palavras aos homens e mulheres da Madrugada

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Quatuor pour la fin du temps — Olivier Messiaen

O compositor José Antônio de Almeida Prado estudou com Olivier Messiaen. Almeida Prado me disse que Messiaen “sofria” de sinestesia, isto é, ele via as cores dos sons. Ou melhor: via os sons enquanto cores. (Essa condição que os demais mortais só alcançam com LSD.) Contou-me também que, sempre que Messiaen ouvia um passarinho, ficava boquiaberto, em deslumbrado silêncio, dizendo por fim algo do tipo “Nossa, que cascata de cores!”. Messiaen, o mesmo sujeito que compôs o “Quatuor pour la fin du temps” [“Quarteto para o Fim dos Tempos”] enquanto prisioneiro de um campo de prisioneiros nazista. Ele não escolheu os instrumentos. Saiu pelo campo a descobrir se havia outros músicos ali e que instrumentos tocavam, compondo, pois, especificamente para eles. Li – salvo engano no livro Viagem aos Centros da Terra, de Vintila Horia, que o entrevistou – que, uma vez finalizada a composição, o quarteto apresentou-se vestido de molambos a uma platéia formada por outros prisioneiros em farrapos e por soldados e oficiais nazistas. Ficaram todos, sobretudo os nazistas, muitíssimo impressionados. Foi como se, pela primeira vez, realmente percebessem no que afinal estavam envolvidos.

Roberto Carlos, o dito cujo carcará romantiquento

Da adolescência até uns, sei lá, vinte e seis anos de idade, eu não podia ouvir Roberto Carlos de jeito nenhum, afinal, achava aquela cantoria toda breguérrima, uma coisa completamente envelhecida e ultrapassada. Sabe, né? Música do pai, da mãe, do tio, da avó, enfim, daquela gente que reclama do seu rock e das suas músicas eletrônicas.

O primeiro passo para mudar essa visão ocorreu em São Paulo, em 1998, quando a filha de uma namorada — namorada esta doze anos mais velha do que eu — chegou felicíssima da praça Benedito Calixto com vários discos — vinis, véio, vinis — todos do dito cujo carcará romantiquento. Como era possível? A filha adolescente da minha namorada ouvindo as músicas dos “coroas”? Seriam os hormônios? Muito esquisito. Devia haver algo de muito estranho no reino da menarca.

Porém, o tempo passou e, hoje, não posso ouvir Roberto Carlos de jeito nenhum simplesmente porque me identifico tanto TAnto TANto TANTO com certas letras que, se insistir em ouvi-lo, serei capaz ou de dar um tiro na cabeça de tanta melancolia e dor de cotovelo, ou de sair gritando “Jesus Cristo, eu estou aqui” pela rua, ou de sair por aí mandando brasa, mora? O que seria péssimo, afinal, segundo noto pela atual onda politicamente correta, mandar brasa já não é algo aceitável socialmente.

Sim, sim. Todo esse preâmbulo para dizer que eu aprendi a gostar do Roberto Carlos. E, para piorar (tá! tá! para melhorar), ainda incluí suas músicas no meu repertório de chuveiro.

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Publicado no Digestivo Cultural.

Somebody That I Used To Know e suas paródias

Esses vídeos já estão no YouTube faz tempo, mas que tal juntá-los num único post?

O original

O cover

Algumas paródias

Socrate — um drama sinfônico de Erik Satie

Socrate, drama sinfônico para quatro sopranos e pequena orquestra, com textos de Platão traduzidos por Victor Cousin.

I partie: Portrait de Socrate (Le banquet)
(Danielle Millet – Alcibiade)

II partie: Bords de I’llissus
(Andrea Guiot – Socrate; Andrée Esposito – Phèdre)

III partie: Mort de Socrate
(Mady Mesplé – Phédon)

Orchestre de Paris
Pierre Dervaux

Dead Kennedys, Jerry Brown e a decadência da California

Uma das coisas interessantes no artigo do MSM A perseguição do capital é o que ali se fala sobre o estado da California:

«Talvez o exemplo mais notável disso esteja na Califórnia, a maior economia dentre os 50 estados. De acordo com uma notícia no site Breitbart.com, “Êxodo: Carga tributária na Califórnia atinge 22%”, o “Estado de Ouro” (Golden State) está matando a galinha que botou os ovos de ouro. As mentes medíocres que governam a Califórnia estão agora propondo o aumento dos impostos para compensar a queda na arrecadação (veja Jerry Brown’s California Tax Increase Initiative para mais detalhes). Eles não entendem que a alta tributação pode matar milhares de negócios. E isso é exatamente o que está acontecendo na Califórnia.

«Como observado pela California Taxpayers Association, “a Califórnia é um estado de alta carga tributária, com uma das mais altas taxas sobre vendas, ganhos pessoais e empresas de toda a nação”. O estado tem a maior tributação sobre vendas do país inteiro (7, 25%); a segunda maior tributação sobre a gasolina de todo o país (48,6% por galão); a segunda maior tributação sobre ganhos pessoais com 10,3%; a maior taxa sobre ganhos corporativos de todo o Oeste; e apesar da Proposição 13, as taxas sobre propriedade na Califórnia posicionam o estado no 14º lugar.

«Como consequência dessa tributação e por conta de outras regulamentações, o estado da Califórnia perdeu 4.600 empresas no ano passado e é o pior gerador de empregos entre os 50 estados. Após a Bing Energy sair de Chino na Califórnia para a Flórida, o prefeito da cidade californiana foi citado no Los Angeles Times dizendo: “Eu entendo completamente porquê eles saíram. Com um governador Democrata eleito, além de todas as restrições ambientais, banco de horas e folgas dos trabalhadores, impostos sobre vendas e taxas sobre licenciamento de veículos… As companhias estão saindo aos montes…”. Quanto ao investimento na Califórnia, considere a matéria de Wendell Cox para o Wall Street Journal Online, ‘Califórnia declara guerra à classe suburbana’. Wendell explica porque a Califórnia está em direção a um penhasco fiscal. Os políticos daquele estado declararam guerra às famílias com casa própria “tudo em nome da salvação do planeta”.»

Governador Jerry Brown. O mesmo Jerry Brown de quem a banda punk Dead Kennedys fala nessa música de 1980 (quando ele próprio estava no poder):

Eu sou o governador Jerry Brown
Minha aura sorri e nunca faz caretas
Logo eu serei presidente
O poder de Carter logo se acabará
Eu serei o comandante um dia
Irei comandar todos vocês
Suas crianças irão meditar na escola
Suas crianças irão meditar na escola

Califórnia acima de todos
Califórnia acima de todos
Acima de todos, Califórnia
Acima de todos, Califórnia

Fascistas zen irão te controlar
Cem por cento natural
Você correrá pela raça superior
E sempre fará cara de contente
Feche seus olhos, não pode acontecer aqui
O grande irmão no cavalo branco está perto
Você pensa que os hippies não voltarão
Alegre-se ou você pagará
Alegre-se ou você pagará

Califórnia acima de todos
Califórnia acima de todos
Acima de todos, Califórnia
Acima de todos, Califórnia

Agora estamos em 1984
Batidas, batidas na porta da frente
É a policia secreta de camurça agarrada
Eles chegaram para sua infelicidade
Venha silenciosamente para o campo
Você parece tão bem quanto um interruptor
Não se preocupe é só um chuveiro
Para suas roupas aqui está uma linda flor
Morra num gás orgânico envenenado
As serpentes já saíram dos ovos
Você irá ser destruído seu pequeno palhaço
Se você se meter com o presidente Brown
Se você se meter com o presidente Brown

Califórnia acima de todos
Califórnia acima de todos
Acima de todos, Califórnia
Acima de todos, Califórnia

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Enfim, punks também têm intuição.

Alice Herz-Sommer, pianista e sobrevivente do Holocausto

Alice Herz-Sommer, pianista, professora de música e a mais antiga sobrevivente do Holocausto: “Beethoven… ele é um milagre”.

(Via @dennisd.)

Scott McKenzie e o sonho

Dia 18 de Agosto, faleceu Scott McKenzie, intérprete da canção “San Francisco (Be Sure to Wear Flowers in Your Hair)”, composta por John Phillips (The Mamas & the Papas). Essa música me lembra uma conversa que tive, sobre as raves que frequentei no final dos anos 90, com o falecido escritor José Luis Mora Fuentes. Na ocasião, Mora Fuentes me disse: “Uê, Yuri, essa festa que você está me descrevendo é idêntica às festas do final dos anos 60. Só a música é outra”. De fato, comecei a prestar atenção às raves e notei que eram “Woodstocks eletrônicas”. Já que os shows de rock haviam se transformado no tipo de evento em que apenas os músicos pareciam estar no centro do universo, as raves apareceram para substituí-los. Ali, todo mundo parecia estar no centro. Qualquer um que estivesse numa das primeiras XXXperience ou Avonts sentia uma nova vibração no ar, sentia que fazia parte de algo novo. Mas, assim como os anos 60 dessa música, hoje sinto que tudo se desmanchou no ar novamente: The dream is over – again!. Ora, forma sem um conteúdo realmente sólido – por mais inebriante que se apresente – é saco vazio que não pára em pé.

Permanecem as lembranças, tal como as vazias conchas da praia…

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Publicado no Digestivo Cultural.

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