palavras aos homens e mulheres da Madrugada

Mês: agosto 2010 Page 4 of 6

Bernardo Soares e aqueles que dominam o Diabo

Fernando Pessoa

« Tive sempre uma repugnância quase física pelas coisas secretas — intrigas, diplomacia, sociedades secretas, ocultismo. Sobretudo me incomodaram sempre estas duas últimas coisas — a pretensão, que têm certos homens, de que, por entendimentos com Deuses ou Mestres ou Demiurgos, sabem — lá entre eles, exclusos todos nós outros — os grandes segredos que são os cavoucos do mundo.

« Não posso crer que isso seja assim. Posso crer que alguém o julgue assim. Por que não estará essa gente toda doida, ou iludida? Por serem vários? Mas há alucinações coletivas.

« O que sobretudo me impressiona, nesses mestres e sabedores do invisível é que, quando escrevem para nos contar ou sugerir os seus mistérios, escrevem todos mal. Ofende-me o entendimento que um homem seja capaz de dominar o Diabo e não seja capaz de dominar a língua portuguesa. Por que há o comércio com os demônios de ser mais fácil que o comércio com a gramática? Quem, através de longos exercícios de atenção e de vontade, consegue, conforme diz, ter visões astrais, por que não pode, com menor dispêndio de uma coisa e de outra, ter a visão da sintaxe? Que há no dogma e ritual da Alta Magia que impeça alguém de escrever — já não digo com clareza, pois pode ser que a obscuridade seja da lei oculta —, mas ao menos com elegância e fluidez, pois no próprio abstruso as pode haver[?] Porque há de gastar-se toda a energia da alma no estudo da linguagem dos Deuses, e não há de sobrar um reles bocado, com que se estude a cor e o ritmo da linguagem dos homens?

« Desconfio dos mestres que o não podem ser primários. São para mim como aqueles poetas estranhos que são incapazes de escrever como os outros. Aceito que sejam estranhos; gostara, porém, que me provassem que o são por superioridade ao normal e não por impotência dele.

« Dizem que há grandes matemáticos que erram adições simples; mas aqui a comparação não é com errar, mas com desconhecer. Aceito que um grande matemático some dois e dois para dar cinco: é um ato de distração, e a todos nós pode suceder. O que não aceito é que não saiba o que é somar ou como se soma. E é este o caso dos mestres do oculto, na sua formidável maioria.»

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Livro do Desassossego, de Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa).

Paul Brunton: algumas ideias em perspectiva (e um conselho)

Paul Brunton

« A beleza, tanto quanto a verdade, é um aspecto da Realidade. Aquele que é insensível a uma ainda não encontrou a outra.»

(…)

« Um estilo de vida refinado e elegante pode ser desaprovado pelas pessoas de tendências ascéticas, e pode até mesmo ser censurado como materialista. O senso estético, porém, pode ser bem compatível com a espiritualidade.»

(…)

« Todos são crucificados pelo próprio ego.»

(…)

« Toda pessoa possui algum tipo de fé; isso inclui a pessoa cuja fé repousa no ceticismo.»

(…)

« Aquele que vive uma vida nobre em meio às coisas do mundo é superior àquele que vive uma vida nobre num mosteiro.» [Eu, Yuri, digo: creio que a busca dessa virtude superior nem passou pelas cabeças dos monges desertores do conto “História sem título”, de Tchekov…]

(…)

« Dissipamos diariamente nossas energias mentais e atiramos nossos pensamentos aos ventos volúveis. Corrompemos o potente poder da Atenção e permitimos que ela se desperdice diariamente nas mil futilidades que preenchem nosso tempo.»

(…)

« O contraste entre os americanos loquazes das cidades e os árabes silenciosos do deserto é inesquecível. O beduíno pode sentar-se com um grupo e não dizer coisa alguma durante horas! A paz do deserto penetrou neles de tal maneira que o dever social da conversação é desconhecido entre eles e considerado desnecessário!» [Eu, Yuri, pergunto: existem beduínos do sexo feminino?… Ok, ok, foi uma pergunta digna de um “americano loquaz”…]

(…)

« A vida permanece o que ela é — imortal e sem limites. Todos nos encontraremos novamente. Saiba o que você é, e seja livre. O melhor conselho hoje é: mantenha-se calmo, alerta. Não deixe que a pressão do ambiente mental viole o que você sabe e o que é real e fundamentalmente verdadeiro. Esse é o talismã mágico que irá protegê-lo; agarre-se a ele. A última palavra é — Paciência! A noite é mais escura antes do amanhecer. Mas o amanhecer vem.»

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Ideias em Perspectiva, de Paul Brunton.

Almada Negreiros: «A poesia é a linguagem dos Iguais dispersos no Tempo»

Almada Negreiros (auto-retrato)

« A poesia é a linguagem dos Iguais dispersos no Tempo. Os iguais não se admiram entre si; confiam-se, ou melhor, são iguais.»

(…)

« Poesia é a vocação humana de não pôr parcialidade na Vida.»

(…)

« A Poesia conhece e não sabe.»

(…)

« Não fazer nada senão por pura simpatia. A simpatia é bastante. Nem amigos nem assuntos onde não esteja inteira a nossa simpatia. A simpatia tem, de fato, uma aparência agradável e é a única maneira de nos tornarmos invisíveis até chegados nós.»

(…)

« O saber é pouca coisa para quem conhece. O saber desencanta o mistério. O conhecimento vive cara a cara com o mistério.»

(…)

« Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.»

(…)

« Comprei um livro de filosofia.[…] Disseram-me que era necessário estar já iniciado, ora eu só tenho uma iniciação, é esta de ter sido posto neste mundo à imagem e semelhança de Deus. Não basta?»

[Algumas notas que tomei, anos atrás, de um livro de Almada Negreiros (1893-1970), cujo título não guardei…]

 

A pintura mais conhecida de Almada Negreiros é este retrato de Fernando Pessoa:

Fernando Pessoa por Almada Negreiros

E seu desenho mais conhecido:

Fernando Pessoa por Almada Negreiros

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O cineasta Andrei Tarkovski fala sobre a criação artística

Andrei Tarkovsky

« A poesia é uma consciência do mundo.»

(…)

« Para mim, os personagens mais interessantes são aqueles exteriormente estáticos, mas interiormente cheios da energia de uma paixão avassaladora.»

(…)

« Quando não se disse tudo sobre um determinado tema, fica-se com a possibilidade de imaginar o que não foi dito. A outra alternativa é apresentar ao público uma conclusão final que não exija dele nenhum esforço; não é disso, porém, que ele necessita. Que significado ela poderá ter para o espectador que não compartilhou com o autor a angústia e a alegria de fazer nascer uma imagem?»

(…)

« Penso que sem uma ligação orgânica entre as impressões subjetivas do autor e a sua representação objetiva da realidade, ser-lhe-á impossível obter alguma credibilidade, ainda que superficial, e muito menos autenticidade e verdade interior.»

(…)

« O gênio […] não se revela na perfeição absoluta de uma obra, mas sim na absoluta fidelidade a si próprio.»

(…)

« É errado dizer que o artista procura o seu tema. Este, na verdade, amadurece dentro dele como um fruto, e começa a exigir uma forma de expressão. É como um parto…»

(…)

« …nada além da observação simples e despretensiosa da vida. O princípio tem algo em comum com a arte do zen, na qual, da forma como a percebemos, a exata observação da vida transforma-se paradoxalmente em sublimes imagens artísticas.»

(…)

« Ter uma visão lúcida e precisa das condições do próprio trabalho faz com que seja mais fácil encontrar uma forma que se ajuste com exatidão a nossas idéias e sentimentos, afastando a necessidade de recorrermos ao experimentalismo. Experimentalismo — para não dizer busca

(…)

« Nada seria mais absurdo que a palavra busca aplicada a uma obra de arte. Nela se escondem impotência, vazio interior, falta de uma consciência verdadeiramente criativa, vaidade mesquinha. ‘Um artista que procura’ — são palavras que apenas escondem uma aceitação neutra de uma obra inferior.»

(…)

« Gosto muito da história que se conta sobre Picasso, que, ao lhe perguntarem sobre sua procura, respondeu com precisão e argúcia (obviamente irritado com a pergunta): ‘Eu não procuro, eu acho’.»

(…)

« E estou convencido de que, se um artista consegue realizar alguma coisa, isso só acontece porque é disso que os outros precisam — mesmo que não o saibam naquele momento.»

Esculpir o Tempo, de Andrei Tarkovski (1932-1986).

Alexander Solzhenitsyn: « Alerta ao Ocidente »

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« Por terem os avós e os pais tampado os ouvidos aos gemidos do mundo e fechado os olhos aos seus abismos — por tudo isso — irá pagar a geração atual.»

(…)

« Nós, os povos oprimidos da Rússia, os povos oprimidos da Europa Oriental, percebemos dolorosamente o catastrófico enfraquecimento da Europa. Nós lhes oferecemos a experiência dos nossos sofrimentos — nós gostaríamos que vocês a assimilassem, sem pagar o incomensurável preço em mortes e escravidão, como nós pagamos. Mas a vossa sociedade se afasta das nossas vozes, que tentam adverti-los. E, provavelmente, devemos reconhecer desolados que a experiência de vida não se transmite. Todos devem viver tudo por si mesmos…»

(…)

« …ficamos sabendo que Dostoiévski, se errou, foi para o lado menor: de 1917 a 1959, o socialismo custou à atual União Soviética 110 milhões de pessoas!»

Alerta ao Ocidente, de Alexander Solzhenitsyn (1918-2008).

Atualizações semanais no Twitter em 2010-08-09

  • E Lula autorizou a criação de uma embaixada brasileira em Tuvalu, país com cerca de 12.000 habitantes. Mais uma sinecura. http://goo.gl/link #
  • "Mãaaaae, o Juanito está me retuitanto!" – charges do ilustrador chileno Alberto Montt – http://goo.gl/cwbn (via @abcaldas) #
  • Muito além dos 140 caracteres ou o diálogo de @ripchip e @francinepereira via Twitter. Ela: http://goo.gl/mwKz Ele: http://goo.gl/Cbrm #
  • Para exibir o curta ESPELHO em colégios, faculdades, etc., basta baixar o arquivo ISO e gravar o DVD. Sob licença CC: http://goo.gl/7RT0 #
  • « Graças sejam dadas a Deus, que situou nas partes naturais da mulher os maiores prazeres do homem…» ~ Xeque Nefzaui -> http://goo.gl/nbxc #
  • 20 anos atrás, um amigo pegou o irmão fazendo troca-troca. Deu uma bronca. E o garoto: "Sou esperto mesmo, comi todo mundo e só dei uma vez" #
  • Toda vez que vejo o Lula justificando alguma safadeza, lembro desse garoto que, no troca-troca, comeu todo mundo e só deu uma vez… #
  • O mais chato dessa "lei da felicidade" será receber multas por andar triste pelas ruas. Vai acabar rolando uma "bolsa Prozac"… #
  • Qdo ingressei na UnB, Cristovam Buarque era reitor. Qdo o vi, notei q parecia o Zacarias(Trapalhões) sem peruca. Nunca mais o levei a sério. #
  • Cristovam Buarque http://goo.gl/5Tpn e Zacarias (Trapalhões) http://goo.gl/TyzU são a mesma pessoa e por isso ele quer que sejamos felizes. #
  • Apenas para esclarecer ao meu amigo @rfiume que não, esse aí http://goo.gl/Ni7l não sou eu tocando guitarra. B^) #
  • Sempre sinto impulsos de mostrar isso: eu telefonando ao @p_paiva com um modificador de voz e ele rachando o bico. http://goo.gl/IxJo B^) #
  • «Articulista do WPost chama Lula de “o maior amigo dos tiranos” e diz q Dilma divide com ele a “afeição” por ditadores» http://bit.ly/cqPSJA #
  • "Google anuncia fim do Wave, serviço que prometia 'matar' o e-mail" (Nem me lembrava mais que isso existia…) http://goo.gl/aGpA #
  • Olhaí, @cleycianne, a Sasha Grey vai parar de "sensualizar". (Será que ela aposenta de vez a Pomba Gira?) http://goo.gl/fY66 (via @abcaldas) #
  • Plus Live, amanhã, no Ambiente Skate Shop (exposição com TODAS as obras de Arte da Plus galeria) – http://goo.gl/ecR4 (via @lydiahimmen) #
  • RT @p_paiva: @yurivs vou rir disso até o fim de minha vida! [ http://goo.gl/IxJo ] #
  • Caricaturas de André Carrilho – http://bit.ly/aEQqXg #
  • Aeon Audiovisual inicia produção de novo episódio de REPUBLIQUETA http://bit.ly/d7NTir (Veja o anterior: http://bit.ly/bl91vz ) #corruPTtos #
  • Lew Rockwell: « A nova investida para uma moeda global » – http://bit.ly/cuSBep #
  • «Ziraldo solta o verbo, diz por que se recusou a participar da “Flipinha” (”Odeio diminutivo”)» http://bit.ly/asBkN3 #
  • «Estado policial petista: ou o MPúblico, o Congresso e a OAB reagem ou podem se preparar para entrar na fila da degola» http://bit.ly/b7aBzZ #
  • «Coreia do Norte: humilhação pública e trabalho forçado por conta de fiasco na Copa do Mundo» http://bit.ly/bf2TSg #
  • Minha caravana passa enquanto seu currículo Lattes… #

Uma palestra de Bruno Tolentino na UFRJ

O poeta Bruno Tolentino, que durante o ano de 1999 também morou na Casa do Sol (residência da escritora Hilda Hilst), tinha o costume — após encerrar seu trabalho diário no livro O Mundo como Idéia, que vinha finalizando —, de ir ou até o escritório da Hilda ou até meu quarto (que também era a biblioteca) e ficar até tarde da noite tecendo mil e um comentários sobre os mais diversos temas, principalmente literatura, filosofia, religião e política. (Digamos que tal ritual fazia parte da minha “pós-graduação desprovida do beneplácito do MEC”…)

Gostei de encontrar a palestra abaixo no You Tube porque ela, ao contrário de outras gravações que ouvi antes, apresenta Bruno exatamente como era nessas ocasiões: aberto, bem-humorado, brincalhão, brilhante, sagaz, sarcástico, erudito, tagarela…

A palestra, que a princípio trata da poesia de Vinicius de Moraes, está dividida em 12 partes (infelizmente há a intervenção inaudível de uma mulher nas últimas partes que irrita um bocado, mas não estraga o conjunto):

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