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“Não existem sinônimos!” © Rubem Fonseca.
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“Não existem sinônimos!” © Rubem Fonseca.
« Milton, no Areopagitica, nos dá, talvez sem querer, uma pista sobre as fontes do elemento profético numa sociedade moderna. Elas podem aparecer através da palavra impressa, sobretudo na pena dos que despertam resistência e ressentimento na sociedade, por falarem com uma autoridade que esta reluta em reconhecer. Neste contexto uma tal autoridade não é infalível, mas ainda assim pode conter uma genuína antevisão. A tolerância para com mentes criativas, reconhecendo-as como potencialmente proféticas, é uma marca da maioria das sociedades maduras, mesmo se essa tolerância não possui padrões definidos de antemão nem postula a infalibilidade daquelas mentes. Portanto no mundo moderno, se algo corresponde à autoridade profética, é o crescimento do que antes chamamos de pluralismo cultural. Neste contexto um cientista, um historiador ou um artista podem pensar que seu assunto possui uma autoridade inerente. Na mesma linha de pensamento, reconhecem que podem realizar descobertas que entrem em conflito com o espírito socialmente predominante e que mesmo assim, diante da oposição por parte da sociedade, devem permanecer leais à sua matéria.
« Na Bíblia a profecia é uma visão abrangente da situação humana, medindo-a da criação à libertação final; é uma visão que demarca o que, em outros contextos, despertaria a imaginação criadora. Ela incorpora a perspectiva da sabedoria, ampliando-a. O sábio pensa na situação do homem como se esta fosse uma linha horizontal, formada pelo precedente, pela tradição, e avançando graças à prudência; o profeta vê o homem num estado de alienação provocado pelas distrações que lhe são próprias, no ponto mais baixo de uma curva em forma de U. Voltaremos a esta curva mais tarde, como a unidade narrativa na Bíblia. Ela (a curva) postula um estado original de felicidade relativa, e olha para diante, na esperança de uma restauração definitiva deste estado para pelo menos algum “sobrevivente”. O momento presente do sábio é o ponto em que se equilibram o passado e o futuro; as incertezas deste são minimizadas pela observância da lei que procede do passado. O momento presente do profeta é o de um filho pródigo alienado, um momento que rompeu com sua própria identidade no passado mas pode a ela retornar no futuro. Desse ponto de vista podemos ver que o Livro de Jó, embora seja classificado entre a literatura da sabedoria e inclua mesmo um elogio da própria sabedoria, não pode ser compreendido apenas como tal. Para ser compreendido ele precisa de uma perspectiva profética.»
Trecho do livro O Código dos Códigos, de Northrop Frye.
— Ah, não! Uma blitz!! Anda, filho, troca de lugar comigo, rápido!
— Mas, pai, eu…
— Vamos logo! Quer ver seu pai na cadeia, é? Não viu que eu bebi uma taça de vinho na casa da sua avó?
— Mas…
— Não tem mais nem menos! Vai, se mexe.
— Pai, eu tenho doze anos de idade! O senhor ficou maluco?
— Não se preocupe, é como aquele carrinho de bate-bate do parque de diversões, não tem mistério.
— Mas aí tem três pedais. E eu não sei usar essa alavanca da marcha.
— O câmbio.
— É, não sei usar o câmbio.
— Eu engato a primeira aqui e você vai devagarzinho até lá.
O menino obedece e, não conseguindo parar, enfia o carro na lateral do carro da polícia, que resulta bastante amolgado.
— Que sorte! —, diz a mãe ao telefone minutos depois. — Imagine se eles tivessem usado o bafômetro em você.
— Pois é. Estaria perdido, um crime bem pior.
— E de onde você tirou essa idéia?
— Uê, dos traficantes, claro. Eles não usam menores de idade para cometer crimes e se safarem em seguida?
— Genial, meu bem! Genial!
Sobre o filósofo Roger Scruton.
Minha leitura do Poema em linha reta, de Fernando Pessoa, escrito sob o heterônimo de Álvaro de Campos.
Eu, que na infância adorava filmes de vampiro, andava com o estômago revirado com tantas besteiras vampirescas no cinema atual. Aliás, já nem acompanho mais as novidades cinematográficas com aquela sofreguidão juvenil de antes. Vou vendo filmes antigos e novos ao acaso, conforme as oportunidades e minha própria vontade. E, neste século, nada mais decepcionante do que um filme de vampiro. (Dá uma saudade do Christopher Lee daquele tamanho.)
Quem leu o livro Drácula (Bram Stoker) sabe que, nele, o vampiro é uma verdadeira praga, uma metáfora do mal, e que os personagens passam metade do tempo orando, pedindo força, coragem e fé a Deus para enfrentar algo tão terrível. (Na verdade, o filme Drácula de Bram Stoker não é senão Drácula de Francis Ford Coppola, pois, ao contrário de sua adaptação, não há nenhum amor romântico no livro.) Tal como eu disse na PUC TV (programa Da Hora), durante um debate a que fui convidado sobre a moda vampiresca, hoje em dia vampiros estão mais para “diabos levantados” do que para “anjos caídos”. E isso só é possível porque as pessoas perderam a noção do que realmente significa o termo maniqueísmo, pois acreditam que colocar, numa narrativa, o Bem a lutar claramente contra o mal seja um equívoco, isto é, que essa luta seja “maniqueísmo”, quando, na verdade, ser maniqueísta é acreditar justamente no contrário, a saber: que o mal é tão absoluto quanto o Bem, que ambos devem caminhar juntos, como gêmeos fundadores da realidade, e que, por isso, combater o mal não é senão uma perda de tempo. Besteira! Santo Agostinho fala muito bem sobre a burrice que é o maniqueísmo, do qual participou antes de abraçar o cristianismo. É preciso combater o mal, sim, como ocorre no livro Drácula. Afinal, tornar-se vampiro não é aprender a conviver com uma doença. Não! É entregar-se ao mal. Aqueles que se tornam vampiros, e mesmo assim não se entregam ao mal, deixam-se matar.
Enfim, tudo isso para dizer que, ontem, finalmente assisti a um filme de vampiros recente (2007) que me causou calafrios: 30 Days of Night. É a história de um povoado isolado no Alaska subitamente invadido por vampiros. Impressionante! Lembra muito o que Luiz Fernando Vaz comenta num artigo sobre zumbis. Claro, como quase tudo o que é bom no cinema, trata-se de uma adaptação (no caso, de uma HQ). E vale a pena. O filme, caso você o veja sozinho numa casa afastada, faz você dar uma saidinha para checar se as portas estão realmente trancadas. Não há vampiros “gente boa” e nem paixonites inocentes por rapazes que brilham no escuro e cuja maldade não é senão uma inadequação adolescente à realidade. Não. É, finalmente, um filme de vampiros à moda antiga.
P.S.: Eu disse que o filme é recente, mas minha sobrinha, que tem 14 anos de idade, achou-o antigo, pois foi rodado em 2007. Bom, para mim, filme antigo é filme mudo do início do século passado…
Eis o trailer:
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Quanta custa um ebook no Brasil e qual a diferença de preço entre um ebook e um livro de papel?
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Já que um amigo me perguntou no Facebook por que os ebooks custam tão caro no Brasil, e já que a apresentação acima não dá tantos detalhes, eis então minha própria resposta (com alguns adendos):
Bom, há vários motivos, hermano. Em primeiro lugar, por mais que se diga que não há impostos embutidos no preço do livro impresso, a verdade é que as editoras, tal como qualquer um de nós, precisam pagar impostos em tudo mais (energia elétrica, água e esgoto, aluguel, IPTU, equipamentos, etc.), além de ter de arcar com todas as despesas trabalhistas (inspiradas em Mussolini) de seus funcionários. Por isso, jogam o preço do livro para o alto, do contrário iriam falir. (Sim, nossos livros impressos já são demasiado caros.) Os ebooks deveriam custar muito menos exatamente para contornar esses altos valores dos impressos, já que neles não há gastos com papel, transporte, distribuição, etc. O problema é que as editoras precisam manter a estrutura da empresa e, em vez de contar com muitas vendas de ebooks baratos, preferem pagar suas despesas com a venda de poucos ebooks caros. É uma burrice (ou talvez covardia) nascida do desespero, já que as condições que o governo impõe aos empresários não deixa muita alternativa à esperança. (¿Como esperar um grande número de vendas de ebooks se os aparelhos para sua leitura – Kindle, Kobo, etc. – são muito caros no Brasil?) Os únicos capazes de cobrar pouco por ebooks são os escritores que possuem público garantido (Paulo Coelho e semelhantes) e os independentes, como eu, que não tenho despesas com uma grande estrutura, uma vez que faço tudo sozinho, do texto à capa. Uma solução que me parece lógica é o surgimento de agentes literários/editores independentes, que trabalhariam para meia dúzia de autores. Um profissional assim poderia lucrar mais com ebooks do que uma editora tradicional. Falei sobre isso no Digestivo.
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