Trecho do artigo “À Mão Esquerda“, de Olavo de Carvalho:
«Ninguém pode ser romancista se não consegue pensar, sentir e escrever como seus personagens, desdobrando-se momentaneamente em eus imaginários. E para quê alguém faria isso, afinal? Justamente para captar no plano estético a unidade de experiências vivas que ainda são demasiado recentes, ou demasiado impactantes, para poder ser compreendidas intelectualmente.
«Contar a história é o primeiro nível de elaboração da experiência. O romancista não escreve para explicar nada, mas para registrar um conjunto de experiências reais ou imaginárias cujo nexo último lhe escapa, cujo sentido ele só apreende como forma estética, não como conceito explicativo. Daí o sentimento de descoberta, e ao mesmo tempo de perplexidade, que nos assalta ao lermos um bom romance. Ele nos mostra algo de muito importante, mas que não sabemos precisamente o que seja. Por isso é que ninguém pode dizer qual “o” sentido de um romance. Ele tem necessariamente muitos, e até contraditórios. Um romance é um conjunto articulado de símbolos, e um símbolo, como ensinava Susanne K. Langer, é “uma matriz de intelecções” – não a expressão alegórica de intelecções prévias. Um romance deve dar o que pensar, não um pensamento pronto. Por isso é que homens de idéias, pensadores, ideólogos, formadores de opinião, fracassam com tanta freqüência ao escrever romances: eles falam daquilo que já entenderam, não nos dão uma experiência viva carregada de mistério, de perguntas sem resposta.
«Dizer que alguém é um mau romancista não é o mesmo que acusá-lo de ser mau escritor. Grandes escritores – Maurice Barrès é talvez o exemplo mais alto – podem ser romancistas medíocres ou péssimos, porque conhecem demais o sentido daquilo que querem dizer; conhecem-no ao ponto de poder expressá-lo em oratória ou em discurso filosófico, que é o que deveriam fazer em vez de simular experiência viva com material velho e já esclarecido intelectualmente.»
Steve
Dica do @yurivs http://goo.gl/LYU6 😉