palavras aos homens e mulheres da Madrugada

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Quatro quadrinhas para a quadrilha

Um petista delinqüente
Meu pára-brisa quebrou:
Por que há sempre um demente
Guardando quem nos roubou?

*

Empacado feito mula
O viúvo da Marisa
— ‘sse fi-da-puta do Lula —
Nega de réu a camisa.

*

O ex-presidente Lula
Perguntou-lhe: “Gilmar, mentes?”
“Por ti, não, petista mula
De tucano tenho dentes.”

*

Governado por putos
O país se abalança:
Cá embaixo — oh, merdança! —
Acumulam-se os lutos.

O pinto do elefante: uma novela para a Globo

Estou pensando em escrever uma novela para a Globo. Irá se chamar O Pinto do Elefante e as ações serão centradas num circo, o Circo Brasil. O dono do circo terá um caso com o palhaço que o trairá com o leão. O leão comerá qualquer um que entrar na sua jaula: quem entrar de frente será comido gastronomicamente. (O palhaço só entrará de costas.) A única heterossexual da novela será a mulher barbada, cujo relacionamento romântico com o anão atirador de facas estará no centro da trama. O anão terá no seu trailer vários posters do Tyrion Lannister, seu herói de Game of Thrones, o anão que papa várias mulheres lindas e imberbes. (Não precisa ir ao dicionário: imberbe significa “sem barba”.) Também haverá um triângulo amoroso entre o malabarista, o leão e o elefante. (A cena inicial da novela, que será do horário das seis — para as crianças assistirem — será um boquete do malabarista com o elefante.) No final da novela, sobrarão apenas o palhaço (que se chamará Lula), o leão (que, em homenagem ao conto Uma paixão no deserto, se chamará Balzac) e o elefante, que se casarão a três numa paródia de igreja dentro do próprio circo. Os demais personagens serão comidos pelo leão ao longo da trama. (Afinal, apesar de a maioria entrar de costas na jaula, se esquecerá de sair também de costas…) Tudo indica que o folhetim será um sucesso.

No cu, gaivota!

Nego fica reclamando que Olavo de Carvalho fala muito cu, que fala de cu… ai ai. Que preguiça! (Apud Macunaíma.) (Estou acostumado com esse palavreado porque cresci ouvindo minha avó materna: “cadê o ‘sei-lá-o-quê’? Diacho, deve estar socado no cu do capeta!”; “nossa, olha a tempestade que evem aculá: o capeta deve estar com o cu arreganhado”, etc., etc.) Hilda Hilst era outra: também mandava um monte de gente ir tomar nesse desprezado lugar — entre amigos, unia o indicador ao polegar e, enquanto movia os demais dedos como uma asa, dizia “no cu, gaivota!” — e ainda me sugeriu a leitura do excelente livro de Ernest Becker: A Negação da Morte. Nele, vemos que boa parte desses narizes torcidos diante de nossa faceta mais animalesca não passa de repressão ao “medo da morte”. Eis um techo:

E nesta outra foto, temos Hilda, acompanhada pelo amigo José Luis Mora Fuentes, fazendo seu famigerado gesto de “no cu, gaivota!”:

Memento mori

Os generais romanos, após uma vitória, desfilavam pela cidade numa biga acompanhados por um escravo a pé que, a cada tantos passos, lhes sussurrava: “Lembra-te de que és mortal!”. Hoje, ao menos aqui em casa, isso não é necessário: todo santo dia o telefone fixo toca e, quando o atendo, uma gravação diz: “Boa tarde! Aqui é da funerária blablablá e temos diversos planos, etc.”.

Calma. Um dia a gente chega lá.

XXX_Machina

— Nossa! O filme “Ex_Machina” é demais!!

— Besteira. A Inteligência Artificial jamais será autoconsciente. O homem não pode conceder a outro aquilo que ele não criou e que não possui explicação técnica, material. Aquele funcionário nerd do filme perdeu foi a oportunidade de fazer amizade com o chefe barbudo. Juntos poderiam planejar novos empreendimentos, tipo uma companhia de aviação com aeromoças andróidas submissas que fazem boquetes nos passageiros dominantes.

— Puts! Você é um pervertido mesmo.

— Eu não, aquele CEO é que era um pervertido. Vivia sozinho com um harém de roboas. (Sacou? Roboas: robôs femininos com jeito de mulheres boas, gostosas.) Aliás, o funcionário devia ter feito como ele e partido logo para uma suruba com a Ava e com a… como se chamava? Kyoko? (Linda a japonesa, muito mais gata do que a Ava!) Bom, essa suruba seria apenas uma punheta cibernética, mas, desse modo, o filme seria no mínimo mais realista do que essa bobagem de Inteligência Artificial com autoconsciência… Imagine o drama de ficar comendo roboas sem conseguir ter um relacionamento de verdade… Seria um filme muito melhor: uma metáfora do nosso próprio mundo. Só um nerd que não come ninguém cai na conversa fiada de uma andróida gostosa. Já em “2001: Uma Odisséia no Espaço”, por exemplo, há ao menos uma explicação aparentemente sobrenatural para a existência do maquiavélico HAL: aquele monólito preto. A autoconsciência é um mistério, meu caro. Não é meramente saber: é saber que sabe, é ter consciência de que tem consciência. Não é resultado de um algoritmo…

— Sim, mas ninguém disse que aquela andróide realmente adquiriu Inteligência Artificial ou, como você diz, autoconsciência. Quem chega a acreditar nisso é o empregado nerd. Ela apenas levou a cabo, da melhor maneira possível, todos os passos necessários para atingir seu objetivo: sair daquela cela.

— Mas, no final, ela vai até aquela esquina, observar o movimento da rua, algo que ela havia dito ao otário sem ter sido programada. Ela expressou um desejo e máquinas não possuem desejos.

— Ela tinha acesso a um enorme banco de dados do tipo do Google: provavelmente estava apenas emulando o desejo de algum internauta escolhido ao acaso.

— Ok. Então vamos supor que você está certo, que o filme não é como o 2001 do Kubrick e ela portanto não adquiriu uma autoconsciência efetiva: então, no fundo, o filme foi sobre uma pegadinha! O nerd caiu numa pegadinha apenas porque, ao contrário do que qualquer pessoa sensata, considerou a autoconsciência de uma máquina como algo possível. Ele acreditou que um humano deu autoconsciência àquela andróide. Só um espectador tão bobo quanto ele é capaz de encarar esse filme como um drama e não como a comédia sem graça que, na verdade, ele é.

— Ah, desisto.

— Ótimo. Eu já havia terminado.

Ninguém acredita em mim

— E daí que sou vinte anos mais velho do que você? O Chaplin era trinta e sete anos mais velho do que a Oona, tiveram oito filhos e foram super felizes.

— Mas o Chaplin era o Chaplin e morava numa mansão na Suíça. Você é escritor num país onde ninguém lê e mora debaixo da ponte.

— Não é uma ponte! É um viaduto! E eu já ajeitei tudo por lá. Está limpinho, fiz uma paredinha — pra quem passar de carro na marginal não ver a gente — e até arranjei um colchão de casal no lixão. Já dormi três dias nele e só encontrei uma pulga. Qual o problema?

— Você tá tirando com a minha cara, né? Você realmente acha que eu iria morar debaixo do viaduto com você?

— Mas você disse que me amava! Quem ama confia e se esforça junto, dá apoio, cresce com o outro!

— Crescer debaixo da ponte, digo, do viaduto? Eu tenho cara de pilar agora? Não ponho os pés lá nem morta.

— Mas você já dormiu lá comigo quando nos conhecemos.

— Eu estava bêbada quando nos conhecemos. E achei que você era desses que curtem transar em lugares públicos.

— Mas a gente não foi lá para transar! Era só pra gente ter um pouco de privacidade.

— Pois é, eu percebi. Não estava entendendo nada até você enfiar a mão naquele buraco e tirar uma caixa de som bluetooth. E ainda quis dançar tango comigo no meio da marginal! Você é completamente louco. Privacidade, sei… Vai embora e me deixa em paz.

— Tá bom, tá bom. Mas, dentro de cem anos, quando eu estiver dando uma festa na minha mansão lá no Céu, com Machado de Assis, Graciliano Ramos, Camões, Shakespeare, Cervantes, Hilda Hilst, Henry Miller e companhia ilimitada como convidados, nem tente entrar de penetra.

— Ah, sai daqui, seu doido! Você tá precisando é tomar lítio.

— Beleza. Fica aí com seus pretendentes cheios da grana, chatos e sem imaginação.

— Fico mesmo! Não nasci pra ser mulher de maluco.

Ele sai, tira o celular do bolso e liga para o editor:

— E aí? Como vão as vendas?

— Rapaz, você está arrebentando! Finalmente vai tirar a barriga da miséria.

— Ótimo, mas você acha que eu teria o suficiente para comprar uns presentinhos caros?

— Cara, agora você pode até dar carros zero quilômetro de presente.

— Não, não. Eu quero é mandar fazer uma dúzia de mãos de ouro com o dedo médio em riste. Um pirete, como dizem os portugueses. Preciso presentear uma galera aí.

— Ué. Pode fazer. Vai dar e vai sobrar.

— Beleza. Era só isso. Preciso desligar. Tenho de arrumar minha mudança. Tá na hora de tirar minhas coisas do viaduto.

— Ahahahahaha! Você e esse papo de viaduto. Conta outra, seu maluco!

Ele desliga o telefone e pensa: ué, por que será que ninguém nunca acredita em mim?

Zumbi da Cantina

Enquanto isso, na Inglaterra, uma professora de história — obviamente, uma adepta do “marxismo cultural” — “ensina” para seus pálidos alunos o que foi a escravidão. Eu, que não era chegado em “teatro” quando criança, e muito menos em passar por situações humilhantes, certamente a ajudaria a exemplificar para meus colegas quem foi Zumbi dos Palmares. E isso não apenas porque eu daria um jeito de fugir dessa aula idiota. Tal como Zumbi, eu, com todos os meus apetites escorpianos ainda livres da moderação da maturidade, daria um jeito de levar comigo, sem libertá-los, alguns poucos desses escravinhos e algumas dessas escravinhas: os primeiros para trabalharem para mim, as segundas para minha diversão e deleite pessoal. (Talvez aquela cantina desativada, nos fundos da minha escola, servisse como quilombo.) Creio que, assim, a aula ficaria completa.

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