Minha falecida avó materna, uma camponesa típica, costumava narrar um curioso caso sobre um peão mordido por jararaca. Ele trabalhava no pasto, sol à pino, quebrando cupinzeiros com um enxadão, quando, ao abaixar-se para arrancar ao chão um último pedaço de cupinzeiro, de um buraco de tatu lhe deu o bote uma jararaca, mordendo-o na mão esquerda. Preso por instantes nesse transe, nesse dilema de saber que, caso fizesse torniquete, perderia a mão por gangrena, caso não fizesse, morreria, decidiu então, imbuído da praticidade de homem do campo, tomar do facão que trazia à cintura e, num golpe certeiro, decepou a própria mão envenenada, envolvendo o cotoco resultante num lenço. Não satisfeito — seu desapego com as coisas do mundo lhe exigia um ato brioso —, abaixou-se, pegou com a direita a mão esquerda pelo indicador, girou-a por sobre a cabeça para lhe dar impulso, e a jogou longe. Pronto: esse problema agora era passado. E só então matou a cobra…

Não se esqueça: aquilo que a jararaca morde apodrece e, por isso, tem de ser extirpado. Se não o for, morre o corpo inteiro.

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P.S.: Como bem lembrou o amigo Paulo Briguet, escritor paranaense: “E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo inteiro seja atirado na geena.” (Mt 5,30)

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