Blog do Yuri

palavras aos homens e mulheres da Madrugada

Enquanto isso, numa repartição pública…

Sabe quando você tem um sério problema junto ao Estado para resolver e decide procurar a ajuda de um servidor público? (Principalmente se durante a Copa do Mundo…)

William Faulkner fala sobre a arte literária

william_faulkner

« Sou um poeta fracassado. Talvez todo romancista deseje escrever antes poesia, verifique que não é capaz, e tente, então, o conto, que é a forma literária que mais exige depois da poesia. E, malogrando nisso, somente então se dedique a escrever romances.»

(…)

« [Como ser um romancista?] Noventa e cinco por cento, talento… Noventa e nove por cento, disciplina… Noventa e nove por cento, trabalho. Não deve jamais ficar satisfeito com o que faz. Jamais a coisa é tão boa como pode ser feita. Sempre sonhe e aspire a mais do que aquilo que sabe que pode fazer. Não se preocupe em ser melhor que seus contemporâneos ou antecessores. Procure ser melhor do que você mesmo. Um artista é uma criatura impelida por demônios. Não sabe por que razão eles o escolheram, e se acha habitualmente demasiado ocupado para perguntar a si próprio por que o fizeram.»

(…)

« A qualidade que um artista deve possuir é objetividade para julgar seu trabalho, além da honestidade e da coragem de não enganar a si próprio a respeito dele.»

(…)

« Um escritor precisa de três coisasexperiência, observação e imaginação — duas das quais e, às vezes, qualquer uma delas, podem suprir a falta das demais. Comigo, em geral, a história começa com uma simples idéia, uma lembrança ou uma imagem mental. A redação da história é simplesmente uma questão de prosseguir até esse momento, explicar por que o fato ocorreu e qual foi a causa que o motivou. Um escritor procura sempre criar criaturas verossímeis, em situações tocantes e críveis, da maneira mais viva que lhe seja possível. Evidentemente, deve ele usar, como uma de suas ferramentas, o ambiente que conhece. Eu diria que a música é o meio mais fácil de expressão, já que chegou primeiro à experiência e à história do homem. Como o meu talento consiste em palavras, devo procurar exprimir canhestramente por meio delas o que a pura música teria feito melhor. Isto é, a música tê-lo-ia exprimido melhor e da maneira mais simples, mas eu prefiro usar palavras, assim como prefiro antes ler que ouvir. Prefiro o silêncio ao som — e a imagem produzida por palavras ocorre em silêncio. Isto é, o trovejar e a música da prosa se processam em silêncio.»

(…)

« O escritor não necessita de liberdade econômica. Necessita apenas de lápis e papel. (…) Se ele não for de primeira classe, engana a si próprio dizendo que não dispõe de tempo ou liberdade econômica. A boa arte pode provir de ladrões, contrabandistas ou bookmakers. As pessoas temem, verdadeiramente, descobrir o quanto de adversidade e pobreza podem suportar. Têm medo de descobrir como são rijas. Nada pode destruir o bom escritor. A única coisa que pode modificá-lo é a morte. Não tem tempo de se preocupar com o êxito ou a obtenção de riqueza. O êxito tem algo de feminino e assemelha-se a uma mulher: se a gente se curvar diante de uma mulher, ela monta na gente. De modo que a maneira de se tratar o êxito é mostrando-lhe o peso de nossa mão. Aí, então, talvez ele se lance a nossos pés.»

(…)

« Que o escritor se dedique à cirurgia ou à profissão de pedreiro, se se interessar pela técnica. Não existe meio mecânico algum para se escrever: nenhum atalho. O jovem escritor seria um tolo se seguisse alguma teoria. A gente aprende pelos seus próprios erros; as pessoas só aprendem errando. O bom artista crê que ninguém é suficientemente bom para dar-lhe conselhos. Possui a suprema vaidade. Não importa quanto admire o escritor antigo, quer suplantá-lo.»

(…)

« O objetivo de todo artista é deter o movimento, que é vida, por meios artificiais, e conservá-lo fixo, de modo que, cem anos depois, quando um estranho o fitar, ele se mova novamente, já que é vida. Como o homem é mortal, a única imortalidade possível para ele é deixar atrás de si algo, que seja imortal, já que sempre se moverá. Essa é a maneira de o artista escrever ‘fulano esteve aqui’ no muro final e irrevogável que ele, algum dia, terá de atravessar.»

William Faulkner

Obs.: Retirei os trechos acima de um bloco de anotações meu datado dos anos noventa. É uma tradução, que encontrei na biblioteca da UnB, da entrevista concedida à Paris Review.

Judicioso artista, ¿isso te apraz?

pushkin

« És um rei. Vive só.

  Escolhe um caminho livre
  E segue por onde te levar tua mente livre;
  Aperfeiçoa os frutos das idéias que te são caras,
  Sem nada esperar por teus nobres feitos.

  Em ti estão as recompensas.
  De ti és o juiz supremo.
  Ninguém, com mais rigor,
  Julgará tua obra.

  Judicioso artista, ¿isso te apraz? »

  Alexander Pushkin

Reencarnação: uma paródia da Vida Eterna?

Roda da fortuna

Outro comentário do “Caro Amigo Desconhecido”, aliás, ex-desconhecido, ao menos para mim, já que apenas este ano vim a saber tratar-se de Valentin Tomberg:

« Preparar-se para uma vida terrestre futura, em lugar de se preparar para a Eternidade, vem a ser a cristalização no sentido da formação do ‘duplo etérico’ — do corpo do fantasma — que, por sua vez, poderia servir de ponte entre uma encarnação e outra e constituir o meio de se evadir do purgatório e de se evitar o confronto com a Eternidade. É necessário preparar-se, durante a vida terrestre, para o encontro com a consciência completamente despertada — o que é o purgatório — e para a experiência da Presença do Eterno — o que é o Céu — e não para a vida futura terrestre, o que seria a cristalização do ‘corpo do fantasma’. É mil vezes melhor nada saber sobre o fato da reencarnação e até negá-la do que voltar os pensamentos e os desejos para a vida futura terrestre e ser tentado a recorrer aos meios oferecidos pela promessa da imortalidade feita pela Serpente.»

(…)

« A Serpente do Gênesis não mentiu [sobre o fruto da árvore], ela opôs à imortalidade divina outra imortalidade, a da cristalização de baixo para cima ou da ‘Torre de Babel’. E apresentou programa temerário, mas real e realizável, com vistas a uma humanidade que seria composta dos vivos e dos fantasmas, reencarnando-se esses últimos quase imediatamente e evitando o caminho que leva ao Céu, passando pelo purgatório.»

Em outro capítulo, no qual discorre sobre o arcano “A Roda da Fortuna”, Tomberg fala sobre o Sabbath, mostrando como o “sábado” (o “sétimo dia”) seria uma abertura para a Eternidade na Roda do Tempo, isto é, seria a forma pela qual o tempo cíclico terrestre se transforma na espiral ascendente em direção à Divindade.

É possível, também, fazer uma analogia entre o Sabbath e o Dia Fora do Tempo do Calendário Maya. Colocando à parte os pseudo-esoterismos ligados a esse último, e estudando-o sem preconceitos, torna-se patente sua superioridade em termos de matemática e astronomia. Para o calendário Maya, não são necessários “anos bissextos” para corrigir o desvio padrão na contagem do tempo. O calendário leva em conta o movimento das galáxias, apresentando o transcorrer do tempo como uma espiral e não como um círculo fechado. O Dia Fora do Tempo é o dia que não pertence nem ao ano passado nem ao ano novo; é aquele dia em que o círculo se abre dando início a um novo anel na espiral. No entanto, esperar que esse simples fato matemático abra automaticamente a mente do ser humano à Eternidade não passa de ingenuidade. É necessário uni-lo ao simbolismo do Sabbath, é necessário uma intencionalidade, uma abertura voluntária. Tal como afirma o Livro de Urântia, “a sobrevivência eterna da personalidade depende inteiramente da escolha da mente mortal, cujas decisões determinam o potencial de sobrevivência da alma imortal”.

Em suma: quem não se dedica regularmente à meditação ou adoração de Deus, corre o risco de ficar preso no Eterno Retorno do tempo terrestre, espiritualmente estagnado. Aliás, se você for católico e, por isso, achou estranha a afirmação de que a reencarnação é um fato, devo lembrá-lo(a) que o trecho acima foi retirado do livro Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô, publicado pela Paulus Editora, com prefácio do teólogo Hans Urs von Balthasar, amigo de Joseph Ratzinger (Bento XVI). (Veja o livro na mesa de João Paulo II.) Apenas isso já dá o que pensar…

Henry Miller fala sobre o ato de viajar

Henry Miller

« É considerado muito romântico visitar e passear entre estranhos, bem como comer do seu pão ao pé das figueiras, do outro lado do mundo. Não se pode negar que é de fato romântico viver uma aventura dessas, embora esse romantismo tenha sido muito exagerado por aqueles cujas vidas sedentárias, até o momento da grande aventura, criaram neles uma idéia exorbitante do que viram, um sabor falso da ação e aventura. Marco Pólo de fato viajou e andou entre estranhos; a verdade, porém, é que qualquer pessoa pode fazer a mesma coisa (desde que tenha coragem e disponha de meios de locomoção).

«Viajar é uma forma de indulgência para consigo mesmo. Se a viagem nada acrescentar ao viajante, ao que ele já possui de conhecimentos humanos, ou se ele não conseguir transmitir à imaginação de outras pessoas as belezas e esplendores de lugares remotos deste mundo, então viajar torna-se um ato inútil e pernicioso. A aquisição de novas sabedorias, a capacidade de acumular dentro de si mesmo novos conhecimentos e fatos, só é nobre naqueles poucos que conhecem a alquimia que transforma essa espécie de barro em ouro eterno e divino…

«Somente o viajante que é, dentro de si mesmo, maravilhoso, pode ver, apreciar, absorver e transmitir uma maravilha. Apenas cinco pessoas como essas, em toda a história do mundo, viram maravilhas. As outras viram aves e animais, rios, montanhas e pântanos e todas as coisas desse gênero de que o mundo está cheio. Os cinco viajantes foram Heródoto, Gaspar, Belchior, Baltazar e o próprio Marco Pólo. A beleza de Marco Pólo é que ele criou uma Ásia na imaginação dos europeus…»

Henry Miller

Algumas respostas deletadas pelo Formspring.me

 
Eu tenho uma certa birra com serviços gratuitos disponíveis na internet. Em 2000, por exemplo, o Hotmail apagou todos os meus emails, alegando que fiquei mais de um mês sem acessar a conta. (Estava viajando, cazzo!) Resultado: nunca mais usei Hotmail. Também deixei de usar todos os serviços de hospedagem que, por pura incompetência e pobreza de recursos, perderam meus dados. (A Dreamhost vai indo bem e espero que continue assim.) Recentemente meu Orkut foi deletado, assim como meu Formspring.me (aquele site onde pessoas fazem perguntas e você responde). Ainda não recuperei o Orkut – se é que voltarei a usá-lo (estou desde 2007 no Facebook, não vejo necessidade) – mas já desisti do Formspring. Ao menos, graças ao Google, consegui localizar algumas das minhas respostas, mas não as trinta e tantas que já havia respondido e cujos links simplesmente desapareceram do meu perfil. (A maioria realmente se perdeu, as demais sumiram apenas do índice.) Enfim, seguem abaixo as respostas que consegui recuperar.
 
Sobre literatura

Quem vc considera o/a escritor(a) brasileiro(a) mais genial? (Esta pergunta ainda está aqui.)

Difícil responder a isso porque não li "todos os escritores brasileiros". Isso até me lembra as conversas com a Hilda Hilst e o Bruno Tolentino na casa dela. Ele adorava discutir sobre literatura e escritores. A Hilda achava um saco. Eu adorava ouvir as opiniões do Bruno, mas, como a Hilda, nunca senti essa ânsia de ler tudo o que faz parte da tradição literária e da produção contemporânea. Vou degustando aos poucos. Selecionando afins. Quando um texto me chateia, não vou até o fim apenas porque falam bem do autor. Não sou um crítico. Leio muito, mas nem tudo o que leio é uma obra literária. Como artista, busco impressões e intuições. E essas não vêm apenas pela literatura.

Mas… sim, tenho meus prediletos: Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Rubem Fonseca, Clarice Lispector, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Jorge de Lima, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Nelson Rodrigues… Só que você pergunta qual o mais "genial". Humm. Sigo o conceito de gênio definido por Oswald Spengler: "a força fecundante do varão que ilumina toda uma época". Ou seja, aquele autor cuja obra influencia toda uma época, que contamina gerações de outros autores. Dos citados, ¿quem teria realizado tal proeza? Com maior intensidade, embora não seja meu predileto, diria que apenas Machado de Assis… Com menor intensidade, todos os demais citados.

Obrigado pela pergunta.

 
Sobre cinema

Teria muita coisa para perguntar. Não sei se consigo resumir. Mas, Yuri, porque você não faz um filme inteiramente plástico, belo, lúdico/simbólico e reluzente, para a criança e para o velho? Você é a minha esperança de um cinema inteiramente li… by arilud2

Olha, bem que eu gostaria, mas cinema é um gênero artístico muito caro e, graças à situação político-econômica do Brasil, ninguém aqui consegue poupar dinheiro para investir no que quer que seja. Os impostos são tão escorchantes que todo o dinheiro que poderia ser investido por particulares está, na verdade, nas mãos do Estado. Numa entrevista, Woody Allen afirmou conhecer vários novos ricos, gente que investiu 50.000 dólares no filme dum cineasta iniciante e, no final, faturou 3 ou 4 milhões de dólares apenas em salas dos EUA. Isso não ocorre no Brasil, o pouco que há para investir acaba em setores de menor risco, imóveis ou fundos de renda fixa. Cinema? Mais arriscado que bolsa de valores. Daí esse monte de leis de incentivo que, de modo geral, não me interessam. Se os impostos fossem reduzidos, não haveria necessidade dessas leis. É o governo atrapalhando (tomando dinheiro) para ajudar (dar dinheiro), uma enorme contradição. Afinal, não é obrigação de empresas do ramo de alimentos, pneus, petróleo, etc. bancar o cinema. O negócio deles é outro, não entendem de arte ou entretenimento. Eu ainda pretendo rodar novos curtas e, se Deus quiser, algum longa-metragem — embora não seja mais uma prioridade. Infelizmente, porque é extremamente prazeroso dirigir um filme. Mas o que tenho a dizer pode ser dito através da literatura.

P.S.: Eu ainda pretendo escrever um "Manifesto Cinematográfico para Investidores e Possíveis Novos Empresários do Ramo". Com a distribuição digital, tudo pode mudar. 🙂

Yuri, quando vamos ver um longa-metragem teu? (Esta ainda está aqui.)

Bom, acho que já respondi a uma pergunta semelhante. Há informações relevantes nesses dois links:

http://www.formspring.me/yurivs/q/94893928

http://www.formspring.me/yurivs/q/22542126

No mais, não sei dizer. Os meandros do financiamento público são sujos demais para meu gosto. Fora os obscuros critérios de seleção de projetos, há também todo tipo de máfia. Há uma máfia de captadores (que fazem um verdadeiro loteamento das empresas, tipo "essa é minha, aquela é sua" e tal). Muitas vezes você encontra uma empresa, mas não consegue o dinheiro porque um captador se coloca entre vc e a administração da empresa, exigindo a porcentagem dele. E isso porque ele divide essa grana com gente de dentro da empresa… Entende? Gente escrota, a podridão da Terra. Há ainda uma burocracia estúpida que obriga os realizadores a comprar notas fiscais, uma coisa nojenta, porque, para provar que não estão mentindo, que estão fazendo o filme, são obrigados a mentir, a dizer que tais notas correspondem a esse ou àquele serviço, sendo que, na verdade, é tudo uma grande forçação de barra. E por que isso? Porque exigem prestação de contas antes mesmo de o filme ser rodado! Talvez essas coisas não se apliquem a todos os tipos de leis de incentivo. Mas já me enojei o bastante com as que encarei. Meu último curta-metragem foi feito com dinheiro da produtora onde trabalho.

Assim, minha resposta é: farei um longa-metragem quando tiver meu próprio dinheiro para isso. Ou quando algum louco quiser me bancar. E olha que meu filme não seria uma "artistice", seria entretenimento também. Ou seja: haveria, além da intenção estética, intenção lúdica e intenção de lucro… (Tenho alguns argumentos engavetados.)

(Sim, nessas condições é também possível que nenhum longa-metragem meu venha a ser rodado. Não me importo. A literatura é uma arte mais profunda, polissêmica e… barata. E eu gosto muito de escrever.)

Obrigado pela pergunta.

Qual seria, em tua opinião, a fase mais difícil na produção de um filme? by KosherX (Esta ainda está aqui.)

Sem dúvida, o casting. Encontrar os atores certos para cada personagem costuma demandar tempo e muita paciência. Quando vc sente que finalmente encontrou o ator perfeito para um papel, fica com a sensação de que avançou metade do caminho.

(Nem preciso tocar na questão "dinheiro", claro. Tente encontrar, sem a ajuda de leis de incentivo, alguém que queira investir no seu filme… Praticamente impossível! Graças ao Estado — que, com suas dívidas e a conseqüente maré de impostos, acaba impedindo a formação de poupança na sociedade — ninguém é louco o bastante a ponto de investir, com os riscos inerentes a qualquer empreendimento, num filme.)

Numa resposta aí vc falou que tem uma lista de filmes prediletos. Cadê a lista? (Esta ainda está aqui.)

É minha lista de "filmes prediletos" hospedada no The Internet Movie Database. Ainda preciso acrescentar muitos títulos, já que comecei a elaborá-la de uns dois ou três anos pra cá e, vale dizer, minha década realmente cinéfila foi a década de 1990. Já não tenho aquela fome de filmes, como se algum deles fosse me revelar o segredo da existência. Hoje assisto a filmes por prazer e apenas quando me dá na telha, não porque está todo mundo assistindo.

A lista:

http://www.imdb.com/mymovies/list?l=29341794

 
Sobre mim

O que te deixa de mau humor? by KosherX (Esta pergunta ainda está aqui.)

François Mauriac fala sobre a técnica do romancista

Algumas observações de François Mauriac sobre a arte de escrever romances:

François Mauriac

« Todo romancista deve inventar sua própria técnica, eis aí a verdade. Cada romance digno de tal nome é como outro planeta, quer seja grande ou pequeno, com suas próprias leis, assim como possui sua flora e sua fauna. Assim, a técnica de Faulkner é certamente a melhor para pintar o mundo de Faulkner, sendo que o pesadelo de Kafka criou seus próprios mitos, que o tornam comunicável. Benjamin Constant, Stendhal, Eugène Frometin, Jacques Rivière, Radiguet, todos usavam técnicas diferentes, tomavam liberdades diferentes e impunham a si próprios tarefas diferentes. A obra de arte, em si, quer seu título seja Adolphe, Lucien Leuwen, Dominique, Le Diable au Corps, ou À la Recherche du Temps Perdu, é a solução quanto ao problema da técnica.»

* * *

« Minha opinião não mudou. Creio que meus confrades romancistas mais jovens se acham grandemente preocupados com a técnica. Parecem pensar que um bom romance deve seguir certas normas impostas de fora. Na verdade, porém, tal preocupação os tolhe e embaraça em sua criação. O grande romancista não depende de ninguém, exceto de si próprio. Proust não se assemelhava a nenhum de seus antecessores, e não teve, não poderia ter, quaisquer sucessores. O grande romancista quebra o seu molde; só ele pode usá-lo. Balzac criou o romance “balzaquiano”; seu estilo se adaptava apenas a Balzac. Há um laço estreito entre a originalidade de um romancista em geral e a qualidade pessoal de seu estilo. Um estilo emprestado é um mau estilo. Romancistas americanos, de Faulkner a Hemingway, inventaram um estilo que não pode ser transferido a seus adeptos.»

* * *

«(…) A preocupação com tais questões (qual técnica?) constitui um obstáculo para o romance francês. A crise no romance francês, de que tanta gente fala, será solucionada tão pronto nossos jovens escritores consigam libertar-se da idéia ingênua de que Joyce, Kafka e Faulkner são os detentores das tábuas da lei da técnica da literatura de ficção. Estou convencido de que um homem dotado do temperamento real de romancista transcenderá tais tabus, tais normas imaginárias.»

* * *

« Escrevo sempre que me apraz. Durante um período criador, escrevo todos os dias. Um romance não deve ser interrompido. Quando deixo de ser transportado, quando já não sinto como se estivesse recebendo um ditado, paro.»

* * *

« Sinto que o primeiro dever do escritor é ser ele próprio, aceitar suas limitações. O esforço de auto-expressão deveria afetar sua maneira de expressão.»

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