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Wolfgang Smith fala sobre O Demônio da Distração

Wolfgang Smith

Um amigo, após ler algumas observações que fiz no Twitter sobre o matemático, físico e filósofo Wolfgang Smith (também ex-professor do MIT), me enviou o artigo abaixo, traduzido por Murilo Resende Ferreira, o qual, segundo entendi, foi distribuído entre os alunos do Seminário de Filosofia (Olavo de Carvalho). Nessa época de infinitas distrações internéticas e midiáticas, trata-se de um texto imprescindível.

O Demônio da Distração

A distração crônica – uma das maiores ameaças de nosso tempo – pode ser caracterizada como uma condição passiva na qual um homem habitualmente se alimenta de estímulos externos, como se eles por si só pudessem constituir um fim suficiente para a existência humana. É um estado que viola um princípio fundamental: a obrigação de limitar e assimilar seu próprio “alimento mental” através do exercício de um poder determinado – o mesmo poder, de fato, que nos torna humanos.

O mais assombroso não é que essa condição de gula e indigestão mental não seja salutar, mas que possa ser tolerada frequentemente com tão grande facilidade. A explicação para esse desconforto aparente reside no fato de que a distração, depois de certo tempo, leva a uma dissipação das energias mentais e a uma redução correspondente dos níveis de concentração, de tal forma que o processo em si mesmo cria a insensibilidade necessária. As percepções sutis, esses vislumbres de reinos transcendentes aos limites estreitos do universo convencional, são a primeira coisa a desaparecer. Longe de ser um mero empobrecimento, esse evento não anunciado significa a perda de nossa inteligência mais elevada, de nossa liberdade real e, em certo sentido, de nossa humanidade.

Entre os inúmero fatores em nossa civilização contemporânea, que tendem a agravar esse problema, o primeiro lugar deve ser dado aos meios de comunicação de massa, e especialmente à televisão, cujo impacto sobre a disposição e a vida mental do público em geral é virtualmente incalculável. Só precisamos considerar a profusão de entretenimento, notícias, propaganda, tragédia, vulgaridade e pura fofoca que essa verdadeira caixa de Pandora libera aleatoriamente em cada casa, para maravilhar-nos sobre como o público foi capaz de sobreviver a essas incursões sem sofrer uma perda completa da sanidade! Alguns dizem que as plantas podem ser mortas por uma overdose de rock , e podemos assumir que se um animal pudesse ser forçado a se interessar por uma avalanche similar de estimulação desarmônica, colapsaria imediatamente. E ainda assim o homem parece florescer com tal ração.

Em face aos graves perigos, especialmente para a vida espiritual, resultantes dessa dominação sem precedentes da sociedade pela mídia, surpreende-nos quão pouco as lideranças cristãs buscaram avisar aos fiéis. Ainda que o ato de ingestão de programas de TV à base de vinte e três horas por semana possa não implicar em si mesmo, digamos, um pecado venial, seria necessária uma falta monumental de perspicácia para se concluir que tal estilo de vida é compatível até mesmo com um mínimo de espiritualidade! Deixando de lado o conteúdo efetivo desses programas – ao qual voltaremos na última parte – gostaríamos de apontar neste artigo que a dispersão em si mesma é categoricamente oposta ao ethos Cristão. E o é de tal forma que o problema a nos confrontar toca o próprio coração da doutrina cristã.

Consideremos as palavras de Cristo em Mateus 12:30: quem comigo não ajunta, espalha. Agora, de acordo com a interpretação tradicional, quem não ajunta comigo significa Satã, e o que está sendo espalhado é a coletividade das almas humanas. Assim como as ovelhas são espalhadas por um lobo predador, também as almas são espalhadas pelos incontáveis atalhos do erro, que divergem em todos os sentidos da única verdade central. Mas há também outra interpretação, mais diretamente relacionada ao nosso tópico, de acordo com a qual quem comigo não ajunta é o próprio homem, na medida em que tenha divergido do caminho da salvação, e o que é espalhado é sua alma, ou melhor, os múltiplos poderes de sua alma. Nos caminhos desse mundo, esses poderes se dispersam indefinidamente, como um monte de poeira lançado ao ar.

Nesta perspectiva, aquele que ajunta com Cristo é também o que entra pela porta estreita (Mateus 7:13), o mesmo que passa pelo caminho apertado, que leva até a vida. De fato, o caminho apertado e a porta estreita sugerem a idéia de concentração, de ajuntamento de muitas coisas em uma só, assim como a porta larga e o caminho espaçoso sugerem expansão ou dispersão. Os adjetivos espaçoso e largo podem, portanto, ser uma referência não simplesmente à escassez ou abundância respectiva de viajantes, mas também à condição da alma enquanto viaja por cada um desses caminhos. Para substanciar essa interpretação, observemos que a porta estreita corresponde evidentemente ao buraco de agulha na parábola do homem rico, que achava difícil entrar no reino dos céus. Agora, quem é esse homem rico, e qual é a natureza dessas possessões, que obstruem sua entrada? A resposta é dada pelo próprio Senhor quando Ele diz, “Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. Aqui somos informados de que a pobreza através da qual alguém pode passar pela porta estreita – e também passar através do buraco de agulha – é uma pobreza espiritual, uma pobreza referente à condição da alma. De fato, não pode haver dúvida de que nossa alma, em seu presente estado, é eminentemente comparável ao homem rico. E por isso, ao escutarem essa parábola, os discípulos de Jesus ficaram excessivamente assustados, dizendo, “Quem então pode ser salvo?” Eles ficaram profundamente preocupados, pois presumivelmente entenderam em seus corações que aquilo que foram chamados a atingir era humanamente impossível. Então nosso Senhor lhes confortou, e a nós, acrescentando que para Deus todas as coisas são possíveis. Através de mais encorajamento, Ele nos fez entender que aquelas possessões interiores, as quais todos que seguem Cristo devem abandonar, são na verdade um fardo para a alma. Por elas nós trabalhamos e ficamos sobrecarregados, e disso somos liberados quando andamos nas pegadas de Cristo. Porque meu  jugo é suave, e meu fardo, leve (Mateus 11:30).

O abandono de tudo que é estranho à essência da alma não é somente uma purificação e uma catarse, mas é também, ao mesmo tempo, um ato de descanso e concentração, através do qual os poderes espalhados da alma são recolhidos de todas as direções, para serem reintegrados no centro luminoso de qual irradiaram. Esse centro é o coração místico do qual os profetas e os santos falaram, o templo interno onde Deus reside em segredo, e é, em última instância, o oratório ao qual Cristo alude em Mateus 6:6, quando Ele nos exorta: entra no teu aposento e, fechando a porta, ora a Teu pai que está em secreto. Finalmente, esse abrigo íntimo de nossa alma é também a porta estreita que leva ao Reino de Deus. Pois como São Isaac da Síria escreveu, “Tenta entrar em tua casa do tesouro interior e verás a casa do tesouro dos céus. Pois uma e a outra são a mesma, e uma e a mesma entrada revela as duas”.

O contexto de Mateus 6:6, no entanto, não deixa dúvidas de que a idéia de entrada no santuário interior deve admitir graus, de forma que muito antes que a perfeição completa da santidade seja atingida, nós, que ainda estamos sujeitos à corrupção do mundanismo, possamos experimentar um descanso parcial, e alguns momentos de repouso espiritual. “Nós podemos transformar nosso coração em um oratório”, escreve o Irmão Lawrence em seu estilo simples e doce, “onde nos retiramos de tempo em tempo para conversar com Ele em sua mansidão, humildade e amor. Todos são capazes dessa conversação familiar com Deus, alguns mais, outros menos”. Quanto mais profunda e habitual essa conversação se tornar, mais harmoniosa e frutífera também será nossa vida exterior. Na verdade,  o grande segredo é levar a paz e interioridade da contemplação até a vida ativa, para que, onde quer que estejamos, ou qualquer que seja a tarefa que nos chamar, permaneçamos concentrados, com nosso olhar interno fixo em Cristo. É nesse estado, quando seus olhos forem bons (Lucas 11:34), que um homem realiza seu grande trabalho, ou melhor, é nesse estado que nosso trabalho é santificado, pois então nós obramos as obras de Deus (João 6:28). Tendo iluminado uma candeia ao acender nossa alma com o amor de Deus, somos exortados pelo Próprio Cristo a colocar essa candeia ardente sobre o candelabro, para que os que entram vejam a luz. (Lucas 11:33).

Dessa reflexão sobre os ensinamentos de nosso Senhor emerge o fato de que a vida cristã é necessariamente oposta a tudo que espalha e dissipa os poderes da alma, a tudo, em outras palavras, que atrai o homem para longe de seu centro, que o faz esquecer Deus. O que está em jogo aqui, seja dito, vai muito além do “pecado” ou da “concupiscência da carne”, ou pelo menos da forma como esses termos são ordinariamente compreendidos. Pois existe um tipo de tendência pecaminosa, um modo sutil de concupiscência, inerente à nossa natureza sensorial e imaginativa, que como uma voz clamorosa perturba e agita com sua tagarelice incessante. Apesar de toda sua inocência enganosa, esse “demônio da distração” interior pertence à herança infernal que chegou até nós como consequência do pecado original. “O que mais é a iniqüidade”, declara Santo Agostinho, “senão um desvio da vontade de Vós, Ó Deus, que é a Suprema Substância: ela joga fora o que é mais interior e incha gananciosamente pelas coisas exteriores”. Como é expressiva essa frase “incha gananciosamente”, pois em verdade essa paixão pelas coisas exteriores realmente incha a alma excessivamente, como podemos aprender do camelo na parábola do Evangelho.

O crescimento em “massa” é ao mesmo tempo uma dispersão das energias psíquicas, como já foi apontado anteriormente, assim como um aumento das magnitudes espaciais no caso de uma expansão centrífuga envolve uma dispersão concomitante do raio concêntrico. De acordo com essa analogia, o movimento característico da vida espiritual é contrativo e centrípeto, um recolhimento em um ponto central, o qual, não tendo magnitude, é, de fato, como um grão de mostarda (Mateus 13:31). Aqui, na menor de todas as sementes, repousa escondida a realidade eterna de tudo que pode ser encontrado através da vastidão do espaço cósmico e, na verdade, de tudo que já foi e tudo que será. Verdadeiramente, todas essas coisas vos serão acrescentadas, e nada vos será impossível (Mateus 6:33,17:20).

É, no entanto, a tragédia do homem decaído que ele não tenha “fé como um grão de mostarda”, pois como Santo Agostinho lamenta, nossa fé está nas “coisas exteriores”. Essa é a situação deplorável e perversa, da qual devemos nos libertar, com a ajuda de Deus Todo-Poderoso. “A perfeição da alma,” declara Mestre Eckhart, “consiste na libertação da vida que é parcial e a admissão à vida que é completa. Tudo o que está espalhado nas coisas inferiores é recolhido e ajuntado quando a alma se eleva até a vida onde não há oposições”. O que presentemente conhecemos por experiência é aquela “vida que é parcial”, uma vida dispersa, se assim podemos dizer, por uma infinitude de momentos temporais, e limitada em cada ponto pelos opostos inescrutáveis do passado e do futuro. A outra vida nós não conhecemos, pois não é manifesto o que devemos ser (João 3:2). Entre as duas existe uma ponte, e esta ponte é Jesus Cristo. É ele que ajunta tudo o que está disperso nas coisas inferiores, e é através Dele que a alma se eleva até a vida eterna. Mas permita-nos relembrar isto também: aquele que comigo não ajunta, espalha.

Idealmente, essa concepção de comunhão com Cristo implica nada menos que uma total integração de nossa vida através da lembrança incessante de Deus. Como os Tessalonicenses, nós também somos chamados a rezar sem cessar, e isso a despeito da enormidade de nossas incapacidades. Não esqueçamos nunca, em Deus todas as coisas são possíveis – e mesmo que se admita que o objetivo é quase inatingível, isso não legitimaria o tipo confortável de Cristianismo de “meio-período” que está em alta demanda, não mais do que a afirmação de São João de que todos os homens são pecadores pode ser tomada por uma legitimação do pecado. Independentemente do que qualquer um possa sentir sobre o assunto, permanece o fato de que não bastará, seguindo os costumes de Penélope, reunir-se com Cristo em ocasiões especiais, somente para espalhar com o mundo todo o tempo restante. Para um vislumbre do que significa seguir Cristo na prática, nós devemos consultar as vidas e ensinamentos dos santos, não esquecendo que – longe de serem anormais – os santos são em verdade as únicas pessoas completamente sãs nesta terra. Apesar de nossos sentimentos democráticos, somos obrigados a admitir que as opiniões da maioria têm pouco peso quanto se trata do Reino de Deus, pois como o Próprio Senhor declarou, são poucos, e não muitos, os que conhecem o caminho estreito, que leva até a vida. Não sejamos enganados então por ensinamentos diluídos, não importando quão vociferante for sua proclamação, lembrando que é muito melhor mirar alto e fracassar do que negar o ideal desde o princípio ao rebaixá-lo. A despeito da interminável propaganda sobre “reformas”, os ideais cristãos continuam intocáveis, e se acontecer desses ideais não se conformarem ao espírito dos tempos, pior para a civilização que os abandonar!

Na realidade, nada poderia ser mais certo, ou mais auto-evidente, do que a oposição do espírito desse mundo ao Cristianismo, assim como a do próprio Cristianismo ao espírito desse mundo. De fato, quem poderia ler o Evangelho segundo São João, por exemplo, e ainda assim ter dúvidas sobre isso? Pois Cristo estava certamente falando para todos nós – a todos que seriam verdadeiros Cristãos – e não só aos Seus discípulos imediatos, quando disse: Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Não podemos deixar de nos perguntar, às vezes, se essas palavras ainda estão sendo lidas, ou se ainda são levadas a sério. Talvez algum estudioso erudito, sob a inspiração de um Teilhard de Chardin ou um Hans Kung, tenha persuadido seus pares e estudantes de que essas palavras pertencem a uma fase anterior da “história da salvação”, ou que porventura elas não atingem os critérios exigentes da moderna crítica textual! O que mais, deveras, poderia ter calcado o caminho para pretensas teologias, nas quais a inspiração de Darwin, Freud ou Marx, digamos, pode ser mais apreciada do que o ensinamento de Cristo.

Uma das principais fontes de autoridade em que estas “teologias do progresso” supostamente se sustentam é a ciência moderna, começando pela física cosmológica. Mas aqui, também, temos espaço para questionamentos. Pois o que a ciência nos revela nos termos mais inequívocos é um panorama de mudança contínua, um universo Heracletiano no qual todas as coisas estão irremediavelmente em um estado de fluxo. Isso é verdadeiro, além disso, até mesmo para o universo como um todo, o espaço cósmico em si mesmo, do qual é dito constituir-se de uma hiperesfera em expansão, uma bolha tridimensional, cujo raio está aumentando à velocidade da luz. Apesar de o centro dessa hiperesfera, o ponto central a partir do qual o cosmos inteiro está decaindo em tal incrível velocidade, não estar em qualquer lugar do espaço físico, ele pertence, de qualquer forma, ao limite matemático do espaço-tempo de quatro dimensões. A partir dessa perspectiva, que é essencialmente o ponto de vista da cosmologia relativista, o cosmos se aparenta a uma onda esférica expansiva se expandindo para fora, para longe do centro primordial, em direção à periferia do ser, o limite último ou circunferência, aonde a existência como tal chega a um fim. Uma imagem similar emerge no domínio biológico, pois vemos que a vida está inevitavelmente associada com a assimilação e o crescimento, que são modos da expansão, e todo processo vital move-se inexoravelmente em direção a uma periferia, na qual termina em morte. A Ciência nos provê pelo menos com uma grande certeza: tudo o que pertence a este mundo, desde as partículas elementares até as culturas e civilizações, passará; nada permanece.

Contra esse panorama, no contraste mais incisivo concebível a essa lei aparentemente inexorável, ergue-se o Cristianismo com sua incrível reinvindicação, a reinvindicação da religião: a grande lei deste mundo pode ser quebrada, sua tendência irresistível pode ser dominada, a própria morte pode ser conquistada vitoriosamente! Mas o caminho que leva a essa conquista é estreito e difícil de ser cruzado – como a ponta de uma lâmina, declara um antigo texto Oriental! – pois não é o caminho das riquezas, mas da pobreza; não do prazer, mas da Cruz. Como a própria palavra indica, religião (re + ligare) é de fato uma “religação”; religação, isto é, ao Centro perdido, à Origem perdida, de volta a Deus.

O espírito de nosso tempo, ou o que também pode ser chamado de “mundo moderno”, é, fundamentalmente, nada menos que o mundo, no sentido Bíblico já mencionado, mas que agora se manifesta completamente. É o mundo enfim se glorificando em suas próprias possibilidades, desembaraçado de qualquer escrúpulo intelectual sobre a transcendência, ou de qualquer nostalgia restante de um paraíso perdido. É o mundanismo alimentando-se de si mesmo, organizado e mobilizado; de fato, é o mundanismo elevado à enésima potência , preparando-se para o ataque final contra os últimos bastiões remanescentes da religião autêntica – contra Ele que ousou dizer, Eu venci o mundo.

Como conclusão, gostaríamos de tocar uma vez mais no tema da mídia, mesmo que seja somente porque o impacto da mídia sobre nossas vidas assumiu proporções pantagruélicas. Até mesmo as estatísticas nuas nos dizem isso: apenas com a TV, vinte e três horas por semana nos EUA, e de acordo com uma pesquisa britânica, oito anos de vida. Oito anos retirados daquele resquício precioso de vida que resta depois do trabalho monótono do escritório e da fábrica, ou depois do agregado potencial de diversão que poderia ser dedicado a coisas mais elevadas, e acima de tudo, ao crescimento espiritual.

Em conexão com isso gostaríamos de indicar um livro penetrante e brilhante, publicado em 1977 sob o título significativo de “Cristo e a Mídia”, por Malcom Muggeridge, jornalista veterano e celebridade televisiva da BBC. O livro é baseado em três palestras proferidas em Londres, e eis como Muggeridge começou:

“É um truísmo dizer que a mídia em geral, a TV em particular, e a BBC especificamente, são incomparavelmente a maior influência singular em nossa sociedade atual, exercida em todos os níveis sociais, econômicos e culturais.

“Essa influência, devo adicionar, é, em minha opinião, exercida de forma irresponsável, arbitrária, e sem referência a qualquer referência moral, intelectual e muito menos espiritual.

“Ademais, se é o caso, como eu acredito, de que aquilo que ainda chamamos de civilização Ocidental está se desintegrando rapidamente, então a mídia tem um importante papel no processo ao levar à frente, apesar de fazê-lo inconscientemente na maior parte do tempo, uma poderosa operação de lavagem cerebral, através da qual os padrões e valores tradicionais estão sendo denegridos até desaparecerem, deixando um vácuo moral no qual os próprios conceitos de Bem e Mal deixaram de ter validade”.

A mídia reflete a mentalidade da nossa era. É disso que ela se alimenta, é o que ela amplifica mil vezes com a ajuda de uma tecnologia incrível, e eventualmente retransmite para um mundo de espectadores. Tendo emprestado uma voz e um corpo eletrônico para a mente coletiva, por assim dizer, ela avança impondo essa mentalidade ao público com uma força e uma fúria sem precedentes. Certamente Muggeridge não exagera ao notar que os historiadores futuros nos verão “como criando na mídia um monstro Frankenstein que ninguém sabe como controlar e direcionar, e se espantarão sobre como submetemo-nos tão docilmente à sua influência destrutiva e muitas vezes maligna”.

É interessante que Muggeridge veja a mídia principalmente como um fabricante de fantasias. Através do tubo de TV nós fugimos para um reino inventado, uma terra de conto de fadas, que mais e mais usurpa o lugar da realidade em nossas vidas. “A impressão prevalente que eu tenho da cena contemporânea é a de um abismo sempre em expansão entre a fantasia que a mídia nos induz a desejar viver, e a realidade de nossa existência como imagem de Deus, como residentes temporários cujo habitat verdadeiro é a eternidade”. Como um observador astuto, que passou a maior parte de sua vida nos bastidores da mídia, e que atravessou e reatravessou inúmeras vezes esse “abismo”, Muggeridge conhece muito bem o seu tema. “O abismo está lá, está se alargando em uma velocidade acelerada e os valores estão sendo denegridos até desaparecerem…” Isto constitui um dos maiores problemas a confrontar o Cristianismo hoje, ainda mais por ser insuficientemente reconhecido.

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Autor: Wolfgang Smith

Tradução: Murilo Resende Ferreira

Fonte: http://www.seminariodefilosofia.org

Jesus fala sobre misericórdia, justiça, autodefesa e não-resistência

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Trecho do Documento 133, intitulado O Retorno de Roma, do Livro de Urântia:

Um incidente muito interessante ocorreu, em uma tarde, no acostamento da estrada, quando eles se aproximavam de Tarento. Viram um jovem rude intimidando brutalmente um outro menor do que ele. Apressando-se a ajudar o menino atacado, quando o havia resgatado, Jesus permaneceu apenas segurando apertadamente o ofensor até que o menor tivesse escapado. No momento em que Jesus liberou o pequeno brigão, Ganid agarrou o menino e começou a bater nele estrepitosamente, então, Jesus prontamente interferiu, para espanto de Ganid. Depois de haver contido Ganid e permitido ao menino amedrontado escapar, tão logo recuperou o fôlego, Ganid exclamou sobressaltado: “Eu não consigo entender-te, Mestre. Se a misericórdia exige que tu resgates o menino menor, a justiça não exige a punição do menino maior e que era o ofensor?” Respondendo, Jesus disse:

“Ganid, é verdade que tu não entendeste. A ministração da misericórdia é sempre trabalho do indivíduo, mas a justiça da punição é função do social, do governo ou dos grupos que administram o universo. Enquanto indivíduo sou obrigado a mostrar misericórdia; eu devia livrar o garoto atacado e, com toda firmeza, empregar a força necessária para conter o agressor. E isso foi exatamente o que fiz. Realizei a libertação do menino atacado; e esse foi o fim da ministração da misericórdia. E então, à força eu detive o agressor por um período de tempo suficiente para permitir que a parte mais fraca, na disputa, escapasse; após o que eu me retirei do caso. E não continuei, não fiz o julgamento do agressor, nem repassei o seu motivo — nem julguei tudo o que motivou o seu ataque ao seu companheiro — e não assumi executar a punição que a minha mente podia ditar como compensação justa pelo erro dele. Ganid, a misericórdia pode ser pródiga, mas a justiça deve ser precisa. Não podes discernir que não há duas pessoas que porventura concordem quanto à punição que deveria satisfazer as exigências da justiça? Um imporia quarenta chicotadas, o outro vinte, enquanto outro iria aconselhar ainda o confinamento em solitária como uma justa punição. Não vês que, neste mundo, essas responsabilidades ou deveriam ficar com o grupo ou deveriam ser administradas pelos representantes escolhidos do grupo? No universo, o julgamento é entregue àqueles que conhecem plenamente os antecedentes de todos os erros, bem como as suas motivações. Na sociedade civilizada e em um universo organizado, a administração da justiça pressupõe aplicar uma sentença justa em conseqüência de um julgamento equânime; e essas prerrogativas são dadas aos grupos jurídicos dos mundos e aos administradores todo-cientes dos universos mais elevados de toda a criação”.

Durante vários dias eles conversaram sobre a questão da manifestação da misericórdia e da administração da justiça. E Ganid, ao menos em uma certa medida, compreendeu por que Jesus não queria entrar em combate pessoalmente. Ganid, no entanto, fez uma última pergunta, para a qual ele nunca recebeu uma resposta totalmente satisfatória; e essa pergunta foi: “Mas, Mestre, se uma criatura mais forte e de temperamento maldoso te atacasse e ameaçasse destruir-te, o que farias? Não farias nenhum esforço para defender-te?” Embora Jesus não pudesse plena e satisfatoriamente responder à pergunta do jovem, porquanto ele não estava querendo revelar-lhe que ele (Jesus) estava vivendo na Terra como a exemplificação do amor do Pai do Paraíso, para um universo que a tudo assistia; ainda assim, ele disse o seguinte:

“Ganid, posso entender bem o quanto te deixam perplexo algumas dessas questões e vou esforçar-me para responder à tua pergunta. Primeiro, em todos os ataques que poderiam ser feitos à minha pessoa, eu determinaria se o agressor seria ou não um filho de Deus — meu irmão na carne — e, se eu achasse que uma tal criatura fosse desprovida de juízo moral e de razão espiritual, eu defenderia sem hesitar a mim próprio com toda a capacidade dos meus poderes de resistência, a despeito das conseqüências para o atacante. Mas, eu não agrediria assim a um irmão que tenha o status de filiação, nem mesmo em autodefesa. Isto é, eu não o puniria precipitadamente e sem julgamento por uma agressão contra mim. Por todos os meios possíveis eu procuraria impedir e dissuadi-lo de fazer aquele ataque; e faria tudo para mitigá-lo caso eu fracassasse em evitá-lo. Ganid, eu tenho confiança absoluta nos cuidados do meu Pai celeste; e estou consagrado a fazer a vontade do meu Pai no céu. Não acredito que nenhum mal real possa sobrevir a mim, não acredito que o trabalho da minha vida possa ser ameaçado por qualquer coisa que os meus inimigos possam desejar que aconteça a mim, e certamente não há nenhuma violência dos nossos amigos a ser temida. Estou absolutamente seguro de que todo o universo é amigável comigo — essa é a verdade todo-poderosa na qual eu insisto em acreditar, com uma confiança de todo o coração, a despeito de todas as aparências em contrário”.

Ganid, todavia, não ficou plenamente satisfeito. Muitas vezes eles falaram sobre essas questões; e Jesus contara a ele algo das suas experiências de infância e também sobre Jacó, o filho do pedreiro. Ao saber como Jacó se propusera a defender Jesus, Ganid disse: “Oh, eu começo a perceber! Em primeiro lugar muito raramente qualquer ser humano normal iria atacar uma pessoa tão boa como tu és e, mesmo que alguém seja tão irrefletido a ponto de fazer tal coisa, há de haver muito certamente algum outro mortal à mão que acorrerá em tua proteção, do mesmo modo que tu sempre acorres em defesa de qualquer pessoa que tu percebes estar em aperto. No meu coração, Mestre, eu concordo contigo, mas na minha cabeça eu ainda acho que se eu tivesse sido Jacó, eu teria gostado de punir aqueles irmãos rudes que ousaram atacar-te só porque sabiam que tu não irias defender-te a ti mesmo. Eu presumo que tu estás a salvo o suficiente nessa tua jornada pela vida, já que passas grande parte do teu tempo ajudando aos outros e ministrando aos teus semelhantes em desespero — bem, muito provavelmente haverá sempre alguém à mão para defender-te”. E Jesus retorquiu: “Esse teste ainda está para acontecer, Ganid, e, quando vier, nós teremos que nos conformar com a vontade do Pai”. E isso foi tudo o que o jovem pôde levar o seu Mestre a dizer sobre essa questão difícil, da autodefesa e da não-resistência. Numa outra ocasião ele conseguiu tirar de Jesus a opinião de que a sociedade organizada tinha todo o direito de empregar a força para o cumprimento dos seus mandados de justiça.

Fonte: The Urantia Book.

Kurt Gödel e o Teorema da Incompletude: A descoberta Matemática Nº 1 do Século XX e suas relações com fé e razão

 Kurt Gödel

Este artigo de Perry Marshall (traduzido ao português por Mateus Scherer Cardoso) me causou um deslumbramento tão grande que decidi publicá-lo aqui por inteiro. Eu o encontrei durante um intervalo da leitura do artigo Science and the Restoration of Culture, de Wolfgang Smith, que cita Gödel e que me deixou com vontade de me aprofundar mais no tema. Não perdi meu tempo. (Claro, primeiro tive de quebrar a cabeça aqui e aqui. E, por fim, também sugeri Gödel para a galeria Cearenses Internacionais.)

O Teorema da Incompletude de Gödel:
A Descoberta Matemática Nº 1 do Século XX

Em 1931, o jovem matemático Kurt Gödel fez uma descoberta-marco tão poderosa quanto qualquer coisa que Albert Einstein desenvolveu, desferindo um golpe devastador nos matemáticos de sua época.

A descoberta de Gödel não se aplica somente à matemática, mas literalmente a todos os ramos da ciência, lógica e conhecimento humano. Ela tem verdadeiramente implicações que abalam a Terra.

Estranhamente, poucas pessoas sabem qualquer coisa sobre ela.

Permita-me contar-lhe a história.

Os matemáticos adoram provas. Eles estavam furiosos e chateados por séculos, porque eles eram incapazes de PROVAR algumas das coisas que eles sabiam que eram verdade.

Por exemplo: se você estudou geometria no colégio, você fez os exercícios nos quais você, baseado em uma lista de teoremas, prova todos os tipos de coisas sobre os triângulos.

Aquele livro de geometria do colégio é feito sobre os cinco postulados de Euclides. Todos sabem que os postulados são verdadeiros, mas em 2500 anos ninguém imaginou um meio de prová-los.

Sim, parece sim perfeitamente razoável que uma linha possa ser estendida infinitamente em ambas as direções, mas ninguém tem sido capaz de PROVAR isso. Nós só podemos demonstrar que eles são um conjunto de 5 suposições razoáveis e de fato necessárias.

Grandes gênios matemáticos estavam frustrados por mais de 2000 anos porque eles não podiam provar todos os seus teoremas. Havia muitas coisas que eram “obviamente” verdade, mas ninguém conseguia imaginar um meio de prová-las.

No início dos anos 1900, entretanto, um tremendo senso de otimismo começou a crescer nos círculos matemáticos. Os matemáticos mais brilhantes do mundo (como Bertrand Russell, David Hilbert e Ludwig Wittgenstein) estavam convencidos que estavam rapidamente se aproximando de uma síntese final.

Uma “Teoria de Tudo” unificada, que finalmente amarraria todos os pontos soltos. A matemática seria completa, à prova de balas, hermética, triunfante.

Em 1931, este jovem matemático austríaco, Kurt Gödel, publicou um artigo que de uma vez por todas PROVOU que uma única Teoria de Tudo é realmente impossível.

A descoberta de Gödel foi chamada de “O Teorema da Incompletude”.

Se você me der alguns minutos, eu lhe explicarei o que ele diz, como Gödel o descobriu e o que ele significa – em português simples e direto que qualquer um pode entender.

O Teorema da Incompletude de Gödel diz:

“Qualquer coisa em que você pode desenhar um círculo ao redor não pode ser explicada por si mesma sem se referir a algo fora do círculo – algo que você tem que assumir mas não pode provar.”

Expresso em Linguagem Formal:

O teorema de Gödel diz: “Qualquer teoria efetivamente gerada capaz de expressar aritmética elementar não pode ser simultaneamente consistente e completa. Em particular, para qualquer teoria formal consistente e efetivamente gerada, que prova certas verdades aritméticas básicas, existe uma afirmação aritmética que é verdadeira, mas que não pode ser provada em teoria.”

A Tese de Church-Turing diz que um sistema físico pode expressar aritmética elementar assim como um humano pode, e que a aritmética de uma Máquina de Turing (um computador) não pode ser provada dentro do sistema e é igualmente sujeita à incompletude.

Qualquer sistema físico sujeito a medição é capaz de expressar aritmética elementar. (Em outras palavras, crianças podem fazer matemática contando em seus dedos, a água fluindo para um balde faz integração, e sistemas físicos sempre dão a resposta certa.)

Portanto, o Universo é capaz de expressar aritmética elementar e, tanto como a própria matemática e uma máquina de Turing, é incompleto.

Silogismo:

1. Todos os sistemas computacionais não-triviais são incompletos.

2. O Universo é um sistema computacional não-trivial.

3. Portanto, o Universo é incompleto.

Você pode desenhar um círculo ao redor de todos os conceitos no seu livro de geometria do colégio. Mas eles são todos feitos sobre os cinco postulados de Euclides, que claramente são verdadeiros mas que não podem ser provados. Esses cinco postulados estão fora do livro, fora do círculo.

Você pode desenhar um círculo ao redor de uma bicicleta, mas a existência dessa bicicleta depende de uma fábrica que está fora do círculo. A bicicleta não pode explicar a si mesma.

Gödel provou que há SEMPRE mais coisas que são verdadeiras do que você pode provar. Qualquer sistema de lógica ou números que os matemáticos possam desenvolver sempre se baseará em pelo menos umas poucas suposições que não podem ser provadas.

O Teorema da Incompletude de Gödel não se aplica somente à matemática, mas a tudo que está sujeito às leis da lógica. A incompletude é uma verdade na matemática, e é igualmente verdadeira na ciência, na linguagem ou na filosofia.

E, se o Universo é matemático e lógico, a Incompletude também se aplica ao Universo.

Gödel criou sua prova começando com o “Paradoxo do Mentiroso” — que é a afirmação:

“Eu estou mentindo.”

“Eu estou mentindo” é autocontraditória, já que, se é verdade, eu não sou um mentiroso, e, se é falsa, eu sou um mentiroso, então é verdade.

Então Gödel, em um dos movimentos mais engenhosos da história da matemática, converteu o Paradoxo do Mentiroso em uma fórmula matemática. Ele provou que qualquer afirmação requer um observador externo.

Nenhuma afirmação sozinha pode completamente provar a si mesma como verdadeira.

O seu Teorema da Incompletude foi um golpe devastador no “positivismo” da época. Gödel provou o seu teorema preto no branco, e ninguém podia discutir com a sua lógica.

Ainda assim, alguns de seus amigos matemáticos foram para o túmulo negando, acreditando que, de uma forma ou outra, Gödel certamente estaria errado.

Ele não estava errado. Era mesmo verdade. Existem mais coisas que são verdade do que você pode provar.

Uma “teoria de tudo” – seja na matemática, na física ou na filosofia – nunca será encontrada. Porque é impossível.

OK, o que isso então realmente significa? Por que isso é superimportante, e não apenas um factóide geek?

Isso é o que significa:

  • Fé e Razão não são inimigas. Na verdade, o exato oposto é verdade! Uma é absolutamente necessária para que a outra exista. Todo o raciocínio ao final leva de volta à fé em algo que você não pode provar.
  • Todos os sistemas fechados dependem de algo fora do sistema.
  • Você pode sempre desenhar um círculo maior, mas existirá sempre algo fora do círculo.
  • O raciocínio de um círculo maior para um menor é “raciocínio dedutivo.”

Exemplo de um raciocínio dedutivo:

1. Todos os homens são mortais
2. Sócrates é um homem
3. Portanto, Sócrates é mortal

  • O raciocínio de um círculo menor para um maior é “raciocínio indutivo.”

Exemplos de raciocínio indutivo:

1. Todos os homens que conheço são mortais
2. Portanto, todos os homens são mortais

1. Quando eu largo objetos, eles caem
2. Portanto, há uma lei da gravidade que governa objetos de caem

Note que quando você se move do círculo menor para o maior, você tem que fazer suposições que não pode provar 100%.

Por exemplo: você não pode PROVAR que a gravidade sempre será consistente todas as vezes. Você só pode observar que ela é consistentemente verdadeira toda vez. Você não pode provar que o Universo é racional. Você só pode observar que fórmulas matemáticas como E = mc² parecem, sim, descrever perfeitamente o que o Universo faz.

Praticamente todas as leis científicas estão baseadas no raciocínio indutivo. Estas leis apóiam-se em uma afirmação de que o Universo é lógico e baseado em leis fixas que podem ser descobertas.

Você não pode PROVAR isto. (Você não pode provar que o Sol virá amanhã de manhã também.) Você literalmente tem que usar a fé. Na verdade, a maioria das pessoas não sabem que além do círculo da ciência existe um círculo da filosofia. A ciência está baseada em suposições filosóficas que você não pode provar cientificamente. Realmente, o método científico não pode provar, só pode inferir.

(A ciência originalmente surgiu da idéia de que Deus fez um Universo ordenado que observa leis fixas e que podem ser descobertas.)

Agora, por favor, considere o que acontece quando desenhamos o maior círculo possível – ao redor de todo o Universo.
(Se existem múltiplos universos, nós estamos desenhando um círculo ao redor deles todos também.):

  • Tem que existir algo fora desse círculo. Algo que nós temos que assumir mas não podemos provar.
  • O Universo como nós conhecemos é finito – matéria finita, energia finita, espaço finito e 13,7 bilhões de anos de idade.
  • O Universo é matemático. Qualquer sistema físico sujeito a medição executa a aritmética. (Você não precisa conhecer matemática para fazer uma adição – você pode usar um ábaco em vez disso e ele lhe dará a resposta certa todas as vezes.)
  • O Universo (toda a matéria, energia, espaço e tempo) não pode explicar a si mesmo.
  • O que quer que esteja fora do maior círculo não tem limites.Por definição, não é possível desenhar um círculo ao redor dele.
  • Se desenharmos um círculo ao redor de toda a matéria, energia, espaço e tempo e aplicar o teorema de Gödel, então saberemos que o que está fora desse círculo não é matéria, não é energia, não é espaço e não é tempo. É imaterial.
  • O que quer que esteja fora do maior círculo não é um sistema – i.e. não é um conjunto de partes. De outra forma poderíamos desenhar um círculo ao redor delas. A coisa fora do maior círculo é indivisível.
  • O que quer que esteja fora do maior círculo é uma causa não-causada, porque você sempre pode desenhar um círculo ao redor de um efeito.

Nós podemos aplicar o mesmo raciocínio indutivo à origem da informação:

  • Na história do Universo, nós também podemos ver a introdução da informação, cerca de 3,5 bilhões de anos atrás. Ela veio na forma do código genético, que é simbólico e imaterial.
  • A informação teve que vir de fora, já que a informação não é conhecida por ser uma propriedade inerente da matéria, energia, espaço ou tempo.
  • Todos os códigos cuja origem conhecemos são projetados por seres conscientes.
  • Portanto, o que quer que esteja fora do círculo maior é um ser consciente.

Em outras palavras, quando adicionamos a informação à equação, concluímos que a coisa fora do maior círculo não só é infinita e imaterial, como também é consciente.

Não é interessante como todas estas coisas soam suspeitamente similar a como os teólogos têm descrito Deus por milhares de anos?

Então é dificilmente surpreendente que entre 80 e 90% das pessoas do mundo acreditam em algum conceito de Deus. Sim, é intuitivo para a maioria do pessoal. Mas o teorema de Gödel indica que é também supremamente lógico. De fato, é a única posição que alguém pode tomar e ainda assim permanecer nos domínios da razão e da lógica.

A pessoa que orgulhosamente proclama “Você é um homem da fé, mas eu sou um homem da ciência” não entende as raízes da ciência e a natureza do conhecimento!

Um aparte interessante…

Se você visitar o maior website ateu do mundo, Infidels, na página inicial você encontrará a seguinte declaração:

“O Naturalismo é a hipótese segundo a qual o mundo natural é um sistema fechado, o que significa que nada que não seja parte do mundo natural o afeta.”

Se você conhece o teorema de Gödel, você sabe que todos os sistemas lógicos devem contar com algo fora do sistema. Então, de acordo com o Teorema da Incompletude de Gödel, o Infidels não pode estar correto. Se o Universo é lógico, ele tem uma causa externa.

Assim, o ateísmo viola as leis da razão e da lógica.

O Teorema da Incompletude de Gödel prova definitivamente que a ciência não pode jamais preencher suas próprias lacunas. Nós não temos escolha a não ser procurar fora da ciência por respostas.

A Incompletude do Universo não é a prova que Deus existe. Mas… É a prova de que, para se construir um modelo racional e científico do Universo, a crença em Deus não é somente 100% lógica… ela é também necessária.

Os cinco postulados de Euclides não podem ser formalmente provados e Deus também não pode ser formalmente provado. Mas… assim como você não pode construir um sistema coerente de geometria sem os cinco postulados de Euclides, você também não pode construir uma descrição coerente do Universo sem uma Primeira Causa e uma Fonte de ordem.

Assim, fé e ciência não são inimigas, mas aliadas. Tem sido verdade por centenas de anos, mas em 1931 este jovem magricelo matemático austríaco chamado Kurt Gödel o provou.

Em nenhuma época na história da humanidade a fé em Deus tem sido mais razoável, mais lógica ou mais amplamente apoiada pela ciência e pela matemática.

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Perry Marshall (traduzido para o português por Mateus Scherer Cardoso)

Fonte: Cosmic Finger Prints.

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“Sem matemática nós não podemos penetrar profundamente na filosofia.
Sem filosofia nós não podemos penetrar profundamente na matemática.
Sem ambas nós não podemos penetrar profundamente em nada.”
Leibniz

“A matemática é a linguagem pela qual Deus escreveu o Universo.”
Galileu

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Leitura adicional:

“Incompleteness: The Proof and Paradox of Kurt Gödel” (em inglês) por Rebecca Goldstein – biografia fantástica e uma grande leitura

Uma coleção de citações e notas sobre a prova de Gödel’s da Miskatonic University Press (em inglês)

A descrição formal do Teorema da Incompletude de Gödel’s na Wikipédia(em inglês)

Ciência vs. Fé na CoffeehouseTheology.com (em inglês)

Teoria da Informação: “If you can read this, I can prove God exists” (em inglês)

Por que Jesus ensinava através de parábolas?

parabola-semeador

(1688.3) 151:1.1 Naquela época, e pela primeira vez, Jesus começara a utilizar o método da parábola, para ensinar às multidões que tão freqüentemente se ajuntavam em volta dele. Posto que Jesus havia conversado com os apóstolos, e com outros, até tarde da noite, nesse domingo pela manhã pouquíssimos do grupo estavam de pé para o desjejum; assim, ele foi para a beira-mar e assentou-se a sós no barco, o velho barco de pesca de André e Pedro, que permanecia sempre à disposição dele; e então Jesus pôde meditar sobre o próximo passo a ser dado na obra de expandir o Reino. Todavia, o Mestre não ficou só por muito tempo. Logo, o povo de Cafarnaum e das aldeias próximas começou a chegar e, às dez horas, naquela manhã, quase mil pessoas se viram reunidas, na praia, perto do barco de Jesus, e clamavam pela atenção dele. Pedro, que agora já estava de pé, chegando ao barco, disse a Jesus: “Mestre, devo falar a eles?” E Jesus respondeu: “Não, Pedro, eu vou contar-lhes uma história”. E Jesus então começou a contar a parábola do semeador, uma das primeiras de uma longa série de parábolas com as quais ele ensinou às multidões que o seguiam. Esse barco tinha um assento elevado, no qual ele assentou-se (pois era costume ficar assentado, enquanto se ensinava) para falar às pessoas reunidas ao longo da praia. Pedro falou umas poucas palavras e em seguida Jesus disse:

(1688.4) 151:1.2 “Um semeador saiu para semear, e aconteceu que, ao semear, algumas sementes caíram à beira do caminho, onde seriam pisadas ou devoradas pelos pássaros do céu. Outras sementes caíram em locais rochosos, onde havia pouca terra, e brotaram imediatamente, dada a pouca profundidade no solo; todavia o sol veio logo e elas murcharam, pois não possuíam raízes com as quais absorver a umidade. Outras sementes caíram entre os espinhos e, quando os espinhos cresceram, ficaram estranguladas, de modo a nada produzirem. Outras sementes, ainda, caíram em solo bom e, crescendo, produziram trinta grãos, algumas outras, sessenta, e outras, cem grãos”. E, quando Jesus terminou de contar essa parábola, disse à multidão: “Aquele que tem ouvidos para ouvir, que ouça”.

(1689.1) 151:1.3 Os apóstolos e aqueles que estavam junto, quando ouviram Jesus ensinando ao povo daquele modo, ficaram bastante perplexos; e, depois de muito conversarem, entre si, naquela noite, no jardim de Zebedeu, Mateus disse a Jesus: “Mestre, qual é o significado das palavras obscuras que tu apresentaste à multidão? Por que falas por meio de parábolas àqueles que buscam a verdade?” E Jesus respondeu:

(1689.2) 151:1.4 “Eu vos tenho instruído com paciência durante todo esse tempo. A vós vos é dado conhecer os mistérios do Reino do céu, mas, para a multidão, que não sabe discernir, e, para aqueles que buscam a nossa destruição, de agora em diante, os mistérios do Reino serão apresentados em parábolas. Assim nós faremos para que aqueles que realmente desejem entrar no Reino possam discernir o significado do ensinamento e dessa forma encontrar a salvação; ao passo que aqueles que nos estiverem escutando, apenas para nos pegar de surpresa, acabarão ficando mais confundidos, pois verão sem nada ver e ouvirão sem nada ouvir. Meus filhos, não conheceis a lei do espírito a qual decreta que, àquele que tem, será dado, de um tal modo que ele terá em abundância; mas, àquele que não tem, será tomado até mesmo o que ele tem. Por isso, de agora em diante, eu falarei muita coisa ao povo, por meio de parábolas, para que os nossos amigos e aqueles que desejarem saber a verdade possam encontrar o que procuram, enquanto os nossos inimigos e aqueles que não amam a verdade possam ouvir sem entender. Muitos, dessa gente, não estão no caminho da verdade. O profeta de fato descreveu todas essas almas sem discernimento, quando ele disse: ‘Pois o coração desse povo tornou-se fechado e duro, e os seus ouvidos, embotados, e não escutam, e os seus olhos, eles os fecharam para não ver a verdade e para não a compreender nos seus corações”.

(1689.3) 151:1.5 Os apóstolos não entenderam totalmente o significado das palavras do Mestre. Enquanto André e Tomé conversavam mais com Jesus, Pedro e os outros apóstolos retiraram-se para uma outra parte do jardim, onde iniciaram uma discussão verdadeira e prolongada.

2. A Interpretação da Parábola

(1689.4) 151:2.1 Pedro e o grupo à sua volta chegaram à conclusão de que a parábola do semeador era uma alegoria, e que cada aspecto possuía um sentido oculto e, sendo assim, decidiram ir a Jesus e pedir uma explicação. E, desse modo, Pedro aproximou-se do Mestre, dizendo: “Nós não somos capazes de penetrar no significado dessa parábola, e, estamos desejando que tu a expliques para nós, já que disseste que a nós nos é dado conhecer os mistérios do Reino”. E, depois de ter ouvido isso, Jesus disse a Pedro: “Meu filho, não desejo esconder nada de ti, mas, primeiro, que tal se disseres a mim sobre o que acabastes de conversar; qual a tua interpretação da parábola?”

(1689.5) 151:2.2 Após um momento de silêncio, Pedro disse: “Mestre, nós falamos muito a respeito da parábola, e a interpretação pela qual eu optei é a seguinte: O semeador é o pregador do evangelho; a semente é a palavra de Deus. A semente, que cai à beira do caminho, representa aqueles que não compreendem o ensinamento do evangelho. Os pássaros, apanhando as sementes que caem no chão endurecido, representam Satã, ou o maligno, que rouba aquilo que foi semeado nos corações dos ignorantes. A semente que caiu nos locais rochosos e que brotam muito subitamente representam aquelas pessoas superficiais e irreflexivas que, ao ouvirem as boas-novas, recebem a mensagem com júbilo mas, como a verdade não tem nenhuma raiz real no seu entendimento mais profundo, a sua devoção tem vida curta diante da atribulação e da perseguição. Quando chegam as dificuldades, esses crentes tropeçam, e sucumbem quando tentados. A semente que caiu entre os espinhos representa todos aqueles que ouvem a palavra com boa vontade, mas permitem que as preocupações do mundo e a natureza enganadora das riquezas asfixiem o mundo da verdade, de tal modo que as verdades se tornam infrutíferas. Agora, as sementes que caíram no bom solo, e que cresceram, até darem, algumas trinta, outras sessenta e outras até cem grãos, representam aqueles que, após haverem ouvido a verdade, recebem-na em vários níveis de entendimento — devido aos seus dons intelectuais diferentes — e, por isso, manifestam esses vários graus de experiência religiosa”.

(1690.1) 151:2.3 Após haver ouvido a interpretação de Pedro, para a parábola, Jesus perguntou aos outros apóstolos se eles também possuíam sugestões a oferecer. A esse convite apenas Natanael respondeu. Disse ele: “Mestre, ainda que eu reconheça muitas coisas boas na interpretação que Simão Pedro dá à parábola, não concordo totalmente com ele. A minha idéia sobre essa parábola seria: A semente representando o evangelho do Reino, enquanto o semeador significando os mensageiros do Reino. A semente que caiu à margem do caminho, na parte endurecida do solo, representa aqueles que não ouviram senão pouco do evangelho e, também, aqueles que são indiferentes à mensagem e endureceram os seus corações. Os pássaros do céu, que levam as sementes caídas. à beira do caminho, representam os hábitos da nossa vida, a tentação do mal e os desejos da carne. A semente caída na rocha representa aquelas almas emocionais que são rápidas para receber os ensinamentos novos, mas também são igualmente rápidas para desistir da verdade, quando enfrentam as dificuldades e realidades para viver de acordo com essa verdade, a elas faltando a percepção espiritual. A semente, que caiu entre os espinhos, representa os que são atraídos para as verdades do evangelho; eles têm a intenção de seguir os ensinamentos, mas são impedidos pelo orgulho da vida, o ciúme, a inveja e as ansiedades da existência humana. A semente que caiu em bom solo, e cresceu até dar, algumas trinta, algumas sessenta e outras até cem grãos, representa os graus de capacidade natural e variável para compreender a verdade e responder aos seus ensinamentos espirituais, que têm os homens e as mulheres, pois possuem dons diferentes de iluminação de espírito”.

(1690.2) 151:2.4 Quando Natanael terminou de falar, os apóstolos e os seus companheiros entraram em uma discussão séria e mesmo em um debate profundo, alguns sustentando a correção da interpretação de Pedro; e um número quase igual deles tentava defender a explicação de Natanael para a parábola. Nesse ínterim, Pedro e Natanael haviam-se retirado para a casa, onde se envolveram em um esforço vigoroso e determinado para convencer e mudar a idéia, um ao outro.

(1690.3) 151:2.5 O Mestre permitiu que essa confusão ultrapassasse o limite da sua expressão mais intensa; após o que ele bateu com as palmas das mãos a fim de chamá- los para perto de si. Quando eles estavam todos reunidos à sua volta, uma vez mais, disse: “Antes de falar-vos sobre essa parábola, algum de vós tem qualquer coisa a dizer?” Depois de um momento de silêncio, Tomé falou: “Sim, Mestre, gostaria de dizer umas poucas palavras. Lembro-me de que tu nos aconselhaste, certa vez, para tomarmos cuidado exatamente com isso. Ensinaste-nos que, quando usássemos exemplos nas nossas pregações, deveríamos empregar histórias verdadeiras, não fábulas, e que deveríamos escolher a história que melhor se adequasse como exemplo da verdade central e vital, a qual gostaríamos de ensinar ao povo; e que, havendo usado a história, não deveríamos tentar dar um emprego espiritual a todos os detalhes menores envolvidos na narrativa da história. Eu sustento que Pedro e Natanael estão ambos errados nas suas tentativas de interpretar essa parábola. Admiro a capacidade deles para essas coisas, mas estou igualmente seguro de que todas as tentativas, como essas, de fazer uma parábola natural produzir analogias espirituais, em todos os seus aspectos, pode apenas resultar em confusão e em erros sérios de concepção, sobre o verdadeiro propósito da parábola. E, plenamente provado que eu devo estar certo, está, pelo fato de que, se há uma hora atrás comungávamos de um só pensamento, agora estamos divididos em dois grupos separados que sustentam opiniões diferentes a respeito dessa parábola e que mantêm tais opiniões tão sinceramente a ponto de até interferir, na minha opinião, com a capacidade de compreender plenamente a grande verdade que tu tinhas em mente, quando apresentaste essa parábola à multidão e quando posteriormente nos pediste para tecer comentários sobre ela”.

(1691.1) 151:2.6 As palavras ditas por Tomé tiveram o efeito de acalmar a todos. Ele levou-os a lembrarem-se do que Jesus lhes tinha ensinado em ocasiões anteriores e, antes que Jesus continuasse a falar, André ergueu-se e disse: “Estou persuadido de que Tomé está certo; e gostaria que ele nos contasse qual significado ele atribui à parábola do semeador”. Depois que Jesus acenou para Tomé falar, ele disse: “Meus irmãos, eu não gostaria de prolongar essa discussão, mas, se assim o desejardes, direi que penso que essa parábola foi contada para ensinar-nos uma grande verdade. E esta é a de que nossos ensinamentos sobre o evangelho do Reino, não importa quão fiel e eficientemente executemos as nossas missões divinas, serão acompanhados por vários níveis de êxito; e que todas essas diferenças, nos resultados, são devidas diretamente às condições inerentes às circunstâncias da nossa ministração, condições sobre as quais temos pouco ou nenhum controle”.

(1691.2) 151:2.7 Quando Tomé acabou de falar, a maioria dos seus companheiros pregadores estava pronta para concordar com ele e, Pedro e Natanael estavam mesmo, por sua vez, prontos a dirigir-se a ele, quando Jesus levantou-se e disse: “Muito bem, Tomé; tu discerniste bem o verdadeiro significado das parábolas; mas Pedro e Natanael, ambos, fizeram a vós todos um bem igual, pois eles mostraram plenamente o perigo de se tentar fazer uma alegoria das minhas parábolas. Nos vossos próprios corações, podeis muitas vezes, com proveito, fazer tais vôos de conjectura imaginativa, mas vós cometereis um erro sempre que buscardes oferecer conclusões como uma parte do vosso ensinamento público”.

(1691.3) 151:2.8 Agora, uma vez passada a tensão, Pedro e Natanael congratulavam-se um com o outro pelas suas interpretações e, à exceção dos gêmeos Alfeus, cada um dos apóstolos aventurava-se a fazer uma interpretação da parábola do semeador antes de retirar-se para dormir. Até mesmo Judas Iscariotes ofereceu uma interpretação bastante plausível. Freqüentemente, entre si próprios, os doze iriam tentar imaginar as parábolas do Mestre, como haviam feito, por meio de uma alegoria, mas, nunca mais, eles levariam essas especulações a sério. Essa foi uma sessão bastante proveitosa para os apóstolos e para seus colaboradores, especialmente porque, desde então, e cada vez mais, Jesus empregou parábolas no seu ensinamento público.

3. Mais a Respeito das Parábolas

(1691.4) 151:3.1 A mente dos apóstolos adaptava-se bem às parábolas; tanto assim, que toda a noite seguinte foi dedicada a mais uma discussão sobre as parábolas. Jesus iniciou a conferência da noite dizendo: “Meus amados, vós deveis sempre amoldar os vossos modos de ensinar, adequando assim a vossa apresentação da verdade às mentes e aos corações que estão diante de vós. Quando estiverdes diante de uma multidão de intelectos e de temperamentos vários, vós não podereis falar palavras diferentes para cada tipo de ouvinte, mas podeis contar uma história que passe o vosso ensinamento; e cada grupo, cada indivíduo mesmo, será capaz de dar a sua própria interpretação à vossa parábola, de acordo com os próprios dons intelectuais e espirituais. Deveis deixar a vossa luz brilhar, mas o façais com sabedoria e discrição. Nenhum homem, quando acende uma lâmpada, cobre-a com um vaso ou põe-na debaixo da cama; ele põe a sua lâmpada sobre um pedestal, onde todos possam ver a luz. No Reino do céu, permiti que eu vos diga, nada que, estando escondido, deixará de tornar-se manifestado; nem há segredo algum que não se fará afinal conhecido. Finalmente, todas as coisas virão à luz. Não penseis apenas nas multidões, e em como elas ouvem a verdade; prestai atenção também em vós próprios, em como escutais. Lembrai-vos do que eu vos disse muitas vezes: Para aquele que tem, será dado mais; enquanto daquele que não tem, será tomado até mesmo aquilo que ele pensa que tem”.

(1692.1) 151:3.2 A discussão contínua sobre as parábolas; e as outras instruções para a sua interpretação podem ser resumidas e expressas, em forma moderna, do modo seguinte:

(1692.2) 151:3.3 1. Jesus preveniu contra o uso, fosse de fábulas, fosse de alegorias, para o ensino das verdades do evangelho. Ele recomendava o uso livre de parábolas, especialmente parábolas naturalistas. Ele enfatizava o valor de utilizar-se das analogias existentes entre o mundo natural e o mundo espiritual, como um meio para ensinar-se a verdade. Freqüentemente fazia alusão ao natural, como sendo “a sombra irreal e fugaz das realidades do espírito”.

(1692.3) 151:3.4 2. Jesus narrou três ou quatro parábolas das escrituras dos hebreus, chamando a atenção para o fato de que esse método de ensinar não era totalmente novo. Contudo, tornou-se quase um método novo de ensinar, do modo como ele o empregou, desse momento em diante.

(1692.4) 151:3.5 3. Ao ensinar aos apóstolos o valor das parábolas, Jesus chamou a atenção para os pontos seguintes:

(1692.5) 151:3.6 A parábola tem apelo para vários níveis diferentes, simultaneamente, da mente e do espírito. A parábola estimula a imaginação, desafia o senso do discernimento e provoca o pensamento crítico; ela promove a simpatia, sem despertar antagonismos.

(1692.6) 151:3.7 A parábola parte das coisas conhecidas e chega ao discernimento do desconhecido. A parábola utiliza o material e o natural, como um meio de apresentar o espiritual e o supramaterial.

(1692.7) 151:3.8 As parábolas favorecem a tomada de decisões morais imparciais. A parábola escapa de muitos preconceitos e joga na mente uma nova verdade, de um modo encantador; e a tudo isso ela faz despertando um mínimo de autodefesa, de ressentimento pessoal.

(1692.8) 151:3.9 Rejeitar a verdade contida na analogia parabólica requer uma ação intelectual consciente, que despreza diretamente o vosso próprio julgamento honesto e a vossa decisão equânime. A parábola conduz ao esforço do pensamento por meio do sentido da audição.

(1692.9) 151:3.10 O ensino, sob a forma de parábola, capacita aquele que ensina a apresentar verdades novas e até surpreendentes, e ao mesmo tempo evita amplamente qualquer controvérsia e choque externo com a tradição e com a autoridade estabelecida.

(1693.1) 151:3.11 A parábola também possui a vantagem de estimular a lembrança da verdade ensinada, quando as mesmas cenas conhecidas forem encontradas posteriormente.

(1693.2) 151:3.12 Desse modo, Jesus buscava deixar os seus seguidores inteirados das muitas razões que motivavam a sua prática de usar cada vez mais as parábolas nos seus ensinamentos públicos.

Antonin Sertillanges fala sobre a vocação intelectual

sertillanges

« Falar de vocação equivale a designar os que pretendem fazer do trabalho intelectual a sua vida, ou porque dispõem de vagar para se entregarem ao estudo, ou porque, no meio de ocupações profissionais, reservam para si, como feliz suplemento e recompensa, o profundo desenvolvimento do espírito. Digo profundo, para descartar a idéia de tintura superficial. Uma vocação não se satisfaz com leituras vagas nem com pequenos trabalhos dispersos. Requer penetração continuidade e esforço metódico, no intuito duma plenitude que responda ao apelo do Espírito e aos recursos que lhe aprouve comunicar-nos.

« Este apelo não se deve conjecturar. Quem se aventura a um caminho, que não pode trilhar, com pé firme, conte de antemão com decepções. O trabalho pesa sobre todos e, após a primeira formação sempre custosa, seria loucura deixar descambar o espírito na primitiva indigência. Uma coisa é a conservação pacífica do que se adquiriu, e outra coisa é retomar pela base uma instrução puramente provisória e que se considera simples ponto de partida.

« Este último estado de espírito é o de um chamado. Implica uma resolução grave, porque a vida de estudo, sendo austera, impõe duros encargos. Paga, e abundantemente; mas exige uma entrada de capital de que poucos são capazes. Os atletas da inteligência, Como os atletas do desporto, têm de prever privações, longos treinos e tenacidade por vezes sobre-humana. Precisam de se dar de alma e coração à conquista da verdade, visto que a verdade só presta serviços a quem a serve.

« Tal orientação deve ser precedida de maduro e longo exame. A vocação intelectual é como as demais vocações: está inscrita nos nossos instintos, nas nossas capacidades, em um não sei que entusiasmo interior sujeito ao exame da razão. As nossas disposições são como as propriedades químicas que determinam, para cada corpo, as combinações em que pode entrar. Não é coisa que se dê. Vem do céu e da natureza primeira. O ponto está em ser dócil a Deus e a si próprio, depois de ter escutado estas duas vozes.

« Assim compreendida, a máxima de Disraeli: “Fazei o que vos agrada, contanto que isso verdadeiramente vos agrade”, encerra profundo sentido. O gosto, que se encontra cm correlação com as tendências íntimas e com as aptidões, é esplêndido juiz. S. Tomás, afirmando que o prazer qualifica as funções e pode servir para classificar os homens, deve naturalmente concluir que o prazer também pode trair as nossas vocações. Mas é mister esquadrinhar até às profundidades em que o gosto e o ardor espontâneo se encontram com os dons e a providência de Deus.

« O estudo duma vocação intelectual comporta, além da vantagem incalculável de o homem se realizar plenamente a si próprio, um interesse geral a que ninguém pode renunciar.

« A humanidade cristã compõe-se de personalidades diversas, e nenhuma destas pode abdicar daquela sem empobrecer o grupo e privar o eterno Cristo de parte do seu reino. Jesus Cristo reina pelo seu desdobramento. A vida de qualquer dos seus “membros” é um instante qualificado da sua duração; qualquer caso humano e cristão é um caso incomunicável, único e, por conseguinte, necessário, da extensão do “corpo espiritual”. Se sois porta-luz, não escondais, debaixo do alqueire, o brilho pequeno ou grande que de vós se espera na casa do Pai de família. Amai a verdade e os seus frutos de vida, para bem vosso e dos outros; consagrai ao estudo e à sua utilização o principal do vosso tempo e do vosso coração.

« Todos os caminhos, exceto um, são maus para vós, visto que todos se apartam da direção onde se espera e se requer a vossa ação. Não sejais infiel a Deus, nem a vossos irmãos, nem a vós próprios, rejeitando um apelo sagrado.

« Isto supõe que se abraça a vida intelectual com intenções desinteresseiras e não por ambição ou vã gloríola. Os guizos da publicidade só tentam os espíritos fúteis. A ambição, que quisesse subordinar a si a verdade eterna, ofendê-la-ia. Brincar com as questões que dominam a vida e a morte, com a natureza misteriosa, talhar-se um destino literário e filosófico à custa da verdade ou fora da dependência da verdade, constitui um sacrilégio. Tais intentos, sobretudo o primeiro, não conseguiriam manter o investigador; depressa o esforço esmoreceria e a vaidade haveria de entreter-se com bagatelas, sem curar das realidades.

« Mas isto supõe igualmente que se junta, à aceitação do fim, a aceitação dos meios, sem o que não se deve tomar a sério a obediência à vocação. Quantos há que desejariam saber! Uma vaga aspiração impele as multidões para horizontes que a maior parte admira de longe, como o doente de gota admira, desde a planície, as neves eternas que cobrem o cimo das montanhas. Obter sem gastar, eis o desejo universal; mas desejo de corações cobardes e de cérebros enfermos. O universo não acorre ao primeiro sussurro e para que a luz de Deus baixe a vossas lâmpadas, é necessário que as vossas almas a peçam instantemente.

« Sois um consagrado: tendes de querer o que a verdade quer; consenti, por causa dela, em vos mobilizardes, em vos fixardes nos seus domínios, em vos organizardes e, porque vos falta a experiência, em vos firmardes na experiência alheia.

« “Ah, se a juventude soubesse!…” Mais do que ninguém, precisam os jovens deste aviso. A ciência é conhecimento pelas causas; mas ativamente, quanto à sua produção, é criação pelas causas. É preciso conhecer e adotar as causas do saber, depois coaduná-las e não adiar o cuidado de lançar os alicerces até ao momento de assentar o telhado.

« Que belas culturas se podiam empreender nos primeiros anos de liberdade após os estudos, revolvida ainda de fresco a gleba intelectual com as sementes confiadas ao solo! É esse um tempo que não volta mais, o tempo de que se há-de viver mais tarde. Qual ele tiver sido, tal será o homem, porque não há maneira de arrepiar o caminho andado.

« Se viverdes superficialmente, sofrereis o castigo de ter descurado, em seu tempo, o porvir que vive sempre de esperança. Pense cada qual nisto na hora em que o pensar pode servir.

« Quantos jovens, que nutrem a pretensão de vir a ser trabalhadores, malbaratam miseravelmente os dias, as forças, a seiva intelectual! ou não trabalham, quando lhes sobra tempo de o fazer, ou trabalham mal, caprichosamente, sem saberem o que são, nem para onde querem ir, nem como se anda. Cursos, leituras, freqüentações, dosagem do trabalho e do descanso, da solidão e da ação, arte de extrair e de utilizar os elementos adquiridos, realizações provisórias que anunciam o trabalho próximo, virtudes a alcançar e a desenvolver, nada se prevê, nada será satisfeito.

« No entanto, em igualdade de recursos, que diferença entre o que sabe e prevê e o que corre à aventura! “O gênio é longa paciência”, mas paciência organizada, inteligente. Não se requerem faculdades extraordinárias para realizar uma obra; basta uma média superior; o resto, fornece-o a energia e a arte de a aplicar. Sucede aqui o que sucede a um operário honrado, poupado e fiel ao trabalho: chega ao termo, quando muitas vezes o inventor fracassa por causa de irritações e pressas.

« O que digo aplica-se a todos, dum modo especial aos que só sabem dispor duma parte da vida, da mais fraca, para se entregarem aos trabalhos da inteligência. Mais do que os outros, devem estes ser consagrados. Terão de amontoar, em reduzido espaço, o que lhes não é dado distribuir em vasta extensão. O ascetismo especial e a virtude heróica do trabalhador intelectual deverão ser, para eles, o pão de cada dia. Se, porém, consentirem nesta dupla oferta de si próprios, não desanimem.

« Se para produzir não faz falta o gênio, menos falta ainda faz a plena liberdade, tanto mais que esta tem armadilhas, e para as vencer pode concorrer imenso o estar adstrito a rigorosas obrigações. Uma corrente apertada entre margens estreitas irromperá mais longe. A disciplina do ofício é forte escola que aproveita aos lazeres estudiosos. O homem, quando constrangido, concentra-se mais, aprende a avaliar o tempo, refugia-se com ardor nas horas raras em que, satisfeito o dever, se torna a encontrar o ideal e se goza da calma da ação escolhida, após a ação imposta pela dura existência.

« O trabalhador que no esforço novo encontra a recompensa do esforço antigo, que dele faz o seu tesouro, é de ordinário um apaixonado; não há meio de o desapegar do que assim é consagrado pelo sacrifício. O seu andar, na aparência mais lento, dispõe de recursos para ir por diante. Pobre tartaruga laboriosa, não perde o tempo em ninharias, porfia, e ao fim de poucos anos, ultrapassa a lebre indolente, cuja marcha desimpedida lhe causava inveja, enquanto se arrastava lentamente.

« Pensai o mesmo do trabalhador isolado, sem dotes intelectuais, nem facilidade de freqüentações que o estimulem, enterrado nalgum canto de província onde parece condenado a estagnar-se, longe das ricas bibliotecas, dos cursos brilhantes, do público vibrante, possuindo-se unicamente a si e obrigado a tudo haurir deste fundo inalienável.

« Não desanime. Se tem tudo contra si, guarde-se a si próprio, e que isso lhe baste. Um coração ardente dispõe de maiores probabilidades de vencer, embora em pleno deserto, do que um estúrdio do Bairro latino que não sabe aproveitar as facilidades que tem à mão. Também aqui, da dificuldade pode brotar a força. Sobre a montanha, só nos especamos nas passagens difíceis; nos caminhos planos avançamos folgados, e a folga, não vigiada, depressa se toma funesta.

« O querer vale mais do que tudo: querer ser alguém; chegar a ser alguma coisa; ser já, pelo desejo, esse alguém qualificado pelo ideal. O resto sempre se alcança. Livros, há-os em toda a parte; além disso, poucos bastam. Freqüentações, estímulos, encontramo-los em espírito na solidão: as grandes seres estão lá, presentes a quem os invoca, e por detrás do pensador ardente erguem-se os grandes séculos. Os que têm a facilidade de assistir a cursos, ou os não seguem ou os seguem mal, se, em caso de necessidade, não tiverem em si recursos para deles prescindirem. Quanto ao público, por vezes anima-vos, ordinariamente perturba-vos e dispersa-vos. Não vos arrisqueis a perder uma fortuna por uma colher de mel coado. Mais vale a solidão apaixonada, onde qualquer semente rende cem por um e um simples raio de sol doura os frutos do outono.

« Quando S. Tomás de Aquino se dirigia a Paris e descobriu ao longo a cidade, disse ao irmão que o acompanhava: “Irmão, de bom grado trocaria tudo isto pelo comentário de S. João Crisóstomo sobre S. Mateus”. A quem vive destes sentimentos pouco importa o lugar onde está ou os meios de que dispõe; esse é um eleito do espírito e, como tal, só lhe resta perseverar e entregar-se à vida consoante o Plano divino.

« Escuta-me, ó jovem que compreendes esta linguagem e a quem os heróis da inteligência parece chamarem misteriosamente, mas que receias encontrar-te desprovido.

« Tens duas horas por dia? Podes obrigar-te a reservá-las ciosamente, a empregá-las com ardor e, depois, destinado também de antemão ao Reino de Deus, podes beber o cálice de sabor esquisito e amargo, que estas páginas quereriam dar-te a prova? Se a tua resposta é afirmativa, tem confiança, mais do que isso repousa na certeza.

« Obrigado a ganhar a vida, ganhá-la-ás sem lhe sacrificar, como tantas vezes acontece, a liberdade da alma. Entregue a ti, sentir-te-ás atirado com maior violência para os teus nobres fins. A maior parte dos grandes homens exerceu um ofício. Na opinião de muitos, as duas horas, que peço, bastam para talhar um destino intelectual. Aprende a administrar esse pouco tempo; mergulha todos os dias no manancial que, dessedentando, aumenta a sede.

« Queres contribuir com a tua quota para perpetuar a sabedoria entre os homens, para recolher a herança dos séculos, para fornecer ao presente as regras do espírito, para descobrir os fatos e as causas, para orientar os olhos inconstantes na direção das causas primeiras e os corações na dos fins supremos, para reavivar a chama que se apaga e organizar a propaganda da verdade e do bem? É esse um quinhão que vale, sem dúvida, sacrifícios suplementares e o cultivo duma paixão absorvente.

« O estudo e a prática daquilo que o P. Gratry chama a Lógica viva, isto é, o desenvolvimento do nosso espírito, ou verbo humano, pelo contato direto ou indireto com o Espírito e o Verbo divino, este estudo grave e esta prática perseverante franquear-te-ão a entrada no santuário admirável. Hás-de pertencer ao número dos que crescem, adquirem e se preparam para os dons magníficos. Se Deus quiser, também tu encontrarás lugar, um dia, na assembléia dos espíritos nobres.»

Trecho inicial do livro A Vida Intelectual, de Antonin Sertillanges.

Ananda K. Coomaraswamy: “¿Para Qué Exponer Obras de Arte?”

AnandaCoomaraswamy

¿Para qué es un museo de arte? Como la palabra «conservador» implica, la función primera y más esencial de este museo es cuidar obras de arte antiguas o únicas que ya no están en sus lugares originales o que ya no se usan como se usaban originalmente y que, por consiguiente, están en peligro de destrucción por abandono u otros motivos. Este cuidado de las obras de arte no implica necesariamente su exposición.

Si preguntamos por qué deben exponerse y hacerse accesibles y explicarse al público las obras de arte protegidas, la respuesta será que esto ha de hacerse con un propósito educativo. Pero antes de que procedamos a la consideración de este propósito, antes de preguntar: ¿educación en qué o para qué?, debe hacerse una distinción entre la exposición de obras de artistas vivos y la de obras de arte antiguas, o relativamente antiguas, o exóticas. No hay necesidad de que los museos expongan obras de artistas vivos, que no están en peligro inminente de destrucción; o, al menos, si se exponen tales obras, debe comprenderse claramente que, en realidad, el museo está haciendo publicidad del artista y actuando en beneficio del marchante o intermediario cuyo negocio consiste en encontrar un mercado para el artista; la única diferencia es que, aunque el museo hace el mismo trabajo que el marchante, no obtiene ningún beneficio. Por otra parte, que un artista vivo quiera «colgar» o «exponer» su obra en un museo sólo puede deberse a su necesidad o a su vanidad. Pues las cosas se hacen normalmente para ciertos propósitos y ciertos lugares para los que son apropiadas, y no simplemente «para la exposición»; y porque lo que se hace así por encargo, es decir, por un artista para un cliente, está controlado por ciertas exigencias y se mantiene en orden. Mientras que, como observó recientemente el señor Steinfelds, «el arte que sólo se hace para colgarlo de las paredes de un museo es un tipo de arte que no necesita considerar su relación con su entorno último. El artista puede pintar lo que quiera, y del modo que quiera, y si a los conservadores y administradores les gusta lo suficiente, lo colgarán en la pared con todas las demás curiosidades».

Vamos a considerar el verdadero problema, del ¿por qué exponer?, en lo que se refiere a las obras de arte relativamente antiguas o exóticas que, debido a su fragilidad y a que ya no corresponden a ninguna necesidad nuestra de la que seamos activamente conscientes, se conservan en nuestros museos, de cuyas colecciones forman la parte más importante. Si hemos de exponer estos objetos por razones educativas, y no como meras curiosidades, es evidente que estamos proponiendo hacer tanto uso de ellos como sea posible sin un manejo efectivo. Así pues, será imaginativamente y no efectivamente, como nosotros haremos uso del relicario medieval, o yaceremos en el lecho egipcio, o haremos nuestras ofrendas a alguna deidad antigua. Por consiguiente, los fines educativos para los que puede servir una exposición, no sólo requieren los servicios de un conservador que prepare la exposición, sino también los de un docente que explique las necesidades del patrón original y los métodos del artista original; porque las obras que tenemos delante son lo que son por lo que estos patronos y artistas fueron. Si la exposición ha de ser algo más que una muestra de curiosidades y un espectáculo entretenido, no bastará darse por satisfechos con nuestras reacciones personales ante los objetos; para conocer por qué los objetos son lo que son, debemos conocer a los hombres que los hicieron. No sería «educativo» interpretar esos objetos a la luz de nuestros gustos o disgustos personales, o asumir que estos hombres consideraban el arte tal como lo consideramos nosotros, o que tenían motivos estéticos, o que «se estaban expresando a sí mismos». Debemos estudiar suteoría del arte, en primer lugar para comprender las cosas que hicieron por arte, y, en segundo lugar, para preguntarnos —en el caso de que resulte diferir de la nuestra— si su punto de vista sobre el arte no pudo haber sido un punto de vista más verdadero.

Asumamos que estamos examinando una exposición de objetos griegos, y que invitamos a Platón para que nos haga de docente. Él no sabe nada de nuestra distinción entre bellas artes y artes aplicadas. Para él, la pintura y la agricultura, la música y la carpintería y la alfarería son todas por igual tipos de poesía o de hechura. Y como dice Plotino, siguiendo a Platón, las artes como la música o la carpintería no se basan en la sabiduría humana, sino en el pensamiento de «allí».

Siempre que Platón habla despectivamente de las «bajas artes mecánicas» y de la mera «labor», a la que distingue del «trabajo noble» de hacer cosas, se refiere a los tipos de manufactura que sólo proveen a las necesidades del cuerpo. El tipo de arte que llama sano y que admitirá en su estado ideal, no sólo debe ser útil, sino también fiel a unos modelos rectamente escogidos, y por consiguiente bellos; y este arte, dice, proveerá al mismo tiempo «a las necesidades de las almas y de los cuerpos de susciudadanos». Su «música» corresponde a todo lo que nosotros entendemos por «cultura», y su «gimnasia» a todo lo que entendemos por formación y bienestar físico; insiste en que estos fines culturales y físicos nunca deben perseguirse por separado; el delicado artista y el rudo atleta son igualmente despreciables. Por otra parte, nosotros estamos acostumbrados a considerar la música, y la cultura en general, como inútiles, pero, a pesar de todo, estimables. Olvidamos que, tradicionalmente, la música nunca es algo sólo para el oído, algo sólo para ser escuchado, sino que siempre es el acompañamiento de algún tipo de acción. Nuestras propias concepciones de la cultura son típicamente negativas. Creo que el profesor Dewey está en lo cierto cuando llama a nuestros valores culturales esnobistas. Las lecciones del museo deben aplicarse a nuestra vida.

Novo livro: “Mestre de um Universo” (impresso e ebook)

São vinte e seis contos e crônicas escritos entre os anos 1990 e início dos anos 2000, tratando dos mais diversos temas, mormente cinema, política, religião, drogas, amor, etc. Todos trazem, de uma forma ou de outra, o peso da “virada do milênio” e muito humor.

A capa foi feita a partir de uma pintura do artista plástico Domício Ferreira.

Tanto o ebook (formato EPUB) quanto o livro impresso, já estão à venda na AgBook e no Clube de Autores. A versão para Kindle pode ser adquirida na Amazon.com, nesta página.

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