______
Publicado no Digestivo Cultural.

Contrabandeando o Grammy

A notícia é de Fevereiro de 2012, mas eu ainda não tinha me inteirado dela: o engenheiro de som Enrico de Paoli conquistou o Grammy latino de melhor disco de MPB de 2011, mas teve de pagar imposto de importação para trazer o troféu consigo. (!) Li sobre isso hoje e estou chocado até agora.

No Instituto Mises:

Enrico de Paoli é um jovem e talentoso brasileiro que acabou de ser agraciado com o prêmio Grammy americano, concedido aos melhores do mundo na arte de gravação musical. Se para nós brasileiros isso é motivo de orgulho, para o governo é apenas mais uma oportunidade de punir o mérito individual e confiscar a riqueza alheia para distribuí-la entres seus burocratas e toda a sua base de apoio.

(…) É isso mesmo. O troféu recebido por Enrico só pôde entrar no Brasil mediante o pagamento de um pedágio (que aqui adquire o eufemismo de Imposto de Importação e ICMS) para o governo. Os parasitas simplesmente atribuíram um valor qualquer para o prêmio e, em cima deste valor, acrescentaram o imposto de importação e o ICMS, o qual incide em cascata. Note que o valor pago em tributos equivale a nada menos que 88,6% do “valor imaginário” do prêmio.

Neste monumento à estupidez, é difícil escolher o que é pior:

1) O governo rotular de “importação” o simples ato de entrar no país com um prêmio recebido no exterior;

2) O governo estipular arbitrariamente um valor monetário para este prêmio e daí sair acrescentando impostos sobre este valor.

3) O governo proibir um indivíduo de possuir o seu troféu – só pode mantê-lo consigo caso pague o pedágio; se não pagar, o troféu é confiscado pela Receita Federal.

Que direito esta gente parasitária julga ter para decidir se um indivíduo pode manter consigo um objeto inanimado conquistado por mérito? Será que nem mesmo o reconhecimento internacional o brasileiro pode usufruir sem ser tungado por impostos (quase 90%) pelo governo?

Estatistas podem retrucar dizendo “Ah, mas o valor foi tão pequeno… Estão chorando à toa”. Novamente, recai-se no relativismo moral de considerar que o que importa não é o ato em si, mas apenas o valor do roubo.

Tal raciocínio, aliás, nos leva a um caminho surpreendente. Por exemplo, e se o prêmio fosse algo de valor monetário monumental, o qual o premiado tivesse a intenção de doar a instituições de caridade? Qual seria o incentivo para ele “importar” esse prêmio para o Brasil e pagar 90% do seu valor para o governo? Ele estaria, na prática, pagando ao governo para fazer uma caridade. Consequentemente, é razoável imaginar que tal prática não ocorreria, dado o custo de impostos com o qual o benfeitor teria de arcar.

Ademais, não faz nenhum sentido limitarmos esta revolta unicamente a este caso. Remédios, por exemplo, são muito mais importantes do que um Grammy (que nos desculpe o Enrico). Por que ninguém se exaspera com o fato de alguns remédios essenciais terem sua importação banida pela ANVISA (como aconteceu com nosso leitor Luis Almeida, que teve sua propriedade roubada na Alfândega), ao passo que sobre outros igualmente essenciais recaem impostos de importação insanos? Da mesma maneira, por que um sujeito não pode trazer equipamentos eletrônicos sem ter de prestar uma “contribuição compulsória” para os burocratas? Por que não se pode trazer um uísque sem ser financeiramente punido por isso?

Como já dizia um amigo meu, “prefiro ter um filho contrabandista a ter um filho fiscal da Receita Federal – morreria de vergonha!”

Leia o restante do artigo aqui.
______
Publicado no Digestivo Cultural.

Admirável e Só para Selvagens, no Rio de Janeiro

Nossa peça, que esteve em cartaz no SESC Copacabana durante o mês de Janeiro, está em cartaz no Teatro Municipal do Jockey, na Gávea. Veja mais informações no cartaz abaixo (clique na imagem para ampliá-la):

Admirável e Só para Selvagens

A trilha sonora original, composta por quizzik, pode ser ouvida online integralmente:

Admiravel e so para Selvagens – Soundtrack by quizzik

Page 5 of 7

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén