Eis o tipo de mensagem que um escritor espera de ao menos um em cada cem de seus leitores:

Fri, Feb 6, 2009 at 7:14 PM

Olá Yuri,

Quem lhe escreve é Eduardo, 18 anos, natural e morador de Brasília.

Terminei há pouco de ler o seu livro “A Tragicomédia Acadêmica“, e gostaria de expressar os meus agradecimentos.

Como um jovem que, mesmo decepcionado, tenta passar na UnB, pude me identificar com várias das estórias contadas. Corroborando uma afirmação sua sobre a obra, pude ver, junto a alguns trechos beirando ao absurdo — e nesse conflito reside a excelência do texto –, incrivelmente, uma fiel representação da realidade. “Matando um Mosquito Com um Tiro de Canhão“, em especial, contém tudo o que gostaria de ter dito, mas não tinha a sabedoria, a coragem e nem o conhecimento, sobre um cursinho pré-vestibular, o próprio vestibular e a educação em geral.

A propósito, percebi em seus textos, e embora isso deva valer pouco vindo de um ignorante como eu (e agora um pouco menos graças a você), uma grande riqueza de conhecimentos, contida em tão pequeno espaço, coisa que nunca vi em crônicas de um Luís F. Veríssimo, por exemplo.

E falando em ignorância, para você ver, jamais teria percebido as inúmeras alusões feitas à mitologia grega se, voluntariamente e por mero acaso, não tivesse lido logo antes “O Livro de Ouro da Mitologia”, de Thomas Bulfinch, pois os que se faziam de professores não me ensinaram nada sobre isso quando fingia de conta que era estudante.

No momento, tento recuperar o tempo perdido, e esse livro foi um dos primeiros, tomara, de muitos outros.

Muito Obrigado.
Eduardo C. — eduardco[arroba]gmail[ponto]com

Este é o trecho importante: “contém tudo o que gostaria de ter dito”. Sim, pois o escritor deve expressar justamente aquilo que o leitor ainda não havia verbalizado, aquilo que em seu campo mental não era senão possibilidade — e apenas por isso o leitor não o tinha dito por si mesmo. O escritor é aquele que traz certos fatos e certas possibilidades à consciência, tornando pensável o que antes não era senão pressentido. É aquele que, com a imaginação alerta, em meio a tempestades e ao jogo do navio, permanece aboletado no cesto da gávea. O escritor é aquele marinheiro que grita “terra à vista!”.

Enfim, uma carta contendo esta observação é a carta esperada. Claro, também chegam aquelas com críticas ferrenhas que, a seu modo, fazem tão bem quanto. Há coisas que nos motivam, há outras que nos fortalecem.

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