palavras aos homens e mulheres da Madrugada

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Luis Fernando Allen e Woody Veríssimo

Woody Allen e Luis Fernando Veríssimo

Alguns contos do Luis Fernando Veríssimo parecem ter sido escritos pelo Woody Allen. E vice-versa. Já havia notado isso? Não? Então procure pelos contos humorísticos desses dois. É possível, por exemplo, colocar a assinatura de Veríssimo sob o conto Conde Drácula, de Woody Allen, e ninguém duvidará que foi o gaúcho quem o escreveu. Da mesma forma, escreva Woody Allen sob os contos Brincadeira e Suspiros , ambos de Veríssimo, e ninguém duvidará dessa suposta autoria. Não estou dizendo que um tenha imitado o outro, nada disso. Creio apenas que sejam ambos do mesmo planeta criativo.

Luis Fernando Allen e Woody Veríssimo. Nada mais, nada menos. Esses dois são muito parecidos. Se brasileiro fosse, Woody Allen teria escrito, anos a fio, maravilhas sobre os petistas e demais sanguessugas do progressismo. Tal como fez Luis Fernando Veríssimo. Se norte-americano, Luis Fernando Veríssimo teria elogiado Obama na imprensa ianque, tal como o liberal Woody Allen. E teria feito piadas semelhantes sobre os religiosos, os conservadores, a Igreja, a família, as feministas, os psicanalistas, os capitalistas, os comunistas e assim por diante, todas dignas de perdão e muitas risadas, porque piadas. Claro, ele as teria feito em inglês e cinematograficamente, porque, em português, ele as fez, pois estão escritas, publicadas e à venda nas melhores livrarias. Aliás, que pena que Veríssimo seja — conforme reza a lenda — tão tímido. E que pena a economia brasileira, tão keynesiana, tão subjugada pelo Estado, seja também tão tímida. Do contrário, tal como Allen, Veríssimo teria migrado em algum momento para o cinema e nos brindado com excelentes comédias. (Filmes são caros, você sabe. Economias tímidas não suportam muitos filmes ao ano.) Bem, alguns filmes ou comédias televisivas foram realizados sob sua influência — inevitável, já que certos contos de Luis Fernando Veríssimo são verdadeiros roteiros — mas nenhum haveria de se comparar a um longa-metragem original escrito e dirigido por ele. Talvez o carma de se defender uma economia atrelada ao Estado seja este: ter todo o talento para se tornar um ótimo cineasta e não poder sê-lo porque um filme de humor tão refinado seria um investimento demasiado grande para um retorno financeiro tão mirrado. Sim, infelizmente, o humor refinado não é muito popular. Mas, num país de capitalismo mais saudável, como o norte-americano, o retorno seria o bastante para tornar a atividade auto-sustentável, tal como a de Woody Allen, que não lança blockbusters, mas que sempre consegue rodar ao menos um filme por ano. Detalhes…

Gosto desses dois autores porque seu humor fala diretamente ao meu senso de humor. São excelentes ao explorar o contraste existente na fronteira entre o convencional e o ridículo. Por isso não me importa mais a visão de mundo que apresentam explícita ou implicitamente em suas obras ou fora delas. E tampouco dou atenção ao que dizem a sério por aí. Da mesma forma, prefiro mil vezes mais ouvir as músicas geniais do Caetano Veloso a saber o que o compositor baiano pensa sobre as eleições, o presidente, a economia, etc. Quero que o mundo continue sendo um mundo em que todos eles possam falar o que lhes der nas telha. Mas que não parem de fazer o que sabem fazer melhor.

Ah, antes que eu me esqueça: tanto Allen quanto Veríssimo são músicos diletantes de jazz! Que coisa…

Mario Vargas Llosa (Nobel de Literatura 2010): El viaje a la ficción

Mario Vargas Llosa expone su visión sobre el fenómeno literario y los vínculos entre la realidad y la ficción.

John Ford: o cineasta do exílio

John Ford

Trecho de um ótimo artigo de Martim Vasques da Cunha sobre o cineasta John Ford:

« John Ford é o cineasta do exílio interior porque, feliz ou infelizmente, esta é a nossa condição natural – quem quer se manter íntegro em um mundo corrompido paga um preço caro demais para isso. Ou é esquecido pelas pessoas que amou ou é excluído de qualquer participação em uma simples harmonia comunitária. Ele nos ensina a triste lição que a vida dá aos pouquinhos e em goles bem amargos: a de que quanto mais tempo passa, ficamos cada vez mais sozinhos, vivendo em uma prisão onde é melhor ficar na solitária.»

John Ford no IMDB.

José Bonifácio fala do Caráter Geral dos Brasileiros et cetera

José Bonifacio de Andrada e Silva

« É preciso sacrificar-se para o bem do Brasil, e tu não verás este bem. Os campos estão cheios de sementeiras de flores e tu não as gozarás… Vivamos hoje se no-lo permitem; não lutemos contra o Destino.»

(…)

« Se me acusarem de plagiário, direi com Byron que não faço escrúpulo de servir-me dos pensamentos alheios, que me parecem felizes. Quanto Shakespeare não tirou dos seus contemporâneos e quanto o nosso Camões!»

(…)

« Devemos saber ignorar em paz muita coisa grande.»

(…)

« O viajeiro, que como eu há tanto tempo viaja, é como o homem que come muito sem tempo de digerir. Desejo voltar à pátria para poder fazer boa digestão e ruminar o que hei visto.»

(…)

« La Vita Nuova de Dante é o breviário do amor. Dante é intraduzível. Podem-se verter os pensamentos, mas não a beleza, a simplicidade clássica.»

(…)

« O homem de bem projeta e espera; o ambicioso agita-se e precipita-se.»

(…)

« O déspota que não pode ser amado quer ser temido.»

(…)

« O brasileiro, que possui uma terra virgem debaixo de um céu amigo, recebeu das mãos da benigna natureza todo o físico da felicidade, e só deve procurar formá-lo em bases morais de uma boa Constituição que perpetue nossos bons costumes. Devemos ser os chins do Novo Mundo sem escravidão política e sem momos. Amemos pois nossos usos e costumes, ainda que a Europa se ria de nós.»

(…)

« Um grande poeta não pode ser ateu ou indiferente.»

(…)

« No Brasil, a virtude quando existe é heróica porque tem de lutar com a opinião e o governo.»

(…)

« No Brasil, há um luxo grosseiro a par de infinitas privações de coisas necessárias.»

(…)

« De que servia fazer leis se a sua execução estava entregue à mais infame corrupção?»

(…)

« As nações pouco cultas, mas vivas e impetuosas como a nossa, detestam novidades de prática, mas abraçam logo todas as especulativas, sejam quais forem.»

(…)

«Não é senhor de si quem a outrem sujeitou a língua. Um só homem, que queira e saiba falar a tempo, faz calar e tremer a muitos, pode ser a conservação de um povo inteiro que o silêncio perderia. A verdade muda introduz a tirania.»

(…)

« Caráter geral dos Brasileiros. Os Brasileiros são entusiastas do belo ideal, amigos da sua liberdade e mal sofrem perder as regalias que uma vez adquiriram. Obedientes ao justo, inimigos do arbitrário, suportam melhor o roubo que o vilipêndio; ignorantes por falta de instrução, mas cheios de talento por natureza; de imaginação brilhante e por isso amigos de novidades que prometem perfeição e enobrecimento; generosos mas com bazófia; capazes de grandes ações, contanto que não exijam atenção aturada e não requeiram trabalho assíduo e monotônico; apaixonados do sexo por clima, vida e educação. Empreendem muito, acabam pouco. Serão os Atenienses da América se não forem comprimidos e desanimados pelo despotismo.»

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Trechos de José Bonifácio, com textos selecionados por Octavio Tarquínio de Sousa. Para ler sobre José Bonifácio de Andrada e Silva

Atualizações semanais no Twitter em 2010-10-04

  • RT @kaisa_isabel:pichação e briguinha de artistas em 2010.Sono RT @leleou só de pensar em bienal e moderninhos eu já fico cansado,imagina ir #
  • Hoje é um bom dia para fotografar: há um filtro âmbar no céu. Aproveite para fazer uma produção vintage. B^) #
  • Sobre Lula achar que tem sempre razão por ser popular… B^) RT @flaviomorgen: @yurivs Como você tem mais seguidores do que eu, nem discuto. #
  • Essa foi ótima!!! B^D (Sobre copyright, compartilhamento, etc.) http://bit.ly/a3HyaC #cartoon #
  • Esse cubo para digitalizar livros é um tanto primitivo, não? #BookLiberator http://bit.ly/bEDW05 #
  • "Karl Fogel: History of copyright and its implications for the ownership of information today" http://bit.ly/crbDVp (Stanford University) #
  • "The Public's Perception of Copyright — Video Interviews with Randomly-Selected People in Chicago" http://bit.ly/cP8oHy #
  • "Poema para o presidente Lula", de João Batista do Lago (Vc q se considera "apolítico", ouça ao menos a mensagem final) http://bit.ly/cY1vO4 #
  • Você descobre um fato inexorável, deduz dele uma regra de conduta, que funciona, mas, por tentação, crendo numa exceção, a viola. E se fode. #
  • "Arqueólogos descobrem palácio de Ulisses em Ítaca" http://bit.ly/cQHWzf #
  • "O elemento estrutural do cosmos, e a realidade fundamental da nossa experiência, chama-se alma imortal humana." http://bit.ly/bipewt #
  • ☞ Traduzir é como revelar uma imagem fotográfica tendo de coordenar, com os próprios dedos, a ação das substâncias químicas. Trabalheira!! #
  • ❝PM do governador do Tocantins usa fuzis para tentar impedir a VEJA de circular no Estado;(…) O que Lula acha disso?❞ http://bit.ly/db9OGD #
  • "Democracia não é o povo ter o direito de gritar que está com fome, democracia é o povo ter direito de comer". Lula☭ http://bit.ly/c9HYhe #
  • Sabe quando seu pai vai fazer uma cirurgia no coração e, uma hora e quarenta e cinco minutos após a hora marcada, nada de médico? Pois é… #
  • ❝Marina é quem recorre a um número maior de truques, embora passe incólume pela crítica.❞ (É isso mesmo.) http://bit.ly/dzLdYg #
  • Rolou um trovão aqui no bairro e os alunos do colégio aqui ao lado, em coro: "Êeeeeeeeeh!" #
  • As risadas da @leilah_carvalho no True Outspeak são impagáveis… B^) #
  • E falando nisto: "A Desobediência Civil, de Henry David Thoreau" http://bit.ly/bze8WP #trueoutspeak #
  • O IMDB alterou o design do site. Hmmm. http://www.imdb.com/ #
  • Impressionante. O Paulo Henrique Amorim escreve feito um retardado. Não escreve parágrafos, mas manchetes encadeadas. http://bit.ly/bgBeQ2 #
  • Alguém incapaz de ligar duas premissas jamais chegará à conclusão de que apóia criminosos. #
  • O problema do Tiririca não é ser analfabeto. Dizem que Maomé também era. Alguém assim só precisa de um secretário.Mas é analfabeto funcional #
  • Um analfabeto funcional não conseguirá compreender um texto mais complexo lido por seu secretário. #
  • Se o Tiririca contratasse o Paulo Henrique Amorim como seu secretário, logo teríamos campos de concentração no Brasil – e eles nem saberiam! #
  • Tiririca(presidente)e Paulo Henrique Amorim(secretário dele)acabariam presos num campo de concentração criado por eles.Sem saber onde estão! #
  • Dilma, Serra, Marina, Plínio, Tiririca… parece um cortejo circense do inferno. Eu votaria no @mariooliveira70 , mas não saiu a candidatura #
  • Amazon lança Kindle para a Web: agora é possível ler trechos de seus ebooks diretamente no navegador. http://bit.ly/d3Jz8t #
  • Olhaí… "Tiririca – o Filio do Braziu" http://bit.ly/bM32Kd #video #humor #
  • "O Chefe", de Ivo Patarra, (baixe o PDF do livro proibido sobre Lula, chefe do Mensalão) – http://bit.ly/c1pFtO #ebook #
  • "Longe de tratar o sr. Presidente a chicotadas, a mídia, que o criou, sempre procurou poupá-lo e afagá-lo." #lula http://bit.ly/dfmMq8 #
  • Assim caminha a universidade: 1 semana depois de sair da greve, a UnB volta a entrar em greve – (via @unbconservadora) http://ven.to/cfn #
  • Exposição de arte abstrata em Júpiter, divulgada pela Nasa: http://bit.ly/azjNze #
  • Olha o Soma do Admirável Mundo Novo. RT @revistagalileu: Antidepressivos deixam as pessoas mais pacíficas, diz estudo – http://bit.ly/afZL0z #
  • Relâmpagos e trovões. Pensei em cantar e dançar, caso chova mesmo, mas, com esse céu sujo, vai é chover lama misturada com chuva ácida. B^/ #
  • "Writers would not starve, if copyrights disappeared off the face of the Earth tomorrow" http://bit.ly/a8V3NM #
  • ❝Confesso que escrevo de palpite, como outras pessoas tocam piano de ouvido. De vez em quando um leitor culto se… http://twishort.com/abs7o #
  • ❝Singin' in the rain❞ (finalmente!) http://bit.ly/b2P7ZW (A @spihh110 vai com ou sem chuva ácida.) #
  • Ela parecia perdida: mas era "somente" falta de poesia. (Um médico jamais adivinharia…) ✿ #
  • Cansei de receber convites para festas e shows localizados sabe-se lá onde. Por que não colocam o nome da cidade? Em geral, não há nem DDD. #
  • Hoje, aniversário de Miguel de Cervantes, e também de Miguel de Unamuno, além de aniversário da morte de Machado de Assis. Que dia, hein. #
  • Aniversários de MIGUEL de Cervantes e de MIGUEL de Unamuno. Deu para notar que é dia do Arcanjo Miguel, segundo o Livro de Urântia, Jesus. #
  • Miguel (em hebraico: מִיכָאֵל; em grego: Μιχαήλ; em latim: Michael; em árabe: میکائیل): o líder dos exércitos celestiais. http://j.mp/dk4g9P #
  • Resumo da carta do Conselho Estadual de Cultura de Goiás: Considerando que a cultura é linda, vamos aumentar a burocracia para tratar dela. #
  • E todos aplaudem a carta do Conselho Estadual de Cultura de Goiás, afinal, entenderam: mais dinheiro! Quem é louco para rasgar essa grana? #
  • Por falar em Cultura, a cultura de bactérias na nascente do córrego Vaca Brava (no Parque Vaca Loca) está cada vez maior: um cheirão!! #

Alguns poemas de Augusto dos Anjos

Augusto dos Anjos

O COVEIRO

Uma tarde de abril suave e pura
Visitava eu somente ao derradeiro
Lar; tinha ido ver a sepultura
De um ente caro, amigo verdadeiro.
Lá encontrei um pálido coveiro
Com a cabeça para o chão pendida;
Eu senti a minh’alma entristecida
E interroguei-o: “Eterno companheiro
Da morte, quem matou-te o coração?”
Ele apontou para uma cruz no chão,
Ali jazia o seu amor primeiro!
Depois, tomando a enxada, gravemente,
Balbuciou, sorrindo tristemente:
– “Ai, foi por isso que me fiz coveiro!”

O LUPANAR

Ah! Por que monstruosíssimo motivo
Prenderam para sempre, nesta rede,
Dentro do ângulo diedro da parede,
A alma do homem polígamo e lascivo?!
Este lugar, moços do mundo, vede:
É o grande bebedouro coletivo,
Onde os bandalhos, como um gado vivo,
Todas as noites, vêm matar a sede!
É o afrodístico leito do hetairismo,
A antecâmara lúbrica do abismo,
Em que é mister que o gênero humano entre,
Quando a promiscuidade aterradora
Matar a última força geradora
E comer o último óvulo do ventre!

O MARTÍRIO DO ARTISTA

Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetas células guarda!
Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!
Tenta chorar e os olhos sente enxutos!…
É como o paralítico que, à míngua
Da própria voz e na que ardente o lavra
Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!

O MORCEGO

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
“Vou mandar levantar outra parede…”
– Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

A ESPERANÇA

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?
Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a Crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro – avança!
E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da Morte a me bradar; descansa!

AMOR E CRENÇA

Sabes que é Deus? Esse infinito e santo
Ser que preside e rege os outros seres,
Que os encantos e a força dos poderes
Reúne tudo em si, num só encanto?
Esse mistério eterno e sacrossanto,
Essa sublime adoração do crente,
Esse manto de amor doce e clemente
Que lava as dores e que enxuga o pranto?
Ah! Se queres saber a sua grandeza
Estende o teu olhar à Natureza,
Fita a cúp’la do Céu santa e infinita!
Deus é o Templo do Bem. Na altura imensa,
O amor é a hóstia que bendiz a crença,
Ama, pois, crê em Deus e… sê bendita!

AMOR E RELIGIÃO

Conheci-o: era um padre, um desses santos
Sacerdotes da Fé de crença pura,
Da sua fala na eternal doçura
Falava o coração. Quantos, oh! Quantos
Ouviram dele frases de candura
Que d’infelizes enxugavam prantos!
E como alegres não ficaram tantos
Corações sem prazer e sem ventura!
No entanto dizem que este padre amara.
Morrera um dia desvairado, estulto,
Su’alma livre para o céu se alara.
E Deus lhe disse: “És duas vezes santo,
Pois se da Religião fizeste culto,
Foste do amor o mártir sacrossanto.”

SONETO

A praça estava cheia. O condenado
Transpunha nobremente o cadafalso,
Puro do crime, isento de pecado,
Vítima augusta de indelével falso.

E na atitude do Crucificado,
O olhar azul pregado n’amplidão,
Pude rever naquele desgraçado
O drama lutuoso da Paixão.

Quando do algoz cruento o braço alçado
Se dispunha a vibrar sem compaixão
O golpe na cabeça do culpado

Ele, o algoz – o criminoso – então,
Caiu na praça como fulminado
A soluçar: perdão, perdão, perdão!

ARIANA

Ela é o tipo perfeito da ariana.
Branca, nevada, púbere, mimosa,
A carne exuberante e capitosa
Trescala a essência que de si dimana.

As níveas pomas do candor da rosa,
Rendilhando-lhe o colo de sultana,
Emergem da camisa cetinosa
Entre as rendas sutis de filigrana.

Dorme talvez. Em flácido abandono
Lembra formosa no seu casto sono
A languidez dormente da indiana.

Enquanto o amante pálido, a seu lado,
Medita, a fronte triste, o olhar velado,
No Mistério da Carne Soberana.

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Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos

Copiar não é Roubo / Copy is not theft



O vídeo acima me lembra que, meses atrás, respondi a uma pergunta no Formspring sobre direitos autorais. (Leia aqui.) Continuo pensando da mesma forma no que se refere a “atribuição de autoria”, “obras derivadas” e tudo o mais. Mas o problema da remuneração continua, cada vez mais gordo, enquanto os artistas não bancados pelo ☭Estado☭ emagrecem a olhos vistos. (Arte é, em certo sentido, um investimento de tempo, o qual se cristaliza na forma de dinheiro, que, por sua vez, está nas mãos do Estado — impostos, gente! impostos! — ou nos bolsos de investidores incultos.) Num mundo ideal, creio que o mais correto seria — no caso dos ebooks, por exemplo — os livros espalharem-se livremente pela rede e, caso o leitor gostasse do texto, que então fizesse (de livre e espontânea vontade, lógico) uma doação ao autor através do PayPal (ou serviço semelhante). Infelizmente o mundo ideal não existe e as pessoas não querem jogar moedinha no chapéu de artista nenhum, essa gente à toa, essas cigarras desprovidas de senso prático. Aliás, aqui no Brasil, retribuir financeiramente algo que se recebeu “de graça”?! Isso nem nos passa pela cabeça. A Lygia Fagundes Telles, quando a visitei anos atrás, me disse que ganhava mais dinheiro dando palestras que através de direitos autorais. Talvez, da mesma forma que os músicos foram obrigados a sair em turnê para conseguir sobreviver — e temos de agradecer aos arquivos MP3 por isso (graças a esse estado de coisas já rolou até um show do The Doors a dois quarteirões da minha casa; sim, sem o Jim Morrison) –, da mesma forma que os músicos, os escritores terão de fazer o mesmo: sair a dar palestras, oficinas literárias, de roteiro, fazer stand-up comedy ou coisa assim. Só que as pessoas tampouco parecem saber que isso é possível e, além de conveniente, uma necessidade para o escritor. Quando finalmente o convidam, a não ser que seja um evento patrocinado pelo Estado (ah, esse nosso socialismo disfarçado…), querem que você faça, sim, tudo de graça, o que me lembra este outro vídeo aqui.

Mas o assunto era Copyright… Bem, este site apresenta a questão de uma forma bastante abrangente. E esta palestra (também em inglês, sem legendas) resume bem a situação toda. E, claro, é sempre bom, em casos assim, recorrer ao Mises Institute: aqui e aqui.

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