palavras aos homens e mulheres da Madrugada

Tratado sexual árabe: “O Jardim das Delícias”, do Xeque Nefzaui

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« Graças sejam dadas a Deus, que situou nas partes naturais da mulher os maiores prazeres do homem, assim como localizou nas partes naturais do homem o maior deleite da mulher.

« Deus não dotou as partes da mulher de nenhum sentimento de prazer ou satisfação, senão quando penetradas pelo instrumento do macho; e, da mesma forma, os órgãos sexuais do homem não conhecem repouso nem tranqüilidade até haverem entrado nos da fêmea.

« Daí, a mútua operação, que tem lugar nos desforços físicos, nos entrelaçamentos, em uma espécie de conflito animado entre os dois atores. Em virtude do contato entre os dois púbis, logo vem o prazer. O homem trabalha como se socasse uma mão de pilão, enquanto a mulher o secunda com movimentos lascivos; finalmente, chega a ejaculação.

« O beijo na boca, nas duas faces, no pescoço, assim como o sugar de uns lábios frescos, são dádivas de Deus, destinadas a provocar ereção no momento propício. Foi Deus, também, quem embelezou o colo da mulher com seios, quem a proveu com um queixo duplo e deu brilhantes cores às suas faces.

« Também a presenteou com olhos que inspiram amor, e com pestanas que parecem lâminas polidas.

« Deus dotou-a de um ventre arredondado e um belo umbigo, e de ancas majestosas; e todas essas maravilhas são sustentadas pelas coxas. Foi entre estas últimas que Deus localizou a arena do combate; quando dispõe de carne abundante, assemelha-se à cabeça de um leão. Chama-se vulva. Oh, quantas mortes de homens jazem às suas portas? E entre eles, quantos heróis!

« Deus proveu esse objeto com uma boca, uma língua [clitóris], dois lábios; é como a marca da pata de uma gazela deixada nas areias do deserto.

« O todo é suportado por duas maravilhosas colunas, testemunhas do poder e da sabedoria de Deus; não são muito longas nem muito curtas; e embelezam-nas joelhos, pantorrilhas, tornozelos e calcanhares, sobre os quais descansam valiosos braceletes.

« Depois, o Todo-poderoso mergulhou a mulher em um mar de esplendores, voluptuosidade e deleites, e cobriu-a com vestes preciosas, com cintas brilhantes, que provocam sorrisos.

« Assim, demos graças a Ele, que criou a mulher e suas belezas, com sua carne apetitosa; que lhe deu cabelos, um rosto bonito, um colo com seios túmidos, e ademanes amorosos, que despertam o desejo.

« O Senhor do Universo conferiu-lhes o império da sedução; todos os homens, fracos ou fortes, estão sujeitos à fraqueza pelo amor da mulher. Por intermédio da mulher, temos sociedade ou dispersão, permanência em um lugar ou emigração.

« O estado de humildade em que ficam os corações daqueles que amam, e estão separados do objeto de sua paixão, faz arder com o fogo do amor esses corações; quedam oprimidos sob uma sensação de servidão, desprezo e infelicidade; sofrem sob as vicissitudes de seu sentimento; e tudo isso em conseqüência do ardente desejo de contato.

«Eu, o servo de Deus, sou-lhe grato por ninguém estar livre de apaixonar-se por uma mulher bonita, e por ninguém poder escapar ao desejo de possuí-la, seja recorrendo à mudança, à fuga ou à separação.

« Dou testemunho de que existe apenas um Deus, e que ele não tem igual. Apegar-me-ei a este precioso testemunho até o dia do julgamento final.»

Trecho de O Jardim das Delícias [também conhecido como O Jardim Perfumado], do Xeque Mohammed El Nefzaui, escrito em data imprecisa, provavelmente entre 1349 e 1433, e traduzido pela primeira vez no Ocidente por Sir Richard Francis Burton. (Alguém mais cricri irá dizer que uma tradução correta traria o vocábulo Alá, A Divindade, e não Deus – uma vez que, ao contrário de Deus, Alá não é considerado uma personalidade — mas prefiro deixar como está no meu exemplar: Deus.)

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4 Comments

  1. Telma Luz

    Interessante, esse escrito! Gostei.

  2. Felipe

    É Allah e não “Alá”, não é referente ao nome de uma divindade em particular, mas simplesmente a palavra em árabe para Deus, assim como God em inglês.

  3. Não faça isso, Felipe, trata-se de pura frescura. Eu escrevo de acordo com a grafia portuguesa e tanto o Aurélio quanto o Houaiss, assim como o Aulete e o Priberam, recomendam “Alá”. “Allah” é coisa de fresco pernóstico. Se não quer escrever Alá por que não escreve logo الله? E Alá não significa o mesmo que Deus ou God. Deus e God se referem à primeira pessoa da Trindade, ao Pai, enquanto que, no islamismo, Alá significa “A Divindade”. Ao contrário do cristianismo, para o Islã, Alá não é uma pessoa, por isso Jesus não é o Filho de Deus, por isso Alá não tem filhos e, por isso, não somos irmãos, sendo completamente indiferente, para os islâmicos, a matança de “infiéis”. Ora, “se não somos irmãos, para quê amar aos nossos inimigos?”.
    Obrigado pelo comentário.
    Abraço!

  4. Aliás, tal como Fernão Mendes Pinto, eu prefiro escrever “Mafoma” ou “Mafamede” a escrever “Maomé”. Mafamede me transmite mais verdades sobre o sujeito do que um simples Muḥammad…

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