Naquele dia, notei a atmosfera melancólica, quase fúnebre. A UnB praticamente deserta, a biblioteca entregue às traças, o silêncio espraiado por todos os cantos. Sem encontrar vivalma para conversar, passei o dia inteiro retirando os mais diversos livros das estantes. Li horas e horas a fio. Ao caminhar por ali, cruzei com pouquíssimas pessoas, a maioria funcionários, todos cabisbaixos. Somente às 22 horas deixei a biblioteca e me dirigi ao alojamento. Quando entrei no meu apartamento, disse a um colega que o dividia comigo:
— Nossa, o clima hoje tá tão esquisito. Todo mundo tão macambuzio…
E ele: — Ué, você não sabe?
— Não sei o quê?
— Em que mundo você vive, Yuri? O Ayrton Senna morreu!
— Morreu?! Morreu de quê?
— Num acidente, claro. Na corrida de hoje.
Ué, pensei, mas ele não era infalível, quase imortal? Minha primeira reação foi correr até o orelhão e telefonar ao meu pai, que, enquanto falava comigo, chorou copiosamente. Para meu pai, Ayrton Senna também era um filho.