Uma das melhores cenas do filme Elvis & Nixon — que retrata esse curioso encontro entre o “rei do rock” e o então presidente republicano — é aquela em que Presley, ao ser indagado por um agente secreto se está “portando armas ilegais”, responde de pronto que não, não está. Seguindo o protocolo — afinal, estão nos corredores da Casa Branca — o agente o submete a uma revista com detetor de metais, o qual logo emite zumbidos suspeitos. O sujeito então lhe pede para abrir o blazer, Elvis o obedece e vemos que carrega, sob o braço, num coldre branco, uma reluzente pistola dourada.
— Por que negou que estava portando uma arma? — torna o agente, com ar carrancudo.
— Não neguei — responde Elvis. — Você perguntou se eu estava portando alguma arma ‘ilegal’, e minhas armas são legalizadas. Nós — e ele também se referia a seus dois acompanhantes — temos autorização para portá-las.
O agente, pois, lhes pede para deixarem as armas sobre uma mesa. Elvis não apenas retira o coldre branco mas também, alçando a parte de trás do blazer, saca outra pistola das traseiras da cintura, arma que portava à socapa feito um gângster de filme policial. Seus dois acompanhantes também sacam suas próprias pistolas e as colocam sobre a mesa. Os olhares dos assessores do presidente Nixon e dos agentes secretos são impagáveis: um roqueiro pretendia entrar armado até os dentes no Salão Oval!
Em seguida, o agente quer saber que objeto é aquele que Elvis pretende entregar a Nixon.
— É apenas uma lembrancinha — diz, sacudindo uma caixa embalada em papel de presente.
Claro que o agente não se satisfaz e insiste que é sua obrigação averiguar o conteúdo daquele pacote. Resignado, Elvis lhe entrega a caixa, que é rapidamente aberta pelo agente: trata-se de uma caixa de madeira, com tampo de vidro, contendo uma bela pistola comemorativa da Segunda Guerra Mundial e dez balas de prata. O agente o encara como se estivesse observando um extraterrestre: “Esse cara é doido?”, deve ter pensado.
— Desculpe, mas eu mesmo entregarei seu presente ao presidente — diz o agente, categórico.
Elvis dá de ombros e, para alívio do assessor que o acompanha, finalmente se dirige para o Salão Oval. Antes de lá chegar, porém, o assessor lhe pede desculpas pela maçante eficiência do agente secreto que, obviamente, está apenas cumprindo seu dever.
— Não tão eficiente — retruca Elvis, levantando a barra da calça e mostrando um pequeno revólver escondido no cano da bota.
E o assessor, constrangido, não alertou ninguém, permitindo que Elvis se encontrasse com Nixon portando uma arma… sim, uma arma legalizada.
No mais, apesar de gostar do trabalho do Michael Shannon, não o achei uma boa escolha para interpretar o “rei do rock”: Elvis tinha um vozeirão, falava para fora, e Shannon parece o menino daquela piada, aquele que “foi lá fora chamar o pai para dentro”: quase não o ouvimos. (Sem falar que Elvis era um sujeito bonito e Shannon parece um vampiro anêmico.) Já Kevin Spacey, como sempre, faz um ótimo trabalho como Nixon. Não faço a menor idéia se os diálogos entre os dois foi reproduzido com fidelidade, mas o tom geral, da parte de Elvis, é: a juventude está perdida, os Estados Unidos se encaminham para um colapso moral e social e, claro, os Beatles têm culpa no cartório. Como resultado da visita, Elvis também é nomeado agente da narcóticos e, assim habilitado, pretendia infiltrar-se entre outros roqueiros para prender os drogados e comunistas. (Segundo um comentarista no YouTube, na verdade ele pretendia era apreender todas as drogas para usá-las ele mesmo. Sacanagem, claro.)