palavras aos homens e mulheres da Madrugada

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Graciliano e Vô Mocinho

Ontem, zapeando, ouvi o Ratinho anunciar a apresentação duma mulher que, através de pompoarismo, toca flauta com a vagina — e isso depois de mostrar um cara que, deitado de bruços, um rasgo nas calças, solta peidos enquanto seu assistente — olha que ótimo emprego — despeja um pó azulado nos seus gases. (Purpurina?) Um sujeito que nunca vi na vida – assistente do Ratinho? um cantor sertanejo convidado? vai saber… — chegou a defender tais performances, alegando que não eram baixarias, mas “cultura popular”. Sei… Enfim, lembrei-me de meu bisavô, o famigerado “Vô Mocinho”, que, no Rio de Janeiro, durante o programa do Chacrinha, costumava postar-se de costas para a TV, enquanto resmungava: “Velho descarado!”. Pois é, vô Mocinho, o senhor nem imagina como andam as coisas por aqui… Quem, como eu, quase nunca assiste à TV, seja aberta ou à cabo, fica sem aquele calo na sensibilidade, aquela proteção extremamente necessária para evitar certo asco pela nossa época. Fazer o quê? O chato é que essas coisas nos impressionam e todo artista sabe que arte é a expressão de suas próprias impressões. (O que explica alguns de meus contos cheios de baixarias…)

Ah, sim: e onde entra o Graciliano Ramos? Bem, como considero pompoarismo uma coisa muito interessante apenas entre quatro paredes, sem mais testemunhas além de mim mesmo — aliás, Sir Richard Francis Burton dizia que escravas exímias na arte do pompoarismo eram bem mais caras –, deixei o Ratinho no esgotinho e continuei zapeando, indo parar — quem diria — na TV Senado, onde assisti a um ótimo documentário sobre Graciliano Ramos que, física e moralmente, muito se assemelhava ao meu bisavô. Vários escritores e estudiosos dão seu depoimento. Lêdo Ivo, sempre direto, com suas ótimas tiradas, colocou alguns pingos nos i’s sem desconsiderar a majestade literária de Graciliano. Mas, no momento, eu só queria citar, de memória, dois detalhes interessantes do famoso Relatório escrito por Graciliano enquanto prefeito de Palmeira dos Índios: 1) segundo ele, sua principal função na administração pública era manter as ruas limpas e matar cachorros; 2) fazer carreira enquanto político é para gatunos e/ou imbecis, como ele não era nem uma coisa nem outra, entregou o cargo…

Em tempo: sei que tenho três dos livros dele aqui, mas não os encontrei — contudo, dá para baixar alguns ebooks do Graciliano na internet. Outra das vantagens de se ter um ereader

Joaquim Nabuco: o estilo do escritor está pronto aos vinte e um anos

Joaquim Nabuco

“Antes de ler Bagehot, eu tinha lido muito sobre a Constituição inglesa. Tenho diante de mim um caderno de 1869, em que copiava as páginas que em minhas leituras mais me feriam a imaginação, método de educar o espírito, de adquirir a forma do estilo, que eu recomendaria, se tivesse autoridade, aos que se destinam a escrever, porque, é preciso fazer esta observação, ninguém escreve nunca senão com o seu período, a sua medida, Renan diria a sua eurritmia, dos vinte e um anos. O que se faz mais tarde na madureza é tomar somente o melhor do que se produz, desprezar o restante, cortar as porções fracas, as repetições, tudo o que desafina ou que sobra: a cadência do período, a forma da frase ficará, porém, sempre a mesma. O período de Lafayette ou de Ferreira Viana, de Quintino ou de Machado de Assis, é hoje, com as modificações da idade, que são inevitáveis em tudo, o mesmo com que eles começaram. Está visto que eu não incluo nos começos de um escritor as tentativas que cada um faz para chegar à sua forma própria; o que digo é que o compasso se fixa logo muito cedo, e de vez, como a fisionomia. Nesse livro de minhas leituras de 1869, quarto ano da Academia, encontro no índice, com muita Escravidão e muito Cristianismo, muita Eloqüência inglesa, muito Fox e Pitt.”

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Minha Formação, de Joaquim Nabuco.

Admirável e só para selvagens, no SESC Copacabana (teatro)

Admirável e Só para Selvagens

O futuro já dura muito tempo no século 27, quando Bernard e Lenina se vêem imersos na experiência de um reality show. Confinados, vão lidar pela primeira vez, quem diria, com o impacto das próprias emoções. Isso porque eles fazem parte de uma experiência para mostrar como a vida funciona sem o Soma, a substância legalizada pelo Estado e que subtrai qualquer sensação de desconforto e angústia, trazendo felicidade perene aos cidadãos da Nova Ordem Mundial.

Bernard e Lenina são vigiados 24 horas por Mustafá Mond, um dos poderosos administradores do Estado Mundial, que prega a abolição da Arte, da Religião e do Amor em favor do bem-estar da comunidade. Apesar do discurso cético, Mustafá passa boa parte do tempo filosofando a respeito de Shakespeare e da Bíblia. Seu interlocutor é John, sujeito criado na não civilizada Reserva de Selvagens e que por isso tem uma visão de mundo humana e sensível.

É neste mosaico incomum de personalidades que se passa a peça Admirável e só para selvagens, direção de Hugo Rodas e Miriam Virna, que também integra o elenco junto com Alessandro Brandão.

Consagrada em Brasília, a peça estreou no Rio dia 7 de janeiro de 2011, na sala Multiuso do Espaço Sesc, em Copacabana, RJ. A temporada vai até 30 de janeiro. Ingressos a R$ 16, classificação etária 14 anos. Admirável e só para selvagens é livremente inspirada inspirado no clássico Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, publicado em 1932. Nestes 78 anos, a obra inspirou filmes, peças e inundou corações e mentes ao preconizar um mundo onde o consumo e a busca pelo prazer e pelos excessos ganhariam protagonismo. Do livro original, Miriam Virna e o dramaturgo Yuri Vieira retiraram o arcabouço principal e centraram a peça em quatro personagens. Miriam interpreta Lenina e Mustafá Mond, enquanto Alessandro interpreta Bernard e John, o Selvagem.

"Li este livro na adolescência e fiquei muito impactada, como, aliás, todas as gerações até hoje. Desde 2006 venho desenvolvendo o projeto que ganha forma definitiva agora com a estréia no Rio. Trata-se de uma novela futurista sobre temas surpreendentemente contemporâneos", destaca Miriam Virna que este ano montou "Fragmentos de Sonhos do Menino da Lua", no CCBB-RJ, com sucesso de crítica e público.

Apesar da aura futurista e tecnológica, o espetáculo tem como carro-chefe o trabalho dos atores. Ambos estão em cena sem o apoio de adereços, troca de figurinos ou saídas pela coxia. "É um trabalho que valoriza a interpretação e o texto." Dois elementos da encenação que dialogam e dão suporte à proposta são a iluminação – assinada pelo premiado Renato Machado – e a trilha, criada para o espetáculo e executada pelo DJ Quizzik. Acontece também um trabalho marcante de sonorização, através do uso de microfones que ampliam e modificam as vozes dos atores.

"Se na juventude ao ler este livro me surpreendi, hoje, aos 70 anos, percebo a atualidade brutal que a história propõe, a mensagem é mais forte agora do que antigamente", observa o consagrado diretor Hugo Rodas. Para o ator Alessandro Brandão, a peça faz um retrato do mundo atual. "As pessoas hoje não sabem como preencher as próprias vidas e mergulham no excesso de bebida, internet e droga, o que faz crescer a distância entre o que realmente é essencial", diz.

Sobre os diretores

Hugo Rodas, ganhador do Prêmio Shell de Direção pelo espetáculo "Dorotéia", é um dos diretores mais irreverentes do país. Trabalhou com Antônio Abujamra, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e com José Celso Martinez Corrêa, no Teatro Oficina. É Professor adjunto Notório Saber da Universidade de Brasília, onde leciona há mais de 15 anos e onde tem formado várias gerações de atores. Fixou residência em Brasília em 1975, onde tem realizado trabalhos importantes e inovadores. Seus mais recentes espetáculos fora da capital federal foram uma parceria com Antonio Abujamra (Os Demônios) e Denise Stoklos. Figura emblemática, Hugo Rodas é, sem dúvida, o grande nome de teatro em Brasília.

A brasiliense Miriam Virna é diretora de teatro de destaque na capital Federal. Radicada no Rio de Janeiro, Miriam foi premiada pelos espetáculos "As Ridículas de Molière" (2008) e "Contos de Alcova" (2006) pelo Prêmio SESC do Teatro Candango que levaram Melhor Espetáculo, Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino e Melhor Direção. Cinco de seus espetáculos foram indicados entre as melhores produções em seus respectivos anos pelo jornal Correio Braziliense. Em 2010 realizou temporada do "Fragmentos de Sonhos do Menino da Lua" no CCBB, quando recebeu críticas favoráveis do JB, O Globo e Veja Rio. Miriam foi uma das diretoras convidadas a dirigir Hugo Rodas no espetáculo "7 x Rodas", que estreou em outubro de 2010 no CCBB Brasília.

Palavra do público

Mensagem do Rogério Favilla, músico e compositor carioca, cujo conteúdo ele me autorizou a divulgar:

Caro Yuri,
Assisti ao Admirável no sábado passado com minha esposita, e achei – desculpe o clichê – um trabalho de Admirável Teatro Novo! O texto e a textura da encenação, música (adorei o som), figurino, trabalho de corpo, o inteligente uso dos microfones e efeitos de voz, a trilha como elemento orgânico da montagem, nos envia imediatamente ao mundo huxleriano…
Congratulações sinceras, pela parte que te toca. Pretendo assistir de novo com meu filho adolescente.
Tenho visto tanta baboseira, tanta banalidade e vulgaridade nos palcos, que só tenho a dizer: até que enfim, Teatro!
Abraços
RoFavilla

Recomendação

Recomendação do filósofo Olavo de Carvalho, em seu programa de rádio online True Outspeak:

[audio:http://blogdo.yurivieira.com/wp-content/uploads/2011/01/admiravel_olavo.mp3]

Ficha técnica

Direção: Hugo Rodas e Miriam Virna
Direção de Produção: Miriam Virna
Produção Executiva: Claudia Charmillot
Assistente de produção: Gisela Munk
Adaptação e dramaturgia: Yuri Vieira e Miriam Virna
Elenco: Alessandro Brandão e Miriam Virna
Assistente de Direção: Patrícia Gois
Trilha sonora original (e operação): DJ Quizzik
Cenário: Hugo Rodas
Figurino e Visagismo: Marcus Barozzi
Iluminação: Renato Machado

Temporada até 30 de janeiro de 2010
Espaço Sesc | Sala Multiuso

Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160. Copacabana – RJ.
Tel. 21 2547-0156.
Classificação etária: 14 anos| Duração: 70 minutos
Sexta e sábado, às 20h. Domingo, às 19h.
Lotação: 60 pessoas
Ingressos: R$ 16 (inteira); R$ 8 (meia-entrada); R$ 4 (comerciários)

Página no FaceBook.

Monteiro Lobato fala sobre os Amigos do Brasil

Monteiro Lobato

Amigos do Brasil! Pois há disso? Há. Houve e há estrangeiros que se apaixonam das nossas coisas, vêm estudá-las e de volta às suas terras dão-se ao sentimentalismo de querer bem ao país onde a primavera e o estado de sítio são eternos.

O saudoso e recém falecido J. C. Branner, reitor da Universidade de Stanford, estudou na mocidade a nossa geologia e de regresso, até o fim da vida, conservou-se um amigo do Brasil. Quando publiquei meu primeiro livro recebi dele uma carta que conservo como prêmio. Discutia a “geringonça”, ou gíria como dizemos hoje, e falava disso com a segurança do homem de ciência para o qual tudo quanto representa criação tem valor.

Na Alemanha tivemos sempre inúmeros amigos, a partir do grande Martius. Hoje também os temos e um deles é o Dr. Frederico Sommer, que se empenha em verter e lá publicar os livros mais característicos da nossa literatura.

Até na França, tão de si própria, temos amigos. Mr. Le Gentil dedica-se a estudos brasileiros e em companhia de M. Gahisto, Martinenche e outros mantém na Revue de l’Amerique Latine uma seção dedicada amorosamente ao Brasil. Não contentes, criaram na Sorbonne um centro de estudos brasileiros e cuidam agora de constituir uma biblioteca de livros brasileiros. Tudo isto sem subvenções, à custa de enormes esforços e ao arrepio da nossa muçulmana indiferença. (Aviso aos autores de livros: essa biblioteca da Sorbonne aceita com grande prazer e pede a remessa de obras nacionais para lá, sobretudo as científicas. Endereço: Mr. Le Gentil, Centro de estudos portugueses, Sorbonne, Paris).

Outro, de nome menos conhecido entre nós, é Mr. Jean Turiau (Boulevard Murat, 29, XVIme). Já residiu no Brasil, conhece as nossas coisas e as rememora com saudades. O Brasil é uma coisa deliciosa vista assim de longe. Um meu amigo, grande patriota, dizia sempre: — Meu ideal é a diplomacia. Viver do Brasil mas longe dele, de modo a sentir sempre doces saudades da pátria, que delícia!

Mas Turiau quer bem a isto aqui e gostos não se discutem. Trabalha em traduções e vai tornando conhecida em França a nossa esfarrapada literatura. Na última carta que me escreveu lamenta-se da sua situação de funcionário público, como toda gente em França, situação que lhe não permite adquirir obras sobre o Brasil. E chora por uma Rondônia, por uma História do Brasil, de Rocha Pombo, trop chère… (Aviso aos srs. Roquette Pinto e a Rocha Pombo: não percam a oportunidade de um tal leitor. Nada há mais raro e que mais honre a um escritor do que um bom leitor).

A interpenetração literária é o que há de mais profícuo na aproximação dos povos. Só ela suprime as muralhas que a estupidez dos governos ergue. Só ela demonstra que somos todos irmãos no mundo, com as mesmas vísceras, os mesmos defeitos, os mesmos ideais. Se a França tornou-se amada entre nós a ponto de bombardear Damasco e esmagar Abd-el-Krim sem que isso nos arrepie as fibras da indignação, deve-o aos senhores Perrault, Lafontaine, Hugo, Maupassant, Taine, Anatole e quantos mais nos trouxeram para aqui esta sensação da irmandade do homem. Se a Alemanha não se gozou de idênticas simpatias é que víamos os atos de violência dos seus homens de governo e não havia dentro de nós, para atenuar-lhes a repercussão, o coxim de veludo da literatura alemã bem absorvida como temos a francesa.

Grande serviço, pois, prestam aos povos esses homens beneméritos que trabalham na difusão da literatura alheia em seus próprios países. Estão a preparar os preciosos coxins de veludo, amortecedores dos choques. Criam a compreensão e a tolerância. Demonstram, com a exibição de documentos humanos, que somos iguais, todos filhos do mesmo macaco que rachou a cabeça ao cair do pau.

Mas o nosso descaso é imenso. Nenhuma livraria do Rio, por exemplo, tem à venda essa revista da América Latina. Por que? Não há procura. Estupidificados pelo estado de sítio crônico, parece que um desalento nos ganhou a todos, um desânimo de tudo, indiferença de chim.

Se alguma coisa valesse alguma coisa nesta terra: eis a frase com que um jornalista traduz tal estado d’alma. Frase horrível, reflexo do desespero do desânimo, e, no entanto, lógica, sempre que um povo perde a sua liberdade e tomba no boçalismo da escravidão. Mas tudo passa. Depois da noite vem o dia. Depois da Idade Média vêm os 89. Tolice é desesperar. Esperemos, e enquanto esperamos não contaminemos com o nosso desalento de escravos os abnegados pioneiros das nossas letras em França. É noite? Não importa. Também de noite se trabalha e não há trabalho mais abençoado do que o que se faz dentro da noite para apressar a vinda do dia claro. E é trabalhar para um dia melhor meter mãos à obra da difusão literária.

Os morcegos passam e os livros ficam.

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Na Antevéspera, de Monteiro Lobato.

Ray Bradbury, o contribuinte e a viagem a Marte

Ray Bradbury

   Março de 2000: O contribuinte

Ele queria ir a Marte no foguete. Foi até o campo de foguetes de manhã cedo e gritou através da cerca de arame, para os homens fardados, que queria ir a Marte. Disse-lhes que era um contribuinte, chamava-se Pritchard e tinha todo o direito de ir a Marte. Não havia nascido ali em Ohio? Não era um cidadão cumpridor de seus deveres? Então por que não podia ir a Marte? Sacudiu o punho cerrado na direção deles e disse-lhes que queria ir embora da Terra, que qualquer pessoa com a cabeça no lugar queria ir embora da Terra. Dentro de dois anos iria ser desencadeada uma enorme guerra atômica na Terra e ele não queria estar ali quando isso acontecesse. Ele e milhares de outros como ele, se tivessem bom senso, quereriam ir para Marte. Pergunte-lhes se não quereriam! Ficar longe de guerras, censuras, estatizações, conscrição, controle governamental disto e daquilo, da arte e da ciência! Vocês podem ficar com a Terra! Estava lhes oferecendo sua mão direita, seu coração, sua cabeça, pela oportunidade de ir para Marte! Que se devia fazer, que se devia assinar, que se devia saber para embarcar no foguete?
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As Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury.

Mussolini: “a multidão é feminina”

Do ex-blog do Cesar Maia:

1932: POPULISMO ONTEM E HOJE!

Coluna de sábado de Cesar Maia na Folha de SP (06).

1. Em 1932, Mussolini destacava-se como único líder, chefe de governo de expressão no mundo ocidental. Com formação teórica muito acima da média, poliglota, leitor de filósofos e de grandes escritores, conhecedor de historia, impressionou Emil Ludwig, escritor alemão, biógrafo de Bismarck, Napoleão e Goethe.

2. Mussolini deu absoluta privacidade, dez tardes seguidas em seu gabinete, para uma entrevista com Ludwig. Esta foi publicada e se transformou em livro logo em seguida: “Colóquios com Mussolini”. Ludwig explora os conceitos do entrevistado -liderança, governo, autoridade, nacionalismo, poder, países, história, artes, atributos do líder, Estado… Mussolini passou a ser referência para outros líderes políticos. Salazar mantinha seu busto na mesa de trabalho. Getúlio usou na “Constituição” de 1937 o conceito de Parlamento corporativo num governo autoritário.

3. Mussolini mitificava a ação, mas refletia e cristalizava seus conceitos. Esses, difundidos, formaram e formam gerações de lideranças populistas-autoritárias, com ou sem consciência da escola de influências que receberam. Com a ascensão do populismo autoritário na América Latina, cumpre ir a essas raízes, até para que esses saibam de que fonte vem a água que bebem.

4. Diz Mussolini que, “para governar as massas, temos que usar duas rédeas: o entusiasmo e o interesse. Confiar em uma só é estar em perigo. O lado místico e o lado político estão subordinados um ao outro. Este sem aquele se torna árido. Aquele sem este se desfolha ao vento das bandeiras”.

5. Numa afirmação, desnuda a base do populismo: “A massa não deve saber, mas crer. Só a fé remove montanhas. O raciocínio não. Este é um instrumento, mas jamais motor da multidão”. Sobre sua relação direta com as massas, diz: “Deve-se dominar as massas como um artista domina sua arte”. E ensina: “Deve-se ir do místico ao político, da epopeia à prosa”.

6. É nessa entrevista que Mussolini usa uma frase que marcou seu machismo: “A multidão adora homens fortes. A multidão é feminina”. Ludwig, vendo sua chegada ao balcão de seu gabinete no palácio Veneza para saudar a multidão, comenta: “No balcão, olhando as massas, ele tem o ar de autor dramático, que chega ao teatro e vê os atores impacientes para o ensaio”.

7. Mussolini segue: “Cumpre tirar dos altares sua santidade, o povo. A multidão não revela segredos. Quando não é organizada, a massa é um rebanho de ovelhas. Nego que ela possa se reger por si só”. Ludwig registra o que ele ensina e que deveria servir ao mesmo Mussolini e a tantos outros, especialmente os de aqui e agora: “Veja só o que Brunsen disse de Bismarck: ‘Tornou a Alemanha grande e os alemães pequenos'”.

Tratar a multidão como se fosse uma mulher é a cara do cabra-macho Lula, o grosseirão mor. Até o vejo a dizer: “¿A multidão é feminina? Pau nela!”.

No Pressure: ato falho ecofascista?

Quando assistimos ao curta-metragem No Pressure, nossa primeira impressão é a de que estamos vendo uma crítica ácida aos ambientalistas radicais, esses que, em vez de debater racionalmente com base em evidências, preferem eliminar toda dissensão a seu ponto de vista. (Isso quando não anunciam ― tal como um professor da PUC-GO deixou claro durante um programa sobre meio-ambiente que dirigi ― que seria muito melhor eliminar certos seres humanos a vê-los “acabar com o meio-ambiente”. Seu depoimento foi tão radical e absurdo, verdadeiramente eco-terrorista, que jamais entraria na edição final do programa piloto. Há um teaser aqui.) Enfim, ver o curta-metragem acima é como assistir a uma versão do South Park com atores reais. Só há um problema: trata-se, na verdade, de uma peça publicitária bancada por ambientalistas! (É uma campanha da ActionAid, da The Carbon Trust e da The Energy Saving Trust. A direção é de Richard Curtis, o mesmo de Notting Hill e Bridget Jones’s Diary.)

Ficam, pois, três perguntas: 1) Você achou o vídeo engraçado?; 2) Você não sentiu nenhuma pressão para concordar com eles?; 3) Não seria um ato falho eco-fascista?

Caso ache que estou exagerando, então imagine a mesma ideia aplicada às campanhas políticas da Dilma, do Serra, da Marina… Os eleitores dos adversários sendo explodidos… Qual seria a reação da famigerada opinião pública? Qual seria a sua reação?

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