Lembro que, em São Paulo, toda vez que saía do meu colégio para voltar a pé para casa, passava diante duma casa de esquina, do outro lado da rua, em cujo muro estava pichado: “Muro é cultura”. Eu estudava no Colégio Spinosa e minha casa distanciava alguns poucos quarteirões. E mesmo com o passar dos anos — talvez tenham sido poucos, para uma criança dois anos são uma eternidade — o proprietário da casa não se atrevia a apagar aquela inscrição, talvez porque não quisesse se mostrar um perseguidor da cultura e da livre expressão, ou talvez porque achasse a frase engraçada, como eu ainda a acho. Lembro de vê-lo uma única vez, ao portão: um velhinho de baixa estatura ainda afeito à moda de usar chapéu. Só me inteirei de quem ele realmente era quando faleceu. Hoje é seu aniversário de nascimento e, caso já não tivesse cumprido sua missão, ele estaria completando 105 anos de idade. Enfim… feliz aniversário, Adoniran Barbosa!
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Quem
Yuri Vieira é um escritor e cineasta paulistano radicado em Goiânia. Estudou na Universidade de Brasília — onde cursou cinema com Nélson Pereira dos Santos — e, após residir durante dois anos com a escritora Hilda Hilst (de quem foi secretário pessoal e webmaster), trabalha hoje como roteirista e diretor de audiovisual. Publicou seu primeiro livro A Tragicomédia Acadêmica - Contos Imediatos do Terceiro Grau em 1998 e, em Abril de 2007, dirigiu seu primeiro curta-metragem de ficção, Espelho, o qual, além de receber o prêmio de melhor direção do 3º FestCine GYN, participou como curta convidado do festival "No Siesta, Fiesta!" (Tromsø, Noruega, 2009) e da mostra “Verão Cinema e Outras Coisas” (Costa da Caparica, Portugal, 2009). Em 2018, seu livro A Sábia Ingenuidade do Dr. João Pinto Grande, publicado pela Editora Record, foi semifinalista do Prêmio Oceanos (ex-Portugal Telecom), um dos mais importantes da literatura de língua portuguesa. É ainda colaborador bissexto dos sites Digestivo Cultural e Mídia Sem Máscara.
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