Yuri Vieira é um dos melhores e mais engraçados escritores em atividade no Brasil. Em 1997, depois de abandonar cinco cursos universitários — Jornalismo, Engenharia Civil, Engenharia Florestal, Letras e Artes Plásticas — e morar por cinco anos no alojamento estudantil da UnB (Universidade de Brasília), ele resolveu adotar a estratégia de Henry Miller e escrever sobre o seu suposto fracasso. O resultado é o livro “A Tragicomédia Acadêmica — Contos Imediatos do Terceiro Grau”, que tive a felicidade de ler nos últimos dias, com 20 anos de atraso.
Conheci pessoalmente Yuri Vieira em 2015, durante um encontro de escritores na casa do filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, em Richmond, EUA. Há uma década eu já era um leitor dos contos, crônicas e entrevistas publicados em seu blog pessoal. Ao conviver com Yuri por uma semana, comprovei que ele era tudo aquilo e mais um pouco: um cara inteligente, com boas histórias para contar, divertidíssimo e, além de tudo, um razoável cantor, com quem fiz alguns duetos na legendária van dirigida pelo professor Silvio Grimaldo nas estradas da Virgínia. Ah, Yuri gosta de cerveja.
“A Tragicomédia Acadêmica”, republicado em 2016 pela Vide Editorial, é um livro que parece ter sido escrito por um Henry Miller possuído pelo espírito de Millôr Fernandes. São histórias de uma realidade ao mesmo tempo fantástica e profética, que mais uma vez comprovam a justeza da frase de Hoffmmansthal: “Nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro na sua literatura”. A universidade descrita por Yuri, absolutamente dominada por delírios ideológicos e egocêntricos, é uma imagem precisa e inesperadamente realista da maioria dos campi brasileiros em 2017.
Todos os contos do livro são bons, mas eu destacaria dois: “Paralíticos e Desintegrados” e “O Abominável Homem do Minhocão”. O primeiro é uma clara referência paródica ao livro “Apocalípticos e Integrados”, de Umberto Eco. Trata-se de uma delirante entrevista de um jovem estudante de jornalismo com dois figurões da mídia cultural: o jornalista Mauro Austris e o semiólogo e escritor Roberto Eca. Um dia ainda vou gravar um vídeo encenando esse conto, com meu amigo Bernardo Pires Küster no papel de Eca e eu mesmo no papel de Austris.
“O Abominável Homem do Minhocão” é uma perfeita metáfora do que aconteceu em grande parte do mundo acadêmico brasileiro, em especial nos departamentos de humanidades. Em 1974, com medo de ser preso pela ditadura, um professor refugia-se nos subterrâneos de um prédio universitário e passa a assombrar os alunos e professores da instituição. Para ele, os generais ainda estão no poder e o socialismo continua sendo a esperança da humanidade.
Ao lado dos bons professores e estudantes, que felizmente ainda são a maioria, lutemos para que a nossa UEL não seja dominada por semelhante fantasma, que aqui se chamaria, sem dúvida, o Abominável Homem do Pinicão.
Artigo de Paulo Briguet para a Folha de Londrina.
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