palavras aos homens e mulheres da Madrugada

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O tombamento da Casa do Sol

Recebi o email abaixo de Daniel Mora Fuentes, do Instituto Hilda Hilst:

Casa do Sol

Caros,

O Instituto Hilda Hilst tem a felicidade de comunicar, nesta semana em que Hilda completaria 80 anos, o inicio do processo de tombamento da Casa do Sol, sede do Instituto, e também o lançamento de projeto arquitetônico de reforma e construção de teatro, biblioteca e residência de bolsistas. Recomendamos também reportagem especial sobre Hilda e o futuro do Inst. Hilda Hilst que irá ao ar no programa Metrópolis da TV Cultura, quarta-feira dia 21, as 20:30 hs.

Neste tombamento vale ressaltar a fundamental participação da Academia Paulista de Letras, Unicamp e Ed. Globo, além da amizade e empenho da amiga Lygia Fagundes Telles. Importante valorizar também a parceria com o escritório RBF Arquitetura e Planejamento, responsável pelo projeto arquitetônico para o futuro da Casa do Sol.

Outro evento interessante que circunda esta “semana Hilda Hilst” é o lançamento do livro “Porque Ler Hilda Hilst”, de Alcir Pécora, pela Ed. Globo, que contará com pocket-show de Zeca Baleiro e outros eventos interessantes.
Todos estão convidados (dia 21, 16hs, Livraria Cultura do Shopping Pompéia)!

Grande abraço,

Daniel Fuentes
www.hildahilst.com.br

O Caderno Rosa de Lori Lamby – Posfácio da versão digital

lorilamby2 Em 2000, escrevi o posfácio ao livro O Caderno Rosa de Lori Lamby , de Hilda Hilst, que passou então a ser distribuído gratuitamente pela eBooksBrasil.org. Nesta época eu era o responsável pelo site oficial da escritora e, como ela ainda não havia assinado com uma grande editora, decidimos experimentar novas mídias, no caso o ebook. (O mesmo livro foi distribuído também para Microsoft Reader, RocketBook e eBookEditPro, formatos da era pré-histórica do livro digital.)

Quando a Hilda assinou com a Editora Globo, o ebook foi retirado tanto da eBooksBrasil.org quanto de seu site oficial. Já me disseram que ele continua onipresente no eMule… Será?

O Caderno Rosa de Lori Lamby, juntamente com Cartas de um sedutor e Contos d’Escárnio/Textos Grotescos, faz parte da trilogia erótica de Hilda Hilst. Trata das confissões de uma menina de oito anos de idade…

Posfácio da versão digital

Caro(a) leitor(a)

Este livro que você acaba de ler é a pontinha da pontinha do iceberg que é a obra literária de Hilda Hilst. Não pense que agora já conhece seu estilo ou quem afinal é essa tar de “Hirda Rist”. Quando publicou este livrinho, ela já tinha um trabalho sólido e respeitado, seja em poesia, prosa ou teatro. Mas, à época, era pouco lida ou, pelo menos, assim parecia. Na verdade, o problema era outro…

Quando Gutenberg criou a imprensa com tipos móveis, criou implicitamente a clássica e complicada relação autor/editor. Como sempre, a culpa era do mordomo. (Nos últimos anos de sua vida, Gutenberg foi nomeado mordomo da casa do bispo de Mogúncia, Conde Adolfo de Nassau.) Pois é, a possibilidade de imprimir de forma rápida, econômica (risos) e sistemática uma série limitada de livros, mais conhecida como edição, permitiu ao autor expandir seu campo de leitores. Agora os livros já não se limitavam ao restrito e letrado círculo de iniciados, a esses senhores que, anteriormente, monopolizavam o acesso aos parcos volumes copiados à mão ou gravados em matrizes, como dizia o outro, de tipos “imexíveis”. Mas o autor seguia tendo um intermediário entre si e o leitor. (E assim seguirá, se a internet não se democratizar.) Claro que esta situação veio para o bem… e, inevitavelmente, não direi para o mal mas para sacanear mesmo certos autores. “Certos”, aqui, significa muitos. Pois se o editor é a figura que, apostando no escritor, tira do próprio bolso para bancar a edição, é ele também o cara que, consciente ou inconscientemente, retira da jogada muito trigo misturado ao joio. Sem falar na censura sistemática a que muitos autores ficam submetidos, já que ouro e poder são amiguinhos de infância, e, se as palavras do escritor não batem com as do editor e confrades, é ele então carta fora do baralho.

Mas… “a internet chegooou, e o ebook tambééémm, pra alegrar o leitoooor, e o autor tambééémm…” (Favor cantar com a melodia daquele jingle do Sílvio Santos.)

Calma. Enquanto existirem livros de papel, haverá editores. E sempre existirão. Um livro sempre será uma coisa boa de se ter entre os dedos. Mas, no futuro, será artigo de luxo. Porque quem realmente gosta de ler não se importará se as letras estão num papel ou numa tela qualquer, importa que o texto tenha qualidade ou que pelo menos seja agradável. E se não fosse pela internet, caro(a) leitor(a), você não teria tido acesso tão fácil ao livro que tem agora diante dos olhos. (Há anos totalmente esgotado e, pior, ausente dos empoeirados sebos.) Neste, entre outras coisas, Hilda satiriza com perfeição a relação autor-editor. Lalau – Massao?? – é o editor que sugere ao genial pai de Lori a escrita de uma “bandalheira”, ¿pois não é disso que as pessoas gostam? ¿Tchans, silicones, boquinha da garrafa e afins? Sim, a Hilda escreveu essa trilogia erótica – O Caderno rosa de Lori Lamby, Contos D’Escárnio/Textos grotescos e Cartas de um sedutor – para ganhar, pela primeira vez, algum dinheiro com seus livros. Mas, coitada, ela não conseguiu deixar de ser genial e escreveu uma literatura erótica que, se escandaliza, assim o faz no sentido bíblico e não no comum. Ou seja, no caso de Lori Lamby, é a súbita verdade da inocência infantil, por traz de tantas aparências sórdidas, que nos faz arregalar os olhos e ficar sem saber onde colocar as mãos. A verdade espanta.

Se o livro não é encontrado em qualquer parte do país, a culpa, apesar de tudo, não é do Massao Ohno. Ele, amigo de anos de Hilda, é um artista gráfico, avesso às sutilezas do mercado livreiro com seus intricados esquemas de distribuição e de pagamento de direitos autorais. E seu trabalho, praticamente conservado nesta edição, fala por si. (Hilda diz que ninguém encontra seus livros para comprar porque Massao a ama tanto que guarda-os todos debaixo da cama.) Quanto às ilustrações de Millôr Fernandes então, sem comentários.

Talvez você não saiba que um escritor, em média, recebe apenas 10% do preço de capa. Isto faz com que qualquer um que não seja um best-seller fique sem ter como se dedicar ao trabalho que a vida lhe impôs. (Nenhum verdadeiro escritor decidiu sê-lo simplesmente, o buraco é mais embaixo.) Precisa arranjar bicos. Tem que matar a própria fome. Imagine então quando, além da própria, há a fome de oitenta cães. O número atual, aqui na chácara de Hilda, é este. Há sessenta nos canis, vinte dentro de casa. Parece maluquice, mas todo aquele que decide receber e ajudar seres carentes passa por doido. Sem falar no sonho de Hilda, que gostaria de criar a Fundação Apolônio de Almeida Prado Hilst (em homenagem ao pai, também poeta). Queria construir, no terreno vago que há diante da Casa do Sol (sua residência), uma biblioteca pública e um anfiteatro. Queria possibilitar, aqui na casa, a reunião de pessoas ligadas à ciência, literatura, filosofia, etc., que juntas quisessem estudar a Imortalidade da alma humana. Só que…

Só que a Hilda deve mais de R$250.000,00 de IPTU, será aposentada pela UNICAMP – já que, após duas isquemias, está impossibilitada de ministrar aulas – e passará a receber oitocentos e poucos reais por mês. Só de ração para cães gasta-se R$790,00 por mês. E quase me esqueço: por enquanto nenhuma editora se interessou por suas obras completas. Logo, portanto, então… Vou citar uma fábula fabulosa do Millôr: um cara tá perdido num deserto, acompanhado apenas por seu cãozinho de estimação. Depois de horas, dias e tal sem comer nem beber, está próximo do desespero. Até que, olhando bem seu cão, no auge de seu delírio famélico, mata-o e o devora. Quando, enfim, já está a roer os ossos, começa a chorar comovido: “ah, tadinho do Lulu, ele ia gostar tanto de roer esses ossinhos…” E o Millôr é demais, a história tem moral: “O despertar dos belos sentimentos uma vez satisfeitas as necessidades básicas”. Pois é, caro(a) leitor(a), depois de Outubro/2000, quando a grana parar de entrar e estivermos no mato com oitenta cachorros, sei não…

Agora que criei o clima apropriado, atiro-me à questão: se você gostou deste livro, pode contribuir com a Hilda. Não é obrigatório, evidentemente, uma vez que você o adquiriu de graça. Também fica a seu critério o valor que quiser remeter. (Caso não esteja em condições – apesar de um livro digital custar em média R$4,00 – pode pelo menos enviar uma cópia do livro a seus amigos.) A conta corrente de Hilda Hilst é:

Banespa
Agência 0207
Conta 01-018330-3

Em nome de Hilda, agradeço a Millôr Fernandes, Massao Ohno, Luís Bogo (Livro Acesso), Teotonio (ebooksbrasil.com) e Jaime Mendonça (VirtualBooks Online). Agradeço também a Bete Coelho, Reinaldo Moraes e Iara Jamra que adaptaram O caderno rosa de Lori Lamby para teatro, atingindo indiscutível qualidade expressiva. E, claro, a você, caro(a) leitor(a), pólo complementar dessa relação mágica autor-leitor chamada literatura.

Abraço cordial
Yuri V. Santos
Casa do Sol – Setembro/2000

P.S.: Vale lembrar que a escritora Hilda Hilst faleceu em 2004 e que essa conta bancária já não existe…

Especial sobre Carlos Drummond de Andrade (Globo News)

Com poemas lidos pelo próprio Drummond e depoimentos dele, de Tom Jobim, Otto Lara Resende, Alcides Villaça, etc.

“Eu sou bastante telefoneiro”, disse Carlos Drummond de Andrade. Teria dado um grande interneteiro…

Primeira parte:

Segunda parte:

Terceira parte:

Entrevista com a blogueira cubana Yoani Sánchez

Os vídeos abaixo foram gravados e estão disponíveis graças ao site Saraiva Conteúdo. (Leia o depoimento de Marcio Debellian a respeito dessa entrevista com Yoani Sánchez.)

(Via @joseroldao.)

O êxtase de Agostinho e Mônica

 


CAPÍTULO X

O êxtase de Óstia

Estando já próximo o dia em que teria de partir desta vida – que tu, Senhor, conhecias, e nós ignorávamos – sucedeu, creio, por disposição de teus ocultos desígnios – que nos encontrássemos sós, eu e ela, apoiados em uma janela que dava para o jardim interior da casa em que morávamos. Era em Óstia, sobre a foz do Tibre, onde, longe da multidão, depois do cansaço de uma longa viagem, recobrávamos forças para a travessia do mar.

Ali, sozinhos, conversávamos com grande doçura, esquecendo o passado, ocupados apenas no futuro, indagávamos juntos, na presença da Verdade, que és tu, qual seria a vida eterna dos santos, que nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração do homem pode conceber. Abríamos ansiosos os lábios de nosso coração ao jorro celeste de tua fonte – da fonte da vida que está em ti – para que, banhados por ela, pudéssemos de algum modo meditar sobre coisa tão transcendente.

Nossa conversa chegou à conclusão que nenhum prazer dos sentidos carnais, por maior que seja, e por mais brilhante e maior que seja a luz material que o cerca, não parece digno de ser comparado à felicidade daquela vida em ti. Elevando nosso sentimento para mais alto, mais ardentemente em direção ao próprio Ser, percorremos uma a uma todas as coisas corporais, até o próprio céu, de onde o sol, a luz e as estrelas iluminam a terra.

E subimos ainda mais em espírito, meditando, celebrando e admirando tuas obras, e chegamos até o íntimo de nossas almas. E fomos além delas, para alcançar a região da abundância inesgotável, onde apascentas eternamente a Israel com o alimento da verdade, lá onde a vida é a própria Sabedoria, por quem foram criadas todas as coisas, as que já existem e as vindouras, sem que ela própria se crie a si mesma, pois existe agora como antes existiu e como sempre existirá. Antes, nela não há nem passado, nem futuro: ela apenas é, porque é eterna; mas ter sido ou haver de ser não é próprio do ser eterno.

E enquanto assim falávamos dessa Sabedoria e por ela suspirávamos, chegamos a tocá-la momentaneamente com supremo ímpeto de nosso coração; e, suspirando, deixando ali atadas as primícias de nosso espírito, e voltamos ao ruído vazio de nossos lábios, onde nasce e morre a palavra humana, em nada semelhante a teu Verbo, Senhor nosso, que subsiste em si sem envelhecer, renovando todas as coisas!

E dizíamos: Suponhamos que se calasse o tumulto da carne, as imagens da terra, da água, do ar e até dos céus; e que a própria alma se calasse, e se elevasse sobre si mesma não pensando mais em si; se calassem os sonhos e revelações imaginarias e, por fim, se calasse por completo toda língua, todo sinal, e tudo o que é fugaz – uma vez que todas as coisas dizem a quem sabe ouvi-las: Não fizemos a nós mesmas; fez-nos o que permanece eternamente – se, dito isto, todas se calassem, atentas a seu Criador; e se só ele falasse, não por suas obras, mas por si mesmo, de modo que ouvíssemos sua palavra, não por uma língua material, nem pela voz de um anjo, nem pelo ruído do trovão, nem por parábolas enigmáticas, mas o ouvíssemos a ele mesmo, a quem amamos nas suas criaturas, mas sem o intermédio delas, como agora acabamos de experimentar, atingindo em um relance a eterna Sabedoria, que permanece imutável sobre toda realidade, e supondo que essa visão se prolongasse, que todas as outras visões cessassem, e unicamente esta arrebatasse a alma de seu contemplador, e a absorvesse e abismasse em íntimas delícias, de modo que a vida eterna seja semelhante a este momento de intuição que nos fez suspirar, não seria isto a realização do entrar em gozo de teu Senhor? Mas quando se dará isto? Por acaso quando todos ressuscitarmos? Mas então não seremos todos transformados?

Tais coisas dizíamos, embora não deste modo, nem com estas palavras. Mas tu sabes, Senhor, que naquele dia, à medida que falávamos dessas coisas, quanto nos parecia vil este mundo, com todos os seus deleites – disse-me minha mãe: “Filho, quanto a mim, já nada me atrai nesta vida. Não sei o que faço ainda aqui, nem por que ainda estou aqui, se já se desvaneceram pra mim todas as esperanças do mundo. Uma só coisa me fazia desejar viver um pouco mais, e era ver-te católico antes de morrer. Deus me concedeu esta graça superabundantemente, pois te vejo desprezar a felicidade terrena para servi-lo. Que faço, pois, aqui?”

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Confissões, de Santo Agostinho. (Para o baixar o ebook, clique aqui.)

Áudio da última entrevista de Monteiro Lobato

“Lobato concede a Murilo Antunes Alves, da Rádio Record, sua última entrevista, em 1948. Dois dias após o bate-papo, o escritor veio a falecer, vitimado por um derrame.”

Primeira parte:

Segunda parte:

Terceira parte:

Entrevista com o escritor Lêdo Ivo

Lêdo Ivo fala sobre escritores, crítica literária, poesia, Brasil, educação, etc.

Fonte: Globo.com

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