palavras aos homens e mulheres da Madrugada

Mês: julho 2010 Page 1 of 5

Trecho de “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad

Joseph Conrad

« Deviam tê-lo ouvido falar ‘Meu marfim’. Eu ouvi. ‘Minha Prometida, meu marfim, meu posto, meu rio, meu…’, tudo lhe pertencia. Fez com que prendesse minha respiração na expectativa de ouvir a floresta rebentar numa prodigiosa explosão de riso, que deslocaria do lugar as estrelas do céu. Tudo lhe pertencia, mas isso não importava. A questão era saber a quem ele pertencia, quantos poderes das trevas reclamavam-lhe a posse. Essa era a reflexão que provocava arrepios de horror. Era impossível — de nada adiantava, também — tentar imaginar. Ele havia galgado uma alta posição entre os demônios da Terra — literalmente, quero dizer. Vocês não podem compreender. Como poderiam? Tendo o chão firme sob os pés, cercados do apoio ou da crítica de vizinhos gentis, andando delicadamente entre o açougueiro e o policial, no santo terror de escândalos, prisões e hospícios, como poderiam vocês imaginar a que particular região de primitivas eras os pés desimpedidos de um homem seriam capazes de conduzi-lo, por força da solidão — uma solidão absoluta, sem nenhum policial — ao caminho do silêncio — um silêncio absoluto, onde nenhuma voz de advertência de um vizinho amável pode ser ouvida sussurrando à opinião pública? São essas pequenas coisas que fazem a grande diferença. Quando elas desaparecem, você tem de recorrer à sua força inata, à sua capacidade de ser fiel a si próprio. É claro que você pode ser tolo o bastante para cometer erros — estúpido demais até para perceber que está sendo assaltado pelos poderes das trevas. Suponho que nenhum tolo chegou a barganhar sua alma com o diabo; ou o tolo é tolo demais, ou o diabo demasiadamente diabólico — não sei qual é o caso. Ou pode ser que você seja uma criatura tão fantasticamente superior a ponto de ficar surda e cega a tudo que não diga respeito a visões e sons celestiais. A Terra passa, então, a ser apenas um lugar de espera — e, se você perde ou ganha assim, não sei dizer. No entanto, a maioria de nós não é uma coisa nem outra. A Terra para nós é um lugar para viver, onde temos de lidar com visões, sons… e odores, também, por Deus! — respirar carne podre de hipopótamo, por assim dizer, e não ser contaminado. E aí, não percebem? Nossa força aparece, a fé em nossa capacidade de cavar buracos discretos para enterrar a coisa — nosso poder de devoção, não a si próprio, mas a um obscuro e extenuante trabalho. E isso é bastante difícil. Vejam, não estou tentando desculpar-me ou mesmo explicar… Estou tentando compreender mais claramente quem era… o Sr. Kurtz… o espectro do Sr. Kurtz. Aquele iniciado fantasma proveniente do fundo de lugar nenhum honrou-me com sua surpreendente confidência antes de desaparecer completamente. Foi porque podia falar inglês comigo. O Kurtz original fora em parte educado na Inglaterra, e — como ele próprio teve a bondade de dizer-me — suas simpatias inclinavam-se para o lugar certo. A mãe era meio inglesa, o pai meio francês. A Europa inteira contribuíra para a fabricação de Kurtz; e, pouco a pouco, aprendi que, muito apropriadamente, a Sociedade Internacional para a Supressão dos Costumes Bárbaros o incumbira da elaboração de um relatório, que lhe serviria de guia no futuro. E ele de fato o escreveu. Eu o vi. Eu o li. Era eloqüente, vibrava de eloqüência, mas passional demais, eu acho. Dezessete páginas de escrita miúda, que ele encontrara tempo para realizar! Porém, isso deve ter sido antes de — vamos dizer — ficar mal dos nervos, fazendo com que presidisse certas danças à meia-noite que terminavam com indescritíveis ritos, os quais — tanto quanto relutantemente concluí do que ouvira diversas vezes — eram oferecidos a ele — compreendem? — ao próprio Sr. Kurtz. Mas era um belo texto. O parágrafo de abertura, no entanto, à luz de informação posterior, parece-me agora sinistro. Começa com o argumento de que nós, brancos, em razão do nível de desenvolvimento a que chegamos, ‘devemos necessariamente aparecer a eles (selvagens) como seres de natureza sobrenatural — aproximando-nos deles com a força de uma divindade’, e assim por diante. ‘Pelo simples exercício de nossa vontade, podemos exercer para sempre um poder praticamente ilimitado’ etc. etc. A partir desse ponto, elevava-se a grande altura, levando-me junto. O discurso era magnífico, embora difícil de lembrar, compreendem. Passava a idéia de uma exótica Imensidão governada por uma augusta Benevolência. Fazia-me vibrar de entusiasmo. Era o ilimitado poder da eloqüência… da palavra… de palavras nobres, inflamadas. Não havia alusões práticas para interromper o encadeamento mágico das frases, a não ser uma espécie de nota ao pé da última página, evidentemente rabiscada muito depois, numa caligrafia irregular, podendo ser considerada como uma exposição do método. Era muito simples, e, no final daquele apelo comovente a todo sentimento altruísta, brilhava, luminoso e aterrorizante, como o clarão de um raio em céu sereno: ‘Exterminem todos os bárbaros!’.»

O Coração das Trevas, de Joseph Conrad (1857-1924)

Abaixo, cena de Apocalypse Now  Redux, de Francis Ford Coppola, uma das melhores adaptações da história do cinema.

Apocalypse Now - Drop the bomb!

Hilda Hilst na Casa do Sol (documentário)

Teaser do documentário HH — um passeio, uma conversa, um dia com Hilda Hilst:

Muito bom voltar a ver e ouvir a Hilda contando “causos” em seu habitat natural. (De quebra, aí estão a Helena, o Marujo, o Teco, a Aninha, a Chinchin, o Nenegão e outros cães da Casa do Sol…)

O Traça (The Bookworm), personagem do seriado Batman

bookworm2

« Na finada série Batman, havia um vilão, o Traça [The Bookworm, interpretado por Roddy McDowall], que virou bandido porque leu todos os livros existentes e, incapaz de criar algo por si próprio, entregou-se à loucura.»

De uma matéria da finada revista Bizz.

Atualmente, os discípulos do Traça não fazem outra coisa a não ser navegar pelos sete mares da internet em busca de vítimas indefesas e de pouca paciência. Dia após dia, noite após noite, eles dedicam-se a fazer comentários azedos e cheios de empáfia nos blogues alheios. (Sim, também gostam de bater boca via Twitter, Facebook e listas de discussão. Adoram caçar erros ortográficos, de concordância ou de mera digitação.) Diferenciam-se dos trolls porque, de fato, leram e estudaram um pouquinho mais do que estes. No entanto, vale lembrar, já não conseguem ler tanto quanto seu mestre porque, afinal de contas, a internet consome muito tempo. E, claro, nem é preciso dizer que nunca criam nada de interessante por si mesmos…

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Fernão Mendes Pinto e sua peregrinação pelo oriente do século XVI

Fernão Mendes Pinto

« Quando às vezes ponho diante dos olhos os muitos e grandes trabalhos e infortúnios que por mim passaram, começados no princípio da minha primeira idade e continuados pela maior parte e melhor tempo da minha vida, acho que com muita razão me posso queixar da ventura que parece que tomou por particular tenção e empresa sua perseguir-me e maltratar-me, como se isso lhe houvera de ser matéria de grande nome e de grande glória; porque vejo que, não contente de me pôr na minha Pátria logo no começo da minha mocidade em tal estado que nela vivi sempre em misérias e em pobreza, e não sem alguns sobressaltos e perigos de vida, me quis também levar às partes da Índia, onde em lugar do remédio que eu ia buscar a elas, me foram crescendo com a idade os trabalhos e os perigos. Mas por outro lado, quando vejo que do meio de todos estes perigos e trabalhos me quis Deus tirar sempre a salvo e pôr-me em segurança, acho que não tenho tanta razão de me queixar de todos os males passados, quanta tenho de lhe dar graças por este só bem presente, pois me quis conservar a vida para que eu pudesse fazer esta rude e tosca escritura que por herança deixo a meus filhos (porque só para eles é minha intenção escrevê-la) para que eles vejam nela estes meus trabalhos e perigos de vida que passei no decurso de vinte e um anos, em que fui treze vezes cativo e dezessete vendido, nas partes da Índia, Etiópia, Arábia Feliz, China, Tartária, Maçácar, Samatra e outras muitas províncias daquele oriental arquipélago dos confins da Ásia, a que os escritores chins, siameses, guéus, léquios, chamam em suas geografias a pestana do mundo, como ao adiante espero tratar muito particular e muito amplamente. Daqui por um lado tomem os homens motivo de não desanimarem com os trabalhos da vida para deixarem de fazer o que devem, porque não há nenhuns, por grandes que sejam, com que não possa a natureza humana, ajudada do favor divino, e por outro me ajudem a dar graças ao Senhor onipotente por usar comigo da sua infinita misericórdia, apesar de todos meus pecados, porque eu entendo e confesso que deles me nasceram todos os males que por mim passaram, e dela as forças e o ânimo para os poder passar e escapar deles com vida.»

Assim se inicia o relato de 774 páginas (divididas em dois volumes) do aventureiro e explorador português Fernão Mendes Pinto (1510?–1583), que com uma prosa dinâmica e direta, mas de poder narrativo sempre envolvente, nos transporta através de tempestades e batalhas em alto-mar, de terras e povos estranhos, de paisagens e animais fantásticos, de reis, rainhas, mouros, piratas e assim por diante. Impressiona, por exemplo, ler sobre a preparação, em Goa, Índia, de uma armada composta por 225 navios portugueses — entre naus, caravelas, galeões, galés, fustas, etc. — para a batalha que deveria ter sido travada com 50 navios muçulmanos: foram necessários cinco dias para embarcar um total de 40 mil homens. (Taí um filme que gostaria de ver.) Com a mesma sintaxe viva, colorida, Mendes Pinto também nos faz gargalhar ao relatar seu encontro com o rei de Quedá, o qual havia – assim afirmavam seus súditos – assassinado o pai e se casado com a própria mãe, grávida do filho incestuoso. O detalhe tragicômico é que o rei mandava executar sumariamente qualquer um que comentasse o fato…

Estudiosos chamam a atenção para o fato de este livro, apesar de ser considerado “uma das obras capitais da formação do nosso idioma enquanto língua literária”, não ter se tornado tão conhecido e louvado como os Lusíadas, de Camões. Talvez, especulam, porque o autor, em meio a situações fantásticas, não poupa seus compatriotas de um enfoque realista, isto é, mesmo sendo virtualmente tementes a Deus, no geral não eram nada santos…

Também é interessante notar que Machado de Assis tinha para com Fernão Mendes Pinto (e também para com Gomes Eanes Zurara) a mesma consideração que eu, há pelo menos quinze anos, tenho para com Antônio Vieira: autores aos quais recorremos para revitalizar nosso próprio uso da língua ou, como escreveu Machado, para estudar “as formas mais apuradas da linguagem, desentranhar deles [Mendes Pinto e Zurara] mil riquezas, que à força de velhas se fazem novas”.

É possível ler online a versão original da Peregrinação aqui. Mas não aconselho, porque a ortografia da época, sendo muito distinta – bastante curiosa, na verdade –, impede a fluidez da leitura. O melhor é adquirir a versão adaptada à ortografia atual por Maria Alberta Menéres e publicada pela Editora Nova Fronteira: volume 1 e volume 2.

Amar um escritor (ou músico, ator… hum? empreendedor?!)

Jack Kerouac

Jack Kerouac: Bonito, charmoso, mas…

Por Steven Pressfield.

¿Você está apaixonada por um escritor? ¿Tem certeza? ¿Está segura de que não quer tentar alguém mais fácil de lidar, tal como um peão de rodeio, um soldado do BOPE ou um dublê especialista em cenas com motos?

Dito isto, eis algumas orientações, nascidas da dolorosa experiência, para aquelas que tenham dado seu coração aos servidores da Musa literária. (As seguintes observações se aplicam igualmente, é claro, a atores, artistas, músicos, comediantes, empreendedores e a todos os demais membros desta espécie particularmente tumultuosa.) Caras amantes, por favor, mantenham em mente o que segue:

1) Escritores não são normais.

E.L. Doctorow considera a arte literária uma “forma socialmente aceitável de esquizofrenia”. O que ele quer dizer é que artistas e empreendedores são um pouco malucos. Eles ouvem a música que o restante de nós não consegue ouvir. E às vezes a busca dessa música os leva para longe de seu mais amável e gentil Eu. Nós devemos exercitar a paciência quando amamos artistas. Eles são conduzidos por forças que não entendem e não podem controlar.

2) Escritores vivem em suas cabeças.

O que é divertido para pessoas normais — paraquedismo, digamos; um final de semana em Aruba — não significa nada para seu escritor. A diversão dele está em sua própria cabeça. Um épico está sendo projetado dentro dela e ela está tomando ditado tão rápida e furiosamente quanto lhe é possível. “Quando trabalho, relaxo”, dizia Picasso. “Não fazer nada… me deixa cansado.”

O princípio unificador sob essa doideira artística é que escritores/artistas/empreendedores estão lutando contra a Resistência [conceito apresentado por Pressfield em seu livro A Guerra da Arte] — e com a inspiração. Eles caminham na corda-bamba sobre um desfiladeiro ardente de 300 metros de profundidade, simultaneamente duelando com o diabo e cortejando a divina oponente deste — a inspiração, a mágica, o “fluxo”.

3) Escritores não são governados pela razão.

Nós imaginamos que artistas e empreendedores são inteligentes, até mesmo brilhantes. Mas na verdade eles estão atuando por instinto e com os nervos à flor da pele. Não se deixe enganar por seu domínio da câmera Panavision 3D ou sua habilidade de dar seqüência a uma dúzia de sentenças completas. Eles estão patinando sobre gelo quebradiço. “Cada vez que escrevo um livro, todas as vezes que encaro aquele caderno de anotações”, disse Maya Angelou, “eu penso, ‘Nossa, agora eles vão me desmascarar’.”

¿Como lidar com um artista? Como um treinador trata um cavalo de corrida. Lembre-se, você é a única com a tabela de alimentação e o cronômetro. Sua montaria ficará com o coração derretido por você se ele souber que você se importa e que você o deixará, e até mesmo o ajudará a, disputar sua corrida.

4) Escritores são primitivos.

¿Você já leu Crônicas, livro de memórias de Bob Dylan? O relato sobre como Mister D junta as peças para formar um álbum soa como a saga de um xamã do Neolítico planejando para sua tribo a caça outonal a um mastodonte.  Deuses e monstros aparecem; jornadas épicas são realizadas; incensos e encantamentos são oferecidos. Comparado ao método de trabalho de Dylan, Hunter Thompson parece um modelo de ordem civilizada.

Artistas e empreendedores requerem a supervisão de adultos. Não importa o quão eloquentemente eles apresentem seu caso, por baixo eles estão numa intensa batalha, como você, para encontrar e manter seu equilíbrio emocional. Eles são inseguros, grandiosos, ciumentos, fascinantes, volúveis, românticos.

¿Você é um artista? Dê uma folga à sua parceira. Amá-lo não é um dia de sol na praia. Você é um mala, querido.

Tente visitar o planeta Terra tão frequentemente quanto possível e, quando você vier, vá acampar por uns tempos. Esteja realmente presente. Ouça de verdade. Lembre-se que sua namorada / namorado/ esposa tem de lidar com o fato de que você está servindo a Musa. Sua companheira se aflige ao sentir que é a número 2 em seu coração. Tranqüilize-a. Sexo, flores, espumantes levam a um bom caminho.

Lembre-se que sua parceira pode ser tão insegura, grandiosa, ciumenta, fascinante, volúvel e romântica quanto você.

5) Uma última palavra aos amantes de artistas.

Antes de tudo, ¿por que alguns de nós sentem-se atraídos por artistas? Buscamos nos aproximar da mágica? ¿Estamos intoxicados com o poder de nosso cônjuge para produzir maravilhas com fumaça azulada, cabelos longos e uma Fender Stratocaster?

Dois avisos: se você pretende se aproximar daquela mágica por causa do ímpeto e do burburinho, esteja pronta para pagar o preço.

Mas aqui vai o Principal. Se você é conduzida ao poder do seu artista por sentir que há um dom similar dentro de si mesma, mas você não sabe o que fazer (ou falta a coragem) para acessá-lo, pare e pense bem. Esse frio na barriga pode não ser amor. Pode ser a Resistência. Sua própria Resistência retendo, com mãos frias, seu único, autêntico e ainda-latente dom.

Neste caso, o amor pode ser, para ambos, um choque frontal de trens. Em vez disso, seja amiga do seu artista — e faça seu próprio trabalho.

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Fonte: Loving A Writer By STEVEN PRESSFIELD.
Traduzido por Yuri Vieira.

Apenas um comentário: achei bastante singular o fato de Steven Pressfield incluir na categoria de escritores/artistas a figura do entrepreneur (empreendedor, empresário). Num país como o Brasil onde 100 milhões de habitantes, por intermédio do Estado, vivem às custas dos outros cerca de 84 milhões, ser um empreendedor é como ser Vincent van Gogh. É possível até imaginar as angústias, o desespero e talvez mesmo a tragédia de tentar ser um empresário, de tentar começar de baixo e vencer pelo próprio esforço e mérito. (Bom, eu tentei, mas não o suficiente para arrancar a orelha.) Tantos impostos — para bancar essa gente toda –, tantos encargos e leis trabalhistas esdrúxulos, tudo em nome da idéia de “distribuição de renda”, que não faz senão criar uma nova elite: a elite dos que se penduram nas tetas do Estado sem nada produzir, sem nada criar, sem nada arriscar. Como se a vida não fosse, como diria Riobaldo (Grande Sertão: Veredas) como se a vida não fosse um “descuido prosseguido”. E o pior é que nem eu mesmo, por mais que tente, consigo escapar disso: quase todo trabalho que me chamam para fazer em vídeo — enquanto roteirista e diretor —  é ou para o governo ou bancado com alguma “lei de incentivo”. (É assim fora do circuito Rio-São Paulo, o qual, em época de eleições, também “lava a sua égua.”) E o pior: sempre que vou à bancarrota sou obrigado a “me virar nos trinta”. No Brasil, se você não é burocrata, se não é funcionário do Estado, no curto e médio prazos está perdido. Porque no longo prazo a pirâmide irá ceder: não é possível sugar tanto a tantos por tanto tempo.  Os empreendedores brasileiros — e aqui estão incluídos até mesmo os camelôs — dão o sangue para pintar girassóis, mas os demais querem apenas saber o quanto irão embolsar do preço do quadro…

Atualizações semanais no Twitter em 2010-07-26

Profissão: herdeiro (de um escritor) – na revista Época

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« Famílias, eu vos detesto. A antologia que acaba de sair na França com esse título é uma coleção de casos vividos por Emmanuel Pierrat, especialista em propriedade intelectual. O que pode ser pior para um fã de Jorge Luis Borges do que não encontrar suas obras pela coleção Pléiade porque a reedição foi bloqueada pela viúva do autor, Maria Kodama? E a frustração dos leitores de Jean Giono que não poderão ler as 3 mil páginas de sua correspondência com a amante Blanche Meyer, proibida pelos sucessores?

« Freud já estudava as lutas familiares depois da morte do pai e o impulso de retomar o lugar vago. Não acontece apenas no terreno psíquico nem só na França. O bibliófilo José Mindlin dizia que familiares de escritores deviam ostentar no cartão de visita a profissão “herdeiro”. Não é justo colocar no papel do carrasco apenas as famílias. O próprio Pierrat reconhece que editoras são especialistas em ultrapassar limites. Na guerra travada por trás das estantes, o leitor nem desconfia por que esse ou aquele autor evaporou-se de repente.»

Assim começa a matéria Profissão: herdeiro, da revista Época, que explica por que muitos autores, por anos e anos, simplesmente desaparecem das livrarias, deixando velhos leitores saudosos e novas gerações completamente alheias à sua existência. Para um escritor que espera ser lido ao menos após sua morte, herdeiro é serpente

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