Metamorphose, um documentário sobre M.C. Escher.
Categoria: Arte Page 2 of 6
Do Arquivo Pessoa:
Os 3 géneros de artistas
1. O artista para quem a arte é uma necessidade como que física, directa, como são a de comer e a de beber. Para este a arte é uma função da vida.
2. O artista para quem a arte é um refúgio, um modo de esquecer a vida; como um narcótico, um vício qualquer, um álcool.
3. O artista para quem a arte é uma tarefa, uma missão a cumprir.
Do 1.º género são homens como Shelley, Byron – como o «romântico», em geral.
Do 2.º género são homens como Verlaine, Baudelaire, e outros assim (incluir Maupassant).
Do 3.º grupo são os grandes criadores como Milton.
Fernando Pessoa
Como este quadro – Le livres jaunes (Os livros amarelos) – pertence a uma coleção particular, não sei afirmar qual é sua real condição. (É possível encontrá-lo no Google Images em vários tons distintos, e inclusive numa versão espelhada, com os objetos dispostos em sentido inverso.) Mas, poxa… é van Gogh!, que foi, antes de tudo, um grande leitor. (Basta ler as Cartas a Theo para inteirar-se dos diversos livros que lhe fizeram a cabeça.)
Trecho do livro Os Criadores, de Paul Johnson:
De todas as pessoas criativas que encontrei, Cristóbal Balenciaga (1895-1972) foi a mais dedicada à criação de coisas belas. (…)
Entre os mestres da moda parisiense provenientes de outros países, Balenciaga era o maior. Na verdade, muitos o consideram o costureiro mais original e criativo da história. E era um verdadeiro costureiro, não apenas designer de moda: ou seja, criava o modelo, cortava, costurava, provava e fazia o acabamento das roupas, e alguns de seus melhores vestidos eram feitos inteiramente por ele. (…)
Nunca comentou o trabalho de outros costureiros. (…)
Ele considerava a costura uma vocação, como o sacerdócio, bem como um ato de devoção. Sentia que adornar a forma feminina, que Deus fizera tão bela, era uma maneira de adorar a Deus. Sua abordagem era reverencial, na verdade sacerdotal. (…)
A Maison Balanciaga era como uma igreja, na verdade um monastério. Marie-Louise Bousquet disse: “Era como entrar num convento de freiras saídas da aristocracia”. Courrèges, que trabalhou lá, descreveu a atmosfera como “monástica tanto no sentido arquitetônico quanto no sentido espiritual”. (…) todas as entradas eram guardadas por mulheres fortes. (…)
Não fazia questão de usar artifícios para conquistar a popularidade. Nunca concedeu entrevistas (exceto uma, ao Times de Londres, ao decidir se aposentar.) Não frequentava a sociedade. (…) Tinha as maneiras de um antigo cardeal do Papa Pio XII. (…) Jamais elevou a voz. Na verdade, o silêncio era a sua norma. Ungaro disse: “Havia nele algo de nobre”. (…) Dizia-se que ele não gostava de mulheres, mas não há sinais de que gostasse delas menos do que gostava dos homens. Via-as como cavalos de corrida: “Devemos vestir apenas as puro-sangue”. Costumava citar Salvador Dalí: “Uma mulher verdadeiramente distinta muitas vezes tem um ar desagradável”.
No entanto, costurava para mulheres. Seu princípio fundamental como costureiro era fazer as mulheres felizes. “Ele gostava de fazer uma duquesa de 60 anos parecer ter 40, e a esposa de um comerciante milionário parecer uma duquesa.” (…)
Balenciaga acreditava que suas roupas, quando usadas adequadamente (e era raro uma cliente não seguir suas regras), levavam suas portadoras a uma supercultura sem classes, celestial e infinita, na qual o corpo da mulher, ainda que velho ou com alguns defeitos, estabelecia o que ele chamava de “casamento místico” com suas roupas. (…)
Mas em 1968 (…) ele vinha se tornando uma figura cada vez mais desiludida e melancólica. Os acontecimentos de 1968 – a revolta dos estudantes que a todos parecia um novo começo – foram considerados por ele como uma exibição de selvageria, um ataque à civilização, visão que compartilhava com o perceptivo filósofo Raymond Aron e que demonstrou estar certa. (…) Mas seu coração já não estava mais ali e ele acabou chegando à conclusão de que as novas políticas fiscais e trabalhistas tornavam a administração de seu negócio cada vez mais desagradável. Abruptamente, como de Gaulle, aposentou-se, fechou a maison de Paris (não havia sucessor possível) e voltou para a Espanha. Morreu em 1972, triste e solitário, um grande artista derrubado pelos anos, uma das muitas baixas da insensatez da década de 1960 – junto com instituições como a Sociedade de Jesus, a universidade de eruditos e cavalheiros à moda antiga, as regras tradicionais de decoro sexual, a reticência artística e muito mais.
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Publicado no Digestivo Cultural.
Nos meus cinco anos de Brasília – mais especificamente no alojamento da UnB (1992-1997) – aprendi com alguns roomies (entre eles alguns músicos) que uma das coisas interessantes do aprendizado artístico é rastrear as influências e o percurso dos nossos, digamos, mestres. Lembro, por exemplo, do meu espanto ao saber que Jimi Hendrix havia sido guitarrista de Little Richard. (No início, sempre acreditamos que gênios florescem sozinhos.)
Nat King Cole também apresentou um programa musical na TV. Neste episódio, divide as atenções com um garoto de 11 anos de idade:
Anos depois, já crescido, e ainda ao piano, o garoto subiu no telhado. Com uma banda chamada The Beatles (ele aparece ao fundo, à esquerda):
Mais tarde, Billy Preston, o ex-garoto prodígio, assumiu o comando de sua carreira:
E ele nos deixou apenas alguns anos após homenagear George Harrison:
Você talvez não acredite, mas eu, sim, creio que ainda irei assistir ao show desses caras em uma das futuras moradas além desta província terráquea. Halleluya!
Boa semana.
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Publicado no Digestivo Cultural.
Em 2009, além de ministrar a oficina de roteiro e direção, fui jurado do 1º Curta Carajás, no Pará. (Neste ano, o festival está se preparando para sua quarta edição.) Qualquer jurado sabe que, num festival de cinema, é necessária muita paciência com as toneladas de joio até poder encontrar algum trigo. E o grão de trigo que mais me marcou, e que infelizmente ainda não está integralmente disponível na internet, foi o documentário Fractais Sertanejos, de Heraldo Cavalcanti, no qual conhecemos a história do pedreiro João Batista dos Santos, o Janjão, que, após passar por uma Experiência de Quase Morte durante uma cirurgia, teve sua vocação artística despertada pela epifania que então lhe ocorreu. Janjão, hoje, é um escultor de talento indiscutível que exporta suas obras para todo o mundo. Seu discurso, no documentário completo, faz brotar lágrimas no espectador. Todo aquele que tem dúvidas sobre o valor e o significado de ser um artista deve assistir a esse documentário. Veja os trailers abaixo que, infelizmente, não chegam a dar uma leve ideia do vídeo completo.
Para saber mais sobre Janjão e o documentário, clique aqui e aqui.
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Publicado no Digestivo Cultural.
Eu sempre achei Olívia Palito uma figura chatérrima e muito, muito feia. Aquele desenho animado me irritava, ofendia meu senso estético. Nunca entendia por que Brutos e Popeye brigavam tanto por causa dela. (A única razão plausível é que eram tão feios e chatos quanto ela.) Bem, depois que conheci o impressionante trabalho do artista plástico paraibano Shiko, até a Olívia Palito se tornou uma gata para mim. Sério.
Claro, Shiko vai muito além dessa releitura. Há muita coisa bacana na galeria dele, muita mesmo, que faz a visita valer a pena. (Preciso confessar que gostaria muito que caras com talento deste naipe lessem meu ensaio Tlön, Urântia, Borges, Deus…)
Vale lembrar que tomei conhecimento do seu trabalho há uns dois ou três anos, graças a outro excelente artista paraibano, o músico Chico Correa, para quem Shiko fez os desenhos da animação abaixo.
O CD que tenho da Chico Correa & Electronic Band é um dos mais dançantes dos últimos tempos. Você encontra um link para baixá-lo aqui.)