palavras aos homens e mulheres da Madrugada

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Isaac Bashevis Singer: o tédio, a alegria e a compatibilidade amorosa

Isaac Bashevis Singer

« Olhando para trás, para a minha vida, vejo que todas as minhas qualidades, boas e más, já estavam comigo naquele tempo. Até minhas idéias sobre literatura. Muitas vezes ouvira minha mãe e Joshua dizerem que boa parte das desgraças do mundo vinham do tédio humano. O tédio é tão doloroso, as pessoas arriscariam sua vida para escapar dele. Nações se cansam de longos períodos de paz, e tentam criar uma crise, um conflito, a fim de iniciar uma guerra. Alguns homens se cansam de sua vida familiar, e começam brigas que levam ao divórcio. Jovens de casas ricas deixam seus pais e procuram aventuras que os prejudicam. Na sala de meu pai eu escutava constantemente relatos de ferocidade e loucura humana. Alguns homens corriam para a América com outras mulheres, deixando suas famílias sem pão. Ouvia falar de moças que começavam uma vida de opróbio (eu não sabia exatamente o que era isso) porque seus dias e noites lhes pareciam tão tristes. Quando comecei a ler, vi que bons escritores sempre tinham algumas surpresas e mudanças imprevisíveis ao leitor. Meu irmão dissera que o casuísmo talmúdico fora desenvolvido entre judeus poloneses como meio de tornar a Torá mais divertida, de aguçar as mentes dos estudantes, de introduzir alegria no estudo e fomentar a competição dos eruditos. A Cabala de Isaac Luria, a crença em falsos messias como Sabbatai Zvi e Jacob Frank, bem como o chassidismo, eram todos criados para avivar o judaísmo, que estagnava sob regras rígidas dos rabinos e o rigorismo da lei. Ouvi meu irmão dizer que o Baal Shem, nascido no começo do século XVIII, tinha receio de que o Iluminismo seduzisse os judeus poloneses. O chassidismo pregava que a maneira de servir a Deus era através da alegria. Melancolia e tédio afastavam os homens de Deus.

« Quando comecei a fantasiar sobre me tornar um escritor, eu já entendera que os mestres sempre entretêm o leitor. Também podia ver que nada seduz tanto o leitor quanto uma história de amor. Eu lera na Guemará que para homens e mulheres encontrarem seus companheiros certos era um milagre tão grande quanto o Mar vermelho abrir-se em dois. Um bom casamento nem sempre acontece, e cada união é diferente. Os vários encontros de amor nunca se exauriam. Cada personalidade humana aparece só uma vez na história dos seres humanos. Assim, cada evento amoroso. A sala de reuniões de meu pai era como uma sala de aula para mim, onde eu podia estudar a alma humana, seus caprichos e anseios, suas barreiras. Ficava espantado ouvindo as intensas lamentações dos adultos, casais que pediam divórcio ou fim de noivado ou simplesmente vinham abrir seus corações para meus pais. Homens e mulheres ansiavam por serem felizes juntos, mas em vez disso acabavam em brigas tolas, acusações odiosas, várias mentiras e atos de traição. Cada um queria ser mais forte do que o outro, e muitas vezes rebaixar e denegrir o mais fraco. Às vezes sentia desejos de lhes dar conselhos eu mesmo, especialmente quando os casais eram jovens e bonitos. Muitas vezes me apaixonava pela moça e sua maneira de falar a respeito de seus problemas. Certa vez, um casal inusitadamente elegante veio procurar meu pai para pôr fim a um noivado. O rapaz acusava a moça de excessiva familiaridade com os amigos dele, e ela disse que o rapaz fazia o mesmo com as amigas dela. De repente, o rapaz deu uma bofetada na moça. Ela tentou devolver o tapa, e por algum tempo brigaram como duas crianças. Mais tarde, depois que meus pais os tinham acalmado, e os dois iam embora, o rapaz pegou-a pelo braço e beijaram-se. Lembro de ter pensado: “É disso que deve tratar a literatura”. Ouvi minha mãe dizer:

« — Tão bonitos e tão doidos. Seria um pecado se separarem.

« Lembro um caso em que um homem idoso acusava sua esposa — era a segunda esposa dele — de salgar demais sua comida. Os médicos o tinham proibido de comer muito sal, pimenta e outros temperos fortes. Mas não importava o quanto ele suplicava à mulher que usasse menos sal e pimenta, ela sempre punha um monte na comida. Meu pai perguntou à mulher por que ela não fazia o que seu marido lhe pedia. E citou o Guemará dizendo que “uma esposa Kosher cumpre os desejos do esposo”. A mulher disse que não podia cozinhar sem sal e temperos porque a comida ficava sem gosto. Minha mãe disse: “Você pode colocar o sal depois. Sal tem o mesmo gosto se a gente o coloca na panela ou no prato”. Mas a mulher disse que não era assim. Nos olhos dela eu podia ver a teimosia de uma camponesa que meteu uma coisa na cabeça e jamais se libertará dela. Ela disse à minha mãe que, se Deus quisesse, encontraria um homem que não metesse a cara nas panelas. Seu sorriso revelava más intenções. Talvez ela quisesse que seu marido ficasse doente e morresse.»
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Trecho de Amor e Exílio, de Isaac Bashevis Singer. (Tradução de Lya Luft.)

A avó e a montanha-russa

[Gil, personagem interpretado por Steve Martin, está zangado, reclamando para a esposa das dificuldades da vida em família. Então a avó entra em cena e interrompe a briga.]

Avó: Sabe; quando eu tinha dezenove anos, seu avô me levou à montanha-russa.

Gil (desinteressado): Ah, é?

Avó: Pra cima, pra baixo, pra cima, pra baixo. Nossa, que passeio!

Gil (condescendente): Que grande história…

Avó: Eu sempre queria repetir. Sabe como é; para mim era muito interessante o fato de que um passeio pudesse ser tão assustador, tão apavorante, tão nauseante, tão tenso, e ao mesmo tempo tão excitante! Alguns não gostam. Eles vão ao carrossel, que só fica girando lentamente. E… nada. Eu gosto da montanha-russa. Você extrai muito mais dela.

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Fonte: Parenthood (1989).

Bruno Tolentino e a Tia Chauí

Bruno Tolentino

CONVITES À FILOSOFIA

 

O último ataque de sabedoria

da bela doutora Chauí

me deixou perplexo! Um dia

num canteiro de Alexandria

a única flor que eu não colhi

passou horas e horas ali

explicando filosofia

a um cliente da casa… Lili,

se fazia chamar a guria.

 

No batente contraíra o mal

que não desgruda quando ataca

e a paixão do conceito. Polaca

(uma ex-noviça, por sinal),

escapara ao torrão natal

na valise de um industrial,

mas matara-o de morte macaca

e agora despachava-os de maca

rumo à enfermaria geral!

 

Sabia tudo de Epicuro,

o seu xodó. Falava bem,

punha qualquer um de pau duro

com as dissertações e o vaivém

das mãos sábias, no claro-escuro

à beira-leito… Jurar não juro,

mas, se não convertia a ninguém,

fascinava o varão maduro

e os mais inespertos também.

 

Clandestino e errante, eu sabia

que, sem Visto no baixo Egito,

se me pegassem estava frito:

dormia ali durante o dia,

hotel nem morto! O arranjo previa

apenas que o moço bonito

dormisse sozinho e, repito,

eu dormia a manhã toda, ouvia

Lili me explicar o infinito

 

e Epicuro lá para as duas;

cerca das quatro, quatro e meia,

devolvia o cascalho à bateia

e reganhava o ouro das ruas,

as semi-ninfas semi-nuas

ficavam para trás, a feia

das grandiosas semi-luas

e a estupenda Lili. Cantei-a

de mil maneiras, das mais cruas

 

às mais cruéis, das mais virís

às mais dúcteis, mas não houve jeito:

epicurava ao pé do leito,

mas de graça não dava! Fiz

o que pude, o malandro perfeito,

mas epicurista aprendiz

é mesmo um pedestre, e bem feito!

Ah, pudesse este meu país

resistir às nativas Lilis,

 

seus babados e baboseiras,

como a pérola de Alexandria

resistiu-me semanas inteiras!

Manual de filosofia

a noite toda dá em olheiras,

mas é mal incurável, mania

até mesmo de ex-futuras freiras

filosófico-epicureiras

como as há também, quem diria,

 

neste nosso agreste jardim.

Minha Santa Teresa, eu li

o manual da nossa Lili

de cabo a rabo! É verdade sim,

li tudinho, e ansioso torci

pela guria até ao fim…

Mas uma cena que nunca esqueci,

dentre as lufadas de jasmim

daquela mansão sem jardim

 

veio a mim como uma chibatada:

vi minha Lili de olhos belos,

de calcinha toda rendada

num florido patamar de escada

como a jovem do poema de Eliot

e sofri! Aquela madrugada

eu voltara mais cedo, os melros

começavam a cantar na estrada:

Lili desatara os cabelos,

 

largara Epicuro e, à janela,

chorava, chorava… A verdade

chegara muito perto dela,

com a imperdoável crueldade

das horas vazias, aquela

era a hora da verdade. Bela,

descabelada e sem vontade

de iludir-se, dava pena vê-la:

afinal esquecia a vaidade,

 

desmentia a reputação

de Diótima eslava e selvagem

e soluçava de pé no chão…

Levei comigo aquela imagem

anos a fio, desde então

sinto certa camaradagem

com todas as fêmeas que em vão

pensam que sabem o que não sabem.

Soube que morreu no Sudão

 

alguns anos depois. De frio.

Esfriara a pérola ardente,

murchara quando um livre docente

desmanchara-lhe fio por fio

a douta cabeleira insciente

aquela noite… Conheci-o,

um professoreco insolente

de Liceu: humilhou friamente

minha flor, e Epicuro, o vadio,

nem se importou, fez-lhe o favor

de abandoná-la nua e crua

à escolástica do inquisidor.

Se a nossa doutora não for

tão sensível, a sorte é sua,

talvez ainda possa dispor

da arte fria de um cliente-instrutor;

recomendo uma noite sem lua

em Alexandria: há uma rua

transversal entre o velho mar,

o Maryût e a Rodovia

dos Ingleses; nela há um solar

que todos conhecem, de dia

a casa é fácil de encontrar;

o tal professor não saía

de lá, com certeza há de estar.

Não ensina filosofia,

ensina as Lilis a acordar.

 

 

EM RETROSPECTO

 

Pobre pequena,

sofreu demais!

Com aquela cena

perdeu a paz,

não se viu mais

feliz, serena,

era só ais…

Já a Marxilena

é um monstro horrendo:

eu fico lendo

Tia Chauí

e me arrependo

do que senti

pela Lili!

Poemas extraídos do livro Os Sapos de Ontem, de Bruno Tolentino.

A importância da educação

Discurso do Dr. Benjamin Carson, médico neurocirurgião, no National Prayer Breakfast de 2013. (Ative as legendas.)

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Lui Liu

Telas do artista chinês radicado no Canadá, Lui Liu — um sujeito pirado e talentoso. (São artistas deste naipe que deveriam ler o Livro de Urântia. Não sabem o que estão perdendo…)

Midnight Ride

O Feitiço do Tempo (Groundhog Day): 20 anos

Groundhog_Day

Hoje, 12 de Fevereiro, é o aniversário de 20 anos do lançamento de Feitiço do Tempo (Groundhog Day, by Harold Ramis), filme que considero não apenas um clássico mas também uma excelente parábola à la Frank Capra: uma comédia que toca a alma. Como homenagem, segue o trecho em que Phil (Bill Murray) pergunta para Rita (Andie MacDowell) como é seu tipo ideal de homem:

— O que eu realmente quero é alguém como você.

— Ah, por favor…

— Por que não? O que você está procurando? Para você, quem é o cara perfeito?

— Em primeiro lugar, ele é muito humilde para saber que é perfeito.

— Sou eu!

— Ele é inteligente, solidário, engraçado.

— Inteligente, solidário, engraçado. Eu… eu… eu.

— Ele é romântico e corajoso.

— Também eu.

— Ele tem um corpo bacana, mas não se olha no espelho a cada dois minutos.

— Eu tenho um corpo bacana; e às vezes passo meses sem me ver no espelho.

— Ele é bondoso, sensível e gentil. E não tem medo de chorar na minha frente.

— Estamos mesmo falando de um homem, né?

— Ele gosta de animais e crianças; e troca as fraldas sujas de caca.

— Será que ele tem de usar a palavra “caca”?

— E ele toca um instrumento; e também ama sua mãe.

— Uau, passei realmente perto desse aí.

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A Parceria do Homem com a Mulher

Kiss, by Alex Grey

«(938.5) 84:6.1 O impulso da reprodução leva infalivelmente homens e mulheres a unirem-se para a autoperpetuação; todavia, por si só, isso não assegura que permaneçam juntos, em cooperação mútua — na fundação de um lar.

«(938.6) 84:6.2 Todas as instituições humanas de êxito abrangem antagonismos de interesse pessoal, ajustados na harmonia da prática do trabalho; e os trabalhos de casa não são exceção. O matrimônio, a base da edificação do lar, é a mais alta manifestação dessa cooperação entre antagonistas, que tão freqüentemente caracteriza os contatos da natureza e da sociedade. O conflito é inevitável. O acasalamento é inerente e natural. O matrimônio, contudo, não é biológico; é sociológico. A paixão assegura que homem e mulher se reúnam, mas o instinto, menos forte, da paternidade e os costumes sociais mantêm-nos juntos.

«(938.7) 84:6.3 Se considerados, na prática, o macho e a fêmea são duas variedades distintas da mesma espécie; vivendo em associação próxima e íntima. Os seus pontos de vista e reações vitais são todos essencialmente diferentes; eles são totalmente incapazes de uma compreensão mútua, plena e real. Um entendimento completo entre os sexos não é alcançável.

«(938.8) 84:6.4 As mulheres parecem ter mais intuição do que os homens, mas também demonstram ser um tanto menos lógicas. A mulher, contudo, tem sempre sido o esteio moral e tem tido a liderança espiritual da humanidade. É a mão que embala o berço e que ainda confraterniza com o destino.

«(938.9) 84:6.5 As diferenças de natureza, reação, ponto de vista e pensamento, entre homens e mulheres, longe de ocasionar preocupação, deveriam ser consideradas como altamente benéficas à humanidade, tanto individual quanto coletivamente. Muitas ordens de criaturas do universo são criadas em fases duais de manifestação de personalidade. Essa diferença é descrita como o macho e a fêmea, entre os mortais, os Filhos Materiais e os midsonitas; entre os serafins, os querubins e os Companheiros Moronciais, tem sido denominada positiva ou ativa, e negativa ou reservada. Tais associações duais multiplicam grandemente a versatilidade e superam limitações inerentes, como o fazem algumas associações trinas no sistema Paraíso-Havona.

«(939.1) 84:6.6 Homens e mulheres necessitam uns dos outros, nas suas carreiras moronciais e espirituais, exatamente como nas suas carreiras mortais. As diferenças de ponto de vista entre o macho e a fêmea perduram mesmo além da primeira vida e durante as ascensões do universo local e do superuniverso. E, mesmo em Havona, os peregrinos que uma vez foram homens e mulheres ainda estarão ajudando-se mutuamente na ascensão até o Paraíso. Nunca, mesmo no Corpo de Finalidade, a criatura irá metamorfosear-se tanto, a ponto de obliterar os traços de personalidade que os humanos chamam de masculinos e femininos; sempre essas duas variações básicas da humanidade continuarão a intrigar, estimular, encorajar e ajudar-se mutuamente; sempre serão mutuamente dependentes da cooperação para a solução dos problemas desconcertantes do universo e a superação das múltiplas dificuldades cósmicas.

«(939.2) 84:6.7 Embora os sexos nunca possam esperar entender-se mutuamente, eles são efetivamente complementares e, embora a cooperação seja com freqüência mais ou menos antagônica pessoalmente, ela é capaz de manter e de reproduzir a sociedade. O matrimônio é uma instituição destinada a compor as diferenças dos sexos, ao mesmo tempo em que efetua a continuação da civilização e assegura a reprodução da raça.

«(939.3) 84:6.8 O matrimônio é a mãe de todas as instituições humanas, pois conduz diretamente à fundação e manutenção do lar, que é a base estrutural da sociedade. A família está vitalmente ligada ao mecanismo da autopreservação; é a única esperança de perpetuação da raça sob os costumes da civilização e ao mesmo tempo provê, de modo bastante eficaz, algumas formas de autogratificação suficientemente satisfatórias. A família é a mais elevada realização puramente humana, combinando, como o faz, a evolução das relações biológicas de macho e fêmea nas relações sociais entre o marido e a esposa.»
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Fonte: The Urantia Book.

Sobre o mesmo tema:

«As mulheres não querem ser compreendidas, elas querem ser amadas.» Olavo de Carvalho

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(Vale a pena lembrar que Olavo considera o livro citado acima “alucinante”, e isto não exatamente num bom sentido.)

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