palavras aos homens e mulheres da Madrugada

Autor: Yuri Vieira Page 29 of 82

Schopenhauer fala sobre a honra

Arthur Schopenhauer

Agora que nós, brasileiros, temos um “deputado presidiário” — o execrando senhor Natan Donadon (ex-PMDB-RO) — vale a pena reler Schopenhauer e entender em que grau esse criminoso, com o auxílio de seus pares (nos dois sentidos), e com o pretexto absurdo de defender a própria honra, afronta a honra do cargo que ocupa.

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[…] O assunto deste capítulo, que é aquilo que representamos no mundo, isto é, o que somos aos olhos dos demais, pode ser dividido, como temos dito, em honra, posição e glória.

Para nossos propósitos, a posição pode ser lançada por terra em poucas palavras, por importante que pareça aos olhos da multidão e dos filisteus, e por grande que possa ser sua utilidade como engrenagem da máquina do Estado. É um valor convencionado ou, mais precisamente, um valor fingido; sua ação tem por resultado uma consideração dissimulada, e a coisa toda é uma farsa para a multidão. As condecorações são letras de câmbio tiradas da opinião pública; seu valor se funda no crédito do girador. Entretanto, e sem falar de todo o dinheiro que poupam ao Estado como um substituto para as recompensas pecuniárias, não deixam de ser uma instituição das mais felizes, supondo que sua distribuição seja feita com discernimento e justiça. Com efeito, a multidão tem olhos e ouvidos, mas pouco além disso, muito pouco juízo, e sua própria memória é limitada. Muitos méritos estão fora da esfera de sua compreensão; outros são compreendidos e aclama-se a sua aparição, mas são prontamente esquecidos. Sendo assim, julgo muito conveniente que uma cruz ou uma estrela proclamem à multidão, em qualquer lugar e sempre: Este homem não é vosso semelhante; tem méritos! Entretanto, as condecorações perdem seu valor quando são distribuídas de forma injusta, irracional ou excessiva. Assim, um príncipe deveria ter tanta cautela em concedê-las como um comerciante em firmar letras de câmbio. A inscrição pour le mérite [pelo mérito] em uma condecoração é um pleonasmo; toda condecoração deveria ser pour le mérite, ça va sans dire [pelo mérito, supõe-se].

A questão da honra é muito mais difícil e ampla que a da posição. Primeiramente temos de defini-la. Se a esse propósito dissesse que a honra é a consciência exterior e a consciência é a honra interior, talvez essa definição pudesse agradar alguns; mas seria uma explicação mais pomposa que clara e fundamentada. Portanto, afirmo que, objetivamente, a honra é a opinião que os demais têm sobre nosso valor e, subjetivamente, o respeito que temos por essa opinião. Segundo essa visão, ser um homem de honra exerce uma influência muito salutar sobre o indivíduo, mas de modo algum puramente moral.

A raiz e a origem do sentimento de honra e de vergonha, inerente a todo homem que não esteja completamente corrompido, e o grande valor atribuído ao primeiro, serão expostas nas considerações seguintes. O homem, por si só, pode muito pouco, como um Robinson Crusoé numa ilha deserta; unicamente em sociedade com os outros é e pode muito. Torna-se ciente dessa condição assim que sua consciência, ainda que pouco, começa a desenvolver-se e desperta nele o desejo de ser considerado como um membro útil da sociedade, capaz de exercer seu papel como homem, pro parte virili, e que tem direito assim a participar das vantagens da sociedade humana. Consegue ser um membro útil da sociedade executando, primeiro, aquilo que se exige e espera de qualquer homem em qualquer posição, e depois aquilo que se exige e espera dele na posição particular que ocupa. Entretanto, percebe rapidamente que o importante não é ser um homem útil em sua própria opinião, mas na dos demais. Essa é a origem do ardor com que mendiga a opinião favorável dos outros e do valor elevado que lhe atribui. Ambas as tendências se manifestam com a espontaneidade de um sentimento inato, que se denomina o sentimento de honra e, em certas circunstâncias, o sentimento de pudor (verecundia). Esse é o sentimento que faz o indivíduo corar ante o pensamento de perder na opinião dos demais, ainda que seja inocente, e ainda quando a falta revelada não seja mais que uma infração relativa, isto é, assumida arbitrariamente. Por outro lado, nada fortalece mais sua coragem e sua determinação que a certeza adquirida ou renovada da boa opinião dos homens, porque lhe assegura a proteção e o socorro das forças reunidas do conjunto, que constitui um baluarte infinitamente mais poderoso contra os males da vida que suas forças sozinhas.

A variedade de relações nas quais um homem pode se situar ante os demais de modo a obter sua confiança, isto é, uma boa opinião, origina muitas espécies de honra. Essas relações são principalmente o meum e o tuum, depois o cumprimento das obrigações e, por último, a relação sexual. A essas correspondem a honra burguesa, a honra do cargo e a honra sexual, cada uma das quais apresentando ainda subdivisões.

A honra burguesa possui a esfera mais extensa; consiste na pressuposição de que respeitaremos absolutamente os direitos de cada um, e que, por conseguinte, nunca empregaremos em nosso proveito meios injustos ou ilícitos. É a condição para a nossa participação em todas as relações pacíficas com os homens. Basta, para perdê-la, uma só ação que seja enérgica e manifestamente contrária a essas relações pacíficas, algo que acarrete punições legais, com a condição de que o castigo tenha sido justo. Entretanto, em última análise, a honra repousa sempre sobre a convicção da imutabilidade do caráter moral, em virtude do qual uma só má ação é um indicador seguro da mesma natureza moral de todas as ações subsequentes, desde que se apresentem circunstâncias semelhantes. É o que indica também a expressão inglesa character, que significa renome, reputação, honra. Por isso, a perda da honra é irreparável, a menos que se deva a uma calúnia ou a falsas aparências. Assim, pois, há leis contra a calúnia, contra a difamação e contra as injúrias; porque a injúria, o simples insulto, é uma calúnia sumária, sem indicação de motivos. Em grego, se poderia muito bem reproduzir desta forma: ἔστι ἡ λοιδορία διαβολὴ σύντομος [a injúria é uma calúnia abreviada], máxima que não se encontra, todavia, expressa em nenhuma outra parte. É evidente que aquele que insulta não tem nada de real nem verdadeiro a produzir contra o outro, do contrário o enunciaria na forma de premissas e deixaria tranquilamente aos que lhe escutam o cuidado de tirar a conclusão; em vez disso, apresenta a conclusão e omite as premissas. Conta com a suposição de que procede assim somente em favor da brevidade. A honra burguesa toma seu nome, é verdade, da classe burguesa, porém sua autoridade se estende a todas as classes indistintamente, sem excetuar sequer as mais elevadas. Ninguém pode prescindir dela, sendo uma questão das mais sérias que merece a precaução de não ser considerada superficialmente. Todo aquele que viola a fé e a lei será, para sempre, um homem sem fé e sem lei, haja o que houver, seja o que for, os frutos amargos que essa perda traz consigo não tardarão em produzir-se.

A honra tem, em certo sentido, um caráter negativo, por oposição à glória, cujo caráter é positivo. Porque a honra não é a opinião que se enuncia sobre certas qualidades especiais, pertencentes a um só indivíduo, mas a que se enuncia sobre qualidades comumente pressupostas, que esse indivíduo se vê obrigado a possuir igualmente. A honra afirma apenas que esse sujeito não é uma exceção, enquanto que a glória afirma que é uma. A glória deve, pois, ser adquirida; a honra, pelo contrário, só necessita não ser perdida. Por conseguinte, ausência de glória é obscuridade, algo negativo; ausência de honra é vergonha, algo positivo. Porém, não devemos confundir essa condição negativa com a passividade; pelo contrário, a honra tem um caráter puramente ativo. Com efeito, procede unicamente de seu sujeito; está fundada em suas ações, e não em ações de outros ou em fatos exteriores; é, portanto, parte daquilo que depende de nós. Essa é, como veremos a seguir, a marca distintiva entre a verdadeira honra e a honra cavalheiresca ou falsa honra. A honra não pode ser atacada exteriormente senão pela calúnia, e o único meio de defesa é uma refutação acompanhada da publicidade necessária para desmascarar o caluniador.

O respeito que se atribui à idade parece fundamentar-se em que a honra dos jovens, ainda que admitida por suposição, não tenha sido posta à prova; por conseguinte, não existe, propriamente falando, mais que o crédito. Porém, homens de mais idade puderam comprová-la no curso da vida, se por sua conduta souberam conservar sua honra. Porque nem os anos em si, visto que os animais chegam também a uma idade avançada e às vezes mais avançada que a do homem, nem tampouco a experiência como simples conhecimento mais íntimo da marcha do mundo, justificam o respeito dos mais jovens pelos mais velhos, algo que se exige universalmente. A simples debilidade senil daria mais direito ao desdém que à consideração. É notável, todavia, que haja no homem certo respeito inato, realmente instintivo, pelos cabelos brancos. As rugas, sinal muito mais infalível da velhice, não inspiram esse respeito. Nunca se fez menção às rugas respeitáveis, mas sempre aos veneráveis cabelos brancos.

O valor da honra é apenas indireto; porque, como se explicou no começo deste capítulo, a opinião dos demais a nosso respeito não pode ter valor para nós senão na medida em que determina, ou pode eventualmente determinar, sua conduta para conosco. Ainda assim, isso se aplica apenas enquanto estivermos entre os homens. Isso porque, como no estado de civilização devemos inteiramente à sociedade nossa segurança e nossa propriedade, como ademais necessitamos dos outros em qualquer empreendimento, e como devemos conquistar sua confiança para que entrem em relação conosco, sua opinião será de grande valor aos nossos olhos, mesmo que esse valor seja sempre indireto – e não vejo como poderia ser direto. Nesse sentido, disse também Cícero: De bona autem fama Chrysippus quiden et Diogenes, detracta utilitate, ne digitum quidem, ejus causa, porrigendum esse dicebant. Quibus ego vehementer assentior [Crisipo e Diógenes diziam que uma boa reputação, fora sua utilidade, não merecia que se levantasse um dedo por ela. Concordo inteiramente com eles. (De finibus, III, 17.)]. Do mesmo modo, Helvécio desenvolve extensamente essa idéia em sua obra capital De l’esprit (discurso III, capítulo XIII) e chega a esta conclusão: Nous n’aimons pas l’estime pour l’estime, mais uniquement pour les avantages qu’elle procure [não amamos o apreço pelo apreço, senão unicamente pelas vantagens que proporciona]. Como os meios não podem ter mais valor que o fim, a máxima a honra é mais importante que a vida, como temos dito, é um exagero.

Isso no que diz respeito à honra burguesa. A honra do cargo é a opinião geral de que um homem incumbido de um emprego possui efetivamente todas as qualidades exigidas e cumpre estritamente as obrigações de seu cargo. Quanto mais importante e ampla é a esfera de influência de um homem no Estado, mais elevado e influente é o posto que ocupa e mais elevada deve ser também a opinião que se tem das qualidades intelectuais e morais que o fazem digno desse posto. Por conseguinte, possui um grau de honra correspondentemente superior, como evidenciado pelos seus títulos, condecorações etc., e também pelo comportamento diferenciado dos demais para com ele. Em mesma escala, a posição de um homem é a que determina o grau particular de honra que se lhe deve, mesmo que esse grau possa modificar-se em função da capacidade das massas em compreender a importância dessa posição. Mas sempre se atribuirá mais honra ao que tem obrigações especiais a cumprir que ao simples burguês, cuja honra se funda principalmente em qualidades negativas.

A honra do cargo exige, ademais, que aquele que ocupa um posto faça respeito à causa de seus colegas e de seus sucessores. Isso é realizado através do rígido cumprimento de seus deveres e também pelo fato de nunca deixar impune nenhum ataque contra o posto ou contra si mesmo, enquanto funcionário; em outras palavras, não permitindo que se chegue a dizer que não cumpre meticulosamente os deveres de seu cargo ou que esse não tem qualquer utilidade para o país. Pelo contrário, deve provar através de punições legais que tais ataques eram injustos.

Como subdivisões dessa honra, encontraremos a do empregado, do médico, do advogado, de todo professor público, de todo graduado, em suma, de todo aquele que foi publicamente declarado capaz de realizar algum trabalho intelectual, tendo, desse modo, se comprometido a executá-lo; em uma palavra, a honra de todos os que se comprometeram publicamente com alguma tarefa. Nesta categoria deve incluir- se também a verdadeira honra militar; esta consiste no fato de que todo homem que se comprometeu a defender sua pátria possui realmente as qualidades necessárias para tal, principalmente o valor, a bravura e a força, e que está realmente disposto a defendê-la até a morte e a não abandonar a bandeira, à qual prestou juramento. É dada aqui à honra do cargo uma significação muito mais ampla que a normal, em que designa o respeito devido pelos cidadãos ao próprio cargo.[…]

Fonte: Aforismos para a Sabedoria de Vida, por Arthur Schopenhauer.

Redentor (2004) — o pior filme brasileiro do milênio

Redentor

Eu adiei porque pressentia a roubada. Fiquei anos sentindo que devia ficar longe desse filme. (Modéstia à parte, minha intuição sempre foi muito boa.) Contudo, ontem *, provavelmente devido a essa lei de cotas que obriga canais pagos a exibirem filmes nacionais, dei de cara com o bicho: “Redentor” (2004). Caramba… (longo suspiro). É, sem sombra de dúvida, o pior filme que vi neste milênio. É a prova definitiva de que, se o sujeito tem um péssimo roteiro em mãos, não adianta quantas estrelas e pessoas de talento ele mobilize — vai queimar o filme de todo mundo! É impressionante como conseguiram unir diversos atores excelentes, outros medianos, e apenas alguns ruins, a uma boa fotografia, a uma boa edição, e até mesmo a uma boa direção (em termos de cinematografia, claro), para criar um monstro espantoso, absurdo e terrivelmente sem graça. Até mesmo uma figura linda como Camila Pitanga é desperdiçada ali. Que filme! “Redentor” não é uma obra de arte e muito menos um produto de entretenimento — é um sintoma da mentalidade caótica em que anda mergulhada a classe artística brasileira. Não é um filme que observa do alto o panorama inteiro desse caos — é um filme de quem está perdido nele. Não é ruim por ser mal feito, porque não o é — é ruim por ser pernicioso às mentes despreparadas.

Aristóteles dizia que a comédia é uma imitação de caracteres inferiores, isto é, uma obra que apresenta as ações de pessoas piores do que a gente comum. “Redentor” poderia ter sido uma excelente comédia, afinal, TODOS os seus personagens são gente sem o menor valor, gente salafrária, egoísta, mesquinha, violenta, grosseira e o escambau. Mas, pelo jeito, o roteirista não o notou! Sim, em vez de uma comédia, o roteiro se apresenta como tragédia, como o drama de um sujeito supostamente bondoso que faz uma cagada e, em virtude dela, morre. Só que o protagonista é um bundão, um bosta, um sujeito tão babaca quanto todos aqueles a quem ele, no final, imagina “dar uma lição”. Que lição? Ele não sabe nada! Ele não faz apenas uma cagada (a suposta húbris trágica) — ele só faz cagada! No fundo, e já que ele anuncia a própria morte no início do filme, o espectador não vê a hora de vê-lo morrer e abandonar a tela. E o deus que a certa altura lhe aparece — uma figura animada do Cristo Redentor do Corcovado — é a pura representação de Judas Iscariotes: “Por que não se vende esse perfume caro e não se distribui o dinheiro entre os pobres?”. (No filme, é um “Vai lá e diz ao sujeito para distribuir a grana dele entre os pobres”.) No Evangelho, quando Jesus diz a um homem rico para distribuir seu dinheiro, diz claramente: “Dá teu dinheiro e me segue”. Qual foi a intenção de Jesus aí? Ora, o que Ele tentou mostrar ao homem rico é que, na deturpada hierarquia de valores deste, manter as posses materiais estava acima da experiência de caminhar na Terra com o próprio Deus. Jesus empregou muitíssimas vezes uma abordagem pessoal em seus ensinamentos: naquela ocasião, Ele ensinava a respeito de valores, era uma aula de axiologia, não estava pregando o socialismo. Jesus jamais diria que a riqueza, em si mesma, é um mal, uma vez que isto seria incorrer numa das heresias gnósticas, dessas que afirmam ser a matéria uma emanação do “mal absoluto” e a Terra, um inferno. Jesus, enquanto Criador, sempre soube que o Reino de Deus permeia e ultrapassa a Terra, sem excluí-la. E mais: embora não seja impossível — Deus pode tudo —, é extremamente improvável que um homem sem a menor sombra de virtude seja escolhido por Ele como um mensageiro. Saulo de Tarso, por exemplo, não foi escolhido por perseguir cristãos, mas, sim, por ser um homem lúcido e um implacável defensor da religião que então professava. Estão achando que Deus é um idiota? É óbvio que o roteirista jamais leu a Bíblia com o coração aberto. E duvido muitíssimo que ele realmente acredite em Deus. O que esperar de um sujeito assim? Um filme de Frank Capra? Para ser rodado por Capra, em primeiro lugar, o roteiro teria de fazer sentido; em segundo, teria de ser um ensaio sobre valores e princípios sólidos; em terceiro, teria de causar empatia e emocionar — e “Redentor” não faz nenhuma dessas coisas! Poxa vida, seja sincero consigo mesmo: assista a ele e tente chorar lágrimas que não sejam lágrimas de um crocodilo do Partido Comunista.

O conceito de tragédia evoluiu após Aristóteles — mas nunca se transformou no contrário do que ele afirmou. As formas do conflito e as causas do acontecimento trágico, nas narrativas, podem ter variado com o tempo; mas a tragédia continua sendo a imitação de caracteres superiores. E, quando digo que “Redentor” é um sintoma, refiro-me a isto: o roteiro tenta nos mostrar que o protagonista, mesmo cometendo ações abjetas, é um virtuoso, um enviado de Deus. Pois sim. As mentes contaminadas de ideologia, e de “ismos” dos mais diversos tipos, podem até acreditar que ele o seja — mas os corações que acompanham essas mentes não percebem virtude alguma! Está na cara que o protagonista não merece nossa simpatia e muito menos nossa compaixão. Aliás, ninguém no filme as merece! E isso é imperdoável! Ora, o cinema, enquanto arte dramática, deve falar primeiramente ao coração. Pouco importa se, como acontece em “Redentor”, se o roteirista não entende nada de economia, de teologia ou de filosofia — não importa! Claro, contanto que ele saiba dar vida aos personagens, o que ocorre sempre que, no momento da escrita, deixamos as rédeas da narrativa nas mãos do nosso coração, e não nas mãos das nossas convicções políticas ou idéias econômicas — para não dizer nas mãos do nosso caos mental! O relativismo se tornou absoluto nas mentes iluminadas dos nossos artistas. Nenhuma virtude, nenhum princípio, nenhum valor, nenhum ideal — para eles, nada pode ser universalmente verdadeiro. Não há chão que seja absolutamente o chão, não há Norte que seja absolutamente o Norte. É simplesmente impossível viajar com esse mapa! E por quê? Porque esse “relativismo absoluto” é uma contradição em termos. Se tudo é relativo, então até mesmo a idéia de que tudo é relativo é relativa e, portanto, ela não faz sentido, não diz nada. Não se pode viver solto no espaço. O niilismo é morte! E o coração precisa andar em algum trilho, seguir alguma direção. Em nossa época, a incapacidade de aceitar o transcendente (o que está além do espaço-tempo, a própria fonte de ambos) leva algumas pessoas a abraçar sucedâneos imperfeitos da transcendência — tais como a História (o tempo) e o meio ambiente (o espaço) — e valores de meia tigela, tais como a pobreza, que é o caso deste filme. Segundo “Redentor”, se você for pobre, você pode tudo, pode sequestrar, roubar, invadir, espancar, ressuscitar os mortos, ser capanga do mocinho, enfim, em nome da pobreza, pode qualquer coisa. E, ironicamente, o que querem todas as almas miseráveis de “Redentor”? Dinheiro, claro. Todos os personagens são corruptos — TODOS, sem exceção. Nenhum deles tem valor — mas todos têm seu preço. E, por isso, caso o filme não tivesse se levado tão a sério, teria dado uma ótima comédia. O problema é que seu deus ex machina — o suposto “redentor” — não passa de um demiurgo, de um senhor das trevas que dá poderes a um ser perverso e desmiolado, não passa, enfim, de um redentor que não redime, que não liberta ninguém e que, ainda assim, fez o roteirista e, de tabela, todos os participantes do filme ajoelharem-se a seus pés!

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* Publiquei esta crítica no Mídia Sem Máscara em Março deste ano e, por alguma razão, acabei me esquecendo completamente de postá-la aqui — antes tarde do que nunca.

Cubão, o país do futuro do pretérito

Cubão

Tudo começou com o discurso dum candidato na TV: “Brasil é um nome muito capitalista — é o nome de um produto comercial! Pau Brasil! Vamos deixar esse negócio de Pau e mudar para Cubão”.

Dito e feito.

Uma estudante de intercâmbio é recebida pelos colegas:
— ¿De onde você é?
— Do Cubão. Antes da Revolução se chamava Brasil.
— Hum. Você é a primeira pessoa do Cubão que conheço.
— Obrigada. Aqui sou a única. Mas lá todo mundo é do Cubão. Igualdade é isso.

Um turista cubãozense é interpelado por um cidadão português:
— ¿O Partido dos Totalitaristas mudou o nome do seu país para Cubão em homenagem a Cuba?
— Não. Foi porque eles gostavam de enrabar o povo.
— Ah!

Em 2024, numa aula de história:
— ¿E o primeiro presidente eleito após a mudança do nome do país para Cubão foi…?
— Gisele Bundchen, ¿fessora?
— Não! Já disse mil vezes: Jean Wyllys! Jean Wyllys!
— Muito capciosa a sua pergunta, fessora…

Enquanto isso, na Itália:
— Nossa, aquele traveco deve ter uns dois metros de altura!
— Ê, Cubão!
— Como?!…
— ¿Tá me estranhando? É o país de origem! O país!
— Ah, é mesmo. São todos de lá. Mas ainda não me acostumei com a mudança. Gostava de Brasil. Soava bem.
— É, mas levaram tanto pau que tiveram de se adaptar…
— Cubão. Quem diria…

Um pouco de Maio, Junho e Julho…

Algumas pessoas não conseguem compreender certos fatos, não porque sejam burras, pois são até inteligentes, mas simplesmente porque lhes falta imaginação. A imaginação é a base da inteligência: o que não é imaginado torna-se impossível e, por isso, impensável. Quando uma pessoa recebe uma informação ou um dado da realidade que não tem eco em sua imaginação, ela não consegue alcançar senão uma “compreensão” verbal dos mesmos. De fato, essa “compreensão verbal” não é compreensão em absoluto. É estar preso a jogos de palavras, é encarar a linguagem como puro flatus vocis: vento sonoro. Para aquele que é incapaz de uma imaginação aprofundada, os conceitos utilizados não possuem substância. O reino do possível (do imaginável) é o primeiro passo em direção aos reinos consecutivos do verossímil, do provável e do verdadeiro. Sem imaginação é impossível escalar a montanha do Entendimento, essa que leva ao cume da verdade. A imaginação é o acampamento base: a fonte de recursos e provisões para a aventura filosófica.

É papel da literatura de imaginação tornar a realidade pensável.

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Engraçado, a Marcha para Jesus foi provavelmente a única manifestação sem a presença de Judas: segundo consta, apesar dos milhares e milhares de participantes, ninguém ali explodiu sequer um estalo de salão.

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Ei, broto, leia com a voz do Roberto Carlos: “São tantas manifestações”.

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Revoltou-se porque não aguentava mais ouvir promessas — então ouviu mais promessas e ficou satisfeito.

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Foi à rua protestar com o coração sincera e legitimamente indignado — mas a cabeça, após uma lavagem cerebral de anos, permanecia dominada.

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Saiu à rua porque não aguentava mais ser enganado — então a resposta do governo o enganou e ele ficou quietinho em casa.

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Sugestão de leitura para esses dias turbulentos: Os Demônios, de Fiódor Dostoiévski, na tradução de Paulo Bezerra.

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Terá lido Tolstói Os Demônios? Irônico como Dostoiévski previu, na figura de Stiepan Trofímovitch, a morte do colega durante uma fuga das mais ingênuas. A única grande diferença é que, enquanto agonizava, e ao contrário de Tolstói, o coitado do professor Vierkhoviénski finalmente compreendeu o sentido do verdadeiro Cristianismo.

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Essas críticas à polícia lembram as críticas ao “bombardeio cirúrgico” dos americanos na guerra do Iraque — o bom-mocismo quer 100% de precisão robocópica em meio ao caos.

Ora, Shit happens

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Mordido por um vampiro, o gigante levanta-se e sofre convulsões — tarde demais, seu sangue já está contaminado…

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Sugestão para cartaz de passeata: “Queremos álcool no Biotônico!”.

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Achávamos que os estádios não estariam de pé a tempo, mas, em vista do vandalismo, parece que serão as únicas construções de pé em 2014.

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Dr Jekyll vai protestar na passeata mas, coitado, não entende por que o vândalo do Mr Hyde tem sempre de quebrar tudo no final…

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A [pontinhos, pontinhos, pontinhos] foi um movimento espontâneo, antigovernamental, que se espalhou por todo o [pontinhos, pontinhos, pontinhos] , aparentemente sem liderança, direção, controle ou objetivos muito precisos. Geralmente é considerada como o marco inicial das mudanças sociais que culminaram com a [pontinhos, pontinhos, pontinhos]. → http://bit.ly/1923VmX

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Não sei por que os gays gayzistas (os gays normais não são melindrosos) estão reclamando da tal “cura gay” — parece que o remédio é um supositório deste tamanho.

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Redes sociais, esse Maelstrom do século XXI.

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Matéria fueda na revista Alfa: “O Cabra Sensível”. Fala sobre como o Bolsa Família retirou o poder dos homens, tornando-os submissos às “patroas”. Como só a mulher recebe a grana (ou em pelo menos 90% dos casos), e como o desemprego está sempre batendo à porta dos homens (graças, é claro, ao próprio governo), nego baixa a cabeça. Ou seja, o Bolsa Família é uma arma contra o “patriarcado” e contra o “machismo”.

Essa gente à sinistra é muito esperta mesmo…

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Faça amigos até os trinta e tantos anos de vida; depois, após longo afastamento, aguarde a morte para revê-los no Céu ou no Inferno.

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Em espanhol, “heder’ significa “feder”, e “hediondo”, “fedido”. Ou seja: todo mundo já sabia que um corrupto é hediondo, os senadores não precisavam colocar isso no papel. (Alguém imagina que Lula seja cheiroso? Ou Sarney? Ou Collor?)

Aliás, segundo Swedenborg, quando um corrupto é levado do Inferno para o Céu como visitante, ele, assim que lá chega, começa a implorar que o levem de volta, pois,no Céu, a verdade se manifesta e ele não consegue suportar o próprio cheiro, acreditando que o Céu é que está fedendo — e então, devido à ignorância, perpetua sua estada nas sociedades infernais, onde as verdades se escondem.

Nós outros, sabedores do problema, tomaremos um banho no Purgatório antes de seguir viagem…

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Estamos em 2013 e você ainda não adquiriu um Kindle, um Kobo ou sequer um Sony Reader — os inventores do papiro e do pergaminho estão lá no Céu de queixo caído, mal podendo crer em tal notícia.

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Quando finalmente ocorreu a Revolução de 1917, a parcela esclarecida da população russa foi pega de surpresa, afinal, esse tal de socialismo era apenas uma conversa fiada dos anos 1840 e 1850. (Sabe, né? Coisa velha em que ninguém mais acredita…)

Se os russos, que respeitavam a literatura, não ouviram Dostoiévski, quantos brasileiros, que desprezam o verdadeiro conhecimento, irão ouvir um filósofo?

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Meu coração, cujo ritmo não é alterado pela seleção brasileira desde 1990, é tão futebolisticamente neutro que eu poderia ser árbitro de um jogo do Brasil. Seria divertido, nego me xingando de traidor para baixo e me ameaçando por causa de uma arbitragem super correta. B^)

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— Gostou do meu batom vinho?
— Hmm, sua maquiadavélica…

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Tarantino, quanto você cobraria para ser DJ numa festa lá em casa?
— Fuck you, you motherfucker!!

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Na verdade — quem poderá negá-lo? — o fígado do Lou Reed foi extremamente tolerante.

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Dominique Venner, que se suicidou ontem na catedral de Notre-Dame, deve ter morrido em vão: somente os islâmicos admiram mártires suicidas.

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A maioria das discussões filosóficas, religiosas e políticas da internet não passa de logomaquia.

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No Houaiss:

logomaquia Datação: 1858

n substantivo feminino
1 discussão gerada por interpretações diferentes do sentido de uma palavra; querela em torno de palavras
2 Derivação: por extensão de sentido.
emprego de termos não definidos num discurso, numa argumentação; palavreado vão
3 Uso: pejorativo.
querela em torno de coisas insignificantes

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Somente um hacker poderia levar a cabo uma efetiva Desobediência Civil: meter um trojan no sistema da Receita Federal que devolvesse a grana dos impostos e tributos diretamente para as contas bancárias dos contribuintes — voilà!

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Aquele cuja fé não repousa senão na imanência e que, mesmo assim, ainda não chegou ao solipsismo, sofre ou de falta de imaginação ou de preguiça de pensar — ou de ambas.

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Esse negócio de acesso biométrico aos caixas eletrônicos significa duas coisas: mais seqüestros relâmpagos e (novidade) ladrões de dedo.

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Verificar os caminhos sem blitz na volta para casa após a balada ainda é a razão mais convincente para se adquirir um smartphone.

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Algumas etnias indígenas acreditavam que a fotografia poderia roubar a alma do fotografado e, com o Facebook, passaram a ter certeza disso.

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Na CNN: nos EUA, ao longo de dez anos três irmãos de nome Castro mantiveram em cativeiro três mulheres — mais cinqüenta anos e teriam igualado o cativeiro imposto a toda uma população pelos irmãos Castro de Cuba.

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Saudade, essa força de gravidade do amor.

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Brazilian Wax → depilação completa dos pelos púbicos que deixa sua genitália lisinha;
Brazilian Tax → depenação completa por parte do poder público que deixa seu bolso lisinho.

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Receita de pavê nerd: quebre ao meio rosquinhas Mabel e coloque-as numa tigela; cubra-as com iogurte do seu sabor predileto; deixe a tigela 1 hora no congelador. Sirva-a para si mesmo enquanto assiste ao The Big Bang Theory.

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Sonhos lúcidos são dez mil vezes melhores que o melhor vídeo game.

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Obviamente, a retirada de cruzes das repartições públicas faz parte do plano de dominação dos vampiros.

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Devia rolar um corredor polonês para os mensaleiros. (Infelizmente, com tantos brasileiros comprados por esmolas oficiais, teríamos de importar os poloneses.)

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— Sabe por que é ruim ser um solteirão? — pergunta ela.
— Por quê?
— Você morre mais cedo…
— Que ótimo! Então não precisarei me suicidar.

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Dizem que Deus é para losers. “Ah, fulano sifu e aí virou crente.” Mas não fracassaremos todos no final? O que é a morte senão o fracasso do corpo?

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Não sei qual ator conseguiu ser mais insuportável: se Cary Grant em His Girl Friday (1940), ou se Tom Ewell em The Seven Year Itch (1955).

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Espero que Dante Alighieri esteja certo e o Inferno seja mesmo uma espécie de zoológico aberto à visitação: caso não lhes seja concedida a Graça, será legal ir dar pipoca para Lula & Cia. E também para esses meninos que matam gente como gente grande. E para pilotos remotos de drone. E para… Puts, a lista é muito grande. Deixa pra lá.

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“De perto, ninguém é normal.” Certo, mas se permitirmos que a norma seja destruída, como saberemos o que é “perto”? Ninguém mais saberá qual é a distância segura e todos pisarão nos calos uns dos outros.

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Segundo Edgar Allan Poe, as quatro condições elementares da felicidade são: a vida ao ar livre; o amor de uma mulher; o desapego a toda ambição; e a criação de uma nova beleza.

No entanto…

« A verdade parece ser que o gênio da mais alta categoria vive num estado de perpétua hesitação entre a ambição e o desprezo por ela.»
Edgar Allan Poe

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O Brasil é um mindfuck.

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Seja ou não um escritor, a vida é sempre você diante do papel em branco.

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Fonte: Meu FB.

Um papo com Paulo Briguet ─ Giovanni Nobile

Paulo Briguet

Um papo com Paulo Briguet

por Giovanni Nobile

06 de Maio de 2013 - 19:56 hs
O Blog do Giovanni, além de poesias, contos, crônicas e pequenas matérias, também traz algumas entrevistas. A partir de maio, de tempo em tempo uma entrevista com algum escritor, editor, produtor cultural, poderá aparecer por aqui. E a conversa de hoje é o jornalista Paulo Briguet, colunista aqui do Jornal de Londrina. Ele se formou em 1993, mas ainda antes já trabalhava em redações. Mas a conversa de hoje deixa um pouco o jornalista de lado – se é que é possível – para um papo exclusivo do Blog do Giovanni com o cronista Paulo Briguet:

Qual seu interesse pelo gênero das crônicas?
Desde criança eu gostava das crônicas e poemas da Cecília Meireles na cartilha escolar. Depois fui descobrindo outros cronistas: Paulo Mendes Campos, Luis Fernando Verissimo (no tempo em que ele era engraçado), Nelson Rodrigues, José Carlos Oliveira, Rubem Braga. Aí vi que também existem cronistas não-brasileiros: Chesterton e Dino Buzzati são ótimos exemplos. Acho que aprendi a fazer crônicas antes de aprender a escrever, ouvindo as conversas de meus pais e avós e as histórias da coleção Disquinho, os vendo seriados de ficção científica na TV.

Aliás, para você, o que é crônica?
Defino crônica como texto curto com temática do cotidiano, livre da obrigação de contar uma história, com uma pitada de humor e ironia, às vezes poesia. Todos os meus escritos são crônicas disfarçadas, mesmo quando parecem contos, reportagens, peças publicitárias, panfletos políticos ou cartas de amor.

Há espaço para a crônica na cultura da velocidade do consumo de informação atualmente? Como vê o espaço da crônica no jornal?
Sim. Felipe Moura Brasil (do excelente Blog do PIM) é um exemplo. Gustavo Nogy (do blog Ad Hominem), outro. Também gosto de Yuri Vieira. Júlio Tanga (do blog Falta de Enxada) ainda será reconhecido como o gênio que é, embora ele seja mais um contista do que um cronista. Sobre a crônica no jornal, ela continua viva e passa bem, obrigado. Sou o segundo melhor cronista do meu jornal. (Só temos dois cronistas, eu e meu amigo Domingos Pellegrini, que não é propriamente um autor de crônicas, mas de vez em quando acerta a mão maravilhosamente.)

E mais: qual o papel do próprio jornal impresso atualmente?
O papel do jornal impresso é fazer oposição à hegemonia política que se pretende instaurar no Brasil.

Nesse sentido, você compara o meio impresso com o online ao escrever? Quero dizer: quando escreve para o impresso, escreve de uma forma; e quando escreve para o online, pensa de outra maneira? Ou o suporte para seus textos é indiferente, na sua visão?

Quando eu mantinha um blog no Tipos (portal hoje extinto), escrevia em linguagens completamente diferentes para o on-line e para o impresso. Agora isso acabou. Escrevo do mesmo jeito. E acho que deve ser assim mesmo. Sou um só.

Considera algum suporte mais importante?
Os dois são importantes porque atingem públicos distintos. Tenho sete leitores no JL impresso e sete leitores no blog do JL. Já são quatorze! Agora vai!

E quando as crônicas ultrapassam o prazo de validade do texto de jornal e migram para os livros, ganhando, digamos, “eternidade”: qual o espaço atual da crônica no mercado editorial, na sua visão?
O espaço para as crônicas existe e sempre existirá, mas elas devem passar por um “tratamento” (uma edição especial) antes de migrar para as páginas do livro. É preciso eliminar pequenos erros e informações datadas que tornariam o texto incompreensível.

É esta a visão que você tem também quando se fala de novos autores? E, ainda, quando se tratam de novos autores regionais…
Já citei bons novos autores: Felipe Moura Brasil, Gustavo Nogy, Yuri Vieira, Júlio Tanga. Mas também gosto de Luiz Felipe Pondé, João Pereira Coutinho, André Simões (olho nesse rapaz, André Simões: é excepcional).

Quais as dificuldades que um autor, seja novo ou não, encontra no mercado editorial, na sua visão? E há facilidades?
Acho que as dificuldades são as de sempre, mas hoje em dia é muito mais fácil imprimir e editar um livro por conta própria.

Quais suas preferências? (Gênero, autores e até mesmo alguns títulos que possa sugerir).
Já citei os cronistas. Para não fazer uma lista exaustiva, vou indicar quatro russos (Tolstói, Dostoiévski, Turguêniev, Tchekhov), quatro americanos (Saul Bellow, Bernard Malamud, Philip Roth, John Updike), cinco poetas universais (Camões, Eliot, Yeats, Herberto Helder e Cecília Meireles) e Santo Agostinho.

Você acompanha a literatura londrinense? Qual sua visão dela em comparação com a literatura comtemporânea brasileira?
Acompanho muito pouco. Temos Domingos Pellegrini, autor de “Terra Vermelha”, um grande livro. Rodrigo Garcia Lopes disse que acabou de escrever um romance. Vou ler e depois conto.

O que poderia melhorar na literatura londrinense?
Não faço a mínima ideia, Giovanni. Não tenho a mínima noção de política cultural. Para falar a verdade, tenho até repugnância do termo. Acho que os escritores devem escrever em vez de promover a literatura.

Você sempre brinca sobre seus 7 leitores… Quantos livros já vendeu? 7?!
Vendi uns 250 deste último, “Aos meus sete leitores”. Dos outros dois eu nem lembro. Sou um autor muito obscuro e desconhecido. Mas digo isso sem rancor. Descobri que não sou gênio, nem mesmo talentoso. Estou na fronteira entre o medíocre e o mediano. O problema é que não sei fazer outra coisa na vida.

Qual foi o de maior tiragem?
Esse último, independente, teve mil exemplares. Ou seja, tenho 750 livros encalhados na minha casa e na casa da minha sogra.

Há planos para nova publicação?
Um romance político e outro livro, difícil de enquadrar numa categoria. Será uma mistura de crônicas e memórias familiares, que vou escrever para o meu filho contando a história de seus antepassados.

Já pensou em publicar em outros meios (CD, vídeos em youtube, etc).
Andei recitando uns poemas em vídeos no Facebook, com resultados patéticos.

Algo que não perguntei e que gostaria de acrescentar?
Quando vamos tomar uma cerveja?

(Para esta última resposta-pergunta, ainda não há data definida).

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Fonte: Jornal de Londrina. (Cache do Google.)

Declaração de Praga sobre Consciência Europeia e Comunismo

Comunismo = Nazismo

Como colaborador da Wikipédia, fiz uma tradução meia-boca do artigo sobre a “Declaração de Praga sobre Consciência Europeia e Comunismo” e da própria declaração, cujo texto propriamente dito é este:

A declaração clama:

1– “levar a toda Europa o entendimento de que os regimes totalitários nazista e comunista precisam ser julgados por seus próprios e terríveis méritos, isto é, por suas políticas destrutivas impostas mediante a aplicação sistemática de formas extremas de terror e a supressão de todas as liberdades civis e humanas, pela eclosão de guerras agressivas e — como parte inseparável de suas ideologias — pelo extermínio e deportação de nações inteiras e de grandes grupos populacionais; e por tudo isso tais regimes devem ser considerados os principais desastres que macularam o século 20”

2– “o reconhecimento de que muitos crimes cometidos em nome do comunismo devem ser considerados crimes contra a humanidade, servindo portanto como um aviso para as gerações futuras, tal como os crimes nazistas foram considerados pelo Tribunal de Nuremberg”

3– “a formulação de uma abordagem comum sobre os crimes dos regimes totalitários, nomeadamente dos Regimes Comunistas, e a ampliação em toda a Europa da consciência relativa a esses crimes comunistas, definindo claramente uma atitude comum para com eles”

4– “a introdução de legislação que dê permissão aos tribunais para julgar e punir os perpetradores dos crimes comunistas e compensar suas vítimas”

5– “garantir o princípio da igualdade de tratamento e não discriminação das vítimas de todos os regimes totalitários”

6– “a pressão europeia e internacional para a condenação efetiva dos crimes comunistas do passado e para a luta eficaz contra os crimes comunistas em curso”

7– “o reconhecimento do comunismo como parte integrante e terrível da história comum da Europa”

8– “a aceitação da responsabilidade pan-europeia nos crimes cometidos pelo comunismo”

9– “o estabelecimento do dia 23 de Agosto, o dia da assinatura do pacto Hitler-Stalin, conhecido como o Pacto Molotov-Ribbentrop, como o dia de recordação das vítimas de ambos os regimes totalitários, os regimes nazista e comunista, tal como a Europa recorda as vítimas do Holocausto em 27 de janeiro ”

10– “atitudes responsáveis dos Parlamentos Nacionais no que se refere ao reconhecimento dos crimes comunistas como crimes contra a humanidade, levando a uma legislação apropriada, e ao monitoramento parlamentar dessa legislação”

11– “o debate público eficaz sobre o uso comercial e político indevido dos símbolos comunistas”

12– “a continuação das audiências da Comissão Europeia sobre as vítimas de regimes totalitários, com vista à elaboração de uma comunicação da Comissão”

13– “o estabelecimento em países europeus, que tenham sido governados por regimes comunistas totalitários, de comitês compostos por peritos independentes, com a tarefa de recolher e avaliar informações sobre as violações dos direitos humanos a nível nacional sob o regime comunista totalitário, com vistas a colaborar estreitamente com um comitê de especialistas do Conselho da Europa”

14– “assegurar um quadro jurídico internacional claro visando um acesso livre e irrestrito aos arquivos que contêm informações sobre os crimes do comunismo”

15– “a criação de um Instituto da Memória e Consciência Europeias”

16– “a organização de uma conferência internacional sobre os crimes cometidos pelos regimes comunistas totalitários, com a participação de representantes de governos, parlamentares, acadêmicos, especialistas e ONGs, com resultados a serem amplamente divulgados em todo o mundo”

17– “o ajuste e revisão de livros de história da Europa para que as crianças possam aprender e ser alertadas sobre o comunismo e seus crimes, tal como são ensinadas a avaliar os crimes nazistas”

18– “o debate amplo e minucioso em toda a Europa da história e do legado comunista”

19– “a comemoração conjunta no próximo ano do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim, do massacre da Praça Tiananmen e das mortes na Romênia”

A declaração cita a Resolução 1481 do Conselho da Europa, bem como “resoluções sobre os crimes comunistas adotadas por vários Parlamentos nacionais”. A Declaração foi precedida pela Audiência Pública Europeia sobre Crimes Cometidos por Regimes Totalitários.

Dostoiévski (Достоевский, 2010) – seriado em 8 partes

Sim, uma cinebiografia de Fiódor Dostoiévski. No início do primeiro episódio, há uma montagem paralela na qual o grande escritor russo — enquanto posa para seu famoso retrato — relembra sua “quase execução”, a mesma “pegadinha do Czar” narrada pelo príncipe Míchkin no romance O Idiota. Ninguém precisa entender russo para apreciar a seqüência…

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Agora, cá entre nós: alguém podia nos fazer o favor de traduzir esse seriado, não é? Não consegui encontrar sequer legendas em inglês. Aliás, nem o IMDB parece conhecer a existência da produção. Por enquanto, a única saída é checar a página do seriado neste site russo e, mediante a tradução da Google (no meu caso, claro), ler algumas resenhas a respeito.

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