palavras aos homens e mulheres da Madrugada

Tag: Cinema Page 5 of 9

Vampiros à moda antiga

Iris

Eu, que na infância adorava filmes de vampiro, andava com o estômago revirado com tantas besteiras vampirescas no cinema atual. Aliás, já nem acompanho mais as novidades cinematográficas com aquela sofreguidão juvenil de antes. Vou vendo filmes antigos e novos ao acaso, conforme as oportunidades e minha própria vontade. E, neste século, nada mais decepcionante do que um filme de vampiro. (Dá uma saudade do Christopher Lee daquele tamanho.)

Quem leu o livro Drácula (Bram Stoker) sabe que, nele, o vampiro é uma verdadeira praga, uma metáfora do mal, e que os personagens passam metade do tempo orando, pedindo força, coragem e fé a Deus para enfrentar algo tão terrível. (Na verdade, o filme Drácula de Bram Stoker não é senão Drácula de Francis Ford Coppola, pois, ao contrário de sua adaptação, não há nenhum amor romântico no livro.) Tal como eu disse na PUC TV (programa Da Hora), durante um debate a que fui convidado sobre a moda vampiresca, hoje em dia vampiros estão mais para “diabos levantados” do que para “anjos caídos”. E isso só é possível porque as pessoas perderam a noção do que realmente significa o termo maniqueísmo, pois acreditam que colocar, numa narrativa, o Bem a lutar claramente contra o mal seja um equívoco, isto é, que essa luta seja “maniqueísmo”, quando, na verdade, ser maniqueísta é acreditar justamente no contrário, a saber: que o mal é tão absoluto quanto o Bem, que ambos devem caminhar juntos, como gêmeos fundadores da realidade, e que, por isso, combater o mal não é senão uma perda de tempo. Besteira! Santo Agostinho fala muito bem sobre a burrice que é o maniqueísmo, do qual participou antes de abraçar o cristianismo. É preciso combater o mal, sim, como ocorre no livro Drácula. Afinal, tornar-se vampiro não é aprender a conviver com uma doença. Não! É entregar-se ao mal. Aqueles que se tornam vampiros, e mesmo assim não se entregam ao mal, deixam-se matar.

Enfim, tudo isso para dizer que, ontem, finalmente assisti a um filme de vampiros recente (2007) que me causou calafrios: 30 Days of Night. É a história de um povoado isolado no Alaska subitamente invadido por vampiros. Impressionante! Lembra muito o que Luiz Fernando Vaz comenta num artigo sobre zumbis. Claro, como quase tudo o que é bom no cinema, trata-se de uma adaptação (no caso, de uma HQ). E vale a pena. O filme, caso você o veja sozinho numa casa afastada, faz você dar uma saidinha para checar se as portas estão realmente trancadas. Não há vampiros “gente boa” e nem paixonites inocentes por rapazes que brilham no escuro e cuja maldade não é senão uma inadequação adolescente à realidade. Não. É, finalmente, um filme de vampiros à moda antiga.

P.S.: Eu disse que o filme é recente, mas minha sobrinha, que tem 14 anos de idade, achou-o antigo, pois foi rodado em 2007. Bom, para mim, filme antigo é filme mudo do início do século passado…

Eis o trailer:

[field name=iframe1]

Filme em família

Filme em família

Você faz a maior propaganda de um filme e chama a família inteira para vê-lo. Empolgados, aquele cheiro de pipoca já no ar, todos se acomodam pelos sofás, poltronas e tapetes cobertos de almofadas. Apesar do insistente burburinho, o filme começa. A platéia é finalmente absorvida pelo silêncio. Parece um bom sinal, mas não é. Corridos vinte minutos, já estão dormindo suas irmãs, seus irmãos, seus cunhados, suas cunhadas, seus sobrinhos, seus pais, seus tios e assim por diante. Ouve-se um ronco aqui, outro ali. O que fazer? Bem, agora já foi, mas, da próxima vez, utilize a “Técnica Capitão Nascimento de Concentração”, isto é, distribua granadas de mão sem o pino de segurança entre os presentes e avise: “Quem dormir explodirá a si mesmo e matará consigo meia-dúzia de parentes!” Sim, você não vê a hora de colocar o plano em prática…

Douglas Trumbull e o futuro do cinema

Harry Knowles conversa com Douglas Trumbull, responsável pelos efeitos visuais de filmes como 2001: Uma Odisseia no Espaço, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Jornada nas Estrelas: O Filme e Blade Runner. Juntos discorrem sobre a evolução do cinema e a situação atual da projeção de filmes.

São Paulo, a Symphonia da Metropole (1929)

São Paulo, a Sinfonia da Metrópole (1929), dirigido por Rodolfo Lustig e Alberto Kemeny.

Como o filme não tem trilha sonora, sugiro algumas variações de Beethoven:

Walter Hugo Khouri e a beleza

Walter Hugo Khouri é nosso grande diretor-autor. Teve uma longa e produtiva carreira, sempre fiel a si mesmo e às suas obsessões. Ninguém melhor do que ele para narrar a trajetória daquele que, contaminado pelo mais nefando niilismo, entrega-se ao vórtice hedonista do sexo até atingir as profundidades do abismo. (E dizer isso me lembra o olhar demoníaco de Tarcísio Meira ao final do filme Eu, de 1987.)

Há alguns anos, num festival de cinema qualquer, eu e Cássia Queiroz tivemos uma conversa interessante com o crítico Rubens Ewald Filho. Havíamos acabado de assistir a um desses filmes supostamente mais brasileiros que todos os outros, supostamente mais realista, mais artístico e assim por diante. Claro, o filme era um porre, tinha aquele discurso político que faria Hugo Chávez bater palmas e estava coalhado de gente feia – feia em todos os sentidos. Até os atores bonitos foram enfeiados para parecerem mais “reais”. (Porque, você sabe, para esse tipo de “artista” o ser humano é um vírus que ataca a Terra, é feio por natureza.) Rubens Ewald nos disse mais ou menos assim: “Não sei por que esse diretor gosta tanto do feio. O cinema sempre teve uma grande preocupação com a beleza da imagem, sempre preferiu os protagonistas bonitos, e isso porque as pessoas gostam de sair do comum, gostam de apreciar o belo. Mesmo os atores feios, quando protagonistas, ou quando expressavam um valor maior, tornavam-se belos nos filmes clássicos. Mas aqui há esses cineastas que gostam de fazer o contrário, dizendo que assim retratam mais fielmente a ‘realidade’. Mas um filme não é a ‘realidade’. É um filme, uma obra de arte. Os espectadores querem a beleza, mesmo que ela esteja perdida em meio ao sórdido”.

Quem assiste aos filmes de Walter Hugo Khouri sabe que ele mostrou alguns dos mais feios e obscuros segredos da personalidade humana mediante belas imagens. E com belíssimas mulheres.

Abertura do filme Eros, o deus do amor (1981), na qual vemos as mais belas atrizes da época e uma das melhores descrições da cidade de São Paulo:

Cena do filme Palácio dos anjos (1970), um filme sobre prostituição mil vezes mais impactante que um Bruna Surfistinha (moral do filme Bruna Surfistinha: “Seja puta, porque é ótimo, mas não ponha tudo a perder cheirando cocaína!”):

E até Rita Lee, junto aos Mutantes, iluminou um de seus filmes: As Amorosas (1968):

Walter Hugo Khouri (1929-2003): o melhor diretor-autor brasileiro de todos os tempos.

Ninjas na sala de cinema

No Prince Charles Cinema, na Leicester Square, em Londres, já não há impunidade para atiradores de pipoca, atendedores de celular, digitadores de smartphone e cochichadores em geral. Em qualquer um desses casos, dois ninjas podem surgir do nada e fazê-los ficar quietinhos. A idéia é genial, não?

Eis o depoimento de um dominado pelos Ninjas:

“Normalmente odeio pessoas barulhentas nos cinemas, mas recebi o telefonema de um amigo e, como o filme estava apenas começando, pensei que poderia atendê-lo numa boa. A última coisa que eu esperava era que duas pessoas, completamente cobertas de preto, fossem aparecer de repente, diante de nossas poltronas, para pedir a mim e a meus amigos que nos calássemos. No início, foi realmente assustador, mas logo me inteirei que era um tanto quanto cômico e uma ótima maneira de me mostrar o impacto que eu estava causando ao meu redor. Tal situação certamente me fez desligar o aparelho e me deixou calado pelo resto do filme.”

Mas será que isso daria certo no Nuovo Cinema Paradiso?

Leia mais no Slashfilm.com.

(Via @iedamarcondes.)
_____
Publicado no Digestivo Cultural.

A melhor cena de Zé do Caixão: que tipo de cético você é?

Para mim, esta é a melhor cena de Zé do Caixão. (Infelizmente, não sei dizer se o humor dela é ou não voluntário. Tentei conversar a respeito uma vez com José Mojica, durante um festival de cinema, mas fomos interrompidos por uma horda de fãs. E ele, ao contrário do personagem, não fugiu para a floresta. Eu fugi.) Enfim, sempre que me vejo em meio a uma discussão XYZ com um cético sistemático qualquer — porque, modéstia à parte, cético metódico sou eu (informe-se) — esta cena do filme Esta noite encarnarei no teu cadáver (1967) me vem à mente. Para certas pessoas, as provas não valem de nada, por mais contundentes e chamuscantes que sejam.

Assista a partir de 1h:40m:00s até 1h:44m:05s. (Basta clicar neste link e o vídeo já estará no ponto. Não se esqueça: assista-o por quatro minutos.)

E você? [Olhe o Zé apontando para você.] Que tipo de cético você é?
______
Publicado no Digestivo Cultural.

Page 5 of 9

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén