palavras aos homens e mulheres da Madrugada

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O psiquiatra R. D. Laing fala sobre a experiência da loucura

R. D. Laing

« Quando a pessoa enlouquece, ocorre uma profunda transposição de sua posição em relação a todos os domínios do ser. Seu centro de experiência desloca-se do ego para o Self. O tempo mundano torna-se simples anedota, só importa o que é eterno. Contudo, o louco está confuso. Mistura ego com Self, interior com exterior, natural com sobrenatural. No entanto, pode ser com freqüência para nós, mesmo através de sua profunda infelicidade e desintegração, o hierofante do sagrado. Exilado do cenário do ser como o conhecemos, ele é um estranho, um alienígena, acenando para nós do vácuo onde está mergulhando, um vácuo talvez povoado de presenças que nem sequer suspeitamos.»

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« ¿Será a esquizofrenia uma fuga bem sucedida à adaptação a um tipo de ego?»

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« A loucura não precisa ser um colapso total. Pode ser também uma abertura. É potencialmente libertação e renovação, assim como escravização e morte existencial.»

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« Quando o novo ser humano chega aos quinze anos, mais ou menos, já se transformou num ser parecido conosco: uma criatura meio demente, mais ou menos adaptada a um mundo louco. Tal é a normalidade na época presente.»

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« Pois sem o que é interior, o externo perde o seu sentido, e sem o externo, o interior perde a substância.»

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« O nada, como experiência, surge como ausência de alguém ou de alguma coisa: ausência de amigos, relações, prazer, sentido da vida, idéias, alegria, dinheiro. Aplicado às partes do corpo, é ausência de seio, pênis, conteúdo bom ou mau; é o vazio. A lista é, em princípio, infindável.»

(…)

« A condição de alienação, o estar adormecido, inconsciente, fora de si, é a condição do homem normal. A sociedade valoriza altamente o homem-normal, educa as crianças de modo a perderem-se e a tornarem-se absurdas, sendo assim normais. Homens normais mataram talvez 100.000.000 de seus semelhantes normais nos últimos cinqüenta anos. O comportamento é uma função da experiência. Agimos segundo nossa maneira de ver as coisas. Se nossa experiência for destruída, nosso comportamento será destrutivo. Se nossa experiência for destruída, perdemo-nos a nós mesmos.»

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« Ou eu estou ouvindo, ou eu estou louco.» [Raciocínio do esquizofrênico ao ouvir vozes.]

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« O que ocorre então é uma viagem: I) de fora para dentro; II) da vida para uma espécie de morte; III) do progresso para um regresso; IV) do movimento temporal para a imobilidade temporal; V) do tempo mundano para o tempo eônico; VI) do ego para o Self; VII) do lado de fora (pós-nascimento) de volta ao seio de todas as coisas (pré-nascimento); e então, subsequentemente, uma viagem de regresso: 1) do interior para o exterior; 2) da morte para a vida; 3) do movimento retroativo para o movimento novamente progressivo; 4) da imortalidade de volta à mortalidade; 5) da eternidade de volta ao tempo; 6) do Self para um novo ego; 7) de uma fetalização cósmica para um renascimento existencial.»

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« Existem súbitos e aparentemente inexplicáveis suicídios que precisam ser compreendidos como o despertar de uma esperança tão horrível e arrasadora que se torna insuportável.»

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« “É” como nenhuma-coisa é aquilo pelo qual todas as coisas são. E a condição da possibilidade de qualquer coisa ser é estar em relação com aquilo que não-é. O que vale dizer que a base de todos os seres é a relação entre eles.»

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« Para ser louco não é necessário ou obrigatório estar doente, embora em nossa cultura as duas categorias se confundam.»

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« Se existisse apenas a minha consciência, então há validade para a minha vontade.» [Confrontar com a afirmação de Ivan Karamázov, personagem de Dostoiévski: “Se Deus não existe, tudo é permissível”.]

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« Entre médicos e padres deveria haver alguns orientadores que retirassem a pessoa deste mundo e a introduzissem no outro. Que a  orientassem dentro dele e a conduzissem de volta.»

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« O “ego” é o instrumento para se viver neste mundo. Se ele se romper, ou for destruído (pelas invencíveis contradições de certas situações na vida, por meio de toxinas, alterações químicas, etc.), então a pessoa talvez fique exposta a outros mundos, “reais” de diferentes maneiras, da esfera mais familiar dos sonhos, da imaginação, da percepção ou da fantasia. O mundo que se penetra, a nossa capacidade para experienciá-lo, parece estar em parte condicionado ao estado do próprio ego.»

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« Fenomenologicamente, os termos interior e exterior têm pouca validade.»

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« Em parte alguma da Bíblia existe qualquer debate relativo à existência de deuses, demônios, anjos. As pessoas não ‘crêem em Deus’, para começar`: sentem a sua Presença, como ocorre com outros agentes espirituais. A questão não era a existência de Deus, mas se este Deus em particular era o maior de todos, ou o único, e qual a relação dos vários agentes espirituais, uns com os outros. Existe hoje um debate público, não com respeito à autenticidade de Deus, ao lugar atribuído na hierarquia espiritual aos diferentes espíritos, etc., mas se Deus ou esses espíritos chegam a existir, ou jamais existiram.»

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« Precisamos de uma história dos fenômenos e não apenas mais fenômenos históricos.»

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« Vivemos num mundo secular. Para adaptar-se a este mundo a criança renuncia ao seu êxtase. (“L’enfant abdique son extase”, Mallarmé).»

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[Na loucura] « A perda do ego pode ser confundida com a morte física.»

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« ¿Não vemos que não é desta viagem que precisamos curar-nos, mas que ela é, em si mesma, um meio natural de curar o nosso espantoso estado de alienação chamado normalidade?»

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« Seria desejável que a sociedade estabelecesse locais com a finalidade expressa de ajudar pessoas a vencerem as tempestades de uma viagem assim.»

 

Do livro A Política da Experiência e A Ave do Paraíso, de R. D. Laing.

Anos atrás, após ter lido esse livro, aproveitei-me de uma experiência pessoal e escrevi o conto Genus irritabile vatum. ;^D

Amar um escritor (ou músico, ator… hum? empreendedor?!)

Jack Kerouac

Jack Kerouac: Bonito, charmoso, mas…

Por Steven Pressfield.

¿Você está apaixonada por um escritor? ¿Tem certeza? ¿Está segura de que não quer tentar alguém mais fácil de lidar, tal como um peão de rodeio, um soldado do BOPE ou um dublê especialista em cenas com motos?

Dito isto, eis algumas orientações, nascidas da dolorosa experiência, para aquelas que tenham dado seu coração aos servidores da Musa literária. (As seguintes observações se aplicam igualmente, é claro, a atores, artistas, músicos, comediantes, empreendedores e a todos os demais membros desta espécie particularmente tumultuosa.) Caras amantes, por favor, mantenham em mente o que segue:

1) Escritores não são normais.

E.L. Doctorow considera a arte literária uma “forma socialmente aceitável de esquizofrenia”. O que ele quer dizer é que artistas e empreendedores são um pouco malucos. Eles ouvem a música que o restante de nós não consegue ouvir. E às vezes a busca dessa música os leva para longe de seu mais amável e gentil Eu. Nós devemos exercitar a paciência quando amamos artistas. Eles são conduzidos por forças que não entendem e não podem controlar.

2) Escritores vivem em suas cabeças.

O que é divertido para pessoas normais — paraquedismo, digamos; um final de semana em Aruba — não significa nada para seu escritor. A diversão dele está em sua própria cabeça. Um épico está sendo projetado dentro dela e ela está tomando ditado tão rápida e furiosamente quanto lhe é possível. “Quando trabalho, relaxo”, dizia Picasso. “Não fazer nada… me deixa cansado.”

O princípio unificador sob essa doideira artística é que escritores/artistas/empreendedores estão lutando contra a Resistência [conceito apresentado por Pressfield em seu livro A Guerra da Arte] — e com a inspiração. Eles caminham na corda-bamba sobre um desfiladeiro ardente de 300 metros de profundidade, simultaneamente duelando com o diabo e cortejando a divina oponente deste — a inspiração, a mágica, o “fluxo”.

3) Escritores não são governados pela razão.

Nós imaginamos que artistas e empreendedores são inteligentes, até mesmo brilhantes. Mas na verdade eles estão atuando por instinto e com os nervos à flor da pele. Não se deixe enganar por seu domínio da câmera Panavision 3D ou sua habilidade de dar seqüência a uma dúzia de sentenças completas. Eles estão patinando sobre gelo quebradiço. “Cada vez que escrevo um livro, todas as vezes que encaro aquele caderno de anotações”, disse Maya Angelou, “eu penso, ‘Nossa, agora eles vão me desmascarar’.”

¿Como lidar com um artista? Como um treinador trata um cavalo de corrida. Lembre-se, você é a única com a tabela de alimentação e o cronômetro. Sua montaria ficará com o coração derretido por você se ele souber que você se importa e que você o deixará, e até mesmo o ajudará a, disputar sua corrida.

4) Escritores são primitivos.

¿Você já leu Crônicas, livro de memórias de Bob Dylan? O relato sobre como Mister D junta as peças para formar um álbum soa como a saga de um xamã do Neolítico planejando para sua tribo a caça outonal a um mastodonte.  Deuses e monstros aparecem; jornadas épicas são realizadas; incensos e encantamentos são oferecidos. Comparado ao método de trabalho de Dylan, Hunter Thompson parece um modelo de ordem civilizada.

Artistas e empreendedores requerem a supervisão de adultos. Não importa o quão eloquentemente eles apresentem seu caso, por baixo eles estão numa intensa batalha, como você, para encontrar e manter seu equilíbrio emocional. Eles são inseguros, grandiosos, ciumentos, fascinantes, volúveis, românticos.

¿Você é um artista? Dê uma folga à sua parceira. Amá-lo não é um dia de sol na praia. Você é um mala, querido.

Tente visitar o planeta Terra tão frequentemente quanto possível e, quando você vier, vá acampar por uns tempos. Esteja realmente presente. Ouça de verdade. Lembre-se que sua namorada / namorado/ esposa tem de lidar com o fato de que você está servindo a Musa. Sua companheira se aflige ao sentir que é a número 2 em seu coração. Tranqüilize-a. Sexo, flores, espumantes levam a um bom caminho.

Lembre-se que sua parceira pode ser tão insegura, grandiosa, ciumenta, fascinante, volúvel e romântica quanto você.

5) Uma última palavra aos amantes de artistas.

Antes de tudo, ¿por que alguns de nós sentem-se atraídos por artistas? Buscamos nos aproximar da mágica? ¿Estamos intoxicados com o poder de nosso cônjuge para produzir maravilhas com fumaça azulada, cabelos longos e uma Fender Stratocaster?

Dois avisos: se você pretende se aproximar daquela mágica por causa do ímpeto e do burburinho, esteja pronta para pagar o preço.

Mas aqui vai o Principal. Se você é conduzida ao poder do seu artista por sentir que há um dom similar dentro de si mesma, mas você não sabe o que fazer (ou falta a coragem) para acessá-lo, pare e pense bem. Esse frio na barriga pode não ser amor. Pode ser a Resistência. Sua própria Resistência retendo, com mãos frias, seu único, autêntico e ainda-latente dom.

Neste caso, o amor pode ser, para ambos, um choque frontal de trens. Em vez disso, seja amiga do seu artista — e faça seu próprio trabalho.

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Fonte: Loving A Writer By STEVEN PRESSFIELD.
Traduzido por Yuri Vieira.

Apenas um comentário: achei bastante singular o fato de Steven Pressfield incluir na categoria de escritores/artistas a figura do entrepreneur (empreendedor, empresário). Num país como o Brasil onde 100 milhões de habitantes, por intermédio do Estado, vivem às custas dos outros cerca de 84 milhões, ser um empreendedor é como ser Vincent van Gogh. É possível até imaginar as angústias, o desespero e talvez mesmo a tragédia de tentar ser um empresário, de tentar começar de baixo e vencer pelo próprio esforço e mérito. (Bom, eu tentei, mas não o suficiente para arrancar a orelha.) Tantos impostos — para bancar essa gente toda –, tantos encargos e leis trabalhistas esdrúxulos, tudo em nome da idéia de “distribuição de renda”, que não faz senão criar uma nova elite: a elite dos que se penduram nas tetas do Estado sem nada produzir, sem nada criar, sem nada arriscar. Como se a vida não fosse, como diria Riobaldo (Grande Sertão: Veredas) como se a vida não fosse um “descuido prosseguido”. E o pior é que nem eu mesmo, por mais que tente, consigo escapar disso: quase todo trabalho que me chamam para fazer em vídeo — enquanto roteirista e diretor —  é ou para o governo ou bancado com alguma “lei de incentivo”. (É assim fora do circuito Rio-São Paulo, o qual, em época de eleições, também “lava a sua égua.”) E o pior: sempre que vou à bancarrota sou obrigado a “me virar nos trinta”. No Brasil, se você não é burocrata, se não é funcionário do Estado, no curto e médio prazos está perdido. Porque no longo prazo a pirâmide irá ceder: não é possível sugar tanto a tantos por tanto tempo.  Os empreendedores brasileiros — e aqui estão incluídos até mesmo os camelôs — dão o sangue para pintar girassóis, mas os demais querem apenas saber o quanto irão embolsar do preço do quadro…

Vintila Horia fala sobre a psicanálise

Vintila Horia

« É evidente que a psicologia, sobretudo a freudiana — e Jung pressentiu-o logo desde o primeiro encontro com Freud — se transformou, com o tempo, numa filosofia, no sentido mais vulgar do termo. O homem para quem “Deus morreu”, como reza o desespero contemporâneo, tem que se refugiar numa algaravia. E aquele que não se quer politizar, ou vender a alma ao diabo, põe-se a acreditar na psicanálise ou nos seus sacerdotes. É todo um culto laico, engendrado por um profeta do século XX, de cuja propaganda se encarregaram, pelo menos ao princípio, as mulheres, como acontece na fase inicial de todas as religiões.»

Vintila Horia, em Viagem aos Centros da Terra.

Viktor Frankl fala sobre a busca de sentido (entrevista)

Primeira parte:

Segunda parte:


Viktor Emil Frankl
(Viena, 26 de março de 1905 — 2 de setembro de 1997) foi um médico e psiquiatra austríaco, fundador da escola da Logoterapia, que explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência. Saiba mais.

Reencarnação: uma paródia da Vida Eterna?

Roda da fortuna

Outro comentário do “Caro Amigo Desconhecido”, aliás, ex-desconhecido, ao menos para mim, já que apenas este ano vim a saber tratar-se de Valentin Tomberg:

« Preparar-se para uma vida terrestre futura, em lugar de se preparar para a Eternidade, vem a ser a cristalização no sentido da formação do ‘duplo etérico’ — do corpo do fantasma — que, por sua vez, poderia servir de ponte entre uma encarnação e outra e constituir o meio de se evadir do purgatório e de se evitar o confronto com a Eternidade. É necessário preparar-se, durante a vida terrestre, para o encontro com a consciência completamente despertada — o que é o purgatório — e para a experiência da Presença do Eterno — o que é o Céu — e não para a vida futura terrestre, o que seria a cristalização do ‘corpo do fantasma’. É mil vezes melhor nada saber sobre o fato da reencarnação e até negá-la do que voltar os pensamentos e os desejos para a vida futura terrestre e ser tentado a recorrer aos meios oferecidos pela promessa da imortalidade feita pela Serpente.»

(…)

« A Serpente do Gênesis não mentiu [sobre o fruto da árvore], ela opôs à imortalidade divina outra imortalidade, a da cristalização de baixo para cima ou da ‘Torre de Babel’. E apresentou programa temerário, mas real e realizável, com vistas a uma humanidade que seria composta dos vivos e dos fantasmas, reencarnando-se esses últimos quase imediatamente e evitando o caminho que leva ao Céu, passando pelo purgatório.»

Em outro capítulo, no qual discorre sobre o arcano “A Roda da Fortuna”, Tomberg fala sobre o Sabbath, mostrando como o “sábado” (o “sétimo dia”) seria uma abertura para a Eternidade na Roda do Tempo, isto é, seria a forma pela qual o tempo cíclico terrestre se transforma na espiral ascendente em direção à Divindade.

É possível, também, fazer uma analogia entre o Sabbath e o Dia Fora do Tempo do Calendário Maya. Colocando à parte os pseudo-esoterismos ligados a esse último, e estudando-o sem preconceitos, torna-se patente sua superioridade em termos de matemática e astronomia. Para o calendário Maya, não são necessários “anos bissextos” para corrigir o desvio padrão na contagem do tempo. O calendário leva em conta o movimento das galáxias, apresentando o transcorrer do tempo como uma espiral e não como um círculo fechado. O Dia Fora do Tempo é o dia que não pertence nem ao ano passado nem ao ano novo; é aquele dia em que o círculo se abre dando início a um novo anel na espiral. No entanto, esperar que esse simples fato matemático abra automaticamente a mente do ser humano à Eternidade não passa de ingenuidade. É necessário uni-lo ao simbolismo do Sabbath, é necessário uma intencionalidade, uma abertura voluntária. Tal como afirma o Livro de Urântia, “a sobrevivência eterna da personalidade depende inteiramente da escolha da mente mortal, cujas decisões determinam o potencial de sobrevivência da alma imortal”.

Em suma: quem não se dedica regularmente à meditação ou adoração de Deus, corre o risco de ficar preso no Eterno Retorno do tempo terrestre, espiritualmente estagnado. Aliás, se você for católico e, por isso, achou estranha a afirmação de que a reencarnação é um fato, devo lembrá-lo(a) que o trecho acima foi retirado do livro Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô, publicado pela Paulus Editora, com prefácio do teólogo Hans Urs von Balthasar, amigo de Joseph Ratzinger (Bento XVI). (Veja o livro na mesa de João Paulo II.) Apenas isso já dá o que pensar…

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