« Esta anunciada reforma é ineficaz, amadora e espantosamente prejudicial ao nosso sistema de ensino. Se o Brasil ainda guardar uma pequena reserva de sensatez, vai esquecer esta proposta para sempre e sepultá-la no cemitério das idéias malucas, de onde ela nunca deveria ter saído. Em primeiro lugar, é ineficaz porque não conseguiria alcançar o que pomposamente anuncia — unificar a grafia em todos os países que compartilham nosso idioma. O sistema ortográfico brasileiro e o português são muito parecidos; como dois navios paralelos, singram o oceano sempre na mesma direção, a vinte metros um do outro. A atual reforma conseguiria aproximá-los para dezessete metros — isto é, iria diminuir três metros da distância, a qual, no entanto, continuaria a existir. É muito custo e muito trabalho para muito pouco proveito. Daqui a uns trinta anos, tudo ia começar de novo.
« Em segundo lugar, é amadora porque pouco ou quase nada simplifica o trabalho de aprender e de ensinar a ortografia; elimina algumas regrinhas secundárias, embaralha ainda mais (se é que isso é possível!) o emprego do hífen e, ironia suprema, quer suprimir o acento de pára (verbo), usado para distingui-lo da preposição para — logo um dos raríssmos acentos diferenciais que teria toda a justificativa para continuar existindo.
« Em terceiro lugar, causaria um dano incalculável ao sistema de ensino. Hoje convivem brasileiros que foram alfabetizados (1) pelo modelo anterior a 1943, (2) pelo modelo definido pelo Acordo de 1943, (3) pelo modelo modificado pelo Acordo de 1971; já vivemos um quadro suficientemente complicado e não precisamos acrescentar mais uma camada nesse pandemônio. Ortografia precisa de tempo para sedimentação — e isso se conta em séculos, não em décadas. Uma nova reforma aumentaria ainda mais a insegurança que todo brasileiro tem na hora de escrever — insegurança essa, como podemos ver, absolutamente justificada. Parem de brincar com o que não entendem; deixem nossa ortografia em paz!»
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Dentre todos os artigos e comentários que li a respeito da famigerada nova ortografia e do cinzento Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, os mais sãos, os mais lúcidos e relevantes foram escritos pelo professor Cláudio Moreno. Eu, que ainda não engoli essas mudanças, que no máximo arrisquei a grafar, com peso na consciência, uma que outra “idéia” sem acento, não podia ficar mais satisfeito ao encontrar tão preparado combatente: Cláudio Moreno não perdoa o desengonçado Acordo Ortográfico. A leitura de seus textos me traz alívio – suas ironias e metáforas são irresistíveis – e me deixa mais seguro de que resistir a essa arbitrariedade é o melhor caminho. Sugiro os artigos abaixo:
- Deixem a nossa ortografia em paz! [1º de 10]
- Esqueçam essa reforma! [2° de 10]
- O pesadelo de Cassandra[3° de 10]
- O pesadelo de Cassandra continua [4° de 10]
- O que muda na ortografia? [5° de 10]
- Mudanças na ortografia [6° de 10]
- Arquivem esta reforma! E já! [7° de 10]
- Não compre o novo VOLP! — 1ª parte
- Não compre o novo VOLP! – 2ª parte
- Não compre o novo VOLP! 3ª parte
- Não compre o novo VOLP (final)
- anti-EUA
- Locução x vocábulo composto