Eu, que na infância adorava filmes de vampiro, andava com o estômago revirado com tantas besteiras vampirescas no cinema atual. Aliás, já nem acompanho mais as novidades cinematográficas com aquela sofreguidão juvenil de antes. Vou vendo filmes antigos e novos ao acaso, conforme as oportunidades e minha própria vontade. E, neste século, nada mais decepcionante do que um filme de vampiro. (Dá uma saudade do Christopher Lee daquele tamanho.)
Quem leu o livro Drácula (Bram Stoker) sabe que, nele, o vampiro é uma verdadeira praga, uma metáfora do mal, e que os personagens passam metade do tempo orando, pedindo força, coragem e fé a Deus para enfrentar algo tão terrível. (Na verdade, o filme Drácula de Bram Stoker não é senão Drácula de Francis Ford Coppola, pois, ao contrário de sua adaptação, não há nenhum amor romântico no livro.) Tal como eu disse na PUC TV (programa Da Hora), durante um debate a que fui convidado sobre a moda vampiresca, hoje em dia vampiros estão mais para “diabos levantados” do que para “anjos caídos”. E isso só é possível porque as pessoas perderam a noção do que realmente significa o termo maniqueísmo, pois acreditam que colocar, numa narrativa, o Bem a lutar claramente contra o mal seja um equívoco, isto é, que essa luta seja “maniqueísmo”, quando, na verdade, ser maniqueísta é acreditar justamente no contrário, a saber: que o mal é tão absoluto quanto o Bem, que ambos devem caminhar juntos, como gêmeos fundadores da realidade, e que, por isso, combater o mal não é senão uma perda de tempo. Besteira! Santo Agostinho fala muito bem sobre a burrice que é o maniqueísmo, do qual participou antes de abraçar o cristianismo. É preciso combater o mal, sim, como ocorre no livro Drácula. Afinal, tornar-se vampiro não é aprender a conviver com uma doença. Não! É entregar-se ao mal. Aqueles que se tornam vampiros, e mesmo assim não se entregam ao mal, deixam-se matar.
Enfim, tudo isso para dizer que, ontem, finalmente assisti a um filme de vampiros recente (2007) que me causou calafrios: 30 Days of Night. É a história de um povoado isolado no Alaska subitamente invadido por vampiros. Impressionante! Lembra muito o que Luiz Fernando Vaz comenta num artigo sobre zumbis. Claro, como quase tudo o que é bom no cinema, trata-se de uma adaptação (no caso, de uma HQ). E vale a pena. O filme, caso você o veja sozinho numa casa afastada, faz você dar uma saidinha para checar se as portas estão realmente trancadas. Não há vampiros “gente boa” e nem paixonites inocentes por rapazes que brilham no escuro e cuja maldade não é senão uma inadequação adolescente à realidade. Não. É, finalmente, um filme de vampiros à moda antiga.
P.S.: Eu disse que o filme é recente, mas minha sobrinha, que tem 14 anos de idade, achou-o antigo, pois foi rodado em 2007. Bom, para mim, filme antigo é filme mudo do início do século passado…
Eis o trailer:
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