Em 1998, pouco antes de me mudar para a Casa do Sol, a revista Bundas — lançada pelo Ziraldo no ano seguinte em oposição paródica à revista Caras — enviou um jornalista para entrevistar Hilda Hilst. Nessa entrevista, como é de praxe entre a nossa intelligentsia, foi-lhe perguntado algo sobre sexo e ela respondeu que já não atribuía tanta importância ao tema, tendo inclusive abraçado a castidade desde que completara 50 anos. Não me recordo do conteúdo exato da matéria publicada, mas me lembro bem do exemplo dado por ela para ilustrar esse desinteresse recente: certa feita, um amigo-secretário lhe pediu para usar seu banheiro privado, uma vez que o chuveiro do banheiro de hóspedes estava queimado. Minutos depois, enquanto ela se dirigia para o quarto, esse amigo surgiu à sua frente, no corredor, completamente nu, distraído, enxugando os cabelos com a toalha. Ela então olhou para o pau dele e… caiu na gargalhada. Ele, que não a havia visto, ficou deveras encabulado com aquela reação:

— O que é que foi, Hilda?

Ela apontou para o pau dele e, ainda às gargalhadas, quase sem fôlego, comentou:

— Mas é por isso?! É por causa dessa coisa que tanta gente chora pelos cantos, que tanta gente se mata? Que besteira, meu Deus!

Eu sei que amigo era esse, mas, infelizmente, a matéria foi publicada apenas em 1999, quando ele já havia se mudado da casa, e, claro, a coisa toda sobrou para mim, o novo “amigo secretário”. Durante pelo menos dois anos tive de ouvir:

— Yuri, o que a Hilda viu de tão engraçado e ridículo no seu pau?

— Não era o meu, cacete!!

— Yuri, é verdade que seu pau fez a Hilda desistir para sempre do sexo?

— Não era o meu, porra!

O lema da revista Bundas era: “Quem coloca a bunda em Caras não coloca a cara na Bundas”. Mas, caramba, precisavam colocar um pau? (Não era o meu, caralho.)