— Eu sei que ela é linda e gente boa, não sou tapado. Quero saber é se você conhece a mãe dela.
— Ué. Por quê?
— Porque são as mães que sempre me fodem. Só por isso.
— Não sabe lidar com as distintas senhoras? Toda possível sogra é difícil mesmo.
— Não é isso, eu sempre levo numa boa: converso, sou agradável, educado e tal. As figuras é que, por mais que gostem de mim, não agüentam a pressão constante e irrefreável das mães: “Faz o quê? Artista plástico?! Tem quantos anos?!! Minha filha, tome juízo!”.
— Bom, a mãe dela é inteligente, super bacana.
— Sério?
— Sim, no bairro dela todos a adoram. Até a elegeram vereadora.
— Por qual partido?
— PSOL.
— Ih, fodeu já. Esqueceu que faço as capas daquela editora que só publica conservadores? E eu leio todo livro que lançam.
— Nossa, é mesmo.
— Por mais legal que eu seja, a mulher não vai me suportar. Já sei como é.
— Mas a garota…
— Esquece. É bom no começo, depois vem a sabotagem. Parece que há um complô entre as mães pequeno-burguesas e as mães socialistas contra os pretendentes artistas de suas filhas.
— Tá certo. Ce que sabe.
— E aquela? Eu a achei ótima também. Demos altas risadas. Conhece a mãe dela?
— Conheço. A mãe dela é surda-muda.
— Perfeito!
— Perfeito nada. Ao menos não para você.
— Por quê?
— Ela é jornalista da Carta Capital. A filha vive citando os artigos dela.
— Pô, velho. Que merda! Você me convida para cada festa! Você é esquerdista e não sabe. Ainda bem que tenho outros canais. Se eu dependesse só do seu papo de “vamos conhecer umas gatas”, eu não deixaria a ninguém o legado da minha existência.
— Ahahahahaha…
— Vamo beber! — grita. E a meia voz: — Só vai dar para fazer isso mesmo…
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Mais tarde, no Facebook…
FUCK YOU
— Yuri, você é melhor do que isso, precisa parar de escrever esses contos. Esse último que você escreveu é uma bobagem.
— Uê, meu último livro nem foi lançado ainda. Na verdade, estou terminando de revisar a revisão da editora. De qual conto você tá falando?
— Esse do artista conservador. Que besteira.
— Cara, se você nem sabe o que é um conto, por que está me criticando? Aquilo não é um conto, é um esquete de humor. E eu o escrevi de pé, numa fila de caixa eletrônico. Viu os travessões feitos com hífens duplos? Escrevi no celular, para passar o tempo.
— Mas quem te lê no Facebook…
— Quem me lê no Facebook ocasionalmente lerá inclusive peidos por escrito. Facebook não é a Paris Review.