Eu tenho uma certa birra com serviços gratuitos disponíveis na internet. Em 2000, por exemplo, o Hotmail apagou todos os meus emails, alegando que fiquei mais de um mês sem acessar a conta. (Estava viajando, cazzo!) Resultado: nunca mais usei Hotmail. Também deixei de usar todos os serviços de hospedagem que, por pura incompetência e pobreza de recursos, perderam meus dados. (A Dreamhost vai indo bem e espero que continue assim.) Recentemente meu Orkut foi deletado, assim como meu Formspring.me (aquele site onde pessoas fazem perguntas e você responde). Ainda não recuperei o Orkut – se é que voltarei a usá-lo (estou desde 2007 no Facebook, não vejo necessidade) – mas já desisti do Formspring. Ao menos, graças ao Google, consegui localizar algumas das minhas respostas, mas não as trinta e tantas que já havia respondido e cujos links simplesmente desapareceram do meu perfil. (A maioria realmente se perdeu, as demais sumiram apenas do índice.) Enfim, seguem abaixo as respostas que consegui recuperar.
 
Sobre literatura

Quem vc considera o/a escritor(a) brasileiro(a) mais genial? (Esta pergunta ainda está aqui.)

Difícil responder a isso porque não li "todos os escritores brasileiros". Isso até me lembra as conversas com a Hilda Hilst e o Bruno Tolentino na casa dela. Ele adorava discutir sobre literatura e escritores. A Hilda achava um saco. Eu adorava ouvir as opiniões do Bruno, mas, como a Hilda, nunca senti essa ânsia de ler tudo o que faz parte da tradição literária e da produção contemporânea. Vou degustando aos poucos. Selecionando afins. Quando um texto me chateia, não vou até o fim apenas porque falam bem do autor. Não sou um crítico. Leio muito, mas nem tudo o que leio é uma obra literária. Como artista, busco impressões e intuições. E essas não vêm apenas pela literatura.

Mas… sim, tenho meus prediletos: Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Rubem Fonseca, Clarice Lispector, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Jorge de Lima, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Nelson Rodrigues… Só que você pergunta qual o mais "genial". Humm. Sigo o conceito de gênio definido por Oswald Spengler: "a força fecundante do varão que ilumina toda uma época". Ou seja, aquele autor cuja obra influencia toda uma época, que contamina gerações de outros autores. Dos citados, ¿quem teria realizado tal proeza? Com maior intensidade, embora não seja meu predileto, diria que apenas Machado de Assis… Com menor intensidade, todos os demais citados.

Obrigado pela pergunta.

 
Sobre cinema

Teria muita coisa para perguntar. Não sei se consigo resumir. Mas, Yuri, porque você não faz um filme inteiramente plástico, belo, lúdico/simbólico e reluzente, para a criança e para o velho? Você é a minha esperança de um cinema inteiramente li… by arilud2

Olha, bem que eu gostaria, mas cinema é um gênero artístico muito caro e, graças à situação político-econômica do Brasil, ninguém aqui consegue poupar dinheiro para investir no que quer que seja. Os impostos são tão escorchantes que todo o dinheiro que poderia ser investido por particulares está, na verdade, nas mãos do Estado. Numa entrevista, Woody Allen afirmou conhecer vários novos ricos, gente que investiu 50.000 dólares no filme dum cineasta iniciante e, no final, faturou 3 ou 4 milhões de dólares apenas em salas dos EUA. Isso não ocorre no Brasil, o pouco que há para investir acaba em setores de menor risco, imóveis ou fundos de renda fixa. Cinema? Mais arriscado que bolsa de valores. Daí esse monte de leis de incentivo que, de modo geral, não me interessam. Se os impostos fossem reduzidos, não haveria necessidade dessas leis. É o governo atrapalhando (tomando dinheiro) para ajudar (dar dinheiro), uma enorme contradição. Afinal, não é obrigação de empresas do ramo de alimentos, pneus, petróleo, etc. bancar o cinema. O negócio deles é outro, não entendem de arte ou entretenimento. Eu ainda pretendo rodar novos curtas e, se Deus quiser, algum longa-metragem — embora não seja mais uma prioridade. Infelizmente, porque é extremamente prazeroso dirigir um filme. Mas o que tenho a dizer pode ser dito através da literatura.

P.S.: Eu ainda pretendo escrever um "Manifesto Cinematográfico para Investidores e Possíveis Novos Empresários do Ramo". Com a distribuição digital, tudo pode mudar. 🙂

Yuri, quando vamos ver um longa-metragem teu? (Esta ainda está aqui.)

Bom, acho que já respondi a uma pergunta semelhante. Há informações relevantes nesses dois links:

http://www.formspring.me/yurivs/q/94893928

http://www.formspring.me/yurivs/q/22542126

No mais, não sei dizer. Os meandros do financiamento público são sujos demais para meu gosto. Fora os obscuros critérios de seleção de projetos, há também todo tipo de máfia. Há uma máfia de captadores (que fazem um verdadeiro loteamento das empresas, tipo "essa é minha, aquela é sua" e tal). Muitas vezes você encontra uma empresa, mas não consegue o dinheiro porque um captador se coloca entre vc e a administração da empresa, exigindo a porcentagem dele. E isso porque ele divide essa grana com gente de dentro da empresa… Entende? Gente escrota, a podridão da Terra. Há ainda uma burocracia estúpida que obriga os realizadores a comprar notas fiscais, uma coisa nojenta, porque, para provar que não estão mentindo, que estão fazendo o filme, são obrigados a mentir, a dizer que tais notas correspondem a esse ou àquele serviço, sendo que, na verdade, é tudo uma grande forçação de barra. E por que isso? Porque exigem prestação de contas antes mesmo de o filme ser rodado! Talvez essas coisas não se apliquem a todos os tipos de leis de incentivo. Mas já me enojei o bastante com as que encarei. Meu último curta-metragem foi feito com dinheiro da produtora onde trabalho.

Assim, minha resposta é: farei um longa-metragem quando tiver meu próprio dinheiro para isso. Ou quando algum louco quiser me bancar. E olha que meu filme não seria uma "artistice", seria entretenimento também. Ou seja: haveria, além da intenção estética, intenção lúdica e intenção de lucro… (Tenho alguns argumentos engavetados.)

(Sim, nessas condições é também possível que nenhum longa-metragem meu venha a ser rodado. Não me importo. A literatura é uma arte mais profunda, polissêmica e… barata. E eu gosto muito de escrever.)

Obrigado pela pergunta.

Qual seria, em tua opinião, a fase mais difícil na produção de um filme? by KosherX (Esta ainda está aqui.)

Sem dúvida, o casting. Encontrar os atores certos para cada personagem costuma demandar tempo e muita paciência. Quando vc sente que finalmente encontrou o ator perfeito para um papel, fica com a sensação de que avançou metade do caminho.

(Nem preciso tocar na questão "dinheiro", claro. Tente encontrar, sem a ajuda de leis de incentivo, alguém que queira investir no seu filme… Praticamente impossível! Graças ao Estado — que, com suas dívidas e a conseqüente maré de impostos, acaba impedindo a formação de poupança na sociedade — ninguém é louco o bastante a ponto de investir, com os riscos inerentes a qualquer empreendimento, num filme.)

Numa resposta aí vc falou que tem uma lista de filmes prediletos. Cadê a lista? (Esta ainda está aqui.)

É minha lista de "filmes prediletos" hospedada no The Internet Movie Database. Ainda preciso acrescentar muitos títulos, já que comecei a elaborá-la de uns dois ou três anos pra cá e, vale dizer, minha década realmente cinéfila foi a década de 1990. Já não tenho aquela fome de filmes, como se algum deles fosse me revelar o segredo da existência. Hoje assisto a filmes por prazer e apenas quando me dá na telha, não porque está todo mundo assistindo.

A lista:

http://www.imdb.com/mymovies/list?l=29341794

 
Sobre mim

O que te deixa de mau humor? by KosherX (Esta pergunta ainda está aqui.)