No Facebook, foi lançada este ano uma página chamada Musas Olavettes. Sim, há mulheres lindas ali. (Já imaginou? Mulheres lindas, inteligentes e imunes a idiotas úteis? Pois é.) Até possuo um caminhão para semelhantes areias, mas ele está sem óleo diesel e eu moro longe, o que me torna, em comparação com outros homens, praticamente um rato. E gatas não dão atenção a ratos. Por isso, a única coisa que eu poderia oferecer a uma daquelas musas seria uma cantada (quase) irresistível.
Imagine a cena:
Ela estará sentada no balcão de um bar de hotel cinco estrelas, compenetrada, tomando um cappuccino enquanto lê O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Embevecido, tímido, mas me fazendo de abestalhado, eu me aproximarei e direi:
— Oi, baby — e lhe darei uma piscadela bem cafajeste.
Ela, claro, levantará uma única sobrancelha e me disparará um olhar de direita, fatal e congelante, sem mover a cabeça e sem emitir qualquer palavra. Em seguida, dará um discreto e belo suspiro de indiferença, voltando a encarar o livro e prosseguindo com a leitura. Conhecedor do meu trunfo, puxarei um banquinho e então me sentarei ao lado dela, pedindo um uísque ao barman, que obviamente me entregará a bebida com um sorriso de piedade. Aquela beldade, acreditará ele, é muito livro para minha estante.
— ¿Você não é amiga da Carolina? — perguntarei, voltando à carga.
— Não — responderá ela, num murmúrio cheio de enfado.
Eu voltarei ao silêncio, contemplando o exterior do hotel, o lindo jardim, as árvores, as palmeiras dançantes, os hóspedes que se refrescam à beira da piscina. Não deixarei o mote passar em branco.
— Você já conheceu a piscina?
Ela permanecerá muda, talvez concentrada, talvez irritada, mas plenamente decidida a me ignorar e a tomar conhecimento de coisas muito mais importantes.
Eu insistirei em puxar assunto:
— O hotel é muito chique, né. ¿Mas você notou que não tinha manteiga no café da manhã?
E ela nada, nem tchuns.
— Os caras só me trouxeram margarina — prosseguirei, com um esgar de nojo. — ¿Você sabe quais são os ingredientes da margarina?
Incapaz de conter-se, e dando vazão a seu agastamento, ela me dirá:
— Acho que você ainda não notou, mas… ¿você sabia que está me incomodando?
Vitorioso, darei meu sorriso másculo e irônico de Jim Carrey cheirado, e retrucarei:
— ¿E você sabia que Olavo de Carvalho fala de mim à página 320 do livro que você está lendo?
Ela arregalará os olhos cheia de espanto.
— Sim — continuarei — e ele nem está me detonando: está me elogiando! Verdade. E isso significa que, para você não ser uma idiota, baby, além da Carolina, da piscina e da margarina — e começarei a cantarolar —, você também precisa saber de mim! Baaaby! Baaaaby! Eu sei que é assim!! Baaaby! Baaaby! Há quanto tempo!! — E para arrematar a cantada, direi: — Veja aí meu nome, baby: página 320! E depois me mande um recado pela portaria, isto é, caso queira jantar comigo esta noite…
E, triunfante, sairei do bar, sem atentar para o fato de que será assim que conseguirei uma namorada brasileira para o João Pereira Coutinho, colunista da Folha de São Paulo, hospedado no mesmo hotel, e citado pelo Olavo no mesmo parágrafo do mesmíssimo artigo. E eu obviamente ficarei a ver navios… Mas, ora bolas, ¿que poderei fazer? Deus sabe que sou apenas um rato, um liteRato…
Alzerio Elziro
Gostei da referência a’Os Mutantes.
De fato, há um fetiche energéticos com mulheres reaças.
Elas até cheiram diferente.
Mayr Fortuna
Mas falando sério meu, cadê você, até me esquecí, poxa, volte por favor a comparecer… 🙂
Yuri Vieira
Estou na minha bat-caverna, Mayr. 🙁
Diogo Linhares
Muito legal o texto! Parabéns!
Mayr Fortuna
Mas não devia moço, não devia. Nestes tempos negros, vozes como a sua são imprescindíveis!
Paulo
kkkkkk
Muito bom !!!