palavras aos homens e mulheres da Madrugada

Tag: Política Page 13 of 18

Fraude — explicando a grande recessão (documentário)

Do Instituto Ludwig von Mises Brasil:

«(…)Embora vários documentários já houvessem sido produzidos sobre a crise econômica que hoje assola o mundo, nenhum deles de fato se propunha a expor uma teoria econômica que de fato explicasse as minúcias econômicas que provocaram o descalabro. Para preencher este vazio, empreendedores espanhóis buscaram a ajuda dos professores Jesús Huerta de Soto e Juan Ramón Rallo para elaborar uma explicação completa que, utilizando a teoria econômica que mais uma vez demonstrou ser a única correta (a teoria austríaca dos ciclos econômicos), fizesse uma cronologia histórica da grande recessão vista à luz desta teoria e denunciasse todos os desastres econômicos que a humanidade vem sofrendo há séculos em decorrência de políticas monetárias estatais, as quais foram rotuladas de “fraude legal”. Por último e não menos importante, foi pedido aos professores que apontassem soluções concretas e factíveis para se colocar um fim a este recorrente ciclo de descalabros.(…)»

Cotas e ação afirmativa

¿Já notou que, se você não for Woody Allen ou Sacha Baron Cohen (ou qualquer outro comediante judeu), pega muito mal fazer piadas sobre judeus? ¿E já assistiu ao excelente documentário The Original Kings of Comedy, de Spike Lee? Caso afirmativo, ¿notou que, se fossem brancos, aqueles comediantes sairiam do palco, não ovacionados, mas linchados? ¿E percebeu que é a mesma coisa para gays, anões, gordos, muçulmanos, loiras, etc.? Enfim, para se criticar uma suposta minoria, é preciso, antes de tudo, ser parte dela. É o espírito do nosso tempo – o politicamente correto. Se você não respeitá-lo, será acusado de estar defendendo um interesse de classe. (Sabe como é, né?) Você, claro, só pode falar mal de ricos, burgueses, cristãos, heterossexuais, empresários e assim por diante, essa gente feia que o explorou na outra encarnação. (Pode falar mal de Israel também.) Em qualquer um desses casos, cabe a crítica, por mais injusta, afinal, ela não será um pecado social. Eis a palavrinha: social! Se há o adjetivo social no meio, então… Puts. É intocável! E o intocável do momento é a “cota social” na educação. Claro, a cota racial continua intocável. Logo, como sou apenas um rapaz latino-americano com pouco dinheiro no bolso descendente de portugueses “cristãos novos” (isto é, judeus convertidos), misturado um tanto com negros e italianos, não direi nada. Infelizmente, não tenho permissão social para tais liberdades. Dirão que estou defendendo interesses da minha classe – e eu não estou certo da natureza da minha classe. Portanto, deixarei dois intelectuais negros de origem humilde falar sobre o verdadeiro significado das cotas e das “ações afirmativas” (o ninho conceitual de onde saem tantas coisas daninhas à educação, à cultura e à sociedade). Com vocês, Thomas Sowell e Walter Williams. [Aplausos]

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Publicado no Digestivo Cultural.

Arte e Poupança

Conheço alguns galeristas que costumam reclamar da baixíssima procura por obras de arte no mercado brasileiro. Porque, dizem eles, embora a oferta de boas obras seja grande, as vendas são ínfimas. Não duvido. (Quem escreve livros sabe disso muito bem.) No entanto, um deles, em vez de observar com maior atenção as causas do fenômeno, prefere chegar àquele remédio equivocado: “o governo deveria financiar os coitados dos artistas”. Ora, ora. Mais um querendo que a doença tome conta da paciente sociedade…

Deixando de lado questões secundárias como as que afirmam que falta ao povo educação estético-artística – porque o único problema que isso acarretaria seria a compra de obras de arte sofríveis (norte-americanos têm dinheiro, educação e são capazes de comprar as besteiras caríssimas do Damien Hirst) – a verdade é que nós não compramos muitas obras de arte pela mesma razão que não compramos sapatos italianos, vinhos franceses ou uma Jacuzzi, isto é, graças à política econômica do governo nas últimas décadas, a qual impede a formação de poupança. No aspecto econômico, estamos presos à Matrix Keynesiana. É ela que não nos deixa poupar dinheiro, é ela que faz o governo gastar mais do que arrecada, aumentando a dívida pública e a consequente extração de nosso sangue financeiro mediante impostos, taxas e inflação. Querer que o governo dê dinheiro a um setor qualquer da sociedade, ainda que aos “coitados” dos artistas, seria apenas exigir que ele retire dos demais ainda mais dinheiro na forma de tributos. E, quando torna-se impossível poupar dinheiro – são tantos os furinhos no nosso saco de moedas -, fica muito difícil gastar com coisas belas, porque primeiro é preciso forrar o estômago e garantir um teto sobre as cabeças das crianças. Estética? Cultiva-se um vaso de flores – van Gogh sabia melhor do que ninguém que, na pobreza, não há nada mais bonito.

Ok, ok. Então o problema é a teoria econômica de Lord Keynes. Mas, afinal, o que isso quer dizer? Bem, como este é um site de cultura, e não de economia, usarei dois vídeo-clipes premiados de rap (sim, rap!) do site Econ Stories. Assista-os, conheça qual é a batalha ora em vigor, e perceba que há uma saída. (São legendados em português. É preciso clicar em “CC” para ver as legendas.)

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Publicado no Digestivo Cultural.

Ayn Rand fala sobre a inveja e o feminismo

Ayn Rand, a quem faltava um parafuso espiritual deste tamanho, era ao menos tão lúcida quanto um Álvaro de Campos. Aqui ela fala sobre a inveja:

Aqui, sobre o feminismo:

Leia mais sobre Ayn Rand aqui, no Digestivo.

Contrabandeando o Grammy

A notícia é de Fevereiro de 2012, mas eu ainda não tinha me inteirado dela: o engenheiro de som Enrico de Paoli conquistou o Grammy latino de melhor disco de MPB de 2011, mas teve de pagar imposto de importação para trazer o troféu consigo. (!) Li sobre isso hoje e estou chocado até agora.

No Instituto Mises:

Enrico de Paoli é um jovem e talentoso brasileiro que acabou de ser agraciado com o prêmio Grammy americano, concedido aos melhores do mundo na arte de gravação musical. Se para nós brasileiros isso é motivo de orgulho, para o governo é apenas mais uma oportunidade de punir o mérito individual e confiscar a riqueza alheia para distribuí-la entres seus burocratas e toda a sua base de apoio.

(…) É isso mesmo. O troféu recebido por Enrico só pôde entrar no Brasil mediante o pagamento de um pedágio (que aqui adquire o eufemismo de Imposto de Importação e ICMS) para o governo. Os parasitas simplesmente atribuíram um valor qualquer para o prêmio e, em cima deste valor, acrescentaram o imposto de importação e o ICMS, o qual incide em cascata. Note que o valor pago em tributos equivale a nada menos que 88,6% do “valor imaginário” do prêmio.

Neste monumento à estupidez, é difícil escolher o que é pior:

1) O governo rotular de “importação” o simples ato de entrar no país com um prêmio recebido no exterior;

2) O governo estipular arbitrariamente um valor monetário para este prêmio e daí sair acrescentando impostos sobre este valor.

3) O governo proibir um indivíduo de possuir o seu troféu – só pode mantê-lo consigo caso pague o pedágio; se não pagar, o troféu é confiscado pela Receita Federal.

Que direito esta gente parasitária julga ter para decidir se um indivíduo pode manter consigo um objeto inanimado conquistado por mérito? Será que nem mesmo o reconhecimento internacional o brasileiro pode usufruir sem ser tungado por impostos (quase 90%) pelo governo?

Estatistas podem retrucar dizendo “Ah, mas o valor foi tão pequeno… Estão chorando à toa”. Novamente, recai-se no relativismo moral de considerar que o que importa não é o ato em si, mas apenas o valor do roubo.

Tal raciocínio, aliás, nos leva a um caminho surpreendente. Por exemplo, e se o prêmio fosse algo de valor monetário monumental, o qual o premiado tivesse a intenção de doar a instituições de caridade? Qual seria o incentivo para ele “importar” esse prêmio para o Brasil e pagar 90% do seu valor para o governo? Ele estaria, na prática, pagando ao governo para fazer uma caridade. Consequentemente, é razoável imaginar que tal prática não ocorreria, dado o custo de impostos com o qual o benfeitor teria de arcar.

Ademais, não faz nenhum sentido limitarmos esta revolta unicamente a este caso. Remédios, por exemplo, são muito mais importantes do que um Grammy (que nos desculpe o Enrico). Por que ninguém se exaspera com o fato de alguns remédios essenciais terem sua importação banida pela ANVISA (como aconteceu com nosso leitor Luis Almeida, que teve sua propriedade roubada na Alfândega), ao passo que sobre outros igualmente essenciais recaem impostos de importação insanos? Da mesma maneira, por que um sujeito não pode trazer equipamentos eletrônicos sem ter de prestar uma “contribuição compulsória” para os burocratas? Por que não se pode trazer um uísque sem ser financeiramente punido por isso?

Como já dizia um amigo meu, “prefiro ter um filho contrabandista a ter um filho fiscal da Receita Federal – morreria de vergonha!”

Leia o restante do artigo aqui.
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Publicado no Digestivo Cultural.

Monteiro Lobato fala sobre o parasita que suga a nação brasileira

Monteiro Lobato

Eu já havia postado minha própria leitura (áudio) da crônica abaixo no meu ex-blog. Agora, segue o próprio texto.

Novo Gulliver

Há lembranças da meninice que jamais se apagam do cérebro adulto, mesmo quando esse receptador de impressões não consegue, por fraqueza senil, reter as da véspera. Lembro-me de um cromo de vivas cores que vi aos cinco anos, reclame da linha de coser Coat, e não me lembro dos desenhos alegóricos a Cristo publicados nos jornais da última sexta-feira santa. Representava aquele cromo um gigante estirado à borda do mar e enleado de mil fios de linha Coat; em redor formigava a legião dos pigmeus amarradores. De mãos à cintura, muito contentezinhos, confundiam a imobilidade do gigante, consequência do bom sono que dormia, com a imobilidade da mosca enleada por mil voltas da teia de aranha.

Mais tarde, quando chegou o belo tempo dos livros de Grimm, Andersen e outros maravilhadores da imaginação infantil, travei conhecimento com Jonathan Swift e tive a explicação do meu cromo de Coat. Representava Gulliver no país de Liliput, amarrado durante o sono por mil cordas liliputianas. Mas Gulliver acordou, estirou os músculos e com um simples espreguiçamento rompeu, com grande assombro dos locais, toda a amarrilhoca que o prendia.

Quem trepa a um Corcovado imaginário e de lá procura ver em conjunto o Brasil, espanta-se da sua atitude. É um gigante deitado e amarrado. Mas não dorme; estertora com a respiração opressa e faz desordenados movimentos convulsivos para romper o cordame enleador.

O Gulliver sul-americano principiou a ser amarrado pelos portugueses, quando Portugal descobriu que em suas veias circulava ouro, o sangue amarelo; e desde aí até hoje os homens do cipó, vulgo homens do governo, outra coisa não fizeram, federal, estadual, municipalmente, senão dobrar cipós, cordas e fios de arame sobre seus membros para que, a salvo de pontapés, possam sugá-lo com suas trombinhas de percevejo.

Portugal só organizou uma coisa no Brasil-colônia: o Fisco, isto é, o sistema de cordas que amarram para que a tromba percevejante sugue sem embaraços. Quem lê as cartas régias e mais literatura metropolitana enche-se de assombro diante do maquiavélico engenho luso na criação de cordas. Cordas trançadas de dois, de três, de quatro ramais; cordas de cânhamo, de crina, de tucum, de tripa; cordas estrangulatórias de espremer o sangue amarelo e cordas de enforcar.

E assim foi até que um português de gênio impulsivo se condoeu da triste sorte do gigante e cortou o cordão umbilical que o prendia à Metrópole: corda mestra, corda mãe de toda a linda coleção de cordas fiscais secundárias. E o gigante respirou e viveu feliz, sobretudo no meio século de "compreensão" que o magnânimo filho do primeiro Pedro houve por bem outorgar-lhe.

Mas não há felicidade que dure mais de meio século. Uns bacharéis formados pela universidade da Lua e uns generais tentados pela serpente da traição implicaram-se com a velhice do príncipe magnânimo, acusaram-no de saber quatorze línguas, de assistir a exames de meninos, de boicotar com um célebre lápis azul os maus juízes, em vez de fazer as coisas interessantes que, quatrienalmente, postos no lugar do velho sábio, eles, bacharéis e generais, fariam. E deportaram-no; meteram-no a bordo dum mau navio e:

— "Vai ninar os netos de Victor Hugo. Tu não entendes de lidar com o gigante."

O bom velho partiu e os bacharéis e generais, a olharem-se uns para outros, sorridentes e gozosos, tomariam conta da casa.

Não diremos aqui das consequências inúmeras da mudança; basta que as sintamos todos os dias como o suplício da gota d’água; diremos somente da coisa capital que a república fez, faz e continuará a fazer. Estomagada com a liberdade de movimentos do bom gigante, resolveu amarra-lo de novo. Foi às cartas régias da Metrópole e ressuscitou uma a uma todas as cordas fiscais rompidas pelos Pedros; recompo-las e recomeçou a enlear pachorrentamente o pobre Gulliver. Amarra os braços, amarra as pernas, amarra as mãos; amarra, amordaça a boca para que não grite – e foi-se a Constituição; amarra os olhos para que não veja – e lá se foi a imprensa.

Sobre o corpo de Gulliver desceram todos os arrochos. Não bastaram os cipós e cordas de invenção lusa; importaram-se cabos de aço, torniquetes complicadíssimos, borzeguins medievais remodelados pela engenhosidade moderna. O Fisco tornou-se o objetivo supremo de todas as suas altas cogitações. Anualmente se reúnem, durante meses, centenas de técnicos cuja função é uma só: inventar novas torturas fiscais, novos aparelhos de sarjar as cames e extorquir sangue à vítima.

Gulliver estertora. Todas as suas forças emprega-as ele em defender-se das cordas e ventosas que o Congresso torce e engenha. O Santo Ofício virou um marquês de Sade repartido em bancadas; não se contenta em tirar sangue, há que tirá-lo da maneira mais dolorosa, da maneira mais incômoda, da maneira mais lesiva ao organismo do bom gigante. A invenção do novo borzeguim – imposto da renda – excede a tudo quanto saiu da cabeça dos inquisidores: a vítima ignora o que tem de pagar e se não paga com exatidão incide em pena de confisco! E se em desespero de causa pede ao Fisco que lhe explique o mistério, que lhe de a chave vertical e horizontal do quebra-cabeças, o marquês de Sade sorri e responde diagonalmente:

– Pague com cheque cruzado, e explica com grande ironia de detalhes como se toma de uma régua, duma pena molhada em boa tinta e como se cruza um cheque.

Não há criatura neste país que não confesse um desânimo infinito. As energias do homem que trabalha e produz despendem-se por três quartos na luta contra a escolástica e o sadismo da cipoeira fiscal; sobra-lhe uma pequena parte para dedicar à sua indústria. Até esforço muscular dos dedos o sadismo do fisco lhe rouba. Pela manhã, ao acender o primeiro cigarro, tem que gastar o esforço de duas unhadas para romper o selo com que o fisco tranca as caixas de fósforos e os maços de cigarro…

Este engenhoso sistema de tortura tem em vista uma coisa só: permitir que sobre o corpo do gigante a vermina duma parasitalha infinita engorde em dolce far niente, como o carrapato engorda no couro do boi pesteado.

Vermina ininteligente! Consultasse ela os carrapatos e receberia deles um conselho salutar:

– "É perigoso levar a sucção a grau extremo; morre o boi, e com ele a parasitalha."

Será que nem o instinto da conservação própria consiga meter um raio de inteligência nos miolos do Triatoma megista, nome científico do que vulgarmente chamamos governo brasileiro?

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Monteiro LobatoNa antevéspera – 1946.

Jesus fala sobre misericórdia, justiça, autodefesa e não-resistência

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Trecho do Documento 133, intitulado O Retorno de Roma, do Livro de Urântia:

Um incidente muito interessante ocorreu, em uma tarde, no acostamento da estrada, quando eles se aproximavam de Tarento. Viram um jovem rude intimidando brutalmente um outro menor do que ele. Apressando-se a ajudar o menino atacado, quando o havia resgatado, Jesus permaneceu apenas segurando apertadamente o ofensor até que o menor tivesse escapado. No momento em que Jesus liberou o pequeno brigão, Ganid agarrou o menino e começou a bater nele estrepitosamente, então, Jesus prontamente interferiu, para espanto de Ganid. Depois de haver contido Ganid e permitido ao menino amedrontado escapar, tão logo recuperou o fôlego, Ganid exclamou sobressaltado: “Eu não consigo entender-te, Mestre. Se a misericórdia exige que tu resgates o menino menor, a justiça não exige a punição do menino maior e que era o ofensor?” Respondendo, Jesus disse:

“Ganid, é verdade que tu não entendeste. A ministração da misericórdia é sempre trabalho do indivíduo, mas a justiça da punição é função do social, do governo ou dos grupos que administram o universo. Enquanto indivíduo sou obrigado a mostrar misericórdia; eu devia livrar o garoto atacado e, com toda firmeza, empregar a força necessária para conter o agressor. E isso foi exatamente o que fiz. Realizei a libertação do menino atacado; e esse foi o fim da ministração da misericórdia. E então, à força eu detive o agressor por um período de tempo suficiente para permitir que a parte mais fraca, na disputa, escapasse; após o que eu me retirei do caso. E não continuei, não fiz o julgamento do agressor, nem repassei o seu motivo — nem julguei tudo o que motivou o seu ataque ao seu companheiro — e não assumi executar a punição que a minha mente podia ditar como compensação justa pelo erro dele. Ganid, a misericórdia pode ser pródiga, mas a justiça deve ser precisa. Não podes discernir que não há duas pessoas que porventura concordem quanto à punição que deveria satisfazer as exigências da justiça? Um imporia quarenta chicotadas, o outro vinte, enquanto outro iria aconselhar ainda o confinamento em solitária como uma justa punição. Não vês que, neste mundo, essas responsabilidades ou deveriam ficar com o grupo ou deveriam ser administradas pelos representantes escolhidos do grupo? No universo, o julgamento é entregue àqueles que conhecem plenamente os antecedentes de todos os erros, bem como as suas motivações. Na sociedade civilizada e em um universo organizado, a administração da justiça pressupõe aplicar uma sentença justa em conseqüência de um julgamento equânime; e essas prerrogativas são dadas aos grupos jurídicos dos mundos e aos administradores todo-cientes dos universos mais elevados de toda a criação”.

Durante vários dias eles conversaram sobre a questão da manifestação da misericórdia e da administração da justiça. E Ganid, ao menos em uma certa medida, compreendeu por que Jesus não queria entrar em combate pessoalmente. Ganid, no entanto, fez uma última pergunta, para a qual ele nunca recebeu uma resposta totalmente satisfatória; e essa pergunta foi: “Mas, Mestre, se uma criatura mais forte e de temperamento maldoso te atacasse e ameaçasse destruir-te, o que farias? Não farias nenhum esforço para defender-te?” Embora Jesus não pudesse plena e satisfatoriamente responder à pergunta do jovem, porquanto ele não estava querendo revelar-lhe que ele (Jesus) estava vivendo na Terra como a exemplificação do amor do Pai do Paraíso, para um universo que a tudo assistia; ainda assim, ele disse o seguinte:

“Ganid, posso entender bem o quanto te deixam perplexo algumas dessas questões e vou esforçar-me para responder à tua pergunta. Primeiro, em todos os ataques que poderiam ser feitos à minha pessoa, eu determinaria se o agressor seria ou não um filho de Deus — meu irmão na carne — e, se eu achasse que uma tal criatura fosse desprovida de juízo moral e de razão espiritual, eu defenderia sem hesitar a mim próprio com toda a capacidade dos meus poderes de resistência, a despeito das conseqüências para o atacante. Mas, eu não agrediria assim a um irmão que tenha o status de filiação, nem mesmo em autodefesa. Isto é, eu não o puniria precipitadamente e sem julgamento por uma agressão contra mim. Por todos os meios possíveis eu procuraria impedir e dissuadi-lo de fazer aquele ataque; e faria tudo para mitigá-lo caso eu fracassasse em evitá-lo. Ganid, eu tenho confiança absoluta nos cuidados do meu Pai celeste; e estou consagrado a fazer a vontade do meu Pai no céu. Não acredito que nenhum mal real possa sobrevir a mim, não acredito que o trabalho da minha vida possa ser ameaçado por qualquer coisa que os meus inimigos possam desejar que aconteça a mim, e certamente não há nenhuma violência dos nossos amigos a ser temida. Estou absolutamente seguro de que todo o universo é amigável comigo — essa é a verdade todo-poderosa na qual eu insisto em acreditar, com uma confiança de todo o coração, a despeito de todas as aparências em contrário”.

Ganid, todavia, não ficou plenamente satisfeito. Muitas vezes eles falaram sobre essas questões; e Jesus contara a ele algo das suas experiências de infância e também sobre Jacó, o filho do pedreiro. Ao saber como Jacó se propusera a defender Jesus, Ganid disse: “Oh, eu começo a perceber! Em primeiro lugar muito raramente qualquer ser humano normal iria atacar uma pessoa tão boa como tu és e, mesmo que alguém seja tão irrefletido a ponto de fazer tal coisa, há de haver muito certamente algum outro mortal à mão que acorrerá em tua proteção, do mesmo modo que tu sempre acorres em defesa de qualquer pessoa que tu percebes estar em aperto. No meu coração, Mestre, eu concordo contigo, mas na minha cabeça eu ainda acho que se eu tivesse sido Jacó, eu teria gostado de punir aqueles irmãos rudes que ousaram atacar-te só porque sabiam que tu não irias defender-te a ti mesmo. Eu presumo que tu estás a salvo o suficiente nessa tua jornada pela vida, já que passas grande parte do teu tempo ajudando aos outros e ministrando aos teus semelhantes em desespero — bem, muito provavelmente haverá sempre alguém à mão para defender-te”. E Jesus retorquiu: “Esse teste ainda está para acontecer, Ganid, e, quando vier, nós teremos que nos conformar com a vontade do Pai”. E isso foi tudo o que o jovem pôde levar o seu Mestre a dizer sobre essa questão difícil, da autodefesa e da não-resistência. Numa outra ocasião ele conseguiu tirar de Jesus a opinião de que a sociedade organizada tinha todo o direito de empregar a força para o cumprimento dos seus mandados de justiça.

Fonte: The Urantia Book.

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