palavras aos homens e mulheres da Madrugada

Categoria: Cultura

Nossa peça no Festival Internacional de Teatro de Brasília

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A adaptação que fiz a quatro mãos com a Miriam Virna do livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley — a peça Admirável e Só para Selvagens — foi selecionada para o Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília. Estará em cartaz nos dias 8 e 9 de Setembro, às 19 horas, no Teatro Goldoni, Casa D’ Itália (208/209 Sul).

Do site do evento:

Os números do festival em 2009 impressionam: 12 dias, 24 espetáculos, 12 teatros, três grandes shows, 300 artistas. Nesta décima edição, o festival encara sua mais intensa programação. Tendo a França como país especialmente convidado, o CENA apresentará espetáculos dos Estados Unidos, Canadá, Uruguai, Argentina, Espanha, Israel e, é claro, França, trabalhos de algumas grandes companhias nacionais (das cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Campinas, São José do Rio Preto e Brasília) e shows com artistas prestigiados na cena pop mundial, como Angélique Kidjo e Richard Galliano, que fará com o brasiliense Hamilton de Hollanda um show que já se anuncia histórico.

Contamos com a presença de todos. Sei que sou suspeito, mas devo dizer que nossa peça é ótima. 🙂

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Leia o release da peça aqui.

A peça no site do Cena Contemporânea.

Nosso curta-metragem em Portugal

VTS_01_1 O curta-metragem ESPELHO, dirigido por mim e por Cássia Queiroz, foi convidado a participar da mostra Verão Cinema e Outras Coisas (organizada pela PULGA associação criativa), que ocorrerá na Costa da Caparica, em Portugal. Será apresentado Domingo, dia 30/08, no encerramento. (Veja a programação completa do evento.)

A organização, entre outras coisas, foi bem bacana ao aceitar receber a imagem de DVD (arquivo ISO) via internet, sem as mil e uma burocracias exigidas por festivais, mostras e canais de TV brasileiros, que solicitam as mídias gravadas e mil e um papéis de autorização assinados, o que apenas me faz esquecer de enviar o material, infelizmente. Para que gastar com frete material se o “objeto” é digital? Oras…

Fica aí a sugestão: use o Archive.org para salvar e enviar as imagens de DVD (ISO) do seu curta-metragem. Suba o arquivo ISO e ele automaticamente criará arquivos em Mp4 e Gif.

O livro “Partículas Elementares” e o Brasil

Michel Houellebecq

Há algo bastante sedutor no livro “Partículas Elementares”: a lucidez de seu autor, Michel Houellebecq.

Bruno ofereceu um cálice de pineau à católica. “Como te chamas?”, perguntou-lhe. “Sophie”, foi a resposta. “Não danças?”, continuou ele. “Não, não gosto das danças africanas, é demasiado…” Demasiado quê? Compreendia a perturbação dela. Demasiado primitivo? Evidentemente que não. Demasiado ritmado? Já estava no limite do racismo. Decididamente nada se podia dizer sobre aquelas danças africanas idiotas.

Pobre Sophie, tentava fazer o melhor possível. Tinha um belo rosto, com os cabelos pretos, olhos azuis, a pele muito branca. Devia ter seios pequenos, mas muito sensíveis. Era certamente da Bretanha. “Tu es bretã?”, perguntou ele. “Sim, de Saint-Brieuc!”, respondeu ela com alegria. “Mas adoro as danças brasileiras…”, acrescentou, na tentativa, com certeza, de fazer-se perdoar por não apreciar as danças africanas. Não era preciso mais para irritar Bruno. Começava a encher o saco dessa estúpida mania pró-Brasil. Por que o Brasil? Conforme tudo o que sabia, o Brasil era um país de merda, povoado de brutos fanáticos por futebol e por corridas de automóvel. A violência, a corrupção e a miséria estavam no apogeu. Se havia um país detestável, era justamente, e especificamente, o Brasil.

“Sophie”, exclamou Bruno com força. “Eu poderia ir ao Brasil, em férias. Passearia nas favelas, num microônibus blindado; observaria os pequenos assassinos de oito anos, que sonham em se tornar chefes de bando aos treze anos; não sentiria medo, protegido pela blindagem; à tarde, iria à praia, entre riquíssimos traficantes de droga e de proxenetas; no meio dessa vida desenfreada, dessa urgência, esqueceria a melancolia do homem ocidental; tens razão, Sophie: ao voltar, pegarei informações numa agência Nouvelles Frontières.”

Agora, boa mesmo é a crítica que ele faz à geração 1960/1970, aos “podi-crê” de 68 e demais adeptos da Nova Era e da famigerada “revolução de costumes”. Hilário.

Impressão sob demanda

Quando pela primeira vez li a respeito de uma máquina que, a partir de um arquivo de texto, e com um mero apertar de botão, seria capaz de fabricar um único livro, incluindo a capa, fiquei eufórico: ¿seria o fim do grande risco que todo editor corre ao publicar bancar um novo autor, já que tal publicação costuma se materializar num grande número de exemplares, o que significa um grande investimento e, na pior das hipóteses, um possível encalhe? Uma máquina assim significaria também, para o autor iniciante, um acesso facilitado à publicação de sua primeira obra. Porque, se nós jovens autores sentimos raiva e frustração cada vez que uma conhecida editora rejeita nosso livro, é preciso que também tomemos ciência de um fato econômico muito importante: “TANSTAAFL”. Hã?! Explico: “There Ain’t No Such Thing As A Free Lunch” ou, em bom português, “Não existe esse tal de almoço grátis”. A frase, cunhada pelo escritor Robert A. Heinlein — no livro The Moon is a Harsh Mistress — e associada ao pensameno do economista Milton Friedman, quer dizer isso mesmo: há sempre alguém pagando por aquilo que se consome. E não adianta citar o financiamento público da arte: o dinheiro usado ali foi subtraído ao povo por meio de impostos. Logo, o que haveria de mais revolucionário no mundo dos livros do que a publicação sob demanda? Ao invés de mil livros impressos e apenas dez vendidos, temos um livro para cada despertar de uma vontade… Enfim, li a notícia sobre essa prometida máquina em 1999, na Casa do Sol, e testemunhei um brilho de esperança no olhar da escritora Hilda Hilst, a quem dei a notícia, e que tinha então um longo histórico de decepções com editores: aos 69 anos de idade ela ainda não tinha contrato com uma boa editora. Se para ela era difícil, ¿o que eu poderia esperar? Simplesmente desisti de correr atrás de editoras. Às grandes editoras interessa apenas um tipo de autor: aqueles que, de algum modo, cresceram e apareceram. Não sou um deles.

Hilda Hilst faleceu em 2004 tendo a “sorte” de, às portas da morte, finalmente ser publicada por alguém que, além de imprimir o livro, ainda o distribuiu e divulgou. Sim, foi uma “sorte”, mas coloco a palavra entre aspas porque a escritora já estava muito debilitada e desiludida da vida para conseguir gastar o dinheiro que finalmente passou a receber com seu trabalho. E o dinheiro jamais seria o bastante para pagar sua dívida de quase um milhão de Reais com o IPTU. Detalhes…

Todo esse preâmbulo é para avisar aos jovens autores brasileiros que a impressão de livros sob demanda finalmente chegou ao Brasil e, por enquanto, atende pelo nome de Clube de Autores. ¿Será que adquiriram a citada máquina de Jason Epstein? Não sei. O importante é saber que o autor não precisa gastar nada, basta subir seu livro em PDF até o site, configurar uma capa e divulgar a página de venda do seu livro. (Para tanto, ¿que tal usar o Google AdWords?) Cada vez que alguém comprar o livro online, este será impresso e enviado ao comprador pelo Correio, uma verdadeira mão na roda. Eu já aderi ao sistema. E espero que outros autores se sintam aliviados por seguir o exemplo. Nem todo mundo tem o desprendimento de um Fernando Pessoa, isto é, de alguém que escreve apenas para a posteridade. Porque, em geral, quando não publicamos, nos sentimos como uma represa sem vazão, como uma fonte estagnada. E é muito chato lançar ebooks e ficar ouvindo: “desculpe, mas não leio no computador”. (Agora terá de ler, papudo!!) E vamos torcer para que, um dia, essas máquinas estejam espalhadas pelas livrarias do país.

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