palavras aos homens e mulheres da Madrugada

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Diálogo cavernícola inesquecível

Enquanto seguíamos o Sumô, nosso gordo guia japonês — um estudante de geologia da USP —, eu e Daniel Christino, hoje professor na UFG, nos vimos numa tremenda enrascada dentro de uma das cavernas do PETAR, no Vale do Ribeira. Não me lembro se foi na Morro Preto ou se na Água Suja. (Na caverna Santana, foi tudo tranqüilo.) Lá pelas tantas, contornávamos uma imensa parede de rocha tendo um abismo à nossa frente, cujo fundo, se é que existia, desaparecia na escuridão. Íamos por uma trilha muito estreita, rente à parede, dessas que só costumamos ver em filmes do Indiana Jones ou do Senhor dos Anéis. Conforme seguíamos, a parede se inclinava sobre nós e, por isso, tínhamos de ir caminhando cada vez mais encolhidos, até que, por fim, já estávamos agachados e nos movendo de lado, de costas para a parede. A certa altura, para meu espanto, ao olhar para a esquerda, não vi mais o Sumô.

— Cadê você, Sumô?!

— Tô aqui — respondeu, sabe-se lá de onde. — Agora coloca a bunda no chão e vem se arrastando de lado. Tem um patamar aqui. E não olhe para baixo!

“Colocar a bunda no chão?”, pensei. “Isso vai contra tudo o que aprendi sobre escaladas: ‘Nunca coloque a bunda no chão! No ponga las nalgas en el suelo! Se necessário, ande como um caranguejo, etc.'”. Fiquei ali tentando decidir se ia ou não ia, já em posição de caranguejo, claro, quando então meus pés escorregaram e eu me vi realmente de bunda no chão, as pernas balançando sobre o abismo, as mãos salvadoras agarradas a umas saliências de rocha, como se eu estivesse a praticar o exercício de “tríceps na cadeira”. Tenso, de olhos arregalados, a um minuto de distância de entrar em pânico, de repente ouço o Daniel me chamar à minha direita com a maior fleuma deste mundo, como se fosse um lorde inglês:

— Yuri, será que você poderia fazer o favor de salvar a minha vida?

— Quê?! — soltei e, ao olhar na direção dele, o foco da minha carbureteira o iluminou: o cara estava na mesmíssima situação que eu.

— Daniel — comecei, a meio caminho entre o pânico e uma insuportável vontade de rir — salvo, sim, claro. Mas peraí: primeiro preciso salvar a minha própria vida!

Quando nos lembramos dessa história, damos muitas risadas, mas até hoje não consigo me lembrar como saímos da enrascada.

A experiência da paternidade e o conceito do Pai Universal

 

Paternidade

Aproveitando que hoje é dia dos pais, segue um trecho do Livro de Urântia no qual é explicitada a importância da experiência da paternidade para a compreensão de Deus enquanto Pai Universal:

« (…) Nos sete mundos das mansões, os mortais ascendentes têm amplas oportunidades de compensar todas e quaisquer privações experienciais sofridas nos seus mundos de origem, seja devido à herança, ao ambiente ou a um término prematuro infeliz da carreira na carne. Isso é verdadeiro em todos os sentidos, salvo para a vida sexual mortal e para os ajustamentos que a acompanham. Milhares de mortais alcançam os mundos das mansões sem se haverem beneficiado particularmente da disciplina derivada das relações sexuais usuais nas suas esferas de nascimento. A experiência nos mundos das mansões pouca oportunidade pode dar para compensar essas privações bastante pessoais. A experiência sexual, em um sentido físico, faz parte do passado para os seres ascendentes; entretanto, na associação estreita com os Filhos e Filhas Materiais, tanto individualmente quanto como membros das suas famílias, esses mortais sexualmente carentes serão capazes de compensar os aspectos sociais, intelectuais, emocionais e espirituais em tudo o que houverem sido deficientes. Assim, a todos aqueles humanos, a quem as circunstâncias ou o juízo errôneo houverem privado dos benefícios de ligações sexuais vantajosas nos mundos evolucionários, aqui, na capital do sistema, são oferecidas oportunidades plenas de adquirir essas experiências mortais essenciais, em associação íntima e amorosa com as supernas criaturas sexuadas Adâmicas de residência permanente nas capitais dos sistemas.

« Nenhum mortal sobrevivente, nenhum ser intermediário, ou serafim, pode ascender ao Paraíso, alcançar o Pai, nem ser incorporado ao Corpo de Finalidade, sem haver passado pela experiência sublime de estabelecer uma relação de paternidade com as crianças em evolução, dos mundos, ou sem ter alguma outra experiência análoga e equivalente. A relação entre a criança e os seus pais é fundamental para o conceito essencial que devemos ter do Pai Universal e suas crianças no universo. Portanto, essa experiência torna-se indispensável à educação experiencial de todos os ascendentes.

« As criaturas intermediárias ascendentes e os serafins evolucionários devem passar por essa experiência de paternidade, em associação com os Filhos e Filhas Materiais da sede-central do sistema. Assim, esses ascendentes não-reprodutores ganham uma experiência de paternidade, ajudando aos Adãos e Evas, em Jerusém, na criação e na educação da sua progênie.

« Todos os mortais sobreviventes que não experimentaram a paternidade, nos mundos evolucionários, devem também adquirir esse aperfeiçoamento necessário enquanto permanecem nos lares dos Filhos Materiais de Jerusém, e como pais colaboradores desses esplêndidos pais e mães. Isso é verdade, exceto no caso em que esses mortais tenham sido capazes de compensar as suas deficiências nos berçários do sistema, localizados no primeiro mundo de cultura transicional de Jerusém.

« Esse berçário probatório de Satânia é mantido por algumas personalidades moronciais no mundo dos finalitores, onde a metade do planeta se dedica a esse trabalho de educar as crianças. Aqui, algumas crianças, filhas dos mortais sobreviventes, são recebidas e recompostas, tais como aquelas que pereceram nos mundos evolucionários antes de adquirirem o status espiritual como indivíduos. A ascensão de qualquer dos seus progenitores naturais garante que a essa criança mortal dos reinos seja outorgada a repersonalização, no planeta dos finalitores do sistema; e que ali lhe seja permitido demonstrar, pelo próprio livre-arbítrio subseqüente, se fará ou não a escolha de seguir o caminho da ascensão mortal dos progenitores. As crianças, aqui, apresentam-se como no mundo do seu nascimento, exceto pela ausência da diferenciação sexual. Não há reprodução à maneira mortal, após a experiência da vida nos mundos habitados.

« Os estudantes dos mundos das mansões que têm uma ou mais crianças no berçário probatório do mundo dos finalitores, e que apresentam deficiências quanto à experiência essencial da paternidade, podem solicitar a permissão de um Melquisedeque para efetivar a sua transferência temporária, dos deveres da ascensão, nos mundos das mansões, para o mundo dos finalitores, onde lhes é dada a oportunidade de funcionar como progenitores solidários dos seus próprios filhos e outras crianças. Esse serviço de incumbência da paternidade pode ser, mais tarde, creditado em Jerusém como equivalente à metade da educação a que esses seres ascendentes devem submeter-se nas famílias dos Filhos e Filhas Materiais.(…)»

Fonte: The Urantia Book.

Fernão Mendes Pinto conta por que fugiu do Reino de Quedá

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Do que passei até chegar ao reino de Quedá, na costa da terra firme de Malaca, e do que aí me aconteceu

Ao outro dia seguinte pela manhã nos partimos deste ilhéu de Fingau, e corremos a costa do mar Oceano em distância de vinte e seis léguas, até abocar o estreito de Minhagaruu, por onde tínhamos entrado, e passados à contracosta destoutro mar mediterrâneo, seguimos nossa derrota ao longo dela até junto de Pullo Bugay, donde atravessamos a terra firme, e aferrando o porto de Junçalão, corremos com ventos bonanças dois dias e meio, e fomos surgir no rio de Parlés do reino de Quedá, no qual estivemos cinco dias surtos, por nos não servir o vento, e neles o Mouro e eu, por conselho de alguns mercadores da terra fomos ver o Rei, com uma adiá ou presente (como lhe nos cá chamamos) de algumas peças suficientes a nosso propósito, o qual nos recebeu com mostras de bom gasalhado. Neste tempo que aqui chegamos estava el-Rey celebrando com grande aparato e pompa fúnebre de tangeres, bailes, gritas, e de muitos pobres a que dava de comer, as exéquias da morte de seu pai, que ele matara às punhaladas para se casar com sua mãe, que estava já prenhe dele, e por cuidar as murmurações que sobre este horrendo e nefandissíssimo caso havia no povo, mandou lançar pregão, que sob pena de gravíssimas mortes ninguém falasse no que já era feito, por razão do qual, nos disseram aí, que por outro novo modo de tirania tinha já mortos os principais senhores do reino, e outra grande soma de mercadores, cujas fazendas mandou que fossem tomadas para o fisco, o que lhe importou mais de dois contos d’ouro, e com isto era já neste tempo que aqui cheguei, tamanho o medo em todo o povo, que não havia pessoa que ousasse soltar palavra pela boca. E porque este mouro Coja Ale que vinha comigo, era de sua natureza solto da língua, e muito atrevido em falar o que lhe vinha à vontade, parecendo-lhe que por ser estrangeiro, e com nome de feitor do Capitão de Malaca, poderia ter mais liberdade para isto que os naturais, e que o Rei lho não acoimaria a ele como fazia aos seus, sendo um dia convidado doutro Mouro que se dava por seu parente, mercador estrangeiro natural de Patane, parece ser segundo me depois contaram que estando eles no meio do banquete, já bem fartos, vieram os convidados a falar neste feito tão publicamente, que ao Rei, pelas muitas escutas que nisto trazia, lhe deram logo rebate, o qual sabendo o que passava, mandou cercar a casa dos convidados, e tomando-os a todos, que eram dezessete, lhos trouxeram atados. Ele em os vendo, sem lhes guardar mais ordem de justiça, nem os querer ouvir de sua boa ou má razão, os mandou matar a todos com uma morte cruelíssima, a que eles chamam de gregoge, que foi serrarem-os vivos pelos pés, e pelas mãos, e pelos pescoços, e por derradeiro pelos peitos até o fio do lombo, como os eu vi depois a todos. E temendo-se el-Rey que pudesse o Capitão tomar mal mandar-lhe ele matar o seu feitor na volta dos condenados, e que por isso lhe mandasse lançar mão por alguma fazenda sua que lá tinha em Malaca, me mandou logo naquela noite seguinte chamar ao jurupango onde então estava dormindo, sem até aquela hora eu saber alguma coisa do que passava. E chegando eu já depois da meia-noite ao primeiro terreiro das casas, vi nele muita gente armada com terçados, e cofos, e lanças, a qual vista sendo para mim coisa assaz nova, me pôs em muito grande confusão, e suspeitando eu que poderia ser alguma traição das que já em outros tempos nesta terra houve, me quisera logo tornar, o que os que me levavam não consentiram dizendo, que não houvesse medo de coisa que visse, porque aquilo era gente que el-Rey mandava para fora a prender um ladrão, da qual reposta confesso que não fiquei satisfeito, e começando eu já neste tempo a tartamelear, sem poder quase pronunciar palavra que se me entendesse, lhes pedi assim como pude, que me deixassem tornar ao jurupango em busca de umas chaves que me lá ficaram por esquecimento, e que lhes daria por isso quarenta cruzados logo em ouro, a que eles todos sete responderam, nem que nos dês quanto dinheiro há em Malaca, porque se tal fizermos, nos mandará el-Rey cortar as cabeças. Neste tempo me cercaram já outros quinze ou vinte daqueles armados, e me tiveram todos fechado no meio: até que a manhã começou a esclarecer, que fizeram saber a el-Rey que estava eu ali, o qual me mandou logo entrar, e só Deus sabe como o pobre de mim então ia, que era mais morto que vivo. E chegando ao outro terreiro de dentro, o achei em cima de um elefante, acompanhado de mais de cem homens, afora a gente da guarda, que era em muito mor quantidade, o qual quando me viu da maneira que vinha, me disse por duas vezes, jangão tacor, não tenhas medo, vem para cá, e saberás o para quê te mandei chamar, e acenando com a mão fez afastar dez ou doze daqueles que ali estavam, e a mim me acenou que olhasse para ali, eu então olhando para onde ele me acenava, vi jazer de bruços no chão muitos corpos mortos, todos metidos num charco de sangue, um dos quais conheci que era o mouro Coja Ale feitor do Capitão que eu trouxera comigo, da qual vista fiquei tão pasmado e confuso, que como homem desatinado me arremessei aos pés do elefante em que el-Rey estava, e lhe disse chorando, peço-te senhor que antes me tomes por teu cativo, que mandares-me matar como a esses que aí jazem, porque te juro à lei de Cristão que o não mereço, e lembro-te que sou sobrinho do Capitão de Malaca, que te dará por mim quanto dinheiro quiseres, e aí tens o jurupango com muita fazenda, que também podes tomar se fores servido; a que ele respondeu, valha-me Deus, como? tão mau homem sou eu que isso faça? não hajas medo de coisa nenhuma, assenta-te e descansarás, que bem vejo que estás afrontado, e depois que estiveres mais em ti te direi o porquê mandei matar esse mouro que trouxeste contigo, porque se fora Português, ou Cristão, eu te juro em minha lei que o não fizera, inda que me matara um filho; então me mandou trazer uma panela com água, de que bebi uma grande quantidade, e me mandou também abanar com um abano, em que se gastou mais de uma grande hora. E conhecendo ele então que estava eu já fora do sobressalto, e que podia responder a propósito, me disse, muito bem sei Português que já te diriam como os dias passados matara eu meu pai, o qual fiz porque sabia que me queria ele matar a mim, por mexericos que homens maus lhe fizeram, certificando-lhe que minha mãe era prenhe de mim, coisa que eu nunca imaginei, mas já que com tanta sem razão ele tinha crido isto, e por isso tinha determinado de me dar a morte, quis-lha eu dar primeiro a ele, e sabe Deus quanto contra minha vontade, porque sempre lhe fui muito bom filho, em tanto, que por minha mãe não ficar como ficam outras muitas viúvas, pobres e desamparadas, a tomei por mulher, e enjeitei outras muitas com que dantes fui cometido, assim em Patane, como em Berdio, Tanauçarim, Siaca, Iambé, e Andraguiré, irmãs e filhas de Reis, com que me puderam dar muito dote. E por cuidar murmurações de maldizentes que falam sem medo quanto lhe vem à boca, mandei lançar pregão que ninguém falasse mais neste caso. E porque esse teu mouro que aí jaz, ontem estando bêbado, em companhia de outros cães tais como ele, disse de mim tantos males que tenho vergonha de tos dizer, dizendo publicamente em altas vozes, que eu era porco, e pior que porco, e minha mãe cadela saída, me foi forçado por minha honra mandar fazer justiça dele, e de estoutros perros tão maus como ele. Pelo que te rogo muito como amigo, que te não pareça mal isto que fiz, porque te afirmo que me magoarás muito nisto, e se por ventura cuidas que o fiz para tomar a fazenda do Capitão de Malaca, crê de mim que nunca tal imaginei, e assim lho podes certificar com verdade, porque assim te juro em minha lei, porque sempre fui muito amigo de Portugueses, e assim o serei enquanto viver. Eu então ficando algum tanto mais desassombrado, conquanto não estava ainda de todo em mim, lhe respondi que sua alteza em mandar matar aquele mouro, fizera muito grande amizade ao Capitão de Malaca seu irmão, porque lhe tinha roubado toda sua fazenda, e a mim por isso já por duas vezes me quisera matar com peçonha, só por lhe eu não poder dizer as embrulhadas que tinha feitas, porque era tão mau perro que continuamente andava bêbado, falando quanto lhe vinha à vontade, como cão que ladrava a quantos via passar pela rua. Desta minha resposta, assim tosca, e sem saber o que dizia, ficou el-Rey tão satisfeito e contente, que chamando-me para junto de si me disse, certo que nessa tua resposta conheço eu seres muito bom homem, e muito meu amigo, porque de o seres te vem não te parecerem mal as minhas coisas, como a esses perros cães que aí jazem, e tirando da cinta um cris que trazia guarnecido douro, mo deu, e uma carta para Pero de Faria de muito ruins desculpas do que tinha feito. E despedindo-me então dele pelo melhor modo que pude, e com lhe dizer que havia ainda ali de estar dez ou doze dias, me vim logo embarcar, e tanto que fui dentro no jurupango, sem esperar mais um momento, larguei a amarra por mão, e me fiz à vela muito depressa, parecendo-me ainda que vinha toda a terra após mim, pelo grande medo, e risco da morte em que me vira havia tão poucas horas.

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Este é o Capítulo XIX do livro Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. (Ortografia atualizada por Yuri Vieira.)

Este texto daria um ótimo filme, ¿não? Como se nota aí acima, o argumento já está prontinho. Aliás, os dois volumes da Peregrinação dariam vários filmes… (Leia mais sobre o livro aqui.)

Eça de Queiroz e as razões de Ulisses ao abandonar a mulher perfeita

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« Era, com efeito, a hora em que homens mortais e deuses imortais se acercam das mesas cobertas de baixelas, onde os espera a abundância, o repouso, o esquecimento dos cuidados, e as amoráveis conversas que contentam a alma. Em breve Ulisses se sentou no escabelo de marfim, que ainda conservava o aroma do corpo de Mercúrio, e diante dele as ninfas, servas da deusa, colocaram os bolos, os frutos, as tenras carnes fumegando, os peixes rebrilhantes como tramas de prata. Pousada num trono de ouro puro, a deusa recebeu da intendenta venerável o prato de ambrosia e a taça de néctar. Ambos estenderam as mãos para as comidas perfeitas da Terra e do Céu. E logo que deram a oferenda abundante à Fome e à Sede, a ilustre Calipso, encostando a face aos dedos róseos, e considerando pensativamente o herói, soltou estas palavras aladas:

« – Oh! Ulisses muito subtil, tu queres voltar à tua morada mortal e à terra da pátria… Ah!, se conhecesses, como eu, quantos duros males tens de sofrer antes de avistar as rochas de Ítaca, ficarias entre os meus braços, amimado, banhado, bem nutrido, revestido de linhos finos, sem nunca perder a querida força, nem a agudeza do entendimento, nem o calor da facúndia, pois que eu te comunicaria a minha imortalidade!… Mas desejas voltar à esposa mortal, que habita na ilha áspera onde as matas são tenebrosas. E todavia eu não lhe sou inferior, nem pela beleza, nem pela inteligência, porque as mortais brilham ante as imortais como lâmpadas fumarentas diante de estrelas puras…

« O facundo Ulisses acariciou a barba rude. Depois, erguendo o braço, como costumava na Assembléia dos Reis, à sombra das altas popas, diante dos muros de Tróia, disse:

« – Oh deusa venerável, não te escandalizes! Perfeitamente sei que Penélope te está muito inferior em formosura, sapiência e majestade. Tu serás eternamente bela e moça, enquanto os deuses durarem: e ela, em poucos anos, conhecerá a melancolia das rugas, dos cabelos brancos, das dores de decrepitude, e dos passos que tremem apoiados a um pau que treme. O seu espírito mortal erra através da escuridão e da dúvida; tu, sob essa fronte luminosa, possuis as luminosas certezas. Mas oh deusa, justamente pelo que ela tem de incompleto, de frágil, de grosseiro e de mortal, eu a amo, e apeteço a sua companhia congênere! Considera como é penoso que, nesta mesa, cada dia, eu coma vorazmente o anho das pastagens e a fruta dos vergéis, enquanto tu ao meu lado, pela inefável superioridade da tua natureza, levas aos lábios, com lentidão soberana, a ambrosia divinal. Em oito anos, oh deusa, nunca a tua face rebrilhou com uma alegria; nem dos teus verdes olhos rolou uma lágrima; nem bateste o pé, com irada impaciência; nem, gemendo com uma dor, te estendeste no leito macio… E assim trazes inutilizadas todas as virtudes do meu coração, pois que a tua divindade não permite que eu te congratule, te console, te sossegue, ou mesmo te esfregue o corpo dorido com o suco das ervas benéficas. Considera ainda que a tua inteligência de deusa possui todo o saber, atinge sempre a verdade; e, durante o longo tempo que contigo dormi, nunca gozei a felicidade de te emendar, de te contradizer, e de sentir, ante a fraqueza do teu, a força do meu entendimento! Oh deusa, tu és aquele ser terrífico que tem sempre razão! Considera ainda que, como deusa, conheces todo o passado e todo o futuro dos homens: e eu não pude saborear a incomparável delícia de te contar à noite, bebendo o vinho fresco, as minhas ilustres façanhas e as minhas viagens sublimes! Oh deusa, tu és impecável: e quando eu escorregue num tapete estendido, ou me estale uma correia de sandália, não te posso gritar, como os homens mortais gritam às esposas mortais:

« "Foi culpa tua, mulher!", erguendo, em frente à lareira, uma alarido cruel! Por isso sofrerei, num espírito paciente, todos os males com que os deuses me assaltem no sombrio mar, para voltar a uma humana Penélope que eu mande, e console, e repreenda, e acuse, e contrarie, e ensine, e humilhe, e deslumbre, e por isso ame de um amor que constantemente se alimenta destes modos ondeantes, como o lume se nutre dos ventos contrários!

« Assim o facundo Ulisses desabafava, ante a taça de ouro vazia e serenamente a deusa escutava, com um sorriso taciturno, e as mãos imóveis sobre o regaço, enrodilhadas na ponta do véu.

« No entanto, Febo Apolo descia para Ocidente; e já das ancas dos seus quatro cavalos suados subia e se espalhava por sobre o mar um vapor rúbido e dourado. Em breve os caminhos da ilha se cobriram de sombras. E sobre os velos preciosos do leito, ao fundo da gruta, Ulisses sem o desejo, e a deusa, que o desejava, gozaram o doce amor, e depois o doce sono.»

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Trecho do conto A Perfeição, de Eça de Queiroz.

Tudo indica que o salário de Calipso também era maior que o de Ulisses. Sem falar que, ao contrário dele, ela tinha curso superior. Sim, o novo sexo frágil não é tão novo assim…

O socorrista J.-J. Mollaret fala sobre viver e morrer na montanha

Yuri Vieira e Fernando Espinoza no vulcão Cotopaxi, de 5890 metros

« A montanha oferece ao homem uma riqueza inesgotável, desde suas vertentes povoadas de bosques até suas cimeiras nuas.

« Quando subimos pelas duras encostas cheias de árvores até alcançar as primeiras áreas nevadas e as primeiras pedreiras, o ruído do mundo vai se atenuando até desaparecer por completo. Então podemos saborear a primeira satisfação – hoje já rara – do silêncio e da solidão. É um silêncio transbordante de vida; é o ritmo surdo, lento e calmo da terra: a gralha imóvel que se deixa levar pelas correntes de ar, a genciana grande e azul que treme ao solo sob o menor sopro de brisa, a pegada de qualquer animalzinho da montanha impressa na neve recente. É a vida tensa e discreta que se oferece ao olhar admirado pelo preço único de se ter subido ali em cima. Outro prazer é o ato de fé que deixa ver a pegada de Deus na imensidade da criação tal como foi concebida.

« Alguns têm o doloroso privilégio de ser os atores do drama da vida e da morte, de encontrar-se durante uns curtos instantes ou ao longo de várias horas ou de dias intermináveis nesse justo limite extremo, fronteira desconhecida, inalcançável e talvez inexistente. De começar a compreender, tragicamente, o porquê da vida que escapa, de lutar desesperadamente para manter essa chama que vacila, que diminui, que quer se elevar de novo para logo apagar-se. A morte não golpeia somente pelo esgotamento, pelo frio ou pelo traumatismo: alguns morrem, já salvos, apenas por lhes faltar a fé, a esperança, a razão de viver. É nestes que de fato ocorrem o drama e a grande impotência dos salvadores.

« Para as cordadas de resgate são muito escassos os cumes que não possuem recordações trágicas. Quantas penas, quantos riscos para arrancar à montanha um ferido, um montanhista em apuros!

« E quando se arranca com sucesso essa presa da montanha, a alegria já não tem medida: uma vida não tem preço. Na maioria das vezes serão desconhecidos, estrangeiros salvos das garras da morte, que, uma vez deste lado da vida, já não verão mais a seus salvadores; alguns deles voltarão para agradecer com um abraço ou com um aperto de mãos a quem lhes devolveu a vida, mas outros não voltarão. No entanto, a alegria pela vitória sobre a morte não está nesse agradecimento, já que ela é interior, incomunicável até aos mais íntimos. É impossível narrar com toda sua expressão a experiência de vida adquirida ao longo de operações e operações de salvamento e de dramas e de dramas na montanha.»

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Cordadas de Alerta (Au-delà des cimes), de Jean-Jacques Mollaret.

(Traduzido ao português por Yuri Vieira.)

 

Esse era um dos meus livros de cabeceira quando morei no Equador.

Na foto acima, eu e meu amigo, o guia de montanha Fernando Espinoza (ao fundo), durante a escalada do vulcão Cotopaxi (5890 metros), em meio a uma tempestade de neve que nos surpreendeu no descenso.

Sim, eu sei que preciso escrever sobre as montanhas. Mas não tenha pressa. Algumas idéias são exatamente como as montanhas. Embora não as consigamos escalar em determinado momento, por mal tempo ou por outra razão qualquer, não há por que desesperar: elas não sairão do lugar, estarão sempre à espera.

Emanuel Swedenborg: “O mal no homem é o inferno nele”

Emanuel Swedenborg

« Em algumas pessoas há prevalecido a opinião que Deus desvia Sua face do homem, o rejeita de Si e o precipita no inferno, e que Ele Se irrita contra o homem por causa do mal. Outros vão ainda mais longe e crêem que Deus pune o homem e lhe faz mal. Eles se confirmam nessa opinião pelo sentido literal da Palavra, onde se acham semelhantes expressões. Não sabem que o sentido espiritual da Palavra, que explica o sentido da letra, é inteiramente diferente, e que, conseqüentemente, a doutrina genuína da igreja, que vem do sentido espiritual da Palavra, ensina outra coisa, a saber, que Deus nunca desvia Sua face do homem e não o rejeita de Si; nunca lança alguém no inferno e não Se encoleriza. E também o que percebe todo homem cuja mente está na iluminação, quando lê a Palavra, pelo simples fato de que Deus é o Bem mesmo, o Amor mesmo e a Mise­ricórdia mesma; e que o Bem mesmo não pode fazer mal a alguém, e o Amor mesmo e a Misericórdia mesma não podem rejeitar o homem de Si, porque é contra a essência mesma da misericórdia e do amor, e assim, contra o Divino Mesmo. Por isso, aqueles que pensam por uma mente iluminada quando lêem a Palavra, claramente percebem que Deus nunca Se desvia do homem, e que, não Se desviando dele, age com ele segundo o bem, o amor e a misericórdia, isto é, Ele quer seu bem, ama-o e tem compaixão dele. Daí também eles vêem que o sentido da letra da Palavra, no qual se acham tais expressões, encerra em si um sentido espiritual segundo o qual devem ser expli­cadas essas expressões, que foram, no sentido da letra, acomodadas à concepção do homem e pronunciadas segundo as suas idéias pri­meiras e comuns.»

(…)

« Disto resulta que o homem é que é a causa de seu mal e de forma alguma o Senhor. O mal no homem é o inferno nele. Por isso, dizer mal ou inferno, é a mesma coisa. Ora, como o homem é a causa de seu mal, é pois ele próprio que se induz ao inferno e não o Senhor que o induz. O Senhor, em vez de induzir o homem ao inferno, o liberta do inferno tanto quanto o homem não quiser e não desejar estar em seu mal. O todo da vontade e do amor do homem permanece nele depois da morte; aquele que quer e ama um mal no mundo, quer e ama o mesmo mal na outra vida: ele não tolera então que se separe dele. Daí vem que o homem que está no mal está ligado ao inferno e tam­bém está realmente quanto ao seu espírito no inferno; e depois da morte não deseja outra coisa senão estar onde está seu mal. Por isso, é o homem que, depois da morte se precipita no inferno por si mesmo e não o Senhor que o precipita.

« Dir-se-á também como isso se dá. Quando o homem entra na outra vida, ele é primeiramente recebido pelos anjos, que lhe prestam todos os serviços possíveis e que lhe falam do Senhor, do céu, da vida angélica, e o instruem nas verdades e bens. Mas se o homem, então espírito, é tal que no mundo – ele haja de fato rece­bido instruções sobre semelhantes coisas, mas de coração as haja negado ou desprezado, então, depois de algumas conversas com eles, ele deseja e também procura separar-se deles. Ora, quando os an­jos percebem isso, eles o deixam; e ele, depois de algumas ligações com outros, se associa finalmente aos que estão em um mal seme­lhante ao seu. Quando isso se dá, ele se desvia do Senhor e volta sua face para o inferno ao qual ele tinha sido associado quando estivera no mundo, e onde residem os que estão em um se­melhante amor do mal. Tudo isso mostra com evidência que o Se­nhor atrai a Si todo espírito, através de seus anjos e também pelo influxo do céu, mas os espíritos que estão no mal resistem veemen­temente e se desprendem, por assim dizer, do Senhor, e são arras­tados por seu mal como por uma corda, assim pelo inferno; e como são arrastados, e pelo amor do mal querem ser arrastados, é eviden­te que eles se precipitam no inferno por sua livre vontade. Que isso seja assim, ninguém pode crê-lo no mundo, por causa da idéia que se faz do inferno; e mesmo na outra vida, isso só aparece aos olhos daqueles que estão fora do inferno, mas não aos que nele se lançam. Porque eles nele entram por sua livre vontade, e os que entram por um ardente amor do mal aparecem como se se tivessem precipitado com a cabeça para baixo e os pés para cima. E por esta aparência que parece que eles são lançados por uma força Divina. De tudo isso pode-se ver por que o Senhor não precipita pessoa alguma no inferno, mas cada um é que se precipita nele por si próprio, não só enquanto vive no mun­do, como também depois da morte, quando vem entre os espíritos.

« Se o Senhor não pode, por Sua Divina essência, que é o Bem, o Amor e a Misericórdia, agir do mesmo modo com todo ho­mem, é porque os males e por conseguinte os falsos obstam e não só enfraquecem mas até rejeitam Seu influxo Divino. Os males, e por conseguinte os falsos, são como nuvens negras que se interpõem entre o sol e os olhos do homem, e arrebatam o brilho e a serenidade da luz. Persistindo o sol em um contínuo esforço para dissipar as nuvens que fazem obstáculo, porque ele está por trás, opera, e, du­rante esse tempo, ele também envia, por diversas passagens aqui e ali, alguma luz mesclada de sombra aos olhos do homem. No mundo espiritual dá-se o mesmo: lá, o Sol é o Senhor e o Divino amor; a luz é a Divina verdade; as nuvens ne­gras são os falsos do mal; os olhos são o entendimento. Lá, quanto mais alguém está nos falsos do mal, mais há ao redor dele uma tal nuvem, negra e condensada segundo o grau do mal. Por esta com­paração se pode ver que a presença do Senhor é perpétua em cada um, mas é recebida de diversos modos.

« Os maus espíritos são punidos severamente no mundo dos espíritos, para que, pelos castigos, sejam desviados de praticar males. Também parece que eles são punidos pelo Senhor, mas a verdade é que nenhuma coisa da pena vem do Senhor, mas do próprio mal, porque o mal foi de tal modo unido à sua pena que eles não podem ser separados. Pois a turba infernal só deseja e só ama fazer o mal, e principalmente infligir penas e tormentos; por isso ela faz mal e inflige penas a quem quer que não se acha sob a tutela do Senhor. Quando pois um mal é feito de mau coração, como esse mal repele de si toda a tutela do Senhor, os espíritos infernais se precipitam sobre aquele que fez tal mal e o punem. Isto pode ser ilustrado, de algum modo, pelos males e pelas penas dos males no mundo, onde os males e as penas também foram conjuntos, porquanto as leis prescrevem uma pena para cada mal. Por isso, aquele que se precipita no mal, se precipita também na pena do mal. A dife­rença consiste unicamente em que o mal no mundo pode estar oculto, enquanto não o pode na outra vida. Tudo isso mostra que o Senhor não faz mal a pessoa alguma, e que dá-se o mesmo no mundo, onde o rei, o juiz e a lei não são a causa pela qual o réu é punido, porque eles não são a causa do mal do malfeitor

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O Céu (e as suas Maravilhas) e o Inferno (Segundo o que foi Ouvido e Visto), de Emanuel Swedenborg.

Para saber mais sobre Emanuel Swedenborg, leia a conferência escrita por Jorge Luis Borges (com notas de minha autoria). Conheça também o depoimento de Immanuel Kant.

Fernão Mendes Pinto e sua peregrinação pelo oriente do século XVI

Fernão Mendes Pinto

« Quando às vezes ponho diante dos olhos os muitos e grandes trabalhos e infortúnios que por mim passaram, começados no princípio da minha primeira idade e continuados pela maior parte e melhor tempo da minha vida, acho que com muita razão me posso queixar da ventura que parece que tomou por particular tenção e empresa sua perseguir-me e maltratar-me, como se isso lhe houvera de ser matéria de grande nome e de grande glória; porque vejo que, não contente de me pôr na minha Pátria logo no começo da minha mocidade em tal estado que nela vivi sempre em misérias e em pobreza, e não sem alguns sobressaltos e perigos de vida, me quis também levar às partes da Índia, onde em lugar do remédio que eu ia buscar a elas, me foram crescendo com a idade os trabalhos e os perigos. Mas por outro lado, quando vejo que do meio de todos estes perigos e trabalhos me quis Deus tirar sempre a salvo e pôr-me em segurança, acho que não tenho tanta razão de me queixar de todos os males passados, quanta tenho de lhe dar graças por este só bem presente, pois me quis conservar a vida para que eu pudesse fazer esta rude e tosca escritura que por herança deixo a meus filhos (porque só para eles é minha intenção escrevê-la) para que eles vejam nela estes meus trabalhos e perigos de vida que passei no decurso de vinte e um anos, em que fui treze vezes cativo e dezessete vendido, nas partes da Índia, Etiópia, Arábia Feliz, China, Tartária, Maçácar, Samatra e outras muitas províncias daquele oriental arquipélago dos confins da Ásia, a que os escritores chins, siameses, guéus, léquios, chamam em suas geografias a pestana do mundo, como ao adiante espero tratar muito particular e muito amplamente. Daqui por um lado tomem os homens motivo de não desanimarem com os trabalhos da vida para deixarem de fazer o que devem, porque não há nenhuns, por grandes que sejam, com que não possa a natureza humana, ajudada do favor divino, e por outro me ajudem a dar graças ao Senhor onipotente por usar comigo da sua infinita misericórdia, apesar de todos meus pecados, porque eu entendo e confesso que deles me nasceram todos os males que por mim passaram, e dela as forças e o ânimo para os poder passar e escapar deles com vida.»

Assim se inicia o relato de 774 páginas (divididas em dois volumes) do aventureiro e explorador português Fernão Mendes Pinto (1510?–1583), que com uma prosa dinâmica e direta, mas de poder narrativo sempre envolvente, nos transporta através de tempestades e batalhas em alto-mar, de terras e povos estranhos, de paisagens e animais fantásticos, de reis, rainhas, mouros, piratas e assim por diante. Impressiona, por exemplo, ler sobre a preparação, em Goa, Índia, de uma armada composta por 225 navios portugueses — entre naus, caravelas, galeões, galés, fustas, etc. — para a batalha que deveria ter sido travada com 50 navios muçulmanos: foram necessários cinco dias para embarcar um total de 40 mil homens. (Taí um filme que gostaria de ver.) Com a mesma sintaxe viva, colorida, Mendes Pinto também nos faz gargalhar ao relatar seu encontro com o rei de Quedá, o qual havia – assim afirmavam seus súditos – assassinado o pai e se casado com a própria mãe, grávida do filho incestuoso. O detalhe tragicômico é que o rei mandava executar sumariamente qualquer um que comentasse o fato…

Estudiosos chamam a atenção para o fato de este livro, apesar de ser considerado “uma das obras capitais da formação do nosso idioma enquanto língua literária”, não ter se tornado tão conhecido e louvado como os Lusíadas, de Camões. Talvez, especulam, porque o autor, em meio a situações fantásticas, não poupa seus compatriotas de um enfoque realista, isto é, mesmo sendo virtualmente tementes a Deus, no geral não eram nada santos…

Também é interessante notar que Machado de Assis tinha para com Fernão Mendes Pinto (e também para com Gomes Eanes Zurara) a mesma consideração que eu, há pelo menos quinze anos, tenho para com Antônio Vieira: autores aos quais recorremos para revitalizar nosso próprio uso da língua ou, como escreveu Machado, para estudar “as formas mais apuradas da linguagem, desentranhar deles [Mendes Pinto e Zurara] mil riquezas, que à força de velhas se fazem novas”.

É possível ler online a versão original da Peregrinação aqui. Mas não aconselho, porque a ortografia da época, sendo muito distinta – bastante curiosa, na verdade –, impede a fluidez da leitura. O melhor é adquirir a versão adaptada à ortografia atual por Maria Alberta Menéres e publicada pela Editora Nova Fronteira: volume 1 e volume 2.

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